Eron
Ser um alfa aos dezessete anos não era o que eu imaginei para mim, sempre soube que seria o próximo alfa. Minhas habilidades, minha capacidade de liderança e minha agilidade gritavam isso para o meu pai.
Mas nunca pensei em perdê-lo tão cedo. Meu pai foi traído e enganado caindo em uma emboscada que quase me custou a vida para defendê-lo e a única coisa que carrego daquele dia horrendo é uma feia cicatriz que começa em meu peito e termina em minhas costas.
Lutei bravamente, mas não consegui salvar meu pai. Meu tio, Antunes, é o responsável pelo Alfa que sou hoje. Seguiu ao meu lado me aconselhando junto com o conselho da sede da matilha e meu beta, Lucas.
Quando completei dezoito anos conheci a Leona, uma mulher incrível que me fez perder a cabeça… logo começamos a namorar, quando eu completei vinte anos estávamos acasalados e à espera do nosso primeiro filho.
Tudo pareceu um sonho nos meses que se seguiram, apesar da minha preocupação em ela insistir a não ir ao médico na cidade e cuidar de sua gestação aqui na matilha com as experientes mulheres mais velhas.
Ela queria seguir o exemplo da minha mãe, sinceramente não sei como ela descobriu sobre isso já que a minha mãe faleceu antes do meu pai, ela foi assassinada por caçadores.
Quando o dia do parto chegou tudo parecia ir bem até que o bebê nasceu, um lindo menino, entretanto, Leona morreu após dar à luz. Descobriu-se depois que ela teve uma eclampsia, nosso filho morreu horas depois.
Mergulhei na escuridão sem fim da melancolia do luto e me fechei para o mundo dos relacionamentos. Agora, quinze anos depois de perder a única mulher que amei e meu tão amado e esperado filho, o conselho da sede da matilha exige que eu me case novamente.
— Alfa, não queremos te colocar contra a parede. Todavia, temos que priorizar a alcateia. — Omar, o ancião mais velho do conselho, fala com sua voz tranquila, porém carregada de urgência.
— Omar tem razão. — Lucius, o segundo mais velho agora tem a voz na sala — Você se fechou por quinze anos. Não pensa na sua matilha, na sua família?
— Vocês podem pegar mais leve com ele? — meu tio, que é o terceiro mais velho, intercede por mim — Ele sabe das responsabilidades dele, não deixou a alcateia na mão em momento algum. Foi firme, dedicado e protetor.
— Você nem deveria fazer parte do conselho, já que é tio dele. — Omar retruca — A familiaridade pode atrapalhar seu julgamento.
— Já chega! — bato na enorme mesa de madeira com os punhos — Não vou admitir que coloquem em dúvida a palavra do meu tio só porque somos parentes. Ele nunca foi contra vocês antes e se está indo agora não acham que ele pode estar certo? Eu não quero um acasalamento com fêmea nenhuma. Me deixem em paz.
— Te daremos mais um ano, Alfa. — Lucius fala — Você tem apenas mais uma ano para aceitar que seu luto precisa de um fim, depois disso iremos escolher uma esposa para você. Essa é nossa palavra final.
Lucius e Omar saem da sala de reuniões da sede da matilha deixando apenas meu tio e eu aqui dentro.
— Meu filho, eu tentei te ajudar… Entretanto, são anos demais, mais de uma década. Eu sabia que em algum momento eles iriam tomar essa decisão por você.
— Por que eles querem tanto me ver acasalado? — pergunto frustrado.
— Um herdeiro! Eles não vêem um futuro herdeiro com a sua atual situação. É tudo por isso. Eles também acham que as fêmeas da alcateia precisam de uma liderança feminina forte.
— Então ninguém respeita o que eu quero para mim? Somente a alcateia importa, mesmo que eu seja infeliz pelo resto de minha existência.
— Eron, meu filho… — meu tio se aproxima e eu me afasto.
— Não, tio. Eu preciso correr, preciso pensar.
Deixo meu tio na sede da matilha e corro na direção da floresta que cerca nossa alcateia. Alguns quilômetros correndo depois consigo alcançar a floresta. Tiro minha blusa enquanto corro, em seguida a minha calça e depois meus tênis.
Logo minhas pernas viram patas gigantes, meus braços também. Minha coluna se estica e se contorce e meu dorso se dobra. Antes correndo em duas pernas, agora estou de quatro patas no chão.
Minha pelagem da cor da noite se contrasta com a natureza e meu uivo surge profundo alertando aos demais na floresta que quero ficar sozinho. Normalmente quando estou assim o único que persiste ao meu lado é meu melhor amigo e Beta, Lucas.
Mas ele adoeceu há dois dias e está de cama. Espero que não tenha ouvido meu uivo, não quero vê-lo por aqui estando doente. Corro por algum tempo até que encontro o rio e fico a sua margem admirando a água dançar na minha frente enquanto me perco em pensamentos.
De repente o vento que está forte traz algo até o meu focinho. Um aroma cítrico, doce, entorpecedor, algo como frutas frescas e capim santo. Meu lobo, Argus, não resiste e minha caçada por esse aroma começa até que vejo uma jovem mulher de cabelos compridos e brancos passar correndo por mim, o aroma forte me atinge feito um soco na cara.
Começo a segui-la me esgueirando sem querer que ela note minha presença, a vejo entrar numa cabana de aparência velha e abandonada. Pouco tempo depois me pego dentro da casa seguindo o som de seus gemidos.
Entro em um quarto e a mulher está lá de pernas abertas se tocando, gemendo e exijindo que aquela tortura acabe em voz alta. Algo em mim ligou, sinto minha visão ficar turva e um desejo enlouquecedor de possuir essa mulher na minha frente ruge dentro de mim… a bruma. Como isso é possível? Eu balanço a cabeça tentando manter o foco, é quando ela percebe minha presença.
Meu corpo aquece, meus pêlos se eriçam, o desejo latente em meu mim de entrar na naquela mulher me tortura. Sinto minha boca salivar por ela, de desejo e tesão, tento me trazer a razão, mas Argus a quer ali e agora.
— Fora daqui! — ela grita — Não ouse se aproximar ou tocar em mim, juro que te mato se tentar.
Com as duas patas em cima da cama sinto meu focinho se curvar num sorriso para ela. Argus não vai recuar.
Eron
Melina
Minha mãe sempre me chama de branca de neve, mas não se engane, é por causa de meus cabelos brancos. Me disseram que é uma mutação genética e que puxei minha bisavó e minha avó paterna.
Mas o meu cabelo branco virou alvo de piadas maldosas de outras crianças na alcateia. Contudo, decidi não chatear meus pais amorosos com isso até completar meus dez anos e ver todos os meus colegas passarem pela transformação e eu não.
Aquilo acabou comigo, as poucas crianças que se dispuseram a ser minhas amigas se afastaram de mim para brincar com seus amigos lobos. Eu ficava na beira da clareira, escondida nas sombras das árvores o dia todo vendo eles se divertirem.
Quando fiz quinze anos decidi que meu lugar não era mais ali. Que eu preciso ter a maior idade e me mudar para a cidade vizinha, nada mais de alcateia e nem de lobo para mim.
Até que completei dezesseis anos e após meus pais darem uma festa surpresa para mim convidando os adolescentes que eles pensaram serem meus amigos e nenhum aparecer acabei correndo para dentro da floresta que eu já conhecia muito bem.
Entre meus gritos desejando ir embora dali e meu choro persistente comecei a sentir algo rosnar dentro de mim. Era real, como se alguém estivesse falando comigo na minha cabeça.
— “Ei, deixe de ser uma covarde e chorona. Você está tão patética, não sabia que precisava tanto assim de mim.”
Depois de ouvir isso sinto meu corpo se contorcer de forma estranha, minhas pernas, braços, pés e mãos, meu tórax, coluna… Todos os ossos do meu corpo começaram uma dança estranha, não doía, mas entortaram e desentortaram como se fossem de borracha.
De um momento para outro eu estava correndo de quatro patas e um nome uivava na minha mente: Havy.
— O que é Havy? — meu conflito teve resposta.
— “Eu sou Havy, nós somos Havy. Sou sua loba.” — ela responde em minha mente.
Uma emoção e um desespero tomam conta de mim, a emoção por finalmente passar pela minha transição e um desespero por saber que eu faço parte da alcateia, mesmo que de forma tardia.
Eu corro pela floresta por horas com Havy no comando. Ela é obstinada e decidida, a pelagem branca é linda, eu vejo nosso reflexo no rio e posso dizer que meu cabelo branco já não me incomoda mais.
Uma semana após passar pela minha transformação aconteceu algo que eu não estava preparada para sentir. A bruma. Eu estava no meu quarto, meus pais tinham ido fazer um de seus piqueniques na noite e eu sabia que eles só voltariam com o dia amanhecendo.
Eu estava deitada na cama jogando no meu celular até que comecei a sentir meu corpo aquecer e aquela quentura desceu e se concentrou entre minhas pernas. Logo senti minha entre minhas pernas inchar e ficar úmida, comecei a me questionar da razão para aquilo até que alguns uivos lá fora chamam minha atenção e Havy quer corresponder.
— Não. Isso não vai acontecer. Nossa vida não é aqui, Havy. Quanto antes você aceitar isso, será melhor para nós duas.
Corro para o banheiro e encho a banheira com água fria. Arranco minha roupa que já está colando no meu corpo por causa do suor.
Mas mergulhar na água fria não resolve meu problema, entre minhas pernas lateja e pulsa desejando algo ali dentro, talvez um toque resolva. Deslizo dois dedos em meu ponto inchado e acabo jogando a cabeça para trás com o desejo.
Faço movimentos circulares ali até que algo explode de dentro para fora em mim fazendo meus olhos revirarem e eu relaxar por alguns segundos dentro da banheira. Tive que repetir o gesto mais algumas vezes para acalmar o desejo de encontrar um macho para fazer o que meu corpo queria, foi difícil para mim a primeira temporada da bruma.
Eu não sabia que tudo iria piorar com os anos, até me ver com dezenove anos e enlouquecida com a bruma ao ponto de perseguir um lobo na floresta. Parei no meio do caminho e voltei para minha forma humana.
A minha sorte é que sempre amarro uma pequena bolsa no meu tornozelo e deixo um vestido ali dentro já que sempre acabo sem roupas depois de voltar para a minha forma humana. Coloco meu vestido e corro para a casa da minha falecida avó, meu refúgio na temporada da bruma.
Entro desesperada e me jogo na cama puxando meu vestido para cima desesperadamente. Eu me toco freneticamente e me amaldiçoo pelo desejo de ter mais alguém ali comigo até que sinto um cheiro entorpecer meus sentidos.
Um agridoce, mel com ervas frescas, algo sedutor e tentador me puxa, me arrasta para um mar de desejo e luxúria até meus olhos azuis encontrarem os olhos negros de um lobo preto imenso na minha frente.
Eu o advirto para que vá embora e não toque em mim. Entretanto, ele se nega e sobe na cama com o que parece um sorriso no seu focinho. Ele deitou entre minhas pernas e iniciou as lambidas ali.
Eu me inclino jogando a cabeça para trás, a sensação da língua dele no meu ponto sensível é única, meu prazer logo vem me fazendo quase uivar ao gemer alto.
Me insulto e me amaldiçoo por gostar daquele ato. Foi a primeira vez que fui tocada ali por algo além de meus dedos e a sensação me levou ao êxtase supremo até que nossos olhos se encontram novamente quando ele levanta a cabeça lambendo seu focinho com meu prazer nele.
O mundo parou, tudo à nossa volta parecia não existir, somente nós dois ali. O que estava acontecendo? Por que eu não conseguia olhar para o lado? Que ligação intensa é essa?
Aquele lobo enorme volta a sorrir e me lamber entre meus lábios encontrando meu ponto sensível novamente inchado. Eu desmaiei exausta depois de um tempo que não consegui contar com ele entre minhas pernas, recebendo prazer de um lobo desconhecido.
Quando eu despertei a noite já me acompanhava, ele não estava mais aqui o que me fez pensar que talvez tudo tenha sido efeito da bruma, alucinação.
Meu desejo por alguém do sexo oposto foi tão enlouquecedor dessa vez que me fez materializar aquele lobo aqui. Agora preciso voltar para a minha realidade até a próxima bruma me arrastar para o desconhecido.
Melina
Eron
O que deu em mim? Por que me aproximei daquela mulher tão intimamente? E o pior de tudo eu gostei, gostei muito. Como se não fosse suficiente, tivemos uma ligação. Como ela pode ser minha Luna? Pensei que fosse Leona.
Estou correndo pela floresta depois de deixá-la dormindo naquela cabana velha. Não vou voltar lá, o que aconteceu me deixou confuso, foi só isso. Se foi apenas isso… como ela conseguiu adiantar minha bruma?
Estou ficando louco. Isso é loucura. Continuo correndo até ficar exausto e deitar entre dois enormes arbustos. Durmo ali por um tempo até que me lembro do que me espera na sede da matilha e vou para casa.
— Onde você estava? — Lucas pergunta preocupado — Deveria ter me chamado se iria para longe.
— Você deveria estar na sua casa se cuidando. Pensa que pneumonia é brincadeira? — pergunto, me jogando no sofá.
— Eu nem deveria estar doente. Ainda não sei como isso aconteceu e porque aconteceu.
— É simples, também somos humanos, em algum momento nosso corpo pode vacilar. Não somos super heróis, Lucas.
— Deveríamos. Pelo tanto de coisas que fazemos. Mas, me conta… o que foi dito na reunião que não pude ir?
Conto para ele o que o conselho de anciãos desejam de mim e minha total repulsa por um casamento arranjado quando não quero acasalar com ninguém.
— Alfa, eles podem te obrigar a casar?
— Se eu não encontrar alguém à altura de um Alfa, talvez sim! Mas eu não quero e nem estou procurando.
Nesse momento Argus grita em minha mente:
— “Mentiroso.” — e a mulher de cabelos brancos invade meus pensamentos.
— A temporada da bruma começou, por que não tenta encontrar alguém?
— Talvez eu tenha encontrado. — falo tão baixo que Lucas quase não escuta — Lucas, preciso de uns dias, mas se eu tiver a resposta que preciso não serei obrigado a acasalar com quem eles querem.
— Quem é ela? — Lucas pergunta.
— Ela só tem um rosto para mim. Mas logo será mais que isso.
Nós bebemos um pouco e conversamos. Lucas segue para casa contra sua vontade e eu vou pra mais um dia entediante na sede da matilha.
— Alfa, tivemos algumas reclamações de roubo de animais de pequeno porte nas redondezas. Precisa descobrir o que está acontecendo. — meu tio fala.
— Logo agora com a festa da colheita na primavera se aproximando surge isso. Reúna um grupo de dez lobos para mim, vamos farejar e descobrir o que está acontecendo.
— Com relação a festa da colheita, precisamos de uma presença feminina ao seu lado para liderar as mulheres. Já tomou alguma decisão sobre o casamento? — meu tio perguntou, com receio do meu humor.
— Diga para eles que ainda não passou o prazo de um ano e que eu não estou com pressa.
Meu tio apenas sorri para mim e se afasta, minha sala fica vazia e tranquila. Logo terei que sair para caçar quem está roubando os animais da região e isso vai me ocupar o suficiente para esquecer o que fiz com a desconhecida.
Logo os lobos e eu estamos correndo pelo perímetro da alcateia e sentimos o cheiro de raposas. Não acredito que esses animais estão por aqui novamente.
— Alfa, o que devemos fazer quando a encontrarmos? — Raphael pergunta.
— Matá-la! Temos que nos certificar de quantas são. — ordeno e cada um corre para um lado.
Depois de estraçalhar duas raposas me peguei rondando a cabana velha em que estive ontem. Sinto o cheiro dela aqui, está forte o suficiente para me fazer desejar entrar. Argus me deixa louco exigindo ela para nós.
Volto a forma humana por alguns minutos para pensar com mais calma. Me encostei numa árvore e observei a casa. A noite está começando a cair e o desejo de entrar para ver o que ela está fazendo só aumenta.
Escuto algo na mata e volto para a forma de lobo. Percorrendo a floresta mais uma vez encontro outra raposa. Eu corro feito um louco até perceber que minhas patas me levaram de volta para a cabana velha.
Já escureceu e não sei exatamente que horas são até que sinto a bruma me atingir como uma onda gigante me abraçando e me aquecendo como fogareiro em brasa.
O cheiro dela preenche minhas narinas ficando quase impossível de recusar o desejo gritando em mim. Volto para a forma humana e caminho com dificuldade até a porta abrindo devagar.
Escuto um barulho de algo quebrando e apresso meus passos até uma pequena cozinha. Penso em caminhar de volta para a porta decidido a me afastar, mas paro quando a vejo levantar o vestido e se tocar.
Não consigo sair, travo na ali até que vejo ela vir para a sala, me afasto pensando em ir embora. Quando me viro, observo que ela está engatinhando no chão tentando chegar ao quarto.
Ela olha para mim e se levanta num rompante. Ela parece confusa e balança a cabeça algumas vezes até que fala:
— Se você for real vá embora. Não dê mais um passo na minha direção. — ela se vira e entra no quarto.
Se ela pensa que pode mandar em mim vou mostrar para ela quem manda aqui. Vou até o quarto e ela se vira bem irritada.
— Vá embora, ou vai se arrepender de ter entrado aqui.
— É mesmo? — falo indo na sua direção, não dando tempo de recuar — Porque seu cheiro grita por mim.
Eu a abraço e depois do beijo me perco na minha bruma que se mistura com a dela. Ela envolve suas pernas na minha cintura, eu a seguro firme com um braço e com a mão livre rasgo seu vestido deixando uma trilha de retalhos pelo chão.
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