A mansão dos Marcondes iluminava com o brilho dos enfeites e arranjos, mostrando a todos os convidados que era uma noite de luz.
Lustres cintilantes transformavam o mármore em ouro, garçons flutuavam com taças de champanhe e a música erguia paredes invisíveis de perfeição.
E para completar o brilho, Mariana Marcondes era a estrela da noite, seu aniversário de 25 anos, seu momento.
Sentia o coração bater como tambor: aquela noite não seria apenas seu aniversário. Seria o início de algo que nem ela ousava nomear, tinha definido um propósito e iria cumprir custasse o que custasse.
Era o aniversário da herdeira, e ninguém em São Paulo ousaria faltar. Empresários, políticos, ‘socialites’ — todos estavam ali para prestigiar a filha única de Otávio Marcondes, um dos nomes mais respeitados e temidos do meio empresarial.
No andar de cima, Mariana terminou de prender os últimos fios de cabelo. O vestido escolhido abraçava seu corpo com elegância: num tom de azul que destacava sua pele morena, decote sutil, um contraste entre inocência e maturidade. Estava linda, como sempre, mas seus olhos guardavam um brilho diferente naquela noite — não era só o reflexo das joias que seu pai acabara de lhe entregar.
— Papai, não acredito que o senhor comprou isso — disse, olhando a gargantilha de pérolas que brilhava em seu colo.
— Uma filha como você merece o melhor, Mariana — respondeu Otávio, orgulhoso, antes de ouvir passos apressados se aproximando.
Um funcionário da casa surgiu na porta, ofegante.
— Senhor Otávio, tem um rapaz insistindo em falar com o senhor.
Mariana franziu o cenho.
— Papai, por favor, não vai falar de negócios hoje, não é?
Otávio sorriu de canto, beijando a testa da filha.
— Fique tranquila, querida. Hoje a noite é sua. Vou dispensá-lo em dois minutos.
Mariana ficou olhando o pai se afastar e colocou a mão no coração tentando controlar as batidas, não era ansiedade pelo presente, nem pela festa que a aguardava conhecia bem esses eventos. Era a promessa silenciosa que havia feito a si mesma: naquela noite, deixaria de ser menina. Seria mulher de verdade. Só não sabia com quem.
Na entrada principal, o contraste não poderia ser maior.
Romeu entrou com passos firmes, sem se intimidar com os olhares desconfiados que logo se voltaram para ele. Não vestia terno caro nem sapatos engraxados, botas gastas, calça jeans escura, uma jaqueta de couro e o chapéu que carregava como extensão de si. Não precisava de luxo para chamar a atenção; sua presença preenchia o espaço como se tivesse nascido para comandar qualquer ambiente.
Otávio, já sem paciência, interceptou Romeu de imediato.
— Romeu, não vamos falar de cercas e bois agora. Amanhã de manhã, você aparece no escritório e resolvemos o que tiver de resolver.
Romeu ergueu as sobrancelhas, surpreso com a frieza.
— Certo. Amanhã conversamos.
_ Aproveite a festa, sei que você tem poucas chances de estar em um ambiente assim. Falou Otávio.
Romeu ia retrucar, dizer que não fazia questão do luxo, mas algo o fez esperar.
Virou-se para observar a festa. Taças tilintando, vestidos esvoaçantes, risadas artificiais. Não pertencia àquele mundo e não queria pertencer. Mas está noite poderia vê-la mais de perto.
Foi quando a viu.
Mariana atravessava o salão com o sorriso de quem nasceu acostumada a ser o centro das atenções. Seu vestido brilhava sob a luz, mas não era a roupa que prendia os olhos de Romeu.
Era a forma como ela se movia, como se cada gesto fosse natural, elegante, impossível de imitar. Morena, cabelos negros ondulados caindo até o meio das costas, pele iluminada pelo calor da juventude. Uma beleza em forma de mulher.
Romeu parou. Aquela visão o desarmou. Não era somente desejo, era uma atração crua, imediata, como se algo dentro dele tivesse reconhecido nela, o que sempre procurou sem saber, fazia anos que não a via, ela se tornou uma mulher linda.
Mariana também o notou. No meio da multidão de ternos alinhados, aquele homem destoava como um grito. Não precisava de paletó para impor respeito; bastava estar ali, respirando. O olhar dele atingiu-a como um choque, firme, direto e intenso. E, de repente, tudo que parecia importante na festa se tornou secundário.
Ela desviou o rosto, mas seu coração denunciava a perturbação. Pensou, com ironia: acho que encontrei meu presente de aniversário.
Romeu recostou-se em uma das colunas, observando-a. A cada riso, a cada palavra trocada com os convidados, mais se convencia da que Mariana nunca seria dele. Ainda assim, o olhar dela voltou a encontrá-lo. Não por acaso. Nem por engano. Ela estava curiosa.
Mariana sentiu o rubor subir ao rosto, mas não desviou. Deixou que o olhar dele se alongasse sobre sua pele, como uma carícia silenciosa.
Romeu sorriu, discreto, e deu um passo em sua direção. Pequeno, mas suficiente para que o ar ao redor dela se tornasse mais denso. Mariana estremeceu.
— Então é você… murmurou ele, baixo, quando finalmente chegou perto o bastante para ser ouvido acima do som da música.
Ela ergueu o queixo, tentando esconder o nervosismo.
— Se for a aniversariante, sim, sou eu.
A voz dela tinha algo de provocação, algo de desafio. Romeu a olhou com mais atenção e percebeu que não era somente bonita. Era uma mulher que sabia o poder que tinha.
— Você brilha como uma jóia rara, como se este mundo te pertencesse — disse ele, a voz grave, arrastada.
Mariana sorriu de canto.
— Eu não estou acostumada a ver cowboys em festas de granfinos, o que faz aqui cowboy?
Ele inclinou a cabeça, divertido.
— Talvez tenha vindo ver você.
Por um instante, o salão desapareceu. Não havia música, não havia convidados, somente os dois, suspensos em uma tensão que parecia prestes a explodir. Mariana respirava rápido, tentando manter o controle, mas cada centímetro que Romeu se aproximava era um convite perigoso.
Ele ergueu a mão, quase a tocando, mas parou no ar, só para provocá-la.
— Você sempre causa esse efeito nos homens?
Ela mordeu o lábio, nervosa e encantada ao mesmo tempo.
— Talvez… Mas você não é um homem qualquer, não é mesmo?
— Não mesmo. — O sorriso dele era uma promessa.
Mariana sentiu o chão sumir sob seus pés. Se não fosse pelo vestido que prendia seus movimentos, teria recuado. Mas não o fez. Permaneceu. O olhar dele a segurava ali, presa em uma armadilha de desejo e curiosidade.
Quando percebeu que já estava envolvida demais, deu um passo para trás.
— Eu… preciso ir — murmurou, tentando recuperar o fôlego.
Romeu somente sorriu, observando-a se afastar pelo salão. _ Se ela me der uma chance apenas, juro que mostro que tipo de homem que sou.
E Mariana, engolida pelo mar de convidados, sabia também. Podia rir, brindar, dançar até amanhecer… mas nada abafaria o fogo que aquele homem acabara de acender dentro dela. O cowboy a havia marcado — não como uma lembrança, mas como um destino. E, a partir daquela noite, o mundo inteiro poderia mudar… porque ela já não era mais a mesma.
Romeu ficou parado, observando Mariana se afastar pelo salão. O vestido dela balançava no compasso dos passos, como se zombasse dele, convidando e, ao mesmo tempo, impondo distância. Ele sentiu o vazio que sua ausência deixou, mas também uma certeza: aquela noite ainda não havia acabado e pela primeira vez estava mais próximo do que esteve até então.
A madrugada já avançava quando Romeu decidiu que era hora de ir embora. Passou tempo demais em um lugar que não era seu, cercado por cristais e risadas falsas. Caminhou até a caminhonete, o ar frio da noite trazendo-lhe um pouco de clareza. Foi então que sentiu um toque em seu braço.
Virou-se de súbito e encontrou os olhos escuros de Mariana.
— Você ia embora sem se despedir de mim? — perguntou ela, a voz baixa, carregada de uma mistura perigosa de desafio e timidez.
Romeu arqueou uma sobrancelha, surpreso, mas manteve a calma.
— Você estava ocupada se divertindo com seus amigos. E, como você mesma disse… eu não sou do mesmo mundo que vocês.
Ela corou, desviando o olhar por um instante. — Eu não quis te diminuir. — O tom era quase um sussurro.
— Você não é… uma visão comum. Romeu deu um passo em direção a ela, reduzindo a distância entre os dois até sentir o calor de sua respiração.
— O que você quer, Mariana? — perguntou, firme, embora a voz carregasse a mesma tensão que queimava no olhar dele. Mariana respirou fundo. A ousadia brilhou em seus olhos quando se aproximou ainda mais, a centímetros da boca dele.
— Quero ver se esse calor que estou sentindo… está vindo de você. Ela não lhe deu tempo de recuar.
Romeu a puxou pela cintura, os lábios colidindo em um beijo intenso, feroz, faminto. Mariana se entregou de imediato, os dedos enroscando nos cabelos dele, puxando-o como se quisesse fundi-los.
O mundo ao redor desapareceu, e só restou o choque dos corpos, a língua dele explorando a dela, a urgência em cada movimento. Por um instante, ele tentou se controlar. Interrompeu o beijo, ofegante.
— Você está bêbada. Eu não costumo abusar de mocinhas inocentes. Mariana o encarou, os olhos brilhando em desafio.
— Sei muito bem o que estou fazendo.
— Sua voz saiu rouca, carregada de desejo.
— No seu quarto… ou no meu?
Romeu riu baixo, vencido. Não precisava de mais nada. A decisão estava tomada. Ele a puxou pela mão e os dois foram até a caminhonete, ainda entre beijos e toques furtivos. O trajeto até o hotel foi um tormento de expectativa, cada minuto alongado pela fome que os consumia.
Subiram até o segundo andar aos beijos, Mariana não queria dar espaço para os pensamentos entrarem e a razão a fazer desistir.
O quarto mergulhava em meia-luz quando Romeu fechou a porta atrás deles. O silêncio foi quebrado apenas pelo barulho da respiração acelerada de ambos.
Ele a encostou contra a parede e tomou sua boca novamente, agora sem nenhuma contenção. O beijo foi feroz, como se quisesse devorá-la inteira. Mariana arfou, o corpo respondeu com intensidade, cada suspiro mais alto que o anterior.
As mãos de Romeu deslizavam pela cintura dela, firmes, descendo pelas curvas com posse. Mariana estremeceu, mas não recuou; pelo contrário, apertou os dedos contra a nuca dele, desesperada para que não parasse.
— Você não tem ideia do quanto eu te quero… — rosnou ele contra seus lábios.
Ela não respondeu com palavras. Apenas puxou a camisa dele com pressa, os dedos tremendo entre botões, revelando o peito marcado pelo sol e pelo trabalho. Romeu ajudou, rasgando o tecido sem cerimônia, como se não suportasse a lentidão.
Quando a deitou sobre a cama, Mariana mordeu o lábio inferior, o olhar denunciando nervosismo. Romeu notou.
— Está com medo de mim? — perguntou, olhando-a nos olhos, o corpo acima do dela, firme, mas atento.
— Não… — ela sussurrou, quase sem ar. — É que… nunca estive com ninguém.
Romeu congelou por um segundo. O coração bateu mais forte, e ele soltou um palavrão abafado.
— Merda… você é virgem?
Mariana assentiu, as bochechas ruborizadas. — Não sei explicar… só sei que tem que ser com você.
O silêncio que seguiu foi pesado, cheio de significado. Então, Romeu inclinou-se e beijou sua boca com reverência, como se aquela revelação tivesse mudado tudo. Mas a reverência logo se transformou em algo mais selvagem. Beijos quentes desceram por seu pescoço, ombros, até os seios, fazendo-a arfar alto.
— Então eu vou ser o único a conhecer cada pedaço seu… — murmurava entre mordidas suaves. — O único a ouvir você gemer desse jeito.
Ela arqueou o corpo quando a boca dele encontrou os pontos mais sensíveis, os gemidos escapando sem que pudesse conter. O toque firme das mãos de Romeu a guiava, misturando paciência e brutalidade, como se quisesse ensiná-la e dominá-la ao mesmo tempo.
— Relaxa, gatinha… deixa comigo. Você é minha agora.
Quando finalmente a penetrou, Mariana soltou um gemido agudo, carregado de dor e prazer. Romeu parou apenas para olhar nos olhos dela, o suor já escorrendo por sua testa.
— Santo Deus… — arfou. — Nunca mais vou deixar você esquecer que fui o primeiro.
O ritmo começou lento, mas logo se intensificou. A cada movimento, Mariana sentia o corpo se incendiar, os gemidos se transformando em gritos contidos. Romeu a beijava, mordia, sussurrava palavras que a deixavam ainda mais entregue. Até que os dois explodiram juntos, o quarto foi preenchido por respirações descompassadas e o calor dos corpos colados.
Ele não saiu de dentro dela de imediato. Permaneceu, apoiado sobre os cotovelos, olhando-a como se fosse a coisa mais preciosa que já tocara.
— Você é toda minha, Mariana… minha gatinha perfeita.
Ela apenas suspirou, perdida, sem forças, sabendo que naquela noite se tornou de fato mulher.
Ainda se amaram outras vezes, até que o cansaço os dominou. Adormeceram entrelaçados, Romeu sentindo-a pequena e quente contra seu corpo.
Acordou algumas horas depois, no silêncio da madrugada, com Mariana aninhada em seu peito. Sorriu.
— Que mulher folgada eu fui arrumar… — murmurou, acariciando seus cabelos antes de voltar a dormir.
Mas um pensamento passou pela sua cabeça, será que Mariana sabe onde vai morar? Sabe que Romeu vive numa ilha?
A luz fraca da manhã entrava pelas frestas da cortina, pintando o quarto com tons suaves de dourado. O ar cheirava a perfume amadeirado misturado ao suor da noite anterior. Mariana despertou devagar, sentindo o calor do corpo de Romeu ao seu lado. Um arrepio percorreu sua espinha; ela adorava estar ali, aninhada entre os braços fortes dele, ouvindo o compasso calmo da respiração, como se nada no mundo pudesse alcançá-la.
Por um instante, quis simplesmente ficar. Fingir que não havia regras, convenções, compromissos nem julgamentos. Apenas os dois, presos em um tempo que parecia suspenso. Mas a realidade veio como um soco: aquilo tinha sido uma noite, apenas isso. Ela não podia se dar ao luxo de sonhar além.
Abriu os olhos e encontrou o rosto de Romeu. Ele dormia tranquilo, uma mão repousada em sua cintura, como se quisesse impedir que ela se afastasse.
-Tentou sair do abraço dele sem acordá-lo.
Um sorriso preguiçoso surgiu nos lábios de Romeu ao perceber que ela estava acordada.
— Para onde vai, mocinha? — murmurou, a voz rouca pelo sono, mas firme, segura, como se tivesse plena consciência de tudo.
Ela respirou fundo, tentando esconder o turbilhão que a dominava. — Eu… eu preciso ir. Não podemos… não devemos. — A voz saiu baixa, mas carregada de urgência.
Romeu se inclinou, o olhar fixo nela, intenso, como se pudesse atravessar cada defesa que Mariana tentava erguer. — Não quer que eu lembre de nós? — perguntou, provocador, os lábios curvados em um sorriso lento.
Mariana corou, mordendo o lábio inferior. — Não tem como esquecer… mas foi uma loucura de só uma noite.
Ele se afastou apenas o suficiente para que ela respirasse, mas não soltou sua mão. — Só uma noite? — repetiu, com ironia. — Você pode até se enganar, Mariana, mas eu não. O que tivemos não pode ser só uma aventura de uma noite.
O silêncio entre eles pesou. Ela se levantou depressa, recolhendo as roupas espalhadas pelo chão. Cada gesto era apressado, quase desesperado, como se vestir-se pudesse ser a chave para trancar a lembrança daquela noite. Mas o corpo ainda ardia, cada toque dele estava gravado em sua pele.
Romeu a observava em silêncio, com os olhos semicerrados, como um predador que já sabe que a presa está marcada. Quando ela se virou para ir, ele falou baixo, mas firme:
— Cuide-se, Mariana. E lembre-se… você já é minha.
Ela hesitou por um segundo, antes de sair. Olhou para Romeu e foi embora como se tivesse um jeito de esquecer aquele homem.
E cada passo até chegar na mansão lhe pareceu mais pesado que o anterior. O que foi que eu fiz? Como vou sair dessa enrascada?
Mariana chegou na mansão e caminhava com o coração acelerado, tentando se recompor. O corredor imenso, decorado com quadros caros e tapetes orientais, parecia sufocante. O contraste entre o luxo da casa e a lembrança da noite passada com Romeu a fazia sentir-se dividida entre dois mundos.
O perfume dele ainda estava grudado em sua pele. O gosto dos beijos, a sensação de entrega, tudo era vívido demais para ser apagado com frases de auto engano. “Foi só uma aventura”, repetia mentalmente. “Um erro passageiro. Agora é hora de voltar à realidade.”
Mas o coração não obedecia. Cada lembrança vinha como um choque elétrico, aquecendo seu corpo e deixando-a vulnerável. Mariana se odiava por sentir tanto, mas, ao mesmo tempo, desejava mais só de imaginar a boca dele em contato com sua pele já sentia o calor subir no meio das pernas.
Quando entrou em seu quarto, encostou-se na porta fechada, respirando fundo. O espelho diante dela refletia não apenas sua imagem, mas uma mulher diferente: olhos brilhando de desejo, lábios inchados, cabelo bagunçado. Não era a Mariana da sociedade, a menina perfeita criada para obedecer. Era outra versão, livre, instintiva, marcada pelo Cowboy.
— Só uma noite… — murmurou, mas o sorriso involuntário que escapou denunciava a mentira.
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Enquanto isso, Romeu deixou o quarto do hotel com passos firmes. Não parecia o homem de algumas horas atrás, que a devorou com paixão. Agora era o Romeu determinado, pragmático, consciente de que uma batalha maior começava.
Ele não podia deixá-la escapar. Mariana podia fingir que queria esquecer, mas ele sentia — no corpo dela, no olhar, nos gemidos abafados — que o destino dos dois estava entrelaçado.
O caminho até o escritório de Otávio Marcondes foi percorrido em silêncio. O sol ainda nascia, iluminando os telhados das casas ao redor, mas Romeu guiava como quem vai para a guerra.
Entrou no prédio refinado cheio de salas e foi levado pela secretaria até Otávio. Que estava sentado atrás da grande mesa de madeira maciça, folheando papéis como se nada fosse capaz de perturbar sua rotina.
— Romeu? — disse, sem levantar muito os olhos. — Veio falar das vacas? Já mandei o capataz calcular o prejuízo.
— Não é sobre vacas que quero falar — respondeu Romeu, firme.
Otávio ergueu a cabeça, avaliando-o com desdém. — Então fale logo. Não tenho tempo a perder.
Romeu respirou fundo. — Quero me casar com Mariana.
O silêncio caiu como uma pedra no ambiente. O empresário piscou devagar, até que uma risada estrondosa escapou, ecoando pelas paredes.
— Você só pode estar brincando! — disse, limpando uma lágrima de tanto rir. — Minha filha? Casar com um peão de fazenda?
Romeu não se abalou. — Sou o homem que vai fazê-la feliz.
Otávio recostou-se na cadeira, cruzando os braços. — Você não tem ideia de quem é minha filha. Ela nasceu no luxo, está acostumada ao conforto. Você acha mesmo que ela se contentaria com sua vida simples?
— Amor não se mede por luxo — respondeu Romeu, sem desviar o olhar. — Com carinho, com verdade, ela terá tudo.
Otávio riu novamente, mas dessa vez o tom era mais frio. — Está enganado, rapaz. Eu conheço minha filha, seja lá o que for que você ache que aconteceu entre você e Mariana, com certeza foi um engano.
Romeu se inclinou para frente, apoiando as mãos na mesa. — O senhor pode pensar o que quiser, mas Mariana será minha esposa, o senhor querendo ou não.
Por um instante, os dois ficaram em silêncio, apenas se encarando, como dois touros prestes a se chocar.
Otávio quebrou o momento, a voz mais dura: — Eu não vou permitir esse absurdo. Cuide da sua vida, Romeu, e esqueça minha filha que ela não cabe no seu mundo.
Romeu se endireitou, um meio sorriso no rosto. — Esse assunto está longe de terminar, senhor Marcondes.
Saiu do escritório sem esperar resposta. O coração batia forte, mas a mente estava clara: Otávio podia rir, podia desprezar, mas nada apagaria o que tinha acontecido.
Ao atravessar a rua, Romeu olhou para o horizonte e murmurou para si mesmo:
— Você vai ser minha esposa, Mariana. Querendo ou não, cedo ou tarde, vai ser minha.
E com essa certeza queimando dentro dele, Romeu voltou para sua caminhonete. O jogo estava apenas começando, foi você que me escolheu.
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