Olá!
Estou iniciando mais uma obra!
Esses são os personagens principais que aparecerão nos primeiros capítulos. Com o passar do tempo, outros personagens entrarão na trama e, aos poucos, serão apresentados para você.
Donatello e Selena Visconti - casal
Nicolas Visconti - filho do casal
Elora Rinaldi - irmã de Selena
Dália Rezende - amiga de Selena
Clara Bastos - governanta
Regina Siqueira - empregada
Boa leitura!
Suspirando, embalei minha última caixa com meus pertences e a empurrei para o lado. Meu querido apartamento, onde morei nos últimos cinco anos, estava completamente livre da minha presença.
Eu queria muito me sentar, mas não havia mais nem mesmo um sofá onde poderia fazer isso. Todos os móveis tinham sido vendidos junto com meus eletrodomésticos.
- Sinceramente\, não sei como você conseguiu viver aqui. - minha irmã passou pela porta com o nariz franzido.
- Eu amava esse lugar! - exclamei\, abrindo os braços e olhando ao redor – Foi o meu melhor apartamento.
Ela me olhou como se eu fosse louca, o que me fez sorrir. Do alto de seus saltos finos e o vestido de alguma grife que eu não conhecia, Selena balançou a cabeça em reprovação.
- Você consegue algo melhor\, com toda certeza.
Nós éramos muito diferentes desde sempre. Selena sempre buscou o luxo, e tinha encontrado quando conheceu seu marido Donatello – um homem sério, todo tatuado, CEO de uma construtora e incorporadora especializada em casas de luxo em condomínio.
- Vamos logo para minha casa. - ela apontou para a caixa fechada no chão - Só falta essa?
- Sim. - peguei a caixa do chão.
- Não sei por que precisamos lotar meu carro com essas caixas. Eu poderia ter pedido para alguém vir buscar as coisas para você. - ela reclamou\, saindo pela porta.
- Não precisava. São só três caixas e duas malas de roupas. - fui atrás dela.
Enquanto descíamos no elevador, voltei a pensar no que implicaria aceitar seu convite para morar por um tempo em sua casa. Eu teria que conviver com Donatello, e ele era incrivelmente intimidador.
Selena tinha me garantido que ele não tinha se incomodado por ter a cunhada, que ele tinha visto pouquíssimas vezes na vida, perambulando pela casa e atrapalhando sua rotina. Eu não tinha tanta certeza, mas não tinha muita escolha.
Os dois tinham começado a namorar logo depois de nossos pais morrerem, e eu fui para a faculdade no mês seguinte. Voltei a encontrá-lo na festa de noivado dos dois e depois no casamento, e só dei meus cumprimentos nas duas ocasiões - tremendamente intimidada pela sua altura e rosto fechado. Quando meu sobrinho nasceu, visitei Selena na maternidade somente quando Donatello não estava.
- Você tem certeza de que Donatello não vai se incomodar comigo mesmo? - perguntei mais uma vez enquanto Selena dirigia.
- Pela milionésima vez\, - ele ajeitou os óculos escuros no rosto – o Don não se importa de acolher minha irmãzinha recém desempregada. Não precisa se preocupar\, hoje ele está enfiado no escritório em uma reunião. Você vai poder se acomodar sem encontrá-lo.
Ela se inclinou e ligou o rádio, impedindo qualquer conversa pela meia hora seguinte. Eu me acomodei do banco e relaxei, de nada adiantava ficar tensa com isso agora que a situação já era certa. Eu poderia passar boa parte do meu tempo no quarto, que seria enorme com certeza, buscando um novo emprego e um novo apartamento.
Logo nós estávamos entrando na garagem de um prédio enorme e cinza escuro. Selena saiu do carro rapidamente e foi chamar o elevador enquanto eu retirava as coisas do porta-malas. Fiquei impressionada com o tamanho do elevador, perto dele o do meu antigo prédio parecia uma caixinha apertada e sem ar.
- O Nicolas está ansioso para te conhecer. - Selena comentou\, olhando para o celular.
- Mas nós já nos conhecemos. - rebati\, arrumando minhas malas e as caixas no chão.
- Não conta quando ele era apenas um bebê que não conseguiria lembrar de nada. - ela apertou o botão para a cobertura.
Meu sobrinho já tinha quatro anos e eu nem sabia muito bem como era. Selena não era de ficar enviando fotos dele, somente se eu pedisse alguma. Nicolas se parecia bastante com o pai, herdando a maioria dos traços dos Visconti.
Quando o elevador abriu as portas, era justamente ele quem estava na porta com os olhos brilhando de expectativa.
- Oi\, mamãe.
- Oi\, Nicolas. - minha irmã passou por ele sem dar muita atenção\, atravessou a sala e sumiu.
Fiquei um pouco confusa com aquela reação fria de Selena.
- Quer ajuda\, titia? - os olhos dele agora estavam focados em mim.
- Oi\, Nic. - me abaixei um pouco para ficar da sua altura – Acho que essas coisas são meio pesadas para você carregar.
Eu estava puxando as coisas para fora quando Selena voltou acompanhada de duas mulheres. Uma estava vestida de um jeito mais formal, com um conjunto de calça e blazer, e cabelo impecavelmente cortado na altura das orelhas – um corte parecido com o da minha irmã, apenas levemente mais curto. A outra mulher, com o cabelo longo preso com um elástico, vestia um uniforme mais simples de calça e camisa com um avental preso na cintura.
- Elora\, essa é Clara Bastos\, nossa governanta. - Selena apontou para a primeira mulher – E essa é nossa empregada\, Regina. - apontou para a segunda – Elas vão ajudar com a suas coisas.
As duas me cumprimentaram educadamente e com poucas palavras e começaram a pegar parte das minhas coisas. Peguei uma parte também e as segui através do imenso apartamento com Nicolas em meus calcanhares.
- Este é o seu quarto\, senhorita Rinaldi. - Clara disse formalmente\, passando pela porta.
Fiquei impressionada com o tamanho do ambiente.
- Uau! Isso é quase todo meu apartamento em um cômodo só.
Regina disfarçou um pequeno sorriso, mas Clara torceu um pouco o nariz.
- Aquela porta é do seu closet\, e esta a do seu banheiro. - prosseguiu – Se precisar de alguma coisa\, é só me pedir.
- Certo. Obrigada.
As duas se retiraram, Nicolas foi se sentar na minha cama – que era enorme, diga-se de passagem.
- Meu Deus\, Nic. Que quarto imenso!
As cortinas estavam levantadas, mostrando uma parede inteira de vidro. Havia até mesmo um grande sofá, muito maior do que o meu antigo. Espiei o closet e concluí que minhas roupas não ocupariam nem um terço de todo aquele espaço.
- Tudo aqui é em tons de cinza\, branco e preto?
- Sim\, titia.
Tudo muito bonito e confortável, mas um pouquinho frio demais para o meu gosto.
Nicolas foi para a escola logo depois de eu me acomodar. Para uma criança de quatro anos, achei surpreendente que ele fizesse período integral três vezes na semana.
- O que você vai fazer hoje? - Selena apareceu assim que ele saiu.
- Você está em casa? - me surpreendi.
- Claro. Onde mais eu estaria? - ela ergueu as sobrancelhas.
- Levando Nic para a escola? - sugeri\, tentando não soar sarcástica.
- Isso é tarefa do pai dele. - ela revirou os olhos – O que você vai fazer hoje? - repetiu.
- Bom... - apontei para a imensa cama – Pensei em me deitar nesse colchão super macio e passar algumas horas deprimida por ter sido demitida.
- Não seja boba. - Selena revirou os olhos – Vamos ao salão.
Ri da ideia ridícula. Eu ia cortar o cabelo a cada três meses mais ou menos, nada mais do que isso.
- Estou falando sério. - minha irmã não se abalou – Vou te dar de presente o tratamento completo. Cabelos\, unhas\, sobrancelhas... talvez até uma massagem. Você está precisando.
- Selena\, pelo amor de Deus... - reclamei.
- Agora. - ela ergueu uma sobrancelha.
Me levantei, conhecendo bem aquele tom de irmã mais velha que ela tinha aprimorado ao longo dos anos.
- Isso é quase uma tortura. - avisei.
- Você me diz se foi mesmo daqui umas cinco horas.
- Cinco horas? - gemi.
O salão para o qual ela me levou era de um tipo que nem sequer me atenderiam se eu aparecesse sozinha. Inclusive, chamar de salão parecia quase uma ofensa, parecia mais um spa.
Primeiro, fui levada para uma sala privativa com sons e cheiros maravilhosos, massageada em cada parte do corpo com uma precisão relaxante que eu não conhecia. Depois, fizeram algo com jatos de água em todo meu couro cabeludo e outra massagem que quase me fez cochilar.
Só então fiquei sentada e recebi um tratamento capilar enquanto duas mulheres faziam meus pés e minhas mãos com um esmalte claro e glamuroso.
- Nunca estive tão relaxada em toda a minha vida. - sussurrei\, apoiando a cabeça no encosto do banco do carro.
- Eu disse. - Selena sorriu\, ajeitando os óculos no rosto – Agora\, nós vamos almoçar.
- Sério? - me endireitei no banco – Mas e o Don?
- O que tem ele? - seu tom ficou mais seco.
- Vocês não almoçam juntos?
- A Clara cuida disso. - ela deu de ombros – Ela organiza toda nossa alimentação\, temos uma empresa que faz nossa comida da semana.
Fiquei cheia de perguntas, mas achei que não deveria me intrometer no casamento dos dois. Eu nem sabia como era estar tanto tempo com uma pessoa, só tinha tido dois curtos relacionamentos anos atrás.
Ficamos umas duas horas no restaurante preferido de Selena. Todos os funcionários pareciam conhecê-la e paparicá-la. Deu para perceber que ela passava bastante tempo por lá.
Quando finalmente pensei que iriamos para casa, ela entrou no estacionamento de um shopping.
- O que vamos fazer agora? - respirei fundo\, não querendo parecer chata.
- Compras! - ela respondeu\, feliz.
Eu precisaria pensar muito bem antes de aceitar sair com a minha irmã de novo.
Imaginei que só assistiria ela escolher algumas roupas, mas Selena me fez experimentar muitas coisas. Tenho que confessar que ela tinha bom gosto, conseguia achar coisas que eram do meu estilo – só que um pouco mais elegante, é claro.
Mesmo negando um milhão de vezes, acabei cheia de sacolas com roupas que valiam muito mais que um mês de salário do meu antigo emprego. E ela, claro, com ainda mais coisas.
Quando, finalmente, voltamos para o apartamento, já estava escuro.
- Boa noite\, senhora Visconti. - Clara nos recebeu – Deixei tudo organizado em seu quarto\, o jantar do senhor Visconti já foi servido no escritório e Nicolas já jantou e tomou banho. Se não precisar de mais nada\, irei me recolher.
- Pode se recolher\, Clara. Obrigada. - Selena disse automaticamente - Foi muito bom\, minha irmã. Vou para o meu quarto agora.
- Obrigada. - agradeci\, cansada e um pouco confusa com essa rotina estranha – Eu também vou.
Clara tinha passado pelo meu quarto também. As cortinas estavam fechadas e apenas as luzes dos abajures estavam acesas, deixando o ambiente convidativo para o sono.
Coloquei as sacolas no chão do closet e fui ao banheiro para tomar mais um banho e me preparar para dormir. Não fiquei surpresa pelo tanto de produtos nos armários, era algo que Selena com certeza pensaria em deixar para a irmã mais nova – que ela sempre considerou desleixada.
Me acomodei no colchão, certa de que iria apagar em segundos, mas fiquei rolando de um lado para o outro. Tentei abrir um pouco a cortina para olhar para o céu, mas nem mesmo isso conseguiu me fazer relaxar.
Eu estava estranhando o local diferente, é claro, mesmo com todo aquele conforto.
Depois de um tempo, eu simplesmente desisti e me sentei. O relógio digital em cima da mesa de cabeceira mostrava quase meia noite, todo mundo devia estar dormindo há muito tempo.
Saí do quarto bem devagar para não fazer barulho. Eu ainda não sabia onde ficava a cozinha, mas não seria difícil de encontrar e preparar um chá.
Passei pela sala e segui para o outro lado, intuitivamente sabendo que deveria ser por lá, mas um som me fez parar. Me encostei na parede e espiei novamente em direção à sala.
Selena, com belos saltos altos e um vestido colado marcando seu corpo, estava entrando no elevador. Quando se virou, consegui ver seu rosto impecavelmente maquiado.
Ela não me viu, já que as luzes estavam todas apagadas, e eu fiquei me perguntando onde ela poderia ir uma hora dessas sozinha em plena segunda-feira.
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