Mãe! Por favor, me deixa levar seu carro para a faculdade? É o meu primeiro dia! - implorei ao telefone, tentando convencê-la a liberar o veículo que estava parado na garagem.
- Jennie.. você sabe por que não quero que você dirija meu carro, certo?- disse ela, com a voz firme do outro lado da linha.
Minha mãe é do tipo que, se você cometer um erro uma vez, isso fica registrado para sempre.
Tudo começou quando tirou minha carteira de habilitação. Eu estava radiante, empolgada por finalmente poder dirigir. Meus amigos, animados por mim, decidiram comemorar em um barzinho. Eu me ofereci para ser a motorista na volta, já que não tinha intenção de beber.
Mas, na empolgação, acabei tomando uma caipirinha aqui e outra ali. Quando chegou a hora de ir embora, disse aos meus amigos que estava "ótima" e que poderia levá-los para casa.
O que era uma grande mentira! Meus amigos, conhecendo meus limites, se recusaram e chamaram um Uber. Teimosa, peguei a chave do carro e decidi voltar dirigindo, insistindo que estava bem e que conseguiria dirigir. Eles tentaram me impedir, mas fui rápida e saí acelerando.
Tudo ia bem, até que tive a ideia brilhante de conectar minhas músicas no som do carro via Bluetooth. Peguei meu celular que estava no banco do passageiro, me concentrei na tela para conectar e, por causa da bebida, acabei olhando para o aparelho tempo demais. Foi o suficiente para eu colidir com um carro parado à minha frente.
Graças a Deus, saí do carro apenas com alguns cortes. Já o meu carro ficou com a frente amassada, enquanto o outro veículo teve apenas alguns danos superficiais. O outro motorista até me disse que eu não precisava me preocupar com o conserto do carro dele, já que o meu estava em péssimas condições.
Quando minha mãe soube, ficou fora de si! Saiu de casa desesperada e, ao me ver bem, me deu um sermão típico. Proibiu-me de dirigir qualquer carro por tempo indeterminado. Um ano se passou desde então, e ela ainda estava com um pé atrás.
- Mãe, eu sei que errei naquele dia, mas aprendi a lição... Isso faz tempo!- tentei convencê-la, esperando que ela tivesse pena de mim. Mas logo percebi que era inútil.
- Não!- e desligou na minha cara.
Tirei o telefone da orelha, encarando o aparelho por alguns segundos, pensando em como minha mãe poderia ser tão ríspida. Acreditava que, pedindo enquanto ela estava viajando, teria mais chances. Mas parece que me enganei feio!
Coloquei o telefone de volta e fui para o meu quarto, onde precisava me arrumar para o trabalho. Ao chegar lá, olhei para o relógio na parede e percebi que já estava bem atrasada. Sabendo que o ônibus demoraria, decidi desobedecer minha mãe e fui de carro para o trabalho. Tomei um banho correndo, vesti meu uniforme, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e saí.
[...]
Enquanto dirigia para o trabalho, comecei a pensar em como eu realmente odiava meu emprego. Trabalhava em uma padaria e restaurante bem conhecido no centro da cidade.
Não que eu entrasse cedo, mas meu trabalho era basicamente servir e limpar mesas, como uma garçonete. A vida não era fácil; precisava trabalhar para pagar minha faculdade, e como ficava lá em dois turnos, o dinheiro era suficiente para quitar a mensalidade do meu curso de arquitetura.
[...]
Finalmente, olhei para o relógio na parede do restaurante e agradeci a Deus por o expediente estar quase acabando. O movimento estava fraco devido ao horário; geralmente, à tarde, éramos menos procurados.
Encostada no balcão, fitava o relógio, contando os minutos para ir para casa e tentar dormir um pouco antes da faculdade. Estava levemente ansiosa, mas tinha grandes esperanças de que tudo daria certo. Comecei a imaginar como seria minha primeira aula, como era a sala, se eu me enturmaria rápido ou não.
Fui puxada de meus pensamentos por um cliente que me chamava. Assim que me aproximei, ele foi direto ao ponto.
- Esse café está horrível! reclamou, elevando o tom de voz e atraindo a atenção dos outros clientes.
- Senhor... - tentei começar, mas ele me interrompeu.
- Liam! ele disparou, com uma arrogância que me irritou.- Senhor está no céu
- Ok, Liam! - respondi, respirando fundo para não perder a calma.- Lamento que não tenha gostado do café. Posso trazer outro sem problemas!
- Outro?! Não quero outro, sua idiota! Quero meu dinheiro de volta, para poder ir embora dessa espelunca! - ele retrucou, batendo a mão no copo de café e derramando-o nas minhas pernas.
- O senhor pode resolver isso com o gerente. Vou chamá-lo.- disse, forçando um sorriso e cerrando os punhos para me acalmar.
- Ótimo, sua incompetente! Não sei porque perdi meu tempo falando com alguém tão irrelevante como você. Ah! E limpe essa sujeira que você fez! - ele disparou, com um tom irônico que me deixou furiosa.
Pronta para reagir, fui interrompida pelo meu gerente, que entrou na minha frente.
- Jennie! Acredito que seu expediente já acabou. Deixe que eu resolvo isso.
[...]
Dirigindo de volta para casa, não conseguia parar de pensar na grosseria daquele cliente. A raiva crescia dentro de mim ao lembrar que ele "acidentalmente" derrubou café em mim, e mais ainda por não poder fazer nada a respeito. Estava tão irritada que, após um tempo dirigindo, percebi que minhas mãos estavam apertando o volante com força. Respirei fundo, tentando me acalmar e focar na faculdade, que deveria ser uma experiência ótima.
Cheguei em casa e fui direto para o meu quarto, me jogando na cama na esperança de tirar um cochilo antes de ir à faculdade. No entanto, essa ideia foi por água abaixo quando o rádio do meu pai ligou no último volume.
Fiquei estressada com o barulho, lembrando do cliente escroto que tive que atender. A ansiedade pelo início da faculdade só aumentava minha irritação, e eu estava ferrada!
Percebi que não conseguiria dormir, então levantei da cama e decidi tomar um banho para tentar me distrair. Assim que entrei debaixo do chuveiro, senti a tensão diminuindo, e meu corpo começou a relaxar. Sempre que estou estressada ou tensa, minha primeira opção para me acalmar é desfrutar de um bom banho quente, sem pressa. A água quente me faz ficar mais leve e tranquila.
Depois de um bom banho quente, fui me arrumar para a faculdade. Era o meu primeiro dia, e queria causar uma boa impressão. Escolhi um jeans de cintura alta, um cropped preto com mangas médias e um salto alto escuro. Soltei meus cabelos, deixando-os longos e ondulados ao natural, e finalizei com uma maquiagem leve que realçava meus traços.
Me olhei no espelho e pensei: "Pronta para arrasar corações!" Eu estava definitivamente diferente da Jennie de hoje de manhã, que parecia acabada. Agora, estava linda!
Peguei minha bolsa com alguns materiais necessários e fui até a cozinha para comer algo. Não estava com muita fome, então peguei uma maçã e a comi sem pressa.
Nesse momento, meu pai apareceu, todo arrumado.
- Uau! Posso saber para onde você vai todo bonitão assim?- encarando-o. perguntei,
- Olha quem fala! Hoje é seu primeiro dia na faculdade e você se veste como se fosse para um desfile de moda! - ele brincou. Vai de ônibus, filha?
- Vou, porque a mamãe não quer que eu use o carro dela! - retruquei.
- Eu te levo, sem problemas! - disse, pegando as chaves do carro que estavam em cima da mesa.- Mas precisamos sair agora. Tenho uma festa hoje e não quero me atrasar.
- Meu Deus, pai! Quem dá uma festa numa segunda-feira? - questionei enquanto caminhávamos em direção à garagem.
- Filha, essas festas não são como as de vocês jovens que ficam até de madrugada.- Ele destravou o carro para que eu pudesse entrar. - Essa dura até as 22h. Depois disso, volto para casa. Nem em sonho eu conseguiria virar a noite.
- Claro que conseguiria! Você ainda é jovem e tem saúde de sobra! - falei, rindo enquanto colocava o cinto.
[...]
- Filha? Chegamos! ele disse, destravando a porta do carro.
- Obrigada, pai! - respondi, me
despedindo.
Como estava adiantada, comecei a dar uma volta pela faculdade, que era enorme. Entrei em várias salas diferentes, explorei o campus e achei tudo maravilhoso. Minutos depois, com a bexiga de criança, comecei a procurar o banheiro, pois estava apertada. Andei de um lado para o outro, mas não encontrava. Comecei a andar com desespero, sem prestar atenção, até que, distraída, bati em alguém. Com os saltos, me desequilibrei e caí no chão. Ao me levantar, percebi que tinha esbarrado em um rapaz bem bonito. Ele se levantou rapidamente e me estendeu a mão, ajudando-me a levantar.
- Nossa, moça! Desculpa! Não te vi, estava totalmente distraído! - ele disse, ainda segurando minha mão, mesmo depois de já ter me levantado.
- Tudo bem, a culpa é minha também. Estava meio desnorteada, deveria ter prestado mais atenção - respondi, olhando para nossas mãos juntas. Ele percebeu e soltou.
- Desculpe novamente!
- Tudo certo!- respondi com um sorriso. Ele então começou a ficar vermelho e soltou um sorriso meio sem jeito.
Era engraçado, porque ele tinha um estilo descolado, olhos pretos e cabelos castanhos. Parecia ser o típico "boy magia". Não parecia o tipo que ficaria envergonhado perto de mulheres. Mas naquele momento, todo esse estereótipo desapareceu com seu sorriso tímido.
- Para onde você estava indo?
- Eu estava procurando o banheiro!- disse, cruzando as pernas, realmente estava apertada. Ele olhou para cima e riu.
- Às vezes, só precisamos olhar para cima, e assim encontramos as respostas que tanto procuramos.
Encarei seus olhos, sem entender muito bem o que ele quis dizer, mas logo avistei uma placa informando a localização do banheiro. Sorri automaticamente.
- Entendi, senhor misterioso... Vou indo então, realmente preciso usar o banheiro.- Falei sorrindo e me dirigindo para o banheiro.
Ele apenas sorriu de volta e continuou seu caminho.
[...]
Após usar o banheiro, percebi que estava atrasada para a primeira aula. Corri até minha sala e bati na porta. Um homem que parecia ser nosso professor abriu e voltou a falar com a turma, que já estava um pouco cheia.
Parada na porta, avistei um lugar ao fundo e segui até lá, me sentando. Não prestei muita atenção nos alunos, pois estava morrendo de vergonha de entrar na sala super atrasada. Esses pensamentos teriam que ser deixados para outra hora. Voltando ao mundo real, consegui prestar atenção em tudo o que ele falava. Seu nome era Ricardo, e ele estava explicando sobre suas aulas, os trabalhos e tudo mais.
Ao final da aula, resolvi dar uma olhada ao redor. Quando olhei para o lado, percebi que o "senhor misterioso" estava sentado bem ao meu lado. Ele estava tão concentrado fazendo anotações que achei melhor não interrompê-lo. Apenas virei novamente para frente e aguardei a chegada do próximo professor.
O som de notificação do meu celular puxou minha atenção, mas não demorou muito para que meus olhos fossem atraídos por uma mulher que entrou na sala, a professora. Acredito que o tempo passou em câmera lenta enquanto eu a observava. Sua postura era impecável enquanto caminhava, e seu cabelo liso e longo, parecia ser castanho escuro, quase preto. As roupas eram muito bem alinhadas, consistindo em uma saia social acinturada de tom escuro e uma blusa branca que ficava no cós da saia, finalizando com um salto alto de bico fino.
Assim que seus passos cessaram e seu rosto se virou completamente para a frente, pude observar seus traços. Seus olhos castanho-claros eram firmes e não transmitiam quase nada, se é que isso é possível. Seus lábios eram médios e um pouco avermelhados, tudo isso acompanhado de uma maquiagem simples. O combo perfeito que a deixava incrivelmente... sexy?
"Espera um pouco... 'sexy'? Desde quando eu acho uma mulher 'sexy'? Meu Deus, estou ficando louca! Jennie, acorda! Ela não é sexy, apenas uma mulher muito bonita e estilosa, só isso! Para de pensar assim!" Decidi deixar esses pensamentos de lado e me concentrar no que ela dizia.
- Boa noite, meu nome é Lisa Manoban. Quero começar com o pé direito este ano e ajudar vocês no que precisarem. Como é o primeiro dia, quero que vocês se apresentem, dizendo seu nome, idade e o motivo pelo qual escolheram este curso. Sei que é um pouco clichê, mas vocês passarão alguns anos aqui e precisam se conhecer melhor. Este curso é difícil; vocês vão ter que ralar para obter boas notas. Enfim, não quero assustá-los... Por enquanto... Vamos começar? ela disse, apontando para o primeiro aluno.
Para ser sincera, não prestei muita atenção no que os outros alunos falavam.
Estava focada unicamente na professora "sexy"... digo, estilosa. Ficava atenta às reações dela enquanto os outros falavam. O olhar dela era frio e distante, como se não quisesse transmitir nada. Sua boca... Nossa! Que boca era aquela! Eu poderia passar horas... beijando? "Deus, ajuda-me! Estou ficando louca, só pode!"
- Ei! senti alguém cutucando meu braço, me fazendo sair dos meus devaneios. Quando olhei para o lado, vi que era o "senhor misterioso".
- Ei, senhor misterioso.- respondi com um sorriso. Ele riu antes de continuar.
- Olha, eu até acho esse apelido interessante, mas prefiro meu nome. Prazer, Theo.- Ele me estendeu a mão, e rapidamente retribuí o gesto.
- Prazer, Jennie. Eu...
- Uma coisa que realmente não gosto é que alguém fique conversando enquanto explico. Entendeu, senhorita Kim?.- Lisa interrompeu, fazendo com que todos os alunos olhassem para mim, esperando uma resposta.
"Ela está de marcação comigo, só pode!"
- pensei, me ajeitando na carteira e olhando para frente novamente.
- Desculpe, Lisa, Bom... Meu nome é Jennie Kim e tenho 19 anos. Sempre amei arquitetura e, mesmo sem ter interesse pelo curso, fui me aprofundando mais e descobri que era isso que eu queria fazer.
- Interessante, senhorita Kim.
Lisa disse, apoiando seu quadril na mesa. Espero que esse amor não morra no meio do caminho, como já vi acontecer com muitos. - Ela me olhou de forma penetrante.
- Quem é o próximo?
Depois disso, todos se apresentaram, mas eu novamente não prestei atenção.
Só conseguia pensar em como Lisa havia falado comigo. Apesar de ser seca e direta, ainda assim, me sentia atraída por ela. Ok, confesso, acho que ela é 'sexy' e atraente, mas depois desse balde de água fria que recebi, duvido que consiga algo com ela. Até porque ela era a minha professora e provavelmente bem hétero.
- Ei... Garota do banheiro? - mais uma vez, o "senhor misterioso" me salvava de meus pensamentos estranhos.
- Ei, senhor misterioso sorrindo. Respondi, Ele riu e continuou.
- Olha, eu até acho esse apelido interessante, mas prefiro meu nome.
- Prazer de novo, sou o Theo. - Ele me estendeu a mão novamente, e eu retribuí.
- Prazer, Jennie. Eu...
- Uma coisa que realmente não gosto é que alguém fique falando enquanto explico. Entendeu de novo, senhorita Kim?- Lisa interrompeu, fazendo com que todos olhassem para mim, esperando uma resposta.
- Você está de marcação comigo, né? Só pode! - pensei, me ajeitando na carteira e olhando para frente novamente.
- Desculpa, Lisa, theo falou.- A culpa foi minha, eu que comecei essa conversa...
- Não me interessa saber quem começou! Se quiserem conversar, a porta estará aberta para vocês lá fora.- Lisa disse, de forma direta. Era impressionante como ela conseguia ser firme sem elevar o tom de voz!
Eu, já estava de saco cheio, não só da Lisa, mas também de como meu primeiro dia não estava sendo como eu esperava. Decidi sair da sala antes que eu explodisse. Arrumei minhas coisas, enfiando tudo de qualquer jeito na bolsa, e segui até a porta. Senti vários olhares me acompanharem até minha saída, inclusive o de Lisa, que mantinha o olhar frio e vazio.
Assim que saí da sala, decidi ir para a lanchonete que ficava perto do instituto. Todo aquele estresse me deu fome.
[...]
Sentada no refeitório, que estava completamente vazio, comecei a fitar o prato do lanche que havia comido. Pensei se foi uma má ideia ter saído da sala daquela maneira; meu dia não podia piorar mais do que já estava.
- Não foi educado você ter saído da sala daquela maneira, senhorita Kim...- ouvi uma voz familiar. Só confirmei quando olhei para trás e vi Lisa me encarando com seu olhar habitual.
Piorou! - pensei.
Lisa colocou sua pasta em cima da mesa e sentou-se do outro lado. Era incrível como ela parecia sexy, mesmo sendo tão fria comigo.
- Desculpa por ter conversado e não ter prestado atenção na aula como eu deveria. É que meu dia foi...- parei de falar, percebendo que estava me alongando. Ela não precisava saber da minha vida!
- Tudo bem... Não precisa pedir desculpas, eu exagerei... - ela disse, parecendo mais relaxada. - Eu só levo tudo muito a sério, e você me fez lembrar de mim no meu primeiro dia de faculdade. Eu era completamente desligada, vivia distraída. Com isso, meu primeiro ano não foi nada fácil... - Ela falava pausadamente e calma, como se fosse outra pessoa. Eu a ouvia atentamente, como se fosse o assunto mais importante da minha vida. - E graças a um professor que pegava muito no meu pé, consegui terminar meu curso e me tornar mais centrada. Hoje em dia sou até centrada demais. Enfim, o que quero dizer é que não fiz por mal; só queria te ajudar. - Um sorriso automático apareceu em meu rosto, e ela o percebeu. - Assim como quero ajudar todos os outros alunos, e... - olhou para o relógio, parecendo sem graça.- Nossa, eu preciso ir... estou atrasada...- Lisa falou, pegando seu material e se levantando.
Fiquei um tempo lá, sentada, sem saber muito bem o que havia acontecido. Apenas sorri para o nada, peguei minhas coisas e fui para o auditório. O restante da noite seria de palestras.
[...]
Finalmente esse dia chegou ao fim!- pensei enquanto ligava para meu pai, parada em frente ao portão da faculdade.
- Atende... Atende... - Não conseguia contar quantas vezes tentei ligar para ele, mas ele não atendia. Tudo bem que eu não tinha marcado de ele vir me buscar, mas julguei que ele provavelmente já estaria em casa.
Decidi ir de ônibus mesmo; era o único jeito de voltar para casa. Parei em um ponto de ônibus perto da faculdade. O tempo foi passando e nada do coletivo. A parada estava completamente vazia, assim como a rua, até porque a maioria dos alunos tinha seus próprios carros.
Depois de uma hora esperando, novamente tentei ligar para meu pai, mas sem sucesso.
Deixe seu recado...
- Droga! disse, desligando o celular e jogando-o na bolsa. - Hoje definitivamente não é o meu dia! - falei sozinha.
Então, um carro BMW preta parou em frente ao ponto onde eu estava.
Preparei-me para correr, mas o vidro do veículo abaixou, revelando Lisa dentro dele.
- Ainda aqui? ela perguntou.
- Sim... Estou esperando um ônibus, mas parece que os motoristas não querem trabalhar hoje - respondi, respirando fundo.
- Vem, eu te dou uma carona!- Lisa disse, destrancando a porta do carro.
- Não... Não precisa, vou esperar mais um pouco, daqui a pouco aparece um ônibus e...
- Senhorita Lisa.. Vamos! Não me faça ir aí te pegar.- Lisa falou, me interrompendo, fazendo meu corpo arrepiar com aquela resposta.
- An... Ok, obrigada... - disse, levantando e entrando no carro.
A viagem inteira até minha casa foi em completo silêncio. Eu apenas disse onde era meu bairro, e o resto do caminho foi silencioso. Percebi que, de vez em quando, ela me olhava e tentava falar algo, mas logo desistia e continuava a dirigir. Mantive-me calada, até porque não tinha muito o que dizer. O único assunto que me passava pela cabeça era a cena do refeitório, mas eu tinha certeza de que nenhuma de nós queria tocar nesse tópico.
- Então... agora eu preciso de uma ajudinha...
Lalisa Manoban POV
- Então... agora preciso de uma ajudinha.- digo entrando em seu bairro.- Onde é a sua casa?
- Pode me deixar aqui mesmo... Não precisa me levar até lá.- Jennie respondeu, tirando o cinto. Rapidamente, travei as portas do carro.
- Eu insisto em te levar lá!
Ela me encarava com uma expressão de surpresa. Sei que pareci uma louca fazendo isso, mas realmente queria saber onde ela morava. "Estou ficando maluca! Só pode!"
- Tudo bem... Bom, é na quinta rua à direita ela falou, voltando a olhar para frente.
Era um momento tenso, na verdade, a viagem inteira foi. Tentava dizer algo algumas vezes, mas sempre me arrependia mentalmente e acabava não falando nada.. Sinceramente, não conseguia entender o que estava acontecendo comigo. Nunca conheci alguém tão pouco e concedi espaço para me deixar do jeito que estava, sem ter o que falar, sem reação. Mas ela, por incrível que pareça, era a única que conseguia isso.
Depois da cena do refeitório, achei melhor me manter o mais distante possível dela. Entretanto, quando a vi sozinha no ponto de ônibus, meu coração quase saiu pela boca. Ela estava tão linda, mesmo parecendo brava e estressada.
Chegando em frente à casa dela, ficamos em silêncio por alguns segundos, olhando para frente. Parecia que era proibido olharmos uma para a outra. Decidi acabar com o silêncio e falar algo.
- Bom, está entregue...- disse, olhando para ela, que continuava olhando para frente.
- Lisa, posso te fazer uma pergunta? ela falou, se virando e olhando para mim.
- Claro! - respondi, respirando fundo, presa nos olhos cor de mel que ela tinha, me deixando completamente sem jeito.
- Por que você saiu daquela maneira do refeitório? -Agora seus olhares estavam curiosos, esperando uma resposta.
- Bom...- Aquela pergunta me pegou de surpresa. Eu... Bom...
Meu celular toca.
- Uffa! pensei. Salva pelo gongo, e esse "gongo" tinha nome: Dylan, meu marido.
Ligação ON
- Alô?- atendo.
- Oi, amor! Já está em casa? Acabei de sair de uma reunião e...
- Dylan.- digo, interrompendo-o - ainda não cheguei em casa, estou um pouco ocupada agora. Te vejo depois?
- Tá... Tudo bem, amor... Te amo!
- Te amo também!
Ligação OFF
Desliguei o celular e voltei a olhar para Jennie, que parecia decepcionada.
- Olha, Senhora Manoban nem precisa dizer nada. Eu não deveria ter tocado nesse assunto. Desculpa.- ela falou, olhando para frente novamente.
- Jennie, eu...
- Você pode destravar a porta, por favor?- Ela falou de forma seca. Por mais que eu quisesse dizer algo, não era o momento. Apenas destravei a porta e a vi sair as pressas, entrando em sua casa.
[...]
Jennie Kim POV
Entrei em casa correndo e fui direto para o meu quarto, me jogando na cama. "Como não pude perceber que ela era casada? Ainda fiz aquela pergunta ridícula sobre a cena no refeitório. Era melhor ter ficado calada. E outra, desde quando me interesso por mulheres? Como sou sortuda! A primeira mulher que me interesso e ela é casada. Deus!"-Pensava enquanto fitava o teto.
Imediatamente decidi que iria esquecer o que aconteceu e me focar no meu trabalho e nos meus estudos, que eram minhas prioridades no momento Levantei da cama, me troquei, coloquei um pijama e me deitei novamente, dessa vez para realmente dormir
Acordei no dia seguinte com o despertador tocando sem parar, Levantei meio sonolenta, desliguei o despertador e desci para tomar um banho antes de ir para o trabalho,
Minutos depois, já estava pronta para ir. Deixei o uniforme na minha bolsa dessa vez, pois como não ia de carro, não tinha a menor possibilidade de ficar desfilando pelas ruas da cidade com aquele uniforme ridiculo. Apenas usei um jeans, uma regata branca e uma sapatilha bege.
Sai de casa e fui direto para o ponto de ônibus, que como sempre, estava lotado de gente. Segundos depois, meu ônibus passou. Entrei nele e agradeci a Deus mentalmente por apenas algumas pessoas que estavam no ponto terem entrado no ônibus. Mesmo ele estando um pouco cheio, consegui encontrar um lugar para me sentar.
Fiquei o caminho inteiro escutando Billie Eilish e olhando para o vidro do ônibus, apenas fitando a paisagem e pensando em muitas coisas, como sempre. Chegando ao meu trabalho, fui direto para o banheiro dos funcionários, me trocar e colocar o uniforme. Guardei minha bolsa e fui trabalhar,
13:30, hora do meu almoço.- pensava, fitando o relógio do estabelecimento.
- So fica ai pensando na morte da bezerra!- olho para o lado procurando o dono da voz que era familiar e logo encontro meu melhor amigo, Victor.
Ele havia viajado para Nova York por um tempo, pois precisava resolver algumas coisas com a familia que vivia lá. Por isso, meus dramas nesses meses eu sofri sozinha. Não queria atormentar ele com coisas bobas, inclusive porque essa viagem não era para matar as saudades, e sim para ver o seu pai que estava com câncer e prestes a falecer.
Além disso, tinha todo um drama da familia dele que não o aceitava por ele ser homossexual. Então, aos 13 anos, ele veie para o Brasil morar com a tia, que era um amor de pessoa e o aceitava exatamente como ele era. Conheci ele quando tinha 15 anos; nessa época, ele tinha a mesma idade que eu. Estávamos no mesmo ano escolar, não éramos os mais populares e Isso acabou nos unindo. Começamos a andar juntos, vivemos muitas coisas juntos, e por conta disso somos melhores amigos até hoje
- Victor.- fui em direção a ele, que estava perto da porta do estabelecimento, e o abracei. Um abraço forte e demorado para matar as saudades
- Eai, amore? Saudades! Quer almoçar comigo?-Victor falava ainda com os braços em volta de mim, sorrindo.
- Claro! Deixa eu só pegar minha bolsa e nisso já vamos.- Disse, soltando de seus braços e indo pegar minha bolsa.
Ficamos em um restaurante não muito longe de onde eu trabalhava, até porque logo teria que voltar. Sentamos em uma mesa próxima às janelas do restaurante, que eram enormes e mostravam o fluxo de pessoas indo de um lado para o outro no centro.Pedimos a comida e ficamos aguardando, observando as pessoas pela janela.
- Passada com esse seu uniforme sexy.- Victor falou com tom de ironia, rindo em seguida.
- Hahaha, muito engraçado.- retruquei com a cara séria.- Você sabe o quanto odeio esse uniforme!
- Eu sei, Jen, to brincando.- falou, segurando minha mão que estava em cima da mesa.
- Eu sei... Estava com saudades.- falo, apertando sua mão.
Eu também: Você nem sabe o quanto queria que você estivesse la comigo! Foi foda algumas coisas que aconteceram - Em seguida, soltamos as mãos para que o garçom colocasse nossos pratos sobre a mesa.
- Quero saber de tudo, mas antes vamos comer porque estou morta de fume.- Rimos juntos e começamos a comer
Ele começou a me contar como foi dificil quando chegou là, pois sua familia ainda continuava com o mesmo pensamento sobre a sexualidade dele. depois de alguns meses seu pai começou a conversar mais com ele e se aproximar, assim, incentivando outros membros de sua família a se aproximarem mais do Victor e pedirem desculpas peles anos longe dele.
meses depois, seu pai faleceu. Ele disse que ficou triste e decepcionado por não ter mais tempo com o homem. Depois disso, ele ficou mais algumas semanas la com a mãe e os irmãos até a poeira baixar. Entretanto, achou melhor voltar, mesmo com sua mãe insistindo que ele ficasse por lá.
- Até porque, eu não posso deixar minha melhor amiga aqui sozinha.- disse, segurando minha mão novamente.
- Hum, sei! Você não queria era deixar os boys daqui.- Rimos juntos e soltamos as mãos.
- vai também não queria deixar eles.- Nós rimos outra vez.
- Olha, não sabia!
- Mas você vem em primeiro lugar, amiga, sempre! Enfim, dona Jennie Kim, eu não recebi nenhuma mensagem sua enquanto estava la. Estava tão bom assim sem minha presença?
- imagina... so não queria te encher com meus problemas. Você já tinha demais! Eu sempre te mandava mensagens perguntando se você estava bem, se tudo estava bem.
- Você jamais iria me "encher" com seus problemas, Sempre estarei aqui para você! Então, já que eu consegui resolver meus problemas, quero saber o que aconteceul pode começar.
- Ah, Victor, o de sempre! Meu trabalho continua me matando, Minha mãe ainda não me deixa dirigir.
- Ainda, Jen?
- Sim! Estou sem falar com ela. A última vez que conversamos, ela desligou na minha cara! Agora ela está lá na viagem dela com as amigas... Ela me liga às vezes, mas eu não atendo.
- Jennie, você sabe que não atender as ligações dela não fará as coisas se resolverem.
- Eu sei... Quando ela voltar, nós conversaremos. Não quero brigar com ela por telefone e estragar as férias dela. Deus sabe o quanto ela precisava dessas férias....
- Pois é! Sua mãe trabalha direto, coitada... Ela precisa descansar...
- É... Ah! Comecei a faculdade de Arquitetura!
- Como assim? Se eu não tivesse voltado agora, você estaria formada e eu nem saberia, né sua cachorrinha!- Victor falou, batendo de leve no meu braço.
- É que eu nem sabia se daria certo, mas deu! Comecei ontem!
- E aí... Como foi?
- Uma porcaria, né, Victor... Primeiro porque cheguei atrasada na aula. Minha distração sempre me ferrando, e estou atraída pela minha professora 'sexy'
- Para, paral Tudo! Como assim, eu ouvi direito? Você está atraída pela sua professora?
- Que é casada!- digo, tomando o suco que estava na mesa.
- Você precisa me contar direito essa história, garota! Porém, acho melhor você ir, senão vai se atrasar-Victor fala, e eu imediatamente olho para o relógio, constatando que realmente estou atrasada.
- Ai, meu Deus! Victor, tenho que correr agora.- digo, pegando minha bolsa e em seguida beijando sua testa.- Eu te ligo mais tarde! Te amo!
- Te amo também.- escuto Victor dizer em seguida.
Sair do restaurante correndo e fui direto para o meu trabalho.
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