Sou a Tâmisa, tenho 20 anos e sou estudante de direito, busco incansavelmente por uma chance de mudar de vida, e seu que vou dar muito orgulho para minha mãe e minha irmã, meu pai morreu um tempo antes do meu nascimento e sei que minha mãe passou muito trabalho para nos criar, ela até namorou o pai da Mariella, mas sempre nos colocou como prioridade, e quando sentiu que era ruim para nós terminou.
O sol mal entrava no meu quarto, filtrado pelas cortinas puídas. Eu estava sentada na beira da cama, penteando o cabelo ainda úmido, quando senti o cheiro de café vindo da cozinha, forte e meio queimado, como sempre. O pão torrado provavelmente já passara do ponto.
— Tâmisa! — a voz da minha mãe, rouca de tanto fumar, cortou o ar. — Anda logo, antes que sua irmã coma tudo!
— Já vou! — respondi, rindo sozinha.
Quando cheguei à cozinha, minha mãe estava junto da vizinha Dolores, as duas falando sem parar. Dolores gesticulava tanto que parecia que ia derrubar a xícara de café a qualquer momento. Mariela, minha irmã mais nova, estava sentada na ponta da mesa, espalhando migalhas como se fosse uma brincadeira.
Sentei-me, peguei um pão e comecei a passar manteiga. As duas continuavam a conversa, rindo de alguma fofoca que eu não estava prestando muita atenção, até que, de repente, ouvi Dolores dizer:
— Mas… e o Hector? Já apareceu?
No mesmo instante, o som seco de vidro quebrando. Olhei para o lado, minha mãe tinha deixado cair um copo no chão. Ficou olhando para os cacos, quieta. Um silêncio estranho tomou conta da cozinha.
— O quê aconteceu, mãe? — perguntei, abaixando para ajudá-la, mas minha pergunta não era exatamente sobre o Hector. Ainda assim, quando ergui os olhos, vi minha mãe e Dolores trocando um olhar rápido, daqueles que dizem mais que palavras.
— Esses copos velhos já deviam ir pro lixo mesmo — disse Dolores, forçando um sorriso.
— É… — respondeu minha mãe, com um tom calmo demais. — Vai se atrasar, filha, não aconteceu nada, vá logo.
Eu não perguntei nada. Não sei se foi medo ou respeito por algum limite invisível, mas fiquei quieta. Peguei minha bolsa, levantei-me e fui até a porta.
— Se cuida, tá? — disse minha mãe, sorrindo daquele jeito que tenta parecer normal, mas não engana ninguém.
Abri a porta. O vento frio bateu no meu rosto. Lá fora, tudo parecia igual, mas por dentro eu sabia, aquele nome, Hector, não ia me deixar em paz.
O vento frio me fez encolher os ombros enquanto fechava a porta atrás de mim. Desci os dois degraus da entrada, ajeitando a alça da bolsa no ombro, quando ouvi o barulho de um carro se aproximando. Não era o tipo de carro que costumava parar na nossa rua — um SUV preto, vidros escurecidos, que desacelerou bem em frente à nossa casa.
A porta traseira se abriu e dele desceu um homem que eu nunca tinha visto. Alto, com um sobretudo gasto, e um olhar que parecia atravessar a pele. Meus pelos se arrepiaram todos ao mesmo tempo. Ele me olhou… como se já me conhecesse.
Instintivamente, me virei para chamar minha mãe:
— Mãe…
Ela apareceu na porta, ainda secando as mãos no avental. Quando viu o homem, o rosto dela perdeu toda a cor. Os olhos arregalaram de um jeito que eu nunca tinha visto antes. E então ela disse, numa voz firme, mas carregada de pavor:
— Corre.
— O quê? — perguntei, confusa.
Ela deu um passo à frente, a voz mais alta:
— Corre! Pega sua irmã e corre!
Meu coração disparou. Entrei correndo, puxei Mariela pela mão. Mas antes que pudéssemos dar dois passos para fora da cozinha, mãos fortes agarraram meus braços. Dois homens haviam saído do carro também, surgindo como sombras. A bolsa caiu no chão, e eu mal consegui gritar.
O primeiro homem, o do sobretudo, se aproximou, agora a poucos centímetros de mim. O cheiro de cigarro e gasolina me enjoou. Ele sorriu, e aquele sorriso me fez tremer mais do que as mãos que me seguravam.
— Oi, filhinha… vim te buscar.
O mundo pareceu encolher até caber naquele instante.
Fui arrastada para dentro de casa à força. Os dois homens me seguravam pelos braços, como se eu fosse um saco de batatas, me empurrando para a sala. O coração batia tão alto que eu mal ouvia meus próprios pensamentos.
Minha mãe já estava lá, tentando avançar contra eles, mas um dos brutamontes a bloqueou com o braço.
— Soltem ela! Pelo amor de Deus, soltem minha filha! — Carmen gritava, desesperada.
O homem do sobretudo entrou logo atrás, com passos pesados. Ele não olhava para minha mãe, nem para minha irmã, só para mim, como se o resto não importasse.
— Carmen… — ele disse, num tom ameaçador. — Fica quieta.
— Não! — ela rebateu, a voz embargada. — Você não vai fazer isso!
Ele então se aproximou, e eu consegui sentir o calor da respiração dele.
— Tâmisa… — falou devagar, quase como se saboreasse as palavras. — Eu sou seu pai.
Senti como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Meu… pai?
— Você… tá louco — consegui murmurar, a voz falhando.
O sorriso dele se alargou, mas não havia nada de caloroso nele.
— E você vai vir comigo. Vai se casar com o meu filho.
Aquilo soou tão absurdo que meu corpo inteiro ficou gelado. Um nó se formou na garganta, e as lágrimas começaram a escorrer.
— Não… não… — eu repetia, mas ele fez um gesto brusco, e um dos homens apertou minha boca com força.
Minha mãe gritava, tentando se soltar, enquanto Mariela chorava tão alto que parecia que o coração dela ia se rasgar. Foi então que eu vi, vi quando um deles empurrou minha mãe contra a parede e simplesmente atirou, vi quando outro segurou a cabeça de Mariela, abafando seus soluços, ela estava com um olhar desesperado, até que sua cabeça pendesse para o lado.
O som da minha família sendo silenciada foi a coisa mais triste que já ouvi. Eu queria lutar, queria gritar, mas tudo que consegui foi chorar, chorar amargamente, como se cada lágrima fosse uma parte de mim sendo arrancada.
Meu nome é Heitor Marchese, tenho 25 anos. Sou filho de Vincenzo e Maria. Cresci cercado de luxo, mas não do tipo que vem sem custo. Cada peça de mármore da nossa casa, cada garrafa de vinho na mesa… tudo tem o peso de sangue por trás.
Sempre gostei de coisas que queimam por dentro. Velocidade, perigo, gente que não tem certeza se volta para casa no fim do dia. Acho que é por isso que, desde moleque, eu me pegava interessado em garotas que não viviam no “mundo seguro”. Quanto mais complicada a vida dela, mais eu queria saber quem ela era. E, sim… eu sei o que isso diz sobre mim.
Meu dia começa cedo. Treino na academia particular do clã, onde o cheiro de couro e suor se mistura ao som das correntes de saco de pancada. Gael já estava lá hoje, socando o saco com aquela fúria controlada dele.
Leonardo chegou depois, com o olhar preguiçoso, mas sempre calculando cada movimento. Marcelo é o mais novo, ainda fazendo as coisas de maneira mais intensa, e Dominique… bem, Dominique não precisa provar nada. Ela se move no tatame como se o perigo fosse somente um jogo.
Entre golpes e quedas, rimos e trocamos provocações. Mas quando o treino acaba, o trabalho começa. Hoje, acompanhamos meu pai numa “visita” a um devedor, e “visita” significa que entramos, ouvimos desculpas, e saímos com o que é nosso… ou com algo mais valioso. Não há espaço para hesitar.
O motor do carro ronca como música para mim. O cheiro de pólvora e gasolina é quase familiar. Sei que a maioria das pessoas se afastaria desse mundo, mas eu não.
Eu corro em direção a ele. Porque, no fundo, eu sou o perigo, e talvez, esteja procurando alguém que não fuja quando olhar nos meus olhos e ver isso.
Chegamos pouco antes do pôr do sol. A rua estava quase vazia, só o som distante de uma TV aberta ecoando de alguma janela. O carro preto do meu pai parou em frente a uma portinha de metal enferrujada.
— Gael, Heitor, comigo. — disse meu pai, sem sequer olhar para trás.
Marcelo e Dominique ficaram do lado de fora, observando. Eu fui atrás dele, claro.
Meu pai bateu na porta com força, três vezes. Do outro lado, passos hesitantes. Quando o homem abriu, parecia que tinha visto um fantasma.
— Senhor Marchese… eu… eu ia pagar… — gaguejou.
Meu pai deu um sorriso curto, mas o olhar era de faca.
— Ias pagar… mas não pagou.
Entramos sem pedir permissão. O lugar cheirava a mofo e cerveja barata. Gael fechou a porta atrás de nós, encostando-se nela como se fosse dono da casa.
— O prazo acabou há uma semana — disse meu pai, olhando ao redor. — E sabe o que acontece quando as pessoas brincam com o nosso tempo?
O homem tremia, tentando arrumar palavras.
— Eu… só preciso de mais três dias.
Gael riu baixo, mexendo no isqueiro.
— Três dias? Te demos trinta.
Eu me aproximei, encostando na mesa onde havia um baralho aberto e fichas de poker espalhadas.
— Parece que você teve tempo para jogar — falei, batendo de leve nas cartas — mas não para pagar o que deve.
O homem começou a suar. Meu pai fez um sinal com a mão. Gael pegou o devedor pelo colarinho e o encostou contra a parede.
— Mais três dias… — murmurou o homem, quase chorando.
— Não — respondeu meu pai, seco. — Agora você vai dar algo que vale o que deve.
O olhar dele correu pelo quarto, procurando alguma saída. Então, quase sussurrando, ele apontou para uma caixa de madeira num canto. Dentro havia joias antigas e alguns relógios caros.
Meu pai olhou, avaliou o peso de um relógio dourado.
— Isso e metade do dinheiro… amanhã.
— Amanhã? — o homem engoliu em seco.
— Ou a próxima visita não vai ser tão educada — disse Gael, soltando o colarinho dele.
Pegamos a caixa e saímos. No carro, meu pai olhou pelo retrovisor, o rosto impassível.
— Heitor, você fala muito né.
Sorri de canto.
— Mas consegui o que queríamos, não foi?
Ele não respondeu. O motor rugiu e partimos, deixando para trás mais um homem que aprendeu que prazo com Marchese não é conversa.
Na casa do tio Enrico estava todo mundo junto, Giovanni estava relaxado numa poltrona, Helena sentada no braço dela, os dedos brincando distraidamente no cabelo dele, enquanto conversavam em voz baixa. Julia permanecia ao lado, postura impecável, mas os olhos atentos a tudo.
Eu fiquei de pé ao lado de Leonardo, discutindo detalhes de segurança com ele, nada urgente, mas suficiente para manter a cabeça ocupada. Enrico e Lavínia falavam com Serena e Lucas sobre coisas triviais, risadas ocasionais, quebrando o murmúrio ambiente.
Mas quando Matheo apareceu na porta, o ar mudou. Não foi só silêncio, foi aquela pressão invisível que antecede uma tempestade.
— Matheo? — Helena se levantou, indo até ele com passos rápidos. — O que houve?
Enquanto eles trocavam palavras, eu fiquei observando. Matheo estava tenso, não pelo tipo de tensão de quem teme, mas de quem já decidiu fazer algo perigoso.
— Está tudo bem, minha princesa, eu vim me despedir. Preciso viajar. Amanhã. Para a Espanha, resolver um problema grande.
O sorriso dela murchou. A cada frase dele, a sala parecia encolher. Gael foi o primeiro a questionar, e quando ouvi “Espanha” e “problema” na mesma frase, eu já sabia que essa história não era simples.
Então Matheo falou. Falou sobre o pai dele, sobre um sequestro… e sobre uma garota. Não qualquer garota. A filha de fora do casamento. Um homem que cogitava casar com a própria filha, ou entregá-la para ele.
Eu senti um peso diferente no estômago. Não era raiva pura. Era aquela mistura de indignação e… instinto. Algo em mim, no momento em que ouvi “ela precisa ser salva”, se acendeu.
Helena insistia que ele não fosse sozinho, Gael reforçou. Giovanni perguntou se ele queria ajuda. Matheo recusou, como se pudesse carregar o mundo sozinho, Giovanni falou do casamento, Helena deu a ideia, “Vamos casar em Vegas”.
Foi aí que eu ergui a mão.
— Eu vou.
Leonardo seguiu, como se fosse natural. Mas eu já tinha decidido no instante em que ouvi o nome “moça sequestrada”.
Enquanto o clima na sala se carregava, percebi que Helena não ia largar o osso. E não largou. A decisão dela foi seca:
— Então vamos para Vegas agora.
Julia se chocou, questionou a festa, mas Helena já tinha cravado o pé no chão. Falou que ou ia junto, ou acabava o noivado.
Eu fiquei quieto, mas por dentro já pensava diferente. Não era só sobre Vegas. Não era só sobre Matheo.
Era sobre ela. A garota que eu ainda não tinha visto, mas que já sabia que ia proteger — nem que fosse a última coisa que eu fizesse.
Os dias passavam devagar, cada hora mais longa que a anterior. Eu sofria. Apanhava. Hector parecia se divertir com cada grito meu, cada lágrima que eu não conseguia conter. Eu não entendia como alguém podia se acostumar com tanta violência. E Junior, o genro… ele era diferente. Ele não levantava a mão, mas me assediava com palavras, com olhares sujos e risadas que me gelavam a espinha.
— Um dia, Tâmisa… você vai ser minha — ele dizia baixo, quase num sussurro, e meu estômago se revirava só de pensar que ele podia estar falando sério.
Eu me sentia presa, sufocada, e mesmo nos raros momentos em que conseguia chorar sozinha, havia aquele medo constante de que nada mudasse. Até que veio aquele dia.
Chamaram-me para a sala. Quando pisei no chão frio, o salto me traiu e eu cambaleei, quase caindo. Respirando fundo, tentei me recompor. A porta se fechou atrás de mim. Dentro, dois homens.
O primeiro tinha uma grande semelhança com alguém que eu conhecia de fotos espalhadas ali naquela casa, talvez Matheo, ou pelo menos alguém da família deles. O outro… o outro era diferente. Lindo, forte, e havia algo nos olhos dele que parecia não desgrudar de mim, mas não de um jeito ameaçador. Era como se estivesse avaliando, mas também protegendo.
Eu não sabia se podia confiar. Não sabia se eles eram aliados, ou mais dois em perigo. Cada músculo do meu corpo pedia que eu corresse, que me encolhesse e me preparasse para apanhar novamente.
Mas então os vi agir. Silenciosamente, mas com firmeza, eles se colocaram a meu favor. Um bloqueou a porta, outro afastou qualquer aproximação que pudesse me machucar. E naquele instante, algo dentro de mim relaxou. Alívio. Pela primeira vez em dias, não senti o medo esmagador tomar conta.
Eu não sabia ainda quem eram de verdade. Mas naquele momento, mesmo confusa, senti que talvez, só talvez, eu pudesse não estar sozinha.
Tentei recuar, me afastar, correr para qualquer lugar que me desse segurança naquela troca de tiros, mas Junior estava lá, bloqueando minha saída. Ele riu de forma baixa, maliciosa, e tentou se aproximar. Meu coração disparou, o medo queimava meu peito.
— Sai daqui! — gritou um deles, e pela primeira vez alguém ousou colocar Junior no seu lugar. O homem bonito e forte empurrou Junior para trás com firmeza, enquanto o outro, pelo que entendi, o meu irmão, me pegava suavemente pelo braço.
Não pensei, só me deixei guiar, cambaleando, mas sentindo pela primeira vez que alguém estava realmente do meu lado. Eles me levaram até o carro, e um deles se inclinou para mim, sério.
— Ouça bem — disse com voz baixa, firme, quase como uma promessa. — Isso não acabou. Eles vão tentar de novo. Isso é só o começo, fica abaixada.
O carro partiu rápido, e a adrenalina disparou quando tiros começaram a rasgar o ar ao nosso redor. Eu me abaixei, tentando não respirar muito alto. Eles atiravam de volta, protegendo-me como se minha vida fosse a prioridade máxima. Meu peito doía do medo e da tensão, mas também havia uma sensação estranha de confiança, por mais breve que fosse.
Quando finalmente paramos, o motor desligou e eu ergui os olhos. À nossa frente, um lugar isolado, seguro, silencioso. Matheo saiu do carro e se aproximou, olhando para mim com expressão firme, mas suave.
— Aqui você está segura, Tâmisa — disse ele. — Por enquanto. Mas… nós temos que ir.
Queria protestar, gritar que não queria ficar sozinha, mas não havia tempo. Eles me olharam como quem dizia “confie em nós, por enquanto”, e então entramos, ali alguns empregados, seguranças e uma moça estavam tensos, Matheo a abraçou, ela estava aliviada, depois abraçou o outro, ele se aproximou com água e me esticou, disse q ue deveria tomar e ficar calma e seguiu com ele para dentro de um escritório, ela se aproximou e me abraçou, aquela ruiva tão simpática me acalmou, e me fez entender que agora, sim, eu estava segura.
Mesmo assim, a voz de aviso deles ecoava na minha mente: guerra. E eu sabia que nada seria fácil a partir dali.
Depois do encontro com a mulher na mansão, o cuidado que ela e os dois pareciam ter comigo, saber que tinha perdido minha irmã, minha mãe e ganhado um irmão foi demais, pude finalmente desabar, estava em um jato luxuoso seguindo para a Itália, mas daria tudo para ter ela e mariella de volta.
— Ese viejo… — minha voz tremia. — Aquele velho matou minha família.
Matheo passou a mão no rosto, tentando conter a raiva que brilhava nos olhos dele.
— Eu sinto muito… não sabia da sua existência, se soubesse, já teria feito algo — murmurou, e a sinceridade cortou o ar como uma lâmina.
Senti os olhos arderem e uma lágrima escapou, quente e rápida.
— Não é justo…
Ele me puxou para perto e me abraçou. Por um instante, senti a sombra da máfia ao nosso redor, mas também a proteção da família, das pessoas que queriam me ver viva. Eu vivi horrores, mas ali, mesmo com tudo, havia segurança.
Heitor se inclinou para mim, tentando aliviar um pouco o peso que eu sentia.
— E você? O que fazia antes de tudo isso? — perguntou, com aquele tom que misturava curiosidade e cuidado.
Limpei meu rosto com a manga, tentando recuperar o pouco de compostura que me restava.
— Segundo ano de Direito… queria ser advogada — disse, soltando um riso amargo que parecia se perder na sala. — Agora… nem sei mais.
Heitor balançou a cabeça devagar, mas firme.
— Se você quiser, vai ter tudo isso — disse. — E mais. Só precisa confiar nas pessoas certas. Nossa família tem muitos advogados, você vai conseguir.
Sorri fraco, frágil, e percebi que Matheo me observava de perto, o rosto fechado, quase sofrendo. Ele não sabia que eu era irmã dele, e eu sentia como se cada lágrima dele escondida pesasse. Helena se manteve por perto, o olhar dela cálido, e eu não sabia exatamente por que confiava nela, mas confiava.
— Matheo… — ouvi Heitor chamar baixinho. — Ela tá fraca, vou ajudá-la a deitar na suíte.
Olhei para Matheo, que me analisou com cuidado, esperando talvez algum vestígio de medo.
— Você não quer que eu vá também? — perguntou Helena, a esposa dele.
Ele segurou a mão dela e negou.
— Não. Você precisa descansar, pelo menos antes de chegarmos. O clima no complexo vai ser tenso, e faz pouco tempo do seu acidente.
Respirei fundo, sentindo o peso do cansaço e a estranha segurança que Heitor transmitia quando me deu a mão. Ele me guiou pelo corredor até a suíte, apoiando-me com cuidado, e pela primeira vez em dias, senti que talvez estivesse realmente protegida.
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