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Favela, no Morro

entre o amor e o abismo

Capítulo 1 – A festa proibida

A mansão Monteiro brilhava sob as luzes de cristal. As paredes brancas refletiam os lustres imponentes, e cada detalhe da decoração havia sido escolhido para transmitir luxo, poder e tradição. O salão principal estava lotado de convidados, empresários renomados, políticos influentes e socialites que desfilavam vestidos caríssimos, sorrindo como se competissem entre si.

Isabella Monteiro observava tudo de longe, encostada em uma das colunas de mármore. Usava um vestido azul marinho que sua mãe havia escolhido com cuidado, ajustado à sua cintura delicada, combinando com joias discretas, mas de valor inestimável. Aos 19 anos, ela era a filha única de um império construído à base de negócios, fusões e contatos políticos.

Por fora, Isabella parecia a imagem perfeita da herdeira exemplar. Mas por dentro, sentia-se sufocada.

Enquanto os convidados discutiam sobre ações, investimentos e viagens internacionais, ela se perguntava quando poderia viver algo que fosse realmente dela — não um papel ditado pelo pai, nem um sorriso ensaiado para agradar fotógrafos.

A orquestra tocava uma música clássica, mas Isabella só conseguia ouvir o eco de seus próprios pensamentos. O coração batia rápido, não de emoção, mas de ansiedade. Era como se estivesse presa em uma redoma de vidro, cercada por riquezas que não a preenchiam.

— Isabella, querida, sorria mais. Estão comentando o quanto você está encantadora — disse a mãe, aproximando-se com uma taça de champanhe na mão.

— Estou sorrindo, mãe — respondeu a jovem, esboçando um gesto forçado.

— Mais, meu amor. As câmeras estão por toda parte.

Isabella respirou fundo. Sorriu, mas o sorriso não chegava aos olhos.

Quando a festa avançou pela madrugada, ela aproveitou um momento de distração geral. Enquanto o pai fazia um discurso sobre família, negócios e tradições, Isabella caminhou discretamente até o corredor que levava aos fundos da mansão. Seu coração acelerava, mas não de medo — de excitação.

Na garagem, o motorista oficial da família esperava próximo ao carro preto blindado, mas ela o ignorou. Pegou as chaves do próprio carro esportivo, um presente que quase nunca tinha permissão de usar. Ligou o motor e sentiu a vibração invadir seu corpo como um convite à liberdade.

A noite de São Paulo estava viva. O asfalto úmido refletia os postes e os letreiros de neon. Isabella dirigiu sem destino, apenas guiada pelo desejo de escapar. Não queria ser a princesa enclausurada da alta sociedade. Queria ser apenas uma garota vivendo a vida.

Foi então que lembrou da conversa que ouvira semanas antes. Duas funcionárias comentavam sobre uma festa em uma comunidade próxima, famosa por reunir música, dança e energia até o amanhecer. Um lugar em que a vida parecia pulsar de verdade, sem máscaras.

Isabella mordeu o lábio, decidida. Virou o volante e tomou o caminho em direção ao morro.

À medida que o carro subia pelas ruas estreitas, o cenário mudava. Saía-se do silêncio elegante dos condomínios para a vibração barulhenta da periferia. O som do funk ecoava de longe, misturado a risadas, vozes e o cheiro irresistível de churrasco improvisado.

Ela estacionou próximo a um beco iluminado por lâmpadas coloridas. Desceu do carro e foi imediatamente notada. Não era comum ver uma garota branca, de vestido caro, saltos finos e pele perfumada, caminhando por aquelas vielas.

— E aí, princesa, se perdeu? — provocou um rapaz, com um sorriso malicioso, enquanto encostava-se a uma parede grafitada.

Isabella sentiu um arrepio, mas forçou um sorriso. — Não… eu vim dançar.

O rapaz riu e balançou a cabeça, surpreso com a ousadia. Ela seguiu em frente, atraída pela batida da música que fazia o chão tremer.

O baile acontecia em uma praça improvisada. As caixas de som eram enormes, a multidão dançava sem pudor, e cada corpo parecia vibrar no mesmo ritmo. Isabella parou na entrada, respirando fundo. Nunca tinha visto nada tão vivo, tão intenso. Ali, ninguém parecia se importar com sobrenomes ou fortunas.

Foi então que ela o viu.

De pé, próximo ao centro, estava um homem alto, de presença marcante. Camisa preta simples, calça jeans, olhar firme. Não precisava dançar, nem falar alto para ser notado. As pessoas em volta o cumprimentavam com respeito e até certo medo. Era como se toda a festa girasse em torno dele, mesmo que não estivesse no centro da pista.

Rafael Almeida.

Isabella não sabia seu nome ainda, mas sentiu algo inexplicável quando os olhos dele encontraram os dela. Um choque, uma faísca. Ela ficou imóvel por alguns segundos, como se fosse incapaz de desviar o olhar.

Ele arqueou uma sobrancelha, intrigado com a presença dela. Não era difícil perceber que aquela garota não pertencia àquele mundo. E justamente por isso, chamava ainda mais atenção.

Isabella percebeu que alguém se aproximava dela, mas antes que pudesse reagir, Rafael se adiantou.

— Tá tudo certo aqui? — perguntou ele, com voz grave, firme, mas calma.

O rapaz que tentava puxar conversa com Isabella recuou de imediato, levantando as mãos. — Suave, chefe. Não tô arrumando problema, não.

Rafael encarou a menina por mais alguns segundos. — Você não é daqui.

— E você percebeu rápido demais — respondeu Isabella, erguendo o queixo em desafio.

Ele sorriu de canto, surpreso com a ousadia. Poucas pessoas tinham coragem de encará-lo daquele jeito.

— Esse não é lugar pra você, princesa — disse, quase como um aviso.

— Talvez seja exatamente o lugar que eu preciso.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, a música estourando ao redor, como se o mundo tivesse desaparecido. Foi naquele instante que Isabella percebeu que algo estava prestes a mudar em sua vida.

Pela primeira vez, não se sentia sufocada. Pela primeira vez, o perigo parecia mais atraente do que o luxo.

E Rafael, o homem que todos respeitavam e temiam, não conseguia tirar os olhos dela.

A festa continuava, mas para Isabella e Rafael, a noite tinha acabado de começar.

Rafael deu um passo à frente, diminuindo a distância entre os dois. Isabella sentiu o calor emanando dele, e por um instante, o mundo ao redor desapareceu completamente. O barulho da festa, os risos e a música alta transformaram-se em um pano de fundo distante, como se existisse apenas ele e ela naquele instante.

— Quem é você, afinal? — ele perguntou, a voz baixa, quase um sussurro que parecia penetrar na pele dela.

Isabella estudou o rosto dele. Cada detalhe parecia desenhado para desafiar e fascinar ao mesmo tempo: a mandíbula firme, os olhos castanhos que carregavam uma intensidade quase dolorosa, e um sorriso que prometia segredos que ninguém mais poderia conhecer.

— Eu… Isabella. — Ela hesitou por um instante, sentindo algo dentro de si mudar. — E você?

Ele arqueou a sobrancelha, como se estivesse ponderando se deveria ou não revelar seu nome. Mas algo na firmeza do olhar dela fez com que ele cedesse, ainda que apenas parcialmente.

— Rafael. — A palavra soou como um comando mais do que uma simples apresentação.

Isabella mordeu o lábio inferior, tentando conter a mistura de medo e fascínio que sentia. Ela sabia que o nome dele não era apenas um nome; carregava história, poder e perigo.

Rafael estendeu a mão, mas não para cumprimentá-la — para convidá-la a se afastar dali.

— Vem comigo — disse, seu tom sério, mas sedutor.

Sem saber exatamente por que, Isabella sentiu que precisava segui-lo. Havia algo em Rafael que a atraía de um jeito que ela não conseguia explicar, e a certeza de que aquela noite seria diferente de todas as outras cresceu dentro dela.

Eles caminharam pelos corredores da festa, desviando de convidados curiosos e olhares admirados, até chegarem a um terraço iluminado pela luz fraca da cidade. O ar fresco bateu no rosto de Isabella, fazendo seus cabelos ondulados dançarem ao vento. Rafael encostou-se na grade, observando a cidade abaixo, mas seus olhos não deixaram de se fixar nela.

— Por que veio para este lugar, Isabella? — perguntou ele, desta vez mais suave, mas ainda carregando aquela intensidade que a deixava inquieta.

— Talvez eu estivesse procurando exatamente isso… — disse ela, olhando para ele nos olhos, sentindo o coração disparar. — Um lugar onde me sentir viva.

Rafael sorriu, dessa vez mais genuíno, e por um momento, Isabella quase esqueceu o perigo que o cercava. Quase.

— Cuidado com o que procura — murmurou ele, mais para si do que para ela. — Às vezes, viver intensamente significa se perder completamente.

Isabella não sabia se entendia aquelas palavras, mas sentiu cada sílaba como uma promessa. E, sem perceber, estava prestes a se lançar em algo que mudaria sua vida para sempre.

O silêncio do terraço foi interrompido pelo som distante da festa, lembrando-os de que o mundo ainda existia. Mas naquele instante, para Isabella e Rafael, não havia nada além da tensão elétrica que os unia — um fio invisível prestes a se romper, puxando-os para um abismo irresistível.

E assim, a noite, que prometia ser apenas mais uma, começou a escrever seu próprio capítulo de desejo, perigo e descobertas proibidas.

o mundo de rafael

Capítulo 2 – O Mundo de Rafael

O vento da noite parecia carregar o cheiro de aventura e perigo, envolvendo Isabella enquanto ela permanecia ao lado de Rafael no terraço. Cada movimento dele, cada olhar, parecia ditar o ritmo de seu coração acelerado. Ela sabia que estava prestes a cruzar uma linha da qual talvez não houvesse retorno.

— Eu devia te deixar aqui — disse Rafael, ainda encostado na grade, olhando a cidade abaixo. — Esse mundo… não é feito para alguém como você.

— Talvez seja por isso que eu precise conhecê-lo — respondeu Isabella, a voz firme, mas com um tremor quase imperceptível. — Preciso sentir o que você sente. Saber o que te move.

Ele se virou para ela, e o ar entre os dois parecia carregado de eletricidade. Pela primeira vez, Rafael mostrou uma vulnerabilidade quase imperceptível, algo que não se via em público. Um pequeno sorriso brincou em seus lábios, mais sincero do que qualquer outro que alguém já pudesse ter visto.

— Você é ousada — murmurou, passando a mão pelo cabelo. — Corajosa demais para uma garota como você.

— Coragem ou loucura? — provocou Isabella, dando um passo mais perto. — Talvez os dois.

Rafael se aproximou, diminuindo a distância entre eles. O coração de Isabella parecia querer escapar do peito. O perigo era real, e ela sabia disso; mas, estranhamente, a presença dele a fazia sentir-se mais viva do que qualquer luxo ou festa já tinha feito.

— Vou te mostrar algo — disse ele finalmente, a voz baixa e firme. — Mas precisa prometer que vai prestar atenção e confiar.

— Confiança é algo que eu estou aprendendo — respondeu Isabella, sem desviar o olhar.

Ele estendeu a mão, e depois de um instante de hesitação, ela a segurou. O toque foi breve, mas carregado de uma intensidade que fez ambos prenderem a respiração. Rafael a puxou suavemente, conduzindo-a pelas escadas que desciam para a garagem.

O carro que os esperava não era apenas um veículo: era uma extensão do mundo de Rafael, sofisticado, rápido, perigoso. Ao entrar, Isabella sentiu o contraste entre o exterior da festa e a atmosfera intensa que os cercava.

— Para onde estamos indo? — perguntou, a curiosidade superando qualquer medo.

— Para longe daqui — respondeu Rafael, ligando o motor. — Para que você veja o que realmente acontece quando o luxo e o perigo se encontram.

O carro acelerou, e a cidade começou a passar em borrões de luz. Isabella percebeu que cada curva, cada aceleração, fazia com que seu corpo reagisse de maneiras inesperadas. Estava fora da sua zona de conforto, mas era exatamente isso que ela queria: sentir-se viva, sentir-se verdadeira.

Rafael, concentrado na estrada, olhou de relance para ela. A intensidade do olhar dele fez com que Isabella tivesse certeza de algo: ela não estava apenas entrando no mundo dele — estava entrando em algo muito maior, mais profundo, e que poderia mudá-la para sempre.

— Preparada para o que vem a seguir? — ele perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

— Sempre — respondeu Isabella, com firmeza.

E naquele instante, enquanto a noite avançava e a cidade se perdia atrás deles, Isabella percebeu que não havia volta. Ela estava prestes a se perder no mundo de Rafael — e, de alguma forma, isso era exatamente o que ela queria.

segredo nas sombras

O carro avançava pelas ruas escuras da cidade, e Isabella sentia cada batida de seu coração como se estivesse em sintonia com o motor. Cada sombra que passava pela janela parecia esconder histórias que ela ainda não podia imaginar. Rafael, ao volante, mantinha o olhar firme à frente, mas a tensão no corpo dele era quase tangível.

— Então… você vive todo esse perigo todos os dias? — Isabella perguntou, tentando quebrar o silêncio, mas a voz dela traía uma mistura de fascínio e apreensão.

— Nem todos os dias, mas sempre o suficiente para lembrar que nada aqui é seguro — respondeu Rafael, sem tirar os olhos da estrada. — Esse mundo não perdoa. Quem entra, aprende rápido… ou desaparece.

Isabella engoliu em seco, sentindo um frio misturado com excitação percorrer sua espinha. Ela não era mais a garota protegida pelo luxo e pelo conforto; agora estava diante do desconhecido, diante do homem que, sem esforço, controlava tudo ao seu redor.

Após alguns minutos de silêncio, o carro parou em frente a um prédio antigo, de fachada discreta, quase como se quisesse passar despercebido. Rafael saiu primeiro, estendendo a mão para ajudá-la a sair. Isabella hesitou por um instante, olhando para ele, mas a intensidade do olhar dele a fez avançar.

— Aqui é só o começo — disse Rafael, conduzindo-a para dentro.

O interior do prédio era surpreendentemente moderno, com luzes baixas e corredores que pareciam intermináveis. Cada passo que Isabella dava a aproximava mais do coração do mundo que ela não sabia que existia. A sensação de perigo misturada com sedução a deixava alerta, mas ainda assim incapaz de se afastar.

Eles chegaram a uma sala ampla, onde algumas pessoas discutiam em voz baixa sobre negócios que Isabella não compreendia completamente. Havia dinheiro, poder e tensão no ar, e ela percebeu que estava vendo Rafael em seu habitat natural — não apenas o homem que atraía olhares, mas alguém que comandava com respeito e temor.

Rafael se aproximou dela, o cheiro dele envolvendo Isabella de forma quase hipnótica.

— Olha ao redor — disse ele, a voz baixa e intensa. — Esse é o meu mundo. Não é perfeito, nem seguro. Mas é real.

Isabella absorveu cada detalhe, sentindo o frio na barriga crescer. Ela queria recuar, sabia disso, mas algo dentro dela a empurrava para frente. Ela queria entender Rafael, queria ver até onde aquela vida poderia levá-la.

— E eu estou segura aqui? — perguntou, quase como um desafio, olhando diretamente nos olhos dele.

— Só se estiver ao meu lado — respondeu Rafael, aproximando-se. O toque de sua mão na dela foi breve, mas eletrizante. — O resto… depende de você.

Isabella sentiu um arrepio percorrer todo o corpo. Pela primeira vez, ela entendeu que se apaixonar por Rafael significava entrar em um território perigoso, onde cada escolha poderia ser decisiva. Mas algo dentro dela a dizia que o risco valia a pena.

E, naquela noite, enquanto a cidade dormia alheia ao que acontecia atrás daquelas paredes, Isabella percebeu que o jogo tinha começado — um jogo de poder, desejo e segredos que mudaria sua vida para sempre.

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