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Coração Fora de Controle. - Vol 1

NOTA DA AUTORA

✨ Nota da Autora ✨

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são fruto da imaginação da autora ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, ou com acontecimentos reais é mera coincidência.

Respeito é a base de tudo. Críticas construtivas serão sempre bem-vindas e recebidas com muito carinho, pois crescer como autora faz parte do processo. 💕 No entanto, comentários ofensivos não serão aceitos. Quem insistir nesse tipo de postura será bloqueado automaticamente.

Meus livros são feitos de emoções, drama, romance e sentimentos reais. Não trabalho com cenas de hot explícitas; minha escrita busca tocar a alma do leitor com palavras que aquecem de dentro para fora. ✨

Se quiser conversar comigo, compartilhar sua história (quem sabe vira inspiração para um próximo livro?) ou simplesmente dar um “oi”, estarei no Instagram: @riane_escritora.

Boa leitura e sinta-se em casa!

Com carinho,

Riane 💌

CAPÍTULO 1 - Uma ilusão chamada amor. (Lola)

Narrado por Dolores Owens

O amor nada mais é do que uma combinação de processos biológicos, sociais e psicológicos que o ser humano interpreta como “sentimento”. Tecnicamente, é uma reação química no cérebro, causada pela liberação de dopamina, serotonina, oxitocina e adrenalina. Essas substâncias geram sensação de prazer, apego e desejo de proximidade com outra pessoa.

O amor romântico, especificamente, é uma construção cultural alimentada por séculos de literatura, religião e cinema, que idealiza vínculos humanos para justificar comportamentos como casamento, fidelidade e criação de filhos.

Em resumo: o amor é uma ilusão bioquímica e socialmente útil que as pessoas escolhem acreditar para se sentirem menos sozinhas ou para manter vínculos estáveis na sociedade.

— E por isso, meus caros — falei em voz alta enquanto descia a escada principal da casa — O amor é a maior farsa já contada. Um conto de fadas moderno com efeitos colaterais emocionais.

O chão do hall de entrada estava um caos: caixas abertas, fitas adesivas penduradas, jornais amassados. O cheiro de poeira e papelão dominava o ar, misturado com o perfume suave de lavanda que Emma sempre borrifava pela casa.

Nova York estava ficando para trás. Estávamos nos mudando. Voltando para Chicago.

Minha cidade natal. A cidade onde minha mãe nasceu. E onde ela morreu.

Suspirei e passei os dedos pelos cabelos castanhos-escuros, presos num coque alto e bagunçado. Usei o reflexo do espelho da parede para verificar o estrago no meu rosto: olheiras fundas, sobrancelhas bagunçadas, uma espinha teimosa no queixo.

Perfeito. O retrato da exaustão emocional com uma pitada de raiva reprimida.

— Lolaaaaa! — gritou Ben do andar de cima.

Logo em seguida, ele e Chloe passaram por mim em disparada, rindo como dois lunáticos.

— Não corram pela casa! — gritei, me virando com as mãos na cintura.

Ben, de 10 anos, tinha o cabelo loiro desgrenhado, os olhos azuis claros herdados do papai e energia suficiente para abastecer uma cidade pequena. Chloe, com 8, era a cópia miniatura da Harper: olhos cor de mel, cachos perfeitamente caóticos e uma expressão de princesa mimada até quando estava de pijama.

— Vocês vão cair dessas caixas! — avisei ao vê-los escalando uma pilha instável no canto da sala.

— É uma fortaleza secreta! — respondeu Ben, rindo.

— É um acidente esperando para acontecer — murmurei, ameaçando pegar o celular. — Vou ligar pro papai.

Eles desceram na hora e correram pro jardim.

Claro, essa era a minha vida. Meio-irmãos preferidos, mas que parecem personagens de um desenho animado com o botão de volume sempre no máximo. Um pai que vive ausente. E duas ex-madrastas que mereciam prêmios por atuação no papel de “mãe por conveniência ou melhor dizendo, mãe ausente!”.

Scarlett foi a primeira. Linda, loira, fútil até a alma. Casou com meu pai quando eu tinha sete anos. Ben nasceu meses depois, e ela abandonou os dois assim que percebeu que a maternidade atrapalhava a manicure.

Harper veio logo depois. Diferente da Scarlett, ela era mais performática. A gravidez foi planejada como se fosse um negócio. Chloe nasceu, Harper garantiu sua pensão e deu no pé antes da criança completar um ano.

Meu pai? Continuava acreditando que um dia ele poderia achar alguém que ele pudesse amar.

— Ele dizia amar tanto a minha mãe... — murmurei, mexendo distraidamente numa caixa com livros

Mas não exigiu dos médicos que salvassem ela. Não implorou, não lutou. Minha mãe morreu por mim. E eu acordo todos os dias com a dúvida: será que valeu a pena?

Emma apareceu na porta da cozinha com um olhar gentil.

— Está tudo bem, Lola?

Emma era como um raio de sol em meio a um céu cinzento. Cabelos grisalhos presos num coque baixo, olhos castanhos sempre atentos, mãos macias e firmes.

— Estou. Só... cansada.

— Vai sentir falta daqui?

— De Nova York? — fiz uma careta — Não. Nunca gostei desse lugar. Frio, barulhento, solitário.

Ela se aproximou e colocou uma mão no meu ombro.

— Chicago vai te fazer bem.

Assenti, sem muita convicção. Fazia quase treze anos que não colocava os pés lá. A última lembrança que eu tinha era eu correndo no jardim enorme que tinha lá. Meu pai se recursava a voltar a morar lá e ainda recusa, vamos nos mudar para uma casa nova, a antiga casa é só minha e a herança que minha mãe deixou para mim.

— Acho que ele está tentando compensar alguma coisa — comentei, pegando um envelope fechado sobre a mesa. — Comprar uma casa no mesmo bairro que moravamos antes, uma escola particular de elite para as crianças, universidade de Chicago para mim. Meu pai disse que vai passar mais tempo com a gente...

Emma me observava em silêncio. Ela sempre soube as palavras certas e a hora certa para dizer.

Fui até a varanda e me sentei no degrau, sentindo o sol quente no rosto. O jardim estava uma bagunça, mas as crianças pareciam felizes ali. Ben jogava uma bola de futebol e Chloe tentava roubar a bola de futebol dele.

E eu? Eu tentava não desmoronar.

— Por que você acha que ele foi embora hoje cedo de novo? — perguntei alto, mais para mim do que para Emma.

— Porque fugir é mais fácil do que encarar a dor.

Ela tinha razão. Meu pai era mestre em se esconder atrás do trabalho. Como se a ausência resolvesse o luto.

Ficamos ali em silêncio por um tempo, até o som de um carro buzinando nos interromper.

— A mudança chegou — anunciou Emma.

Um caminhão branco estacionou na frente da casa. Dois homens de macacão azul começaram a descarregar caixas.

— Vamos ajudar — disse Emma, se levantando com mais agilidade do que alguém da idade dela deveria ter.

Eu a segui, calçando o primeiro par de tênis que encontrei. Enquanto guiava os homens até os cômodos certos, não pude deixar de notar como a casa parecia... vazia. E não era só por causa das caixas.

Era o vazio emocional. A ausência de alma. As memórias ruins ecoavam pelas paredes. O som abafado de choros antigos, de portas batendo, de silêncios ensurdecedores.

Subi até meu quarto e olhei ao redor. As paredes ainda tinham marcas dos meus quadros. A prateleira com meus livros favoritos já estava vazia. Minha poltrona favorita já não estava mais lá.

Me aproximei da janela e encarei a cidade lá fora. Nova York era linda. Mas não pra mim. Não com tanta bagagem emocional.

Peguei meu diário da gaveta e escrevi:

“Último dia nesta cidade. Que fique aqui tudo que me pesa. Tudo que me afunda. Que eu possa encontrar algo novo em Chicago, mesmo que eu não saiba o quê. Mesmo que, no fundo, eu ainda não acredite que possa encontrar.”

Fechei o caderno. Chloe bateu na porta.

— Lola! O Ben está me chamando de alienígena!

— Você já viu seu cabelo hoje? — gritei de volta, rindo.

Ela bufou e desceu correndo.

Me olhei no espelho pela última vez. Era hora de dizer adeus.

E talvez, só talvez... de dar uma chance ao que vem depois.

Menos ao amor!

CAPÍTULO 2 - Adeus nunca foi meu forte. (Lola)

Narrado por Dolores Owens

O céu ainda estava escuro quando abri os olhos. Alcancei o celular no criado-mudo e encarei a tela: 6h05.

Suspirei.

Eu nem tinha dormido. A cabeça não parava. Os pensamentos pareciam rodar em looping como uma música irritante que você não consegue desligar.

Hoje com certeza seria O DIA.

Hoje deixávamos Nova York para trás e voaríamos de volta para a cidade onde tudo começou e onde, de certa forma, tudo também terminou.

Chicago.

Me levantei devagar, sentindo os músculos rígidos. Tomei um banho demorado, tentando ignorar o aperto no peito. Coloquei uma calça de moletom cinza, uma blusa preta de gola alta e prendi o cabelo em um coque mal feito. Peguei minha bagagem de mão e uma mala pequena vinho, com chaveiro de flor seca que a Emma tinha feito pra mim e desci.

O cheiro de café recém-passado e paquecas invadiu minhas narinas, misturado ao som das vozes agitadas das crianças.

Na sala de jantar, meu pai estava sentado à cabeceira, como sempre, com um jornal aberto e os óculos de leitura apoiados na ponta do nariz. Ben e Chloe, lado a lado, riam de alguma coisa idiota.

— Bom dia — murmurei, entrando.

— Bom dia, querida — respondeu meu pai, sem tirar os olhos da notícia.

— Bom diaaaa, Lola! — gritaram Ben e Chloe em coro, com um entusiasmo que me fez querer voltar pro quarto.

Me sentei. Peguei uma fatia de pão, mas só belisquei. O estômago estava embrulhado, revirando como se já estivesse dentro do avião. A ansiedade fazia morada ali. Não era só medo do novo, era também a incerteza do velho. De tudo que eu ia ter que encarar em Chicago.

Ben derruba suco na blusa da Chloe, ela gritou, ele riu, ela tentou bater nele, ele desviou e quase caiu da cadeira.

— Já chega — disse meu pai, sem levantar o tom. — Respeito à mesa.

Eles pararam. Mas foi só por um minuto.

Meu pai dobrou o jornal e o deixou de lado, terminando o café com a calma de sempre. Ele era assim: elegante, centrado, e completamente emocionalmente ausente.

Quando todos terminaram, ele se levantou, ajustou o terno e anunciou:

— Vamos nos organizar. Sairemos daqui em dez minutos, crianças.

Meu coração apertou. De repente, parecia que as malas ficaram mais pesadas. Não por causa das roupas. Mas por causa da despedida que eu não queria enfrentar.

Emma.

Me levantei devagar, procurando por ela pela a casa. Encontrei-a na cozinha, guardando as louças do café com a mesma delicadeza de sempre.

Ela usava seu avental branco com estampa de limões, o cabelo preso em um coque baixo, e o olhar... ah, o olhar era de quem entendia tudo sem precisar que eu dissesse nada.

— Emma... — minha voz saiu fraca.

Ela se virou imediatamente e sorriu. Aquele sorriso doce, quase de mãe. O único que eu conhecia.

— Vai ser difícil sem você — sussurrei, me aproximando.

— Eu sei, querida. Eu também vou sentir sua falta.

A abracei com força. Aquele abraço que você tenta decorar com o corpo inteiro. Que tenta guardar como se fosse caber numa mala.

— Eu queria tanto que você fosse com a gente — murmurei no ombro dela. — Implorei tantas vezes...

— Eu sei, meu bem. Mas minha filha mais nova está prestes a ter um bebê. Preciso estar aqui com ela.

— Claro...

— Mas vai dar tudo certo — disse, acariciando meus cabelos. — Cuide de si. Viva sua vida. Você está indo para uma nova fase. E seus irmãos ficaram bem. Já contratei uma nova babá e uma nova governanta para ajudá-los.

Assenti. Mas por dentro... estava desmoronando. Quase chorei. Quase deixei escorrer. Mas eu era a Lola Owens. E se havia uma regra que eu seguia desde sempre, era: ninguém me vê chorar. Nunca.

Ben e Chloe entraram correndo e abraçaram Emma. A despedida deles foi rápida, quase desatenta, como tudo o que eles faziam. Crianças não entendem despedidas como a gente entende. E talvez isso fosse invejável.

Meu pai apareceu logo depois, apertou a mão de Emma, trocou algumas palavras com ela que eu não ouvi e então, com o mesmo tom apressado de sempre, disse:

— Vamos, crianças.

Entramos no carro. O motorista levou nossas bagagens maiores direto para o aeroporto na noite anterior, então estávamos apenas com as malas de mão.

Olhei pela janela, memorizando as ruas, as árvores, os prédios. Nova York nunca foi exatamente um lar. Mas foi o lugar onde tudo aconteceu. Onde minha mãe não estava. Onde Emma preencheu vazios que não eram dela. Onde eu cresci fingindo que estava tudo bem.

O aeroporto era caótico como sempre. Gente pra todo lado, carrinhos de bagagem, vozes misturadas com avisos automáticos. A viagem seria um voo direto Nova York até Chicago. Sem paradas. 2 horas e 40 minutos.

Longas.

Sufocantes.

Ansiosas.

Me sentei na poltrona ao lado da janela. Ben e Chloe ficam juntos, brigando pelo controle do encosto de braço. Meu pai ficou do outro lado do corredor, já com o notebook aberto.

Fechei os olhos e respirei fundo. O avião decolou. E com ele, algo dentro de mim parecia se soltar. Como se uma parte estivesse ficando e outra tentando fugir.

Tentei imaginar como seria a casa nova. O bairro novo. A escola nova. As pessoas novas.

E o Henrique?

Com certeza eu encontraria ele com frequência em Chicago, contra meu gosto.

Eu revirei os olhos só de pensar. Tinha certeza de que ele ia dar um jeito de me irritar assim que eu colocasse os pés por lá. Porque era isso que ele fazia. Nas raras vezes em que ele vinha pra Nova York, parecia que sua única missão era cutucar minha paciência até ela explodir.

Henrique Carter, o “filho postiço” preferido do meu pai. O “irmão” que não é irmão ou o "primo" que não é primo. O intrometido de jaqueta de couro que sempre tem uma piadinha na ponta da língua. Que anda como se fosse o dono do mundo e sorri como se soubesse de todos os meus segredos.

E o pior? Ele sempre aparece nos momentos em que eu menos quero vê-lo.

Inclinei a cabeça contra a janela e fiquei observando as nuvens. O céu estava limpo, azul. Do tipo que engana, porque por dentro tudo está cinza.

— Senhoras e senhores, estamos nos aproximando de nosso destino...

O anúncio me despertou dos pensamentos. Em menos de quinze minutos, pousaríamos.

Chicago.

A cidade onde minha mãe nasceu. Onde morreu. Onde meu pai construiu memórias que decidiu enterrar por mais de uma década.

E agora... onde ele decidiu recomeçar. Com a gente.

O avião tocou o solo com um leve solavanco. Chloe aplaudiu, como se fosse a primeira vez que voava. Ben zombou dela. E eu... respirei fundo pela décima vez naquela manhã.

Quando descemos, o vento gelado de Chicago me acertou no rosto como um tapa. Era mais frio do que eu lembrava. Ou talvez só fosse eu, congelando por dentro.

Olhei em volta, procurando a cara do destino.

Mas tudo o que vi foi rostos estranhos.

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