Agora Meu Cheiro Favorito É o Seu
01
A noite estava pesada, coberta por uma névoa grossa que caía sobre as ruas escuras da cidade. Os becos perto do armazém (que na verdade era o esconderijo da máfia)costumavam ser silenciosos. Mas naquela madrugada, o som de passos arrastados quebrou o silêncio.
O vigia, um homem grande de olhar duro, quase não acreditou quando viu uma figura pequena se arrastando até a entrada. Um ômega. Estava todo machucado, ensanguentado, com as roupas rasgadas e a respiração falhando como se fosse desmaiar a qualquer momento.
“Ele tava mais ou menos assim “
“E escorrendo sangue de sua testa também”
O ômega levantou o rosto, os olhos claros brilhando mesmo com o sangue descendo pela testa. Tentou falar, mas só um gemido fraco saiu antes de desabar nos braços dele.
O homem hesitou. Ninguém entrava ali sem permissão, ainda mais um estranho. Mas o estado do garoto não deixava espaço pra ignorar.
Carregando o corpo leve como se fosse nada, atravessou o corredor escuro e empurrou as portas pesadas que davam pro salão principal.
Lá dentro, o ar era pesado, cheio do cheiro de charuto e da tensão que sempre rondava o lugar. Todos pararam o que estavam fazendo quando viram o vigia entrar com aquele ômega caído
No centro, na poltrona mais alta, o chefe ergueu os olhos dos papéis. Bastava o olhar dele pra calar todo mundo.
Mikhael
— Explica. — falou grave cortou o silêncio.
Rodrigo
— Chefe... encontrei esse ômega caído na nossa porta. Tá quase morto.
O mikhael se inclinou um pouco pra frente, os olhos analisando cada ferida no corpo pequeno. Um sorriso frio apareceu no canto da boca.
Mikhael
— Um ômega jogado fora... e com marcas dessas. Ou o destino me trouxe um problema... ou um presente.
O mikhael o observava em silêncio, os dedos batucando no braço da poltrona. Depois de longos segundos, sua voz grave ecoou:
Mikhael
Está com medo de mim, pequeno?
O ômega não respondeu, apenas apertou os joelhos contra o peito.
Mikhael
Venha mais perto. Não vou repetir duas vezes
Ele hesitou, os olhos marejados, mas acabou arrastando o corpo devagar até o centro da sala, parando de joelhos diante do homem. O chefe inclinou a cabeça, estudando cada corte em seu rosto.
Mikhael
Quem fez isso com você?
Elio
...não posso... — falou sussurrando
Mikhael
Não pode ou não quer dizer?
O silêncio respondeu. O chefe apoiou o cotovelo no braço da poltrona, levando os dedos ao queixo.
Mikhael
Seu nome. Quero ouvir seu nome.
Mikhael
Elio… — repetiu devagar, como se provasse o som. — E o que fazia andando sozinho até cair na porta do meu território?
O pequeno engoliu seco, mas não conseguia sustentar o olhar.
Elio
Eu... não tinha pra onde ir.
Mikhael
Não tem família? Um alfa?
O mikhael riu baixo, um som grave que soava mais perigoso do que alegre.
Mikhael
Interessante. Um ômega sem dono, sem proteção, e ainda por cima aparece sangrando no meu esconderijo.
Elio
Eu... só queria um lugar... pra descansar.
O silêncio caiu por alguns segundos. Então o mikhael inclinou-se para frente, o olhar penetrante cravado nele.
Mikhael
Diga-me, pequeno... você veio até mim por acaso... ou está fugindo de alguém que eu deveria conhecer?
O coração do ômega acelerou. Seus lábios tremeram, mas nenhuma resposta saiu mikhael sorriu frio, e estendeu a mão em sua direção.
Mikhael
Então é isso... vou descobrir, quer você me diga, quer não.
02
O mikhael fechou a pasta de papéis sobre a mesa, ajeitou o paletó e soltou a fumaça do charuto devagar. O olhar ainda estava no pequeno ômega encolhido no chão, mas sua mente parecia em outro lugar.
Mikhael levantou-se da poltrona, ajeitando o relógio no pulso.
Mikhael
— Leve esse ômega pra onde mando todos os que precisam de ajuda. Você sabe o lugar.
Rodrigo assentiu, já se abaixando pra pegar o garoto nos braços.
Rodrigo
— Sim, senhor. Vou cuidar disso.
Mikhael deu mais uma tragada no charuto e apagou a ponta no cinzeiro.
Mikhael
— Ótimo. Tenho um compromisso agora, não posso me atrasar. — ele parou, encarando o vigia com seriedade. — Com meus maridos, e você sabe que eles não gostam de esperar.
Rodrigo quase sorriu, mas apenas fez que não com a cabeça.
Mikhael virou-se, caminhando até a saída com passos firmes, enquanto Rodrigo ajeitava o corpo frágil do ômega. O menino abriu os olhos só um pouco, vendo a silhueta do homem indo embora. Por um instante, achou que aquele alfa enorme tivesse sido só um sonho.
Mas a voz de Mikhael soou uma última vez antes dele cruzar a porta:
Mikhael
— Se sobreviver... talvez eu mesmo vá querer algumas respostas desse pequeno.
E então, desapareceu pelo corredor.
Rodrigo caminhava rápido pelos corredores escuros, o ômega leve demais em seus braços. Ele olhava para os lados, garantindo que ninguém além dos homens de confiança do chefe o visse passar.
Desceu uma escada escondida atrás de uma porta de ferro, que dava para um túnel antigo. No fim dele, uma porta pesada de madeira. Rodrigo bateu três vezes, esperou e bateu mais duas.
A porta se abriu, revelando uma mulher olhar firme mas acolhedor.
Rafaela
— Outro, Rodrigo? — perguntou ela, arqueando a sobrancelha.
Rodrigo
— Ordem do chefe. — respondeu ele, entregando o garoto com cuidado. — Machucado, mas ainda respira.
Ela o pegou, com uma delicadeza que contrastava com o ambiente sombrio da máfia. Levou-o para dentro.
O lugar era diferente de tudo que o ômega esperava. Não era frio nem sujo. Pelo contrário: paredes claras, cheiro de ervas e pomadas, camas limpas alinhadas, e outros ômegas descansando em silêncio, alguns ainda com marcas de feridas, outros já sorrindo de leve.
A mulher o deitou numa cama, enquanto uma das jovens ajudantes trazia bacias de água morna.
Rafaela
— Qual o nome dele? — perguntou, olhando pra Rodrigo.
Rodrigo
— Não sei. Só sei que o chefe mandou deixar aqui.
Rafaela
— Elio, então. — murmurou, ajeitando o lençol sobre ele. — Fique tranquilo, vai ficar seguro aqui
Rodrigo ficou em pé na porta, observando. O garoto olhou pra ele, como se quisesse perguntar alguma coisa, mas não teve coragem.
Rodrigo
— Descansa, pequeno. O chefe vai querer te ver quando estiver melhor.
E saiu, trancando a porta atrás de si.
Elio fechou os olhos, sentindo pela primeira vez em muito tempo que talvez não fosse morrer naquela noite.
03
A casa de Mikhael não lembrava em nada o esconderijo da máfia. Do lado de fora, era discreta, mas por dentro o luxo e o conforto se misturavam em cada detalhe. Tapetes grossos, móveis de madeira escura, luz baixa que deixava o ambiente aconchegante.
Ele abriu a porta com calma, tirando o paletó e largando as chaves numa mesinha ao lado. O cheiro familiar invadiu suas narinas antes mesmo de ouvir as vozes.
Dante
— Até que enfim. — uma voz grave, imponente, ecoou da sala.
Era Dante, o alfa genuíno. Alto, corpo marcado por músculos e um olhar que sempre parecia medir tudo ao redor. Estava sentado no sofá, camisa meio aberta, uma taça de vinho na mão.
Logo atrás dele apareceu Adrian, o alfa recessivo. Traços mais delicados, cabelo caindo nos olhos e um sorriso suave nos lábios. Diferente do tom sério de Dante, ele parecia quase radiante só de ver Mikhael na porta.
Adrian
— Você demorou, amor. — Adrian disse, indo até ele e roubando um beijo rápido.
Mikhael soltou um suspiro satisfeito, puxando-o para perto por um instante.
Mikhael
— Negócios. Mas já acabou. Agora só tenho vocês dois.
Dante largou a taça e cruzou os braços, arqueando a sobrancelha.
Dante
— Negócios? Ou você tava se metendo em confusão de novo?
Mikhael riu baixo, caminhando até o sofá como quem não deve nada.
Mikhael
— Se fosse confusão, você já teria sentido o cheiro de sangue em mim, Dante. — jogou-se no estofado pesado, abrindo espaço entre eles. — Hoje só apareceu um imprevisto... um ômega meio morto na minha porta.
Adrian
Adrian arregalou os olhos, curioso.
— Um ômega? Como assim?
Mikhael fez um gesto com a mão, chamando Adrian para se sentar no seu colo. O alfa recessivo obedeceu sem pensar duas vezes, acomodando-se contra o peito dele.
Mikhael
— Nada demais. Mandei Rodrigo levar pro abrigo. Ele vai sobreviver... talvez.
Dante soltou um resmungo baixo, típico dele quando algo não cheirava certo.
Dante
— Você devia ter acabado com isso. Um estranho na nossa porta nunca é coincidência.
Mikhael
— Por isso mesmo — Mikhael respondeu, os olhos afiados como lâminas. — Quero respostas quando ele acordar.
Adrian olhou de um pro outro, como se tentasse aliviar o clima tenso.
Adrian
— Vocês dois só sabem falar de sangue e inimigos... — resmungou, rindo baixo. — Mikhael acabou de chegar, eu só queria ter ele inteiro hoje.
Mikhael mordeu de leve o pescoço dele, num gesto possessivo.
Mikhael
— E vai ter. — murmurou contra sua pele.
Dante se inclinou, pegando o que restava do vinho e encarando os dois. O olhar dele tinha um brilho de ciúmes, mas também de desejo.
Dante
— Então não me deixem de fora.
Mikhael ergueu um sorriso lento, selvagem, o típico de um alfa lúpus dominante.
Mikhael
— Eu nunca deixaria, marido.
Adrian
Você devia largar tudo mais cedo, Mikhael. Tá sempre chegando tarde demais.
Mikhael
puxando ele pelo queixo. — E quem ia manter vocês dois no luxo, hm? Quer viver de vento, amor?
Adrian
Se for no seu colo, eu vivo até de vento.
Dante bufou, tomando outro gole de vinho.
Dante
Que ridículo… parece um filhote grudado na mãe.
Adrian
Ah, claro, fala o grandão que fica emburrado se Mikhael não deita do lado dele.
Adrian
rindo alto — Totalmente. Você cruza os braços e faz aquela cara de estátua, mas fica esperando ele se jogar em cima de você.
Mikhael
Verdade, Dante. Você tenta enganar, mas eu conheço seu cheiro de ciúmes de longe.
Dante virou o rosto, mas os lábios tremeram num quase sorriso.
Dante
Não é ciúme, é desconfiança. Diferente.
Adrian
Desconfiança da minha bunda sentada no colo dele? Porque é só isso que tá acontecendo.
Mikhael
Não provoca, Adrian.
Adrian se ajeitou ainda mais no colo de Mikhael, de propósito, e lançou um olhar debochado para Dante.
Adrian
O que foi? Quer trocar de lugar comigo?
Dante
Não preciso disputar espaço.
Adrian
Disputa sim, só não admite.
Mikhael passou a mão no cabelo de Adrian e olhou para Dante.
Mikhael
Vem cá, lobo. Ficar de longe resmungando não é a sua cara.
Dante demorou, mas acabou levantando. Se jogou no sofá, de lado, ficando perto dos dois.
Adrian
Aí, viu? Não aguentou cinco minutos longe.
Dante
Continua me cutucando que eu arranco esse dedo.
Adrian
Até ameaçando você é fofo, Dante.
Mikhael riu alto dessa vez, passando o braço pelos ombros dos dois.
Mikhael
Vocês brigam como dois adolescentes, mas eu gosto
Adrian
Claro que gosta, você adora ver a gente disputando sua atenção.
Dante
Ele gosta porque é um alfa mimado.
Adrian
É, sim. Finge que é todo chefe perigoso, mas chega em casa e quer colo, cafuné e beijo.
Mikhael
Vocês dois não cansam de me provocar, né?
Dante
Se você não gostasse, já tinha calado a gente.
Mikhael
Verdade… mas eu gosto de ouvir.
Adrian deu um beijo rápido no maxilar de Mikhael, sorrindo travesso.
Adrian
Então vai ouvindo: você devia tomar banho agora, porque tá cheirando a cigarro.
Mikhael
Você reclama, mas eu sei que adora sentir meu cheiro no travesseiro.
Dante aproveitou a deixa.
Dante
Ele adora sim. Ontem mesmo ficou abraçado no seu casaco quando você saiu.
Adrian
Cala a boca, Dante!
Mikhael gargalhou, puxando os dois ainda mais pra perto.
Mikhael
Meus dois maridos… um tentando esconder o quanto é carente, o outro fingindo que é duro. No fim, vocês são iguais.
Adrian
Eu sou mais legal.
Dante pegou a taça de novo, sem perder o tom sério.
Dante
Você é mais barulhento.
Adrian
Melhor barulhento do que um poste de concreto.
Dante
refiro ser poste do que palhaço.
Adrian
Palhaço não, príncipe encantado.
Mikhael já estava rindo demais, a cabeça jogada pra trás.
Mikhael
Eu devia gravar vocês dois discutindo. Ia ouvir todo dia antes de dormir.
Adrian
Quer dormir com risada ou comigo?
Mikhael
Com os dois. Sempre.
Por alguns segundos, ficou só o silêncio confortável. Dante, apesar do jeito sério, encostou de leve o ombro no de Mikhael. Adrian, como sempre, estava espalhado no colo dele, rindo baixinho.
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