NovelToon NovelToon

Namoro de Fachada (O Cafajeste e a Gordinha)

Capítulo 1

✔️Autora desde 2017, + de 40 obras publicadas!

📚 Para quem vai ler, não esqueça de ajudar a autora, para sempre ter mais histórias novas completas. Ajudem:

✔️Curtindo todos os capítulos

✔️Deixando comentários

✔️ Votando na história aos domingos depois das 13horas

✔️ Adicionando na biblioteca, favoritando

✔️ Deem presentes

✔️ Assistam aos anúncios

✔️Compartilhem com outras leitoras

✔️ Ao finalizarem deem as estrelas na avaliação

Tudo isso faz uma enorme diferença e incentiva muito. 💖💋

Fagner sempre esteve no topo. Como um grande cantor de sertanejo, ele era milionário e presença constante nas manchetes, seja pelas turnês lotadas ou pelos escândalos que o cercavam. Mulheres, festas e confusões preenchiam sua rotina tão intensamente quanto a agenda de shows. Seu nome era sinônimo de polêmica, e sua fama de iludir as moças já não era novidade para ninguém.

Mas, em meio ao caos de sua vida, surge uma necessidade inesperada: redenção pública. Cansado de ser visto como um problema ambulante, Fagner precisa mudar sua imagem. É então que ele conhece Yumi.

Em uma noite aparentemente comum, a vida de Yumi mudou.

Era só mais um jantar em um restaurante elegante, uma pausa entre compromissos e entrevistas em época de lançamento de álbum. No entanto, a tranquilidade do ambiente foi interrompida quando uma funcionária, uma garçonete de olhar abatido e postura tímida, foi humilhada publicamente pelo gerente e demitida na frente de todos. O desconforto dominou o espaço, mas enquanto muitos desviavam o olhar, Fagner observa.

Yumi era gorda, insegura e reservada. A timidez sempre a impediu de reagir como gostaria, e naquela noite, tudo que queria era desaparecer. Mas havia uma força nela que nem ela mesma conseguia enxergar. Mesmo derrotada, ela não implorava, não chorava ali. Apenas abaixava a cabeça e tentava sair sem chamar mais atenção.

Algo naquela cena prendeu Fagner. Ele poderia ter apenas ignorado, como sempre fez com qualquer coisa que não envolvesse sua própria vida. Mas, impulsivamente, saiu atrás e chamou Yumi antes que ela sumisse, a alcançou dois quarteirões à frente.

— Moça? Espere, quero falar com você.

Ele se aproximou sério, agindo impulsivamente.

— Vi tudo o que aconteceu lá no restaurante. Tenho uma proposta de emprego para você! Se puder me ouvir só uns minutos.

Yumi observou que ele estava muito bem-vestido, cheiroso, parecia rico e educado. Enxugando as lágrimas, concordou balançando a cabeça que sim. Ele a chamou para tomar uma água, em um carrinho de lanches no final da rua. Ela foi o acompanhando, tentando se acalmar.

Ele pareceu gentil, pediu duas águas e a chamou para se sentar.

— Então, notei que não usa aliança, você é solteira? Eu busco uma namorada fake, que não faça parte do meu meio, do meu círculo social. Vou pagar por isso. Te interessa saber mais?

Ela ficou olhando confusa.

— Moço, o meu dia está péssimo, por favor, não quero ser alvo de pegadinhas.

Ele disse que era sério e que nada iria rolar, perguntou se ela o conhecia, começou a falar e mostrar quem era, com certo exibicionismo. Explicou o que estava acontecendo em sua vida particular, deixando claro que seria um namoro de fachada, e a convenceu facilmente.

O encontro inesperado os levou a um acordo improvável. Ele precisava de redenção pública. Ela precisava de dinheiro. A proposta? Fingirem um relacionamento que limpasse sua imagem e garantisse a ela estabilidade financeira para cuidar de sua mãe doente. O contrato era simples: aparições públicas, entrevistas ensaiadas, um romance de fachada, nada mais.

Yumi, com sua força silenciosa, sua simpatia genuína e sua forma de ver o mundo sem filtros, deduziu rapidamente o motivo de ter sido "escolhida" para essa proposta horrorosa.

Yumi sempre carregou o peso de ser invisível. Desde a infância, acostumou-se a ser aquela que ficava de lado, que não chamava atenção, que nunca era escolhida. Mas um evento específico marcou sua vida para sempre: uma festa da escola.

Naquela noite, Yumi decidiu que queria se permitir algo diferente. Passou meses economizando para comprar um vestido bonito, fez um penteado especial e, por um instante, acreditou que finalmente poderia ser vista como qualquer outra garota. Mas a ilusão durou pouco.

Um grupo de colegas, liderado por um rapaz popular que fingia ser gentil, montou uma cruel brincadeira. Eles a convenceram de que um dos garotos mais populares queria ficar com ela. Quando Yumi, nervosa e esperançosa, se aproximou dele no salão, percebeu tarde demais que era apenas uma armadilha. Risadas ecoaram, cochichos se espalharam, e ela se tornou o alvo da zombaria de toda a escola.

Desde então, Yumi aprendeu a não se expor. Guardou para si a insegurança, fechou-se em sua timidez e aceitou que talvez nunca fosse desejada da mesma forma que outras mulheres. Mas a necessidade de sustentar sua irmã doente a forçou a fazer trabalhos que exigiam enfrentar o mundo, atendendo o público, servindo mesas.

Quando Fagner apareceu em sua vida, com seu charme impulsivo e sua proposta inesperada, Yumi se viu diante de um dilema: fingir ser a namorada de um cantor que representava tudo o que ela sempre evitou, ou recusar uma chance de estabilidade que podia salvar sua irmã, lhe dar conforto.

O acordo foi fechado, Fagner ofereceu quinhentos reais por encontro, trocaram contato e poucas mensagens. Conforme os dias passaram e Fagner percebeu que Yumi não era nada como as mulheres com quem sempre lidou, ele se arrependeu de ter escolhido ela. Ele não viu nada por trás da timidez.

Yumi sempre acreditou que algumas cicatrizes nunca desapareceriam. Ela nunca namorou e se preservou por ser tão insegura. Por isso, mesmo ao lado de Fagner, ela queria continuar vestindo a armadura da invisibilidade, como se qualquer movimento brusco pudesse expô-la novamente ao ridículo. Mas com o passar dos dias, a barreira entre os dois foi se tornando mais difícil de manter. Ele pediu para ela arrumar seu perfil nas redes sociais e postar mais fotos. Quando ela foi tentar, teve medo, mas acabou gostando de adequar o perfil como a maioria das pessoas tinham.

Ele a convidou para jantar e iniciarem o plano. Ela o encontrou no restaurante. Ele estava em pé, esperando na porta, lhe deu a mão e tentou ser simpático, mas notou que ela estava um pouco mal-vestida, com uma sapatilha surrada, calça legging e uma camisa um pouco mais comprida, de botões listrada, cabelos soltos alinhados, maquiagem até que OK, bem caprichada.

Desde o primeiro momento, Yumi se perguntava por que alguém como Fagner, um cantor acostumado a mulheres perfeitas e deslumbrantes, escolheria alguém como ela. Ele era acostumado a ter tudo o que queria, e ela sabia muito bem como era não ter nada. A proposta de namoro falso parecia conveniente para ambos, mas cada olhar que ele lançava a fazia duvidar e ficar incomodada.

— Por que você está me olhando assim? — perguntou cética, enquanto fingiam estar em um jantar romântico, se preparando para uma sessão de fotos.

— Assim como? — Fagner ergueu uma sobrancelha, como se estivesse tentando a entender.

Ela disse que de maneira estranha, perguntou como ele conseguia fingir que estava gostando tanto. Ele sorriu cínico.

— Talvez porque eu esteja.

Capítulo 2

Ele disse aquilo com simplicidade, mas para ela, o impacto foi imenso. Ela nunca acreditou que alguém realmente gostaria de sua companhia, ela tinha medo, até de falar.

Tiraram fotos das mãos juntas, ele comeu frango com salada de folhas, tomou suco, ela comeu lasanha, picanha e muito refrigerante, de comer exageradamente, não teve vergonha.

Depois de postar as fotos, logo foram embora, separados. Ele pagou pelo encontro e ela foi embora feliz da vida, com a barriga cheia. As pessoas começaram a especular quem era aquela moça de mão gordinha com ele. Alguns dias depois, ele a chamou para sair e mandou duzentos reais para ela comprar uma roupa mais adequada.

Yumi comprou um vestido longo simples azul marinho, que realçava seu colo e valorizava as curvas. Era a primeira vez que os dois precisariam aparecer juntos em um evento público, foi um teste para Yumi. O medo de estar em evidência, de ser observada, de ser julgada como naquela noite do colégio, a fez estremecer.

Fagner mandou um carro buscá-la, se encontraram na frente da casa dele. Ele a cumprimentou formalmente com beijo no rosto. Durante o trajeto, ela ouviu as dicas dele calada, dizendo que deviam estar próximos, de mãos dadas. Quando chegaram ao evento, ela ficou travada olhando para fora, parecendo tensa. Ele se preparou para descer, murmurou antes de entrarem no salão:

— Está tudo bem!

— Não está — ela respondeu, respirando fundo.

E não estava. Desceram do carro, ele se aproximou, a segurando pela cintura. Ela sentiu os olhares sobre si. Os cochichos, verdadeiros ou imaginários, pareciam ecoar por todos os lados. Fagner a segurou pela mão, começou a cumprimentar pessoas, sentiu que a mão dela estava gelada, suando frio. Yumi estava constrangida, começou a mexer no celular. Mas então, algo aconteceu.

Quando ela parou por um segundo, os olhos de Fagner estavam fixos nela. Não com pena, não com deboche. Com compreensão.

— Se quiser sair um pouco, é só dizer.

Era um gesto simples, mas ninguém nunca tinha lhe dado uma escolha antes. Ela decidiu ficar, sorriu sutilmente cabisbaixa.

Yumi estava observando a tudo, mesmo tímida, era educada, comentou que não bebia. Lá tinha um buffet enorme, Fagner a chamou para irem comer, percebeu que ela não pegou quase nada, e questionou a razão, já que ela tinha falado antes que estava faminta.

Então cabisbaixa, ela respondeu, constrangida:

— As pessoas vão notar o que eu como e criticar, rir de mim.

— Não quero te envergonhar, você é um cantor importante, conhecido e...

Apontou para o abdômen dele:

— Tem um belo corpo, com tudo em cima.

Ele ficou surpreso, desconcertado, disse que aquilo era uma bobeira, pois ninguém tinha a ver com a alimentação dela. Atrás dele, tinham duas moças de beleza padronizada, cochichando e rindo. Na cabeça de Yumi, estavam caçoando dela. Totalmente desconfortável, ela decidiu comer pouco mesmo, foi embora com a barriga roncando.

Fagner sempre acreditou que ele era o dono do próprio destino. Mas ao conviver com Yumi, percebeu que ele também carregava marcas invisíveis. A diferença era que as dele estavam escondidas atrás de fama, polêmicas e conquistas. Mas no fundo, o medo de não ser aceito era semelhante, e ele passou a notar o quanto ela era discreta e gentil com tudo e todos.

Alguns dias depois, ele a chamou para fazerem umas fotos fakes de casal. Yumi chegou cheirosa, com o cabelo escovado. Ele sugeriu que montassem uma mesa de jantar, comprou comida mexicana. Enquanto ela arrumava a tudo, ele tocou no assunto da escolaridade dela, comentou que iriam fazer todo tipo de perguntas invasivas, quis saber se ela já tinha namorado, e quantas vezes.

Yumi começou a rir constrangida, falou do quanto sofria na escola e que por isso, nunca foi de namorar ou curtir, contou sobre o garoto que a ofendeu na festa, quando ela achou que iriam ficar, se emocionou ao explicar sobre a sensação de ser ridicularizada diante de todos.

— É como se eu fosse uma piada que todo mundo entendeu, menos eu — ela murmurou.

Por um instante, Fagner não soube o que dizer. Então, ele soltou uma risada curta e amarga.

— Eu também sou uma piada. Só que a minha vende ingressos para shows.

Ela o olhou surpresa. Pela primeira vez, viu além do cantor arrogante e do homem cercado por controvérsias. E talvez fosse ali que algo começou a mudar entre eles. Ele contou sobre sua infância pobre, falou muito sobre si, como adorava.

Com o tempo, as barreiras entre eles começaram a cair, as fotos eram abraçados, de mãos dadas, sentados perto e até dos pés na cama ou sofá. Ele quem escolhia tudo e ela só aceitava. Jantaram juntos assistindo a um filme que gostavam muito, de ação.

A timidez de Yumi aos poucos se transformava em conforto, tudo começou a fluir de maneira natural, como em um emprego qualquer. E Fagner, que nunca se importou com conexão real, começou a perceber que algo nele queria protegê-la. Não por pena. Mas porque ela era diferente de tudo que ele já conheceu e não parecia justo, deixar que a atacassem, enquanto ela o ajudava com a redenção pública.

Ele via que suas fãs, enchiam as fotos de críticas e deboches, tentava apagar constantemente, mas às vezes Yumi via e mesmo tentando disfarçar, ficava nitidamente triste, com vergonha de se expor assim.

Na noite em que deveriam fingir um beijo para uma campanha publicitária, ela foi sem saber de nada. Era uma foto sobre roupas da moda e foi difícil encontrar o tamanho dela. Fagner tentou lidar com tudo profissionalmente e acabou ameaçando expor nas redes sociais que queria o colocar com uma modelo, porque a namorada gorda dele, não "vendia" tanto. Yumi nem soube dos bastidores. Foi ao salão no dia, fez as unhas, o cabelo e até se depilou.

Ela não tinha amigas e nem com quem compartilhar. Na hora da empolgação, acabou enviando fotos para Fagner, perguntando se estava bom, e no fundo esperou um elogio, que não chegou. Fagner estava distraído e só disse que sim. Ela foi o encontrar ainda com a esperança de ouvir qualquer coisa que ressaltasse sua mudança, já que estava super maquiada, toda produzida. Fagner não parecia vê-la como uma mulher.

E ela começou a perceber o modo afetuoso dele com amigas, nas conversas, nos comentários em fotos, e para piorar, ele começou a chamar de fofinha, na frente das pessoas, a deixando muito constrangida.

Foram fazer as fotos e o agasalho dela quase não serviu. Ela começou a ficar nervosa emotiva, enquanto ele mexia no celular, incansavelmente. Quando ela ficou pronta, foi até ele. A fotógrafa explicou quais eram os planos, eles teriam que se beijar. Fagner estava tranquilo, se aproximou seguindo as instruções, a segurando pela cintura. Yumi hesitou.

— Eu nunca fiz isso antes — confessou baixinho.

Fagner sentiu algo incomum dentro de si. Uma mistura de surpresa e respeito, ficou desconcertado cochichando.

— Não precisa fazer nada que não queira.

Capítulo 3

Ele poderia ter simplesmente cumprido o papel dele a coagindo. Poderia ter ignorado o segredo dela. Mas naquele instante, ele soube que não queria que ela se sentisse desconfortável, coagida.

Yumi respirou fundo nervosa:

— Vai ser técnico, né? Sem língua?

Fagner sorriu sutilmente desacreditado e disse que sim, só um selinho demorado. Se aproximou e a mandou fechar os olhos. A beijou sutilmente encostando os lábios, chupou a boca dela lentamente, a sentindo nervosa ofegante. Ao se afastarem, ele perguntou se doeu e sorriram espontaneamente, muito próximos. E essa foi a foto escolhida, mostrando uma química que escondia um grande segredo.

Yumi estava constrangida, ficou sem conseguir olhar diretamente nos olhos dele, foi embora cheia de pressa, e dormiu tocando os lábios, pensando na sorte que tinha, por ter dado o primeiro beijo com um homem tão lindo quanto ele.

Fagner começou aquele namoro como uma estratégia de marketing, despreocupado. Mas agora, tudo parecia diferente, ele percebeu que não fez uma boa escolha, pois ela era vulnerável demais. O olhar dela já não era de julgamento ou medo. Pela primeira vez, ele sentia que alguém mais próximo o via além da imagem construída para os jornais, pois ela não fazia perguntas ou críticas, lhe ouvia e apoiava gentilmente, com otimismo e ainda parecia muito grata por tudo o que ele fazia, principalmente pagar pela companhia dela.

E pela primeira vez, ele se perguntava se aquilo era apenas um papel dela, uma obrigação ou algo que ele queria que fosse verdade. Os encontros tinham prazo de validade. Yumi começou a imaginar, mas e se, pela primeira vez repentinamente, nenhum deles quisesse que o prazo acabasse? E ele avançasse o sinal, quebrando regras. Na cabeça dela, o mundo era pequeno demais para coincidências e coisas tão clichês, porém ela gostava de fantasiar que talvez fosse o destino tentando pregar uma peça, a fazendo gostar do namorado de mentira.

Fagner achou graça dela estar o evitando e a convidou para ir acompanhar um ensaio. Yumi se arrumou bem, como podia, maquiagem caprichada, roupas que, pelo menos visualmente, não estavam estragadas, colocou uma saia longa, camiseta simples, tênis casual. Ela fazia questão de ir encontrar Fagner no local marcado ou na casa dele, porque queria esconder onde morava.

Ele estava a esperando na garagem, já dentro do carro. Quando o Uber chegou, ele foi abrindo o portão. Ela entrou no carro séria, deu bom dia. Ele ficou olhando pelo canto dos olhos, reparando que ela parecia diferente, talvez triste ou envergonhada. Postaram uma foto dele dirigindo com a mão na perna dela. Ela ficou apreensiva, com a respiração ofegante, mãos suando frio. Ele percebeu porque entrelaçou na dela, para fazer um vídeo que representava carinho.

Assim que chegaram no local, Fagner comentou como lá funcionava, e algo ruim já aconteceu, eles precisavam entrar por uma catraca, que Yumi não passava. Fagner entrou na frente distraído e ao ouvi-la o chamando logo atrás, se virou e notou o constrangimento dela, mas demorou alguns segundos para entender. Yumi sorriu sutilmente:

— Não consigo passar, digo, não me cabe.

Fagner voltou para trás, chamou um funcionário que a deixou passar por uma porta. Yumi ficou cética, sem saber como puxar assunto, teve vergonha de si. Fagner queria fingir que nada aconteceu, mas perguntou com certo deboche:

— E aí, Yumi, já pensou em começar a treinar comigo, fazer dieta? Vamos ficar no hype. Eu pago tudo! Vou ver se consigo uma avaliação hoje. Com a nutri.

Ela não respondeu como gostaria, porque chegaram pessoas perto. Ela estava em pé, mexendo no celular, viu um rosto que lhe pareceu familiar. Yumi nunca imaginou que veria Kauan novamente. Quando eram crianças, ele era seu porto seguro. O único que nunca riu dela, que nunca a fez sentir como um erro. Mas o tempo passou, cada um seguiu sua vida, e o contato se perdeu. Agora, anos depois, ele estava ali, parado diante dela, e pior, trabalhando com Fagner.

Eles se reencontraram onde a banda ensaiava. Kauan fazia parte da equipe de produtores de eventos do cantor. Mas naquele momento, nada disso importava. O choque de ver sua amiga de infância, a garota que costumava dividir lanches e segredos com ele, ao lado do maior cafajeste do show business, era mais impactante do que qualquer show que ele já tivesse assistido.

— Yumi?! — Ele piscou várias vezes, como se estivesse tentando se certificar de que não era uma miragem.

— Oi, Kauan… — a voz dela saiu hesitante.

— O que você está fazendo aqui? — Ele olhou para Fagner ao lado dela, as mãos dele descansando de forma casual na cintura de Yumi, como se quisesse marcar território.

Fagner percebeu a tensão, mas apenas observou, divertido.

— Ela é minha namorada — Fagner respondeu antes que Yumi pudesse formular uma desculpa.

Kauan franziu a testa, claramente confuso. Essa era a mesma Yumi que sempre foi tímida, insegura e discreta? A mesma que ele conhecia melhor do que ninguém? Algo estava errado. Muito errado.

O desconforto foi imediato. Ele olhou nos olhos da amiga e viu algo que só quem a conheceu de verdade poderia perceber: medo. Não de Fagner, mas de ser exposta. De ser questionada.

— Você… vocês estão juntos? — Kauan repetiu, dessa vez direcionando a pergunta a Yumi.

Ela quis responder com confiança, quis sustentar o papel que deveria interpretar. Mas antes que conseguisse, sentiu o olhar afiado do amigo. Ele sabia. Ele sabia que algo estava errado.

E naquele momento, Yumi percebeu que, pela primeira vez, alguém poderia destruir seu segredo. Ela sorriu nervosa, disse que sim. O reencontro com Kauan durou poucos minutos. Rápidos, sufocados, interrompidos antes mesmo que Yumi pudesse sentir qualquer conforto na presença dele.

Fagner percebeu a conexão entre os dois assim que os olhares se encontraram. Talvez tenha sido o jeito como Kauan disse o nome dela, com surpresa e familiaridade. Ou talvez tenha sido a forma como os olhos de Yumi se iluminaram por um instante, como se algo dentro dela tivesse se lembrado do que era ser reconhecida de verdade. Ele não gostou.

Fagner nunca foi do tipo sentimentalista. Mas no jogo da aparência, ele sabia que não podia perder o controle da narrativa, e naquele momento, uma antiga amizade parecia um risco. Ele não ia deixar que Kauan tivesse tempo para perguntas. Para dúvidas. Para brechas.

— Precisamos ir, amor, quero você me assistindo — ele disse, com um tom propositalmente firme.

Yumi piscou, confusa, e Kauan franziu a testa. “Amor?” A palavra soou deslocada, errada, forçada. Fagner deslizou a mão pela cintura dela, puxando-a sutilmente para perto, marcando território como se sua presença ao lado dela precisasse ser reafirmada.

Kauan sentiu uma pontada incômoda no estômago. Algo estava muito errado ali.

— A gente ainda pode conversar depois, certo? — Kauan insistiu, tentando ignorar a hostilidade implícita.

Yumi abriu a boca para responder, mas Fagner foi mais rápido.

— Não sei se vai dar tempo. Temos uma agenda cheia, ela não sai sem mim — ele disse, com um sorriso que não alcançava os olhos.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!