Yuki caminhava animadamente em direção ao portão da escola, onde suas madeixas pretas balançavam ao ritmo da brisa da manhã. Lá, já a esperava Aiko, distraída em uma conversa com Min-Ji. Sem fazer barulho, Yuki se aproximou por trás e a envolveu em um abraço apertado.
— Oie, amiga! Tá tão cheirosa hoje… — sussurrou sorrindo.
— Eu tô sempre cheirosa, Yuki. Aiai! — respondeu Aiko, rindo enquanto se soltava do abraço, passando a mão pelos cabelos loiros que brilhavam sob a luz suave do sol.
— Nem se acha, né? — Yuki fez uma careta divertida e logo olhou para Min-Ji. — Qual é a fofoca logo cedo?—
— Nada demais, Yuki. Só estava explicando a matéria pra Aiko — disse Min-Ji, com um sorrisinho de canto.
Yuki arqueou a sobrancelha, desconfiada.
— Não creio nisso, não! Vai me contar, Aiko.—
— Vou pensar seriamente nisso! — Aiko riu, já puxando Yuki pelo braço. — Anda, vamos logo que o professor deve estar na sala.—
Enquanto seguia ao lado da amiga, Yuki não tirava da cabeça o jeito misterioso de Aiko. Ela conhecia tão bem aquela loira que sabia, no fundo, que estava mentindo na cara dura.
Enquanto caminhava ao lado de Aiko, Yuki tentava disfarçar o turbilhão que sentia por dentro. Para qualquer pessoa, aquilo não passava de mais uma manhã normal na escola, mas para ela cada detalhe parecia especial demais. O jeito como Aiko mexia nos cabelos loiros, o som leve da risada, até mesmo o modo como segurava seu braço… tudo era suficiente para acelerar seu coração.
"Se ela soubesse… se descobrisse o que realmente sinto… será que ainda riria assim para mim?" — pensava Yuki, engolindo em seco.—
Ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos antes que se entregasse no olhar. Aiko era sua melhor amiga, e perder isso seria insuportável. Então Yuki apenas sorriu, fingindo naturalidade, enquanto por dentro desejava que aquele segredo não a consumisse para sempre.
No fundo, porém, ela sabia: a cada dia estava ficando mais difícil esconder.
A sala de aula estava em silêncio, exceto pelo som do giz riscando a lousa e algumas páginas de caderno sendo viradas. Yuki tentava anotar as fórmulas que o professor explicava, mas sua mente parecia presa em outro lugar… ou melhor, em outra pessoa.
Aiko, sentada logo à frente, mexia distraidamente na ponta do cabelo loiro enquanto mordia a tampa da caneta. Pequenos gestos que, para Yuki, eram praticamente uma tortura silenciosa.
"Concentra, Yuki. É só a Aiko. Sua amiga. Nada além disso." — repetia para si mesma, mas o coração não obedecia.
De repente, Aiko virou-se para trás, sorrindo como se nada no mundo pudesse abalar sua leveza.
— Você tá entendendo essa parte? — perguntou baixinho.
Yuki engoliu em seco, sentindo o rosto esquentar.
— Hã? Ah… sim… claro… tô entendendo tudo.—
Aiko riu, balançando a cabeça.
— Duvido. Você tem a mesma cara de perdida de sempre. Vou te explicar depois, tá?—
Yuki apenas assentiu, tentando disfarçar, mas por dentro estava em colapso. O simples fato de Aiko se preocupar com ela era como gasolina no fogo que já queimava em segredo.
"Explicar depois? Ótimo… mais tempo com você sozinha. Como eu vou sobreviver a isso?"
— Mas enfim, você vai me contar ou não o que estava conversando com a Min-Ji? —
— Depois do intervalo eu falo, mas tenha paciência. — Aiko falou baixinho, e Yuki riu.
— Tá bom então, prometo ter paciência. — Falou no mesmo tom que ela.
Não demorou muito e a aula acabou, era a segunda aula que estava por vir.
E quanto mais as horas passavam, mais ansiosa ela ficava.
Graças a Deus, bateu o sinal para o intervalo e Yuki quase levantou as mãos para o céu de tanta alegria.
— Aiko, Yuki, tô indo para o refeitório. Vocês não vão? — perguntou a Min-Ji.
— Já já nós vamos. — falou Aiko, indo para a cadeira da Yuki, que já esperava sorrindo.
— E aí? Conta logo. — falou ansiosa.
— Calma! Deixa os alunos saírem. —
Os alunos saíram da sala, e finalmente só estavam elas duas.
— Agora conta! Tô morrendo de curiosidade. — falou Yuki.
Aiko respirou fundo, olhando nos olhos da amiga.
— Não é pra me julgar, Yuki! — falou séria.
— Ok, amiga. Enfim, conta logo que eu não vou te julgar. — falou Yuki.
— Enfim… eu acho… — olhou para os lados, certificando-se de que ninguém vinha. — que gosto de mulher… — completou.
Yuki mal conseguia respirar de tanta surpresa.
— Como… assim… mulheres? — perguntou, gaguejando, quase gritando. Aiko rapidamente tapou sua boca.
— Fala baixo, Yuki! — repreendeu a amiga, tirando a mão de sua boca.
— Ué… é que eu tô surpresa! Eu nunca imaginei você gostando de mulheres. Mas… você já beijou meninas para saber? — falou ainda em choque, mas ao mesmo tempo bastante feliz, por perceber que não era só ela que gostava de mulheres.
Aiko desviou o olhar, mexendo nervosamente nos dedos.
— Não… nunca beijei nenhuma menina… — confessou, a voz baixa, quase como se fosse um segredo proibido.
Yuki arregalou os olhos, mas logo abriu um sorriso travesso.
— Então… você só acha que gosta? — perguntou, inclinando-se mais perto, como se quisesse arrancar cada detalhe.
— Não é só achar, Yuki. Eu sinto… — respondeu Aiko, ainda corada. — Só que nunca tive coragem de contar pra ninguém… até agora.—
O coração de Yuki disparava, mas ela forçou um sorriso leve.
— Olha, você pode ficar tranquila. Eu nunca vou te julgar, Aiko. Mas... se você quiser, eu te ajudo com isso. —
Falou com um sorriso de canto.
— Como assim me ajudar, Yuki? —
Falou Aiko, curiosa com a pergunta.
— Ué... só é você me beijar. —
Falou séria, e Aiko agora ficou em choque.
— Eu... você? Beijar? —
— É… só isso. — Yuki respondeu, cruzando os braços e desviando o olhar por um instante, antes de encarar Aiko novamente, com aquele sorriso travesso de canto.
Aiko sentiu o coração acelerar, a boca secar e as mãos ficarem geladas.
— Mas… eu nunca… — ela gaguejou, olhando para o chão, sem saber se ria ou se chorava de nervoso.
— Relaxa… — Yuki sussurrou, dando um passo mais perto. — Ninguém precisa saber. Só eu e você.—
Aiko sentia que seu coração ia sair pela boca a qualquer momento.
A cada passo que Yuki dava, sua respiração ficava mais pesada...
Mas antes que Yuki pudesse fazer o que queria, Min-Ji chegou, atrapalhando o momento.
— Gente, trouxe batata. —
Min-Ji falou, segurando o pacote nas mãos.
Aiko se afastou de Yuki, assustada, e o clima entre as duas ficou suspenso por alguns segundos.
— Eu tô indo pro banheiro. —
Falou Yuki, saindo mais rápido que o Flash.
Min-Ji, vendo a cena, olhou pra Aiko e perguntou:
— O que aconteceu com ela? —
Mas Aiko ainda estava perdida no mundo do beijo imaginário.
Min-Ji, então, começou a chacoalhar a amiga até que ela finalmente voltou à realidade.
— O que é, amiga? —
— Tá aí olhando pro nada! O que aconteceu? E por que a Yuki saiu igual uma desesperada? —
Aiko respirou fundo, tentando parecer normal, e voltou pra sua cadeira.
— Eu não sei… deve ser dor de barriga. —
Aiko se ajeitou na cadeira, tentando parecer tranquila, mas Min-Ji não estava convencida.
— Dor de barriga, é? — disse ela, cruzando os braços e arqueando a sobrancelha. — Mas você tá com um sorriso estranho… meio… suspeito.—
—Ai, vamos mudar de assunto! Enfim, tô morrendo de fome. —
Aiko pegou o saco de batata e começou a comer como se sua vida dependesse daquilo. Cada mordida era quase uma corrida contra o tempo.
— Tá com fome mesmo, viu! — Min-Ji falou, rindo, olhando para a amiga devorar a batata. — Tá passando fome, pelo jeito.
Aiko soltou um “humf” entre uma mordida e outra.
Aiko mal tinha conseguido se recompor quando Yuki voltou, ainda ofegante, fingindo que nada tinha acontecido.
— Prontinha! — disse Yuki, com um sorriso tímido, tentando parecer casual. — Só uma paradinha rápida no banheiro.
Aiko quase soltou um riso, mas conseguiu segurar, embora as bochechas estivessem queimando de vergonha.
— Ah, claro… rapidinha… — murmurou, olhando para Min-Ji, que ainda a encarava com aquele olhar desconfiado.
Min-Ji se aproximou de Yuki agora, cruzando os braços:
— Rapidinha, é? Uhum… sei… — disse, olhando para a amiga como se estivesse prestes a descobrir um grande segredo.
Yuki engoliu em seco, tentando parecer inocente, mas o jeito que ela desviava o olhar só aumentava a suspeita de Min-Ji.
Aiko, então, resolveu intervir, tentando salvar a situação:
— Gente, vamos comer a batata antes que ela acabe! — disse, tentando soar animada, mas falhando miseravelmente.
Min-Ji riu, mas ainda desconfiada, enquanto Yuki apenas deu de ombros e seguiu para a sua mesa.
Yuki e Aiko agradeceram a Deus quando bateu o sinal e os alunos começaram a entrar na sala, junto com o professor.
Era a última aula, e ambas não viam a hora de ir pra casa. Não queriam mais perguntas da Min-Ji — já bastava o constrangimento que tinham uma na frente da outra.—
Depois que o professor de filosofia falou até mais do que a boca aguentava, finalmente o sinal tocou para o fim da aula.
Ninguém aguentava mais, e os alunos pegaram suas mochilas antes do professor sair da sala. Elas fizeram o mesmo.
— Esse professor é o terror de todos nós. —
Falou Yuki, sorrindo aliviada.
— Nem me fale! Eu não conseguia pensar de tanto falatório. —
Respondeu Aiko.
— Ele é mais chato que minha vó quando reclama das tapoer que minha mãe leva pra casa. —
Min-Ji comentou, e todas começaram a rir igual umas doidas no corredor, seguindo em direção ao portão da escola.
— Até amanhã, gente. —
Disse Min-Ji, dando tchau para elas duas.
Agora, enfim, só restavam Aiko e Yuki. Elas acenaram, e assim que Min-Ji desapareceu, se encararam.
— Bom... eu tô indo. —
Falou Aiko, sem graça, tentando se controlar.
— Bom, então vamos nessa. —
Respondeu Yuki, seguindo atrás dela.
As duas caminhavam pela rua movimentada do Japão.
Aiko ia na frente, distraída, quando de repente se virou de repente, assustando a coitada da Yuki.
Yuki deu um pulo pra trás, levando as mãos à frente como se tentasse se proteger do susto.
— Ai, Aiko! — gritou, quase tropeçando nos próprios pés. — Quase me matou do coração!
Aiko cobriu a boca, tentando não rir, mas não conseguiu segurar e soltou uma risadinha.
— Desculpa, desculpa… — disse, ainda rindo. — Eu não te vi ali e me virei assim do nada.—
Yuki respirou fundo, tentando recuperar a compostura, mas um sorriso traquina escapou de seus lábios.
— Tá bom… só que da próxima vez você vai me avisar antes, hein? — disse, fingindo ser séria, mas os olhos brilhando de diversão.
Elas continuaram andando pela rua movimentada, Aiko mais à frente, e Yuki sempre se aproximando para garantir que nada mais a pegasse de surpresa.
O clima entre elas estava leve, engraçado, e ao mesmo tempo, havia uma tensão sutil que nenhuma das duas queria admitir.
— Cheguei, graças a Deus. —
Aiko já estava no portão da sua casa. Yuki ainda teria que andar mais um pouco para chegar na dela.
— Não quer entrar, Yuki? — perguntou, sem olhar diretamente para a amiga.
— Uhum… acho que sim. A tia tá? — perguntou, já a seguindo até a entrada.
— Não! Só a Diana. E deve estar no quarto, como sempre. —
Aiko abriu a porta e deu passagem para Yuki entrar.
— Sua irmã é bem antissocial, eu nunca vejo ela. — disse Yuki, indo se sentar. Mas Aiko segurou sua mão e a puxou para subir ao quarto.
— Ela é mais velha, deve ser por isso! Sempre chata. — respondeu rindo, enquanto subia as escadas. Aiko abriu a porta do quarto e as duas entraram.
Yuki logo se jogou na cama, enquanto Aiko deixava a mochila sobre a cômoda antes de se juntar a ela.
— Espero que quando eu ficar mais velha não seja igual à sua irmã. — disse Yuki, rindo.
Por outro lado, Aiko não conseguia tirar da cabeça a proposta da amiga. Seus olhos se perderam discretamente na boca de Yuki, e ela riu sozinha com pensamentos indecentes.
— Provavelmente você vai ficar igual a ela. — brincou.
Yuki virou de lado, encarando-a.
— Não vou! Deus me livre. —
O silêncio entre as duas ficou mais pesado, só o som dos carros passando na rua ao longe preenchia o ar. Aiko mordeu o lábio, pensando no que Yuki tinha falado mais cedo.
— Yuki… — chamou baixinho, quase num sussurro.
— Oi? — Yuki virou o rosto para encará-la.
Aiko respirou fundo, o coração acelerado.
— Sabe… mais cedo… quando você perguntou se eu já tinha beijado uma menina… — fez uma pausa nervosa, os dedos brincando com a ponta do lençol. — Eu… eu toparia, se fosse com você.—
Yuki arregalou os olhos, surpresa, sentindo o rosto inteiro esquentar.
— E-eu? Tá brincando, né? — tentou rir, mas a voz falhou.
Aiko negou com a cabeça, agora olhando firme para os olhos dela.
— Não tô brincando, Yuki.—
Por alguns segundos, nenhuma disse nada. O mundo parecia ter parado dentro daquele quarto.
— Então… você realmente quer? — Yuki perguntou, com a voz trêmula, mas um sorriso nervoso no canto dos lábios.
Aiko se aproximava lentamente, os olhos fixos nos de Yuki. O coração das duas parecia bater em sincronia, rápido e descompassado. Quando seus rostos estavam a um suspiro de distância, a porta se abriu de repente.
— Aiko? Você pegou meu carregador? —
Diana entrou no quarto, apertando os olhos como se tentasse focar. Sem os óculos, parecia não enxergar quase nada.
As duas se afastaram num pulo, Yuki fingindo ajeitar o cabelo e Aiko pegando o celular como se estivesse ocupada.
— Não, Diana! Tá no seu quarto, eu acho… — respondeu Aiko rápido, tentando disfarçar o nervosismo.
A irmã franziu a testa, ainda forçando a vista.
— Uhum… tá bom. — murmurou, saindo sem notar nada estranho.
Quando a porta se fechou, Yuki e Aiko se entreolharam, ainda ofegantes e rindo baixinho do susto.
— Quase… — sussurrou Yuki, cobrindo o rosto com as mãos, vermelha.
Aiko riu, encostando o ombro nela.
— Quase mesmo.—
As duas ainda riam baixinho quando ouviram passos de volta no corredor. Antes que pudessem reagir, a porta se abriu de novo.
— Peraí… vocês duas não estavam… muito… perto demais? — perguntou Diana, agora de óculos, encarando as irmãs de forma desconfiada.
Aiko quase engasgou com o ar.
— O quê? Claro que não! — respondeu rápido demais, tentando soar natural.
— É, a gente só tava… conversando! — completou Yuki, ajeitando a blusa, ainda vermelha até as orelhas.
Diana cruzou os braços, estreitando os olhos.
— Sei… vou fingir que acredito. — disse, ainda desconfiada. — Só não esqueçam que as paredes aqui são finas. —
Ela fechou a porta devagar, de propósito, como se estivesse testando.
Assim que ficou em silêncio outra vez, Yuki se jogou na cama, cobrindo o rosto com um travesseiro.
— Eu vou morrer de vergonha!—
Aiko caiu na gargalhada, deitando ao lado dela.
— Relaxa, Yuki. A Diana sempre desconfia de tudo.—
Yuki levantou só um olho de trás do travesseiro.
— Então quer dizer que ela não tava tão errada assim? —
Aiko ficou vermelha e desviou o olhar.
— Talvez não.—
As duas ficaram em silêncio por alguns instantes, cada uma mergulhada nos próprios pensamentos. O clima voltava a ficar carregado, e Yuki, ainda abraçada ao travesseiro, murmurou:
— Sabe que… a gente quase… né? —
Aiko mordeu o lábio, o rosto queimando.
— Eu sei. E… se não tivesse ninguém atrapalhando… —
Elas se encararam de novo, a distância entre seus rostos diminuindo, os olhos brilhando de nervosismo e expectativa. O coração batia mais rápido, os lábios a um suspiro de se tocarem.
De repente — crec! — a porta abriu outra vez.
— Hm… esqueci de pegar a minha blusa que deixei aqui. — disse Diana, entrando devagar, mas com um olhar desconfiado. — Que coincidência… sempre que eu volto, vocês estão desse jeitinho.—
Aiko quase se engasgou de nervoso.
— Desse jeito como? Tá maluca, Diana!—
— É, a gente só tava… conversando de novo! — Yuki tentou rir, mas a voz saiu estranha.
Diana pegou a blusa da cadeira, demorando de propósito. Antes de sair, lançou um olhar cheio de suspeita.
— Aham… só conversando. Eu tô de olho em vocês duas.—
A porta bateu de novo.
Yuki caiu para trás na cama, cobrindo o rosto.
— Ela tá fazendo isso de propósito, só pode!
Aiko riu, encostando a testa na dela.
— Minha irmã sempre foi enxerida… mas hoje tá passando dos limites.—
O quarto estava em silêncio de novo, e Aiko e Yuki riam baixinho da intromissão de Diana.
Dessa vez, Yuki tomou coragem e segurou de leve a mão da amiga.
— Se a sua irmã aparecer de novo, eu juro que vou sair correndo pela janela. — disse rindo, mas o coração disparado.
— Relaxa, agora tá tudo tranquilo… — murmurou Aiko, se inclinando mais perto.
Os rostos estavam a centímetros, as respirações misturadas. Finalmente, depois de tantas interrupções, parecia que nada iria atrapalhar.
Até que uma voz ecoou da escada:
— Aiko! Desce já! Quero falar com você! —
Era a mãe dela, gritando alto o suficiente para o bairro inteiro ouvir.
As duas se afastaram num pulo, quase caindo da cama.
— Meu Deus, hoje não é o nosso dia! — Yuki sussurrou, cobrindo o rosto, sem saber se ria ou chorava.
Aiko bufou, rolando os olhos.
— Juro que vou trancar essa porta da próxima vez!—
Do corredor, a mãe gritou de novo:
— E leva a Yuki também! Quero ver vocês duas aqui embaixo! —
As duas ainda tentavam se recompor quando a mãe gritou de novo, impaciente:
— Aiko! Yuki! Vem logo, que eu preciso de ajuda pra guardar as compras!—
Aiko suspirou, caindo de costas na cama.
— Sério? Justo agora… — murmurou, cobrindo o rosto com o travesseiro.
Yuki, rindo, se levantou devagar.
— Bom, pelo menos não foi nada grave. —
— Não, mas foi chato igual! — reclamou Aiko, cruzando os braços, ainda corada.
Do andar de baixo, a mãe gritou mais alto:
— Eu tô ouvindo vocês duas reclamando aí! Quero ver as duas aqui embaixo em cinco segundos!—
Yuki e Aiko se entreolharam, e depois caíram na gargalhada outra vez.
— Vamos logo, antes que ela suba de verdade. — disse Yuki, puxando a mão da amiga.
— Aff… mas olha, Yuki — Aiko murmurou enquanto desciam as escadas — a gente ainda vai continuar de onde parou.—
Yuki arregalou os olhos, quase tropeçando no último degrau.
— O quê? —
Aiko só sorriu, disfarçando, e foi até a cozinha ajudar a mãe.
Yuki fez o mesmo, seguindo logo atrás. Na cozinha, Diana já estava lá, ajudando a mãe a organizar as compras.
Assim que Yuki entrou, Diana a observou de cima a baixo, com um olhar curioso. Nunca tinha visto a amiga da irmã tão de perto.
Aiko percebeu o olhar da irmã e franziu levemente a testa, sentindo um incômodo que não conseguiu esconder. Não gostou nadinha do que viu.
Yuki, por outro lado, estava distraída, rindo e ajudando a mãe a separar os produtos.
— Nossa, tia, como as coisas estão caras no mercado, né? — comentou Yuki, pegando uma sacola de frutas.
— Nem me fale, menina… cada vez que vou lá, parece que os preços dobram. — respondeu a mãe de Aiko, suspirando.
As duas continuaram rindo e falando dos preços, enquanto organizavam as compras.
— O quilo do tomate tá um absurdo! — disse a mãe de Aiko, balançando a cabeça.
— Verdade, tia. Se continuar assim, vai ser mais barato pedir pizza do que fazer comida. — Yuki respondeu, arrancando risadas.
Diana também riu, ainda olhando para Yuki com curiosidade.
Aiko, de canto, observava a cena em silêncio. Fingiu que estava concentrada guardando algumas embalagens, mas vez ou outra seus olhos voltavam para a irmã e Yuki, sentindo um aperto estranho no peito.
Ela não disse nada, apenas respirou fundo e disfarçou, deixando a conversa rolar como se nada tivesse acontecido.
Enquanto a mãe ainda reclamava dos preços do mercado, Diana pegou uma garrafa de suco e olhou para Yuki.
— Então, Yuki… você estuda na mesma turma da Aiko, né?—
Yuki assentiu, sorrindo.
— Sim! Desde o primeiro ano. A gente praticamente se grudou desde o começo.—
— Ah, entendi… — murmurou Diana, apoiando-se na bancada, como se analisasse cada palavra. — E você sempre vem aqui em casa?—
— Nem tanto… só às vezes, quando dá. — respondeu Yuki, distraída, colocando algumas frutas na fruteira.
— Interessante. — Diana comentou com um sorriso de canto, ainda observando.
Aiko, que estava colocando os pacotes de arroz no armário, parou por um instante, fechando a porta do armário com um pouco mais de força do que o normal.
— Yuki tá aqui porque eu chamei. Não tem nada demais nisso, Diana. — disse num tom leve, mas firme.
— Eu sei, irmãzinha. — Diana respondeu, divertida. — Só tô conversando.—
Yuki olhou para as duas, meio confusa, e riu para quebrar o clima.
— Vocês duas vivem brigando assim?—
Aiko apenas deu um sorriso rápido, tentando disfarçar o incômodo.
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