Na imensidão das terras goianas, duas famílias rivais carregam uma herança de orgulho, disputas e rancores antigos. Os Montenegro, donos de uma das maiores fazendas da região no ramo da pecuária, do outro lado os Bittencourt, seus eternos adversários, e um dos maiores produtores de soja.
E em meio a uma rivalidade antiga, nascem amores que jamais deveriam existir.
Nessa nova trama: Três amores proibidos.
Duas famílias rivais.
Um destino capaz de mudar tudo.
Entre o orgulho, a honra e o desejo. Mia, Pérola e Ricardo terão que escolher: seguir o coração ou se render ao peso do sobrenome.

O sol começava a nascer no horizonte de Goiânia, espalhando seus primeiros raios sobre as colinas verdes da Fazenda Montenegro. O mugido do gado ecoava pelos campos, misturado ao tropel dos cavalos e ao barulho distante dos peões que já estavam na lida. A vida na fazenda despertava cedo, como sempre acontecera desde que aquela terra fora conquistada pela família, décadas atrás.
A casa-sede erguia-se imponente no centro da propriedade. Construída em estilo colonial, com varandas largas e paredes pintadas de branco, carregava a imponência de um lar que guardava não só uma família, mas também histórias de poder, orgulho e disputas. Cada pedra do alicerce parecia carregar o peso do sobrenome Montenegro.
Do alpendre, Alberto Montenegro, o patriarca, observava o movimento da fazenda com o olhar firme e silencioso. Aos sessenta e dois anos, o corpo já não tinha a mesma agilidade da juventude, mas sua presença ainda se impunha como a de um comandante em campo de batalha. Era um homem de voz grave, olhar duro e gestos contidos, respeitado pelos funcionários e temido pelos rivais.
Por trás de sua rigidez, escondia-se um passado marcado por escolhas difíceis — e uma ferida antiga que nunca cicatrizara: a juventude perdida para a rivalidade com os Bittencourt.
Ao lado dele, sua esposa, Eva, de cinquenta anos, se movia com elegância natural. Era uma mulher de beleza sóbria, ainda marcante, e dona de uma postura altiva. Para muitos, Eva parecia ser o coração da casa, mas quem a conhecia bem sabia que sua força vinha de uma rigidez quase tão inflexível quanto a do marido. Conservadora, apegada às tradições e ao nome da família, ela era guardiã dos costumes e das aparências, mesmo que isso custasse a felicidade dos filhos.
Na sala de jantar, já posta para o café da manhã, os filhos iam se reunindo.
O primeiro a surgir fora Ricardo, o primogênito. Com vinte e sete anos, herdara a seriedade do pai e a determinação da mãe. Seu rosto trazia a firmeza de quem crescera com a responsabilidade de carregar o futuro da família. Ricardo raramente sorria; era reservado, observador, e muitos funcionários da fazenda o respeitavam quase tanto quanto ao próprio Alberto. Para ele, viver sob o peso do sobrenome Montenegro era um dever inescapável.
Logo depois, vieram as gêmeas, tão iguais na aparência quanto diferentes em essência.
Mia era a primeira a se sentar, trazendo consigo um livro de capa gasta que não largava nem nos horários de refeição. Seus olhos claros refletiam a serenidade de quem vivia mais no mundo das palavras do que na dureza da realidade. Aos dezoito anos, ainda guardava a inocência intocada da juventude, e seu sorriso tímido revelava um coração que sonhava com amores impossíveis, mesmo sem nunca tê-los vivido.
Pérola, por sua vez, entrou alguns minutos depois, apressada, ajeitando os cabelos diante de um pequeno espelho de mão. Sua beleza vibrante e seu olhar ousado a diferenciavam da irmã. Também tinha dezoito anos, mas já se via como alguém destinada a voos maiores do que as cercas da fazenda. Pérola não escondia o desdém pela rotina do campo; falava abertamente em estudar fora, em conhecer o mundo, em não se prender às correntes da tradição que sua família tanto prezava.
As duas gêmeas, embora inseparáveis em sangue, eram o reflexo de extremos: a suavidade e a inocência de Mia contrastando com a determinação e a ousadia de Pérola.
Enquanto a família se reunia, o silêncio respeitoso dos funcionários se fazia presente. A família Tavares, que há anos trabalhava para os Montenegro, era quase uma extensão da casa. Helena, a governanta, cuidava da ordem doméstica com dedicação, enquanto seus filhos, Marcos, de vinte e oito anos, e Alice, de quinze, cresciam ao lado dos Montenegro, ainda que em posições muito distintas. Marcos, agora um peão habilidoso, era frequentemente visto nos campos, de chapéu na cabeça e mãos calejadas, responsável por boa parte do trabalho pesado da fazenda.
A mesa estava cheia, mas não era apenas o pão ou o café quente que alimentava aquela família — era também o orgulho. Orgulho de suas terras, de seu sobrenome, de sua história. Um orgulho que, por vezes, se confundia com arrogância.
— O movimento na fazenda está bom — disse Ricardo, em tom sério, enquanto se servia. — O pasto está forte este ano, o gado vai engordar rápido.
Alberto assentiu, satisfeito. — É assim que tem que ser. Os Bittencourt que se preocupem com as terras deles.
Ao ouvir o nome da família rival, um silêncio pesado pairou sobre a mesa. Não era preciso muitas palavras para que todos ali sentissem o peso daquela rivalidade antiga. Mia, como sempre, baixou os olhos, evitando se envolver. Pérola, por outro lado, ergueu o queixo, desafiadora, como se desejasse enfrentar qualquer um — fosse vizinho, fosse tradição.
A vida dos Montenegro parecia seguir o mesmo ciclo de sempre: trabalho, deveres, festas sociais onde o nome da família precisava brilhar. Mas naquele dia, sem que ninguém desconfiasse, o destino começava a se mover em silêncio.
Uma visita inesperada, uma amizade improvável e um amor proibido logo bateriam às portas daquela casa, mudando para sempre o rumo de suas histórias.
Obs: Todas as imagens foram retiradas da Internet: Pinterest.
O calor do fim da manhã já se espalhava pela terra vermelha da estrada quando o tropel de cascos se fez ouvir. Do alpendre da casa-sede, Alberto Montenegro interrompeu a conversa com o filho Ricardo e estreitou os olhos para o horizonte. A poeira levantada denunciava a aproximação de um cavaleiro solitário. Os cães latiram alto, correndo até o portão principal.
— Quem será? — murmurou Ricardo, erguendo-se.
— Seja quem for, não costuma ser bom aparecer sem aviso — respondeu o pai, em tom grave.
Poucos minutos depois, a figura se tornou clara: Benício Bittencourt, montado em um cavalo castanho, postura firme, chapéu bem ajustado. O coração de Alberto endureceu de imediato. O filho do maior rival pisava em suas terras com a ousadia de quem desafiava gerações de rivalidade.
Eva surgiu na varanda, os lábios crispados. — É o filho de José Eduardo… — disse, quase num sussurro carregado de desdém.
Quando Benício desmontou, o silêncio pesou sobre o pátio. Alguns peões interromperam o trabalho para observar, e até Marcos Tavares, que vinha trazendo arreios do curral, parou, cerrando o maxilar diante da presença de um Bittencourt.
— Bom dia, senhor Montenegro — disse Benício, retirando o chapéu em sinal de respeito. — Espero não causar incômodo. Vim em nome de meu pai, tratar de negócios de divisa.
Alberto sustentou o olhar do rapaz, como quem mede forças antes mesmo da primeira palavra. — Negócios discutem-se em hora marcada. — Fez uma pausa, e completou: — Mas já que veio até aqui, entre.
Benício seguiu o patriarca até a sala de visitas, mas antes que cruzasse a porta, seus olhos encontraram algo que o fez perder por um instante a firmeza habitual. No batente da entrada, de mãos delicadas apoiadas na madeira, estava Mia Montenegro.
Ela não deveria estar ali — Eva sempre dizia que conversas de homens não eram para moças —, mas a curiosidade a trouxera até a porta. Os olhos claros da jovem brilharam quando se cruzaram com os de Benício, e o tempo pareceu suspender-se entre eles.
Não houve palavras, apenas um silêncio carregado de algo novo. Benício sentiu o coração acelerar de forma inesperada, como se aquela garota que o observava fosse capaz de desmontar, em segundos, toda a rigidez de seu sobrenome. Mia, por sua vez, baixou os olhos por timidez, mas não conseguiu conter o rubor que lhe tomou a face.
Pérola, que se aproximara logo atrás da irmã, percebeu a cena de imediato. Seus lábios se curvaram em um sorriso quase divertido. — Ora, ora… — murmurou baixinho. — Parece que o inimigo não é tão invisível assim.
A reunião entre Alberto e Benício aconteceu, repleta de formalidades e frases medidas. O jovem Bittencourt falava com segurança, tentando suavizar a tensão, enquanto o patriarca Montenegro mantinha-se firme, desconfiado de cada palavra. Ricardo, sentado ao lado do pai, observava atento, guardando para si cada detalhe.
Mia, escondida atrás da porta entreaberta, escutava mais o som da voz de Benício do que o conteúdo da conversa. Havia algo nele — uma serenidade, uma honestidade implícita — que a desarmava por dentro.
Do lado de fora, Pérola comentava com Marcos, em tom provocativo: — Se depender do olhar da minha irmã, essa guerra entre famílias acaba rapidinho.
Marcos apenas franziu o cenho, pouco disposto a brincadeiras. Para ele, nada poderia unir Montenegro e Bittencourt sem dor.
Quando a conversa terminou e Benício se preparava para partir, voltou-se discretamente em direção à porta. Mia ainda estava ali, imóvel, como se aguardasse aquele instante. Seus olhos se encontraram novamente, e dessa vez o sorriso tímido dela foi correspondido pelo leve curvar dos lábios dele.
Nada foi dito, mas ambos sabiam que aquele olhar era apenas o início de algo que mudaria para sempre suas vidas — e talvez o destino de suas famílias.
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