Clara Martins era professora de literatura em um dos colégios mais renomados da cidade. Sua vida era organizada e tranquila, marcada por livros, planejamentos e o constante som das páginas sendo viradas. Amava ensinar, mas havia uma solidão silenciosa que a acompanhava. Sua rotina era previsível, segura, mas, em meio a tantas aulas e correções, sentia falta de algo capaz de despertar seu coração, de quebrar a monotonia com intensidade, surpresa e pequenas aventuras que ainda não tivera.
Naquela manhã, o sol iluminava as ruas movimentadas, espalhando sombras leves sobre o calçamento. Clara caminhava apressada, abraçando seus livros contra o peito, enquanto tentava não se atrasar para a primeira aula. O perfume das flores nos canteiros, o canto distante de pássaros e o som ritmado do trânsito costumavam acalmá-la, mas, naquele instante, sua mente estava inteiramente voltada à agenda do dia.
De repente, um carro de luxo surgiu à sua frente, freando bruscamente. O coração de Clara disparou, e ela tropeçou, quase caindo sobre a calçada quente. Um susto intenso, seguido pelo som de portas se abrindo rapidamente.
— Desculpe, você está bem? — a voz masculina soou firme, porém cheia de preocupação, atravessando o barulho da rua.
Clara ergueu o olhar e encontrou um homem alto, elegante, vestido com um terno impecável que parecia feito sob medida. Seus olhos, intensos e atentos, transmitiam autoridade e, ao mesmo tempo, uma ternura inesperada. Cada gesto dele parecia medido, mas sem perder naturalidade. Um detalhe no sorriso, no jeito como a mão se estendeu, despertou algo dentro dela, uma mistura de curiosidade e estranha familiaridade.
— Sim… obrigada. Só um susto — respondeu ela, sentindo ainda o frio percorrer a espinha, mas encantada por aquela presença inesperada.
— Eu sou Daniel Costa — disse ele, estendendo a mão com confiança e um leve sorriso —. CEO da Costa Industries. E, acredite, quase causei seu acidente.
Clara riu nervosa, apertando sua mão, sentindo uma estranha mistura de fascínio e leve tensão. Havia algo nele que a deixava alerta e, ao mesmo tempo, atraída.
— Clara Martins, professora de literatura. Parece que começamos o dia de forma intensa — disse, tentando recuperar a compostura.
Daniel sorriu, mas algo em sua postura escondia tensão, uma sombra sutil que contrastava com seu semblante elegante. Ele olhou para o relógio de pulso, consciente do tempo e de compromissos urgentes, respirando fundo antes de se afastar, sem deixar de lançar um último olhar curioso e penetrante para Clara.
— Eu adoraria continuar essa conversa… mas o trabalho não espera — disse, a voz carregando sinceridade, mistério e uma promessa silenciosa de algo mais.
Clara sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Havia algo nele que a atraía de forma inexplicável, uma conexão que ela não sabia nomear. Mesmo naquele breve encontro, seu coração acelerava, e uma sensação de que algo maior estava prestes a começar se instalou.
Enquanto Daniel se afastava, Clara permaneceu olhando para o carro que desaparecia entre as ruas. Sentiu o coração pulsar forte e uma curiosidade intensa: quem era aquele homem que, em apenas alguns minutos, já havia mudado o ritmo de sua manhã? Mal sabia ela que aquele instante marcaria o início de uma história repleta de paixão, mistério, encontros inesperados e segredos do coração, capaz de transformar sua vida de maneira inesperada, intensa e inesquecível.
Clara passou o resto do caminho até o colégio em silêncio, ainda atônita com o que havia acontecido. O rosto de Daniel Costa não saía de sua mente. Não era apenas pela elegância impecável ou pela forma magnética como falava, mas pelo contraste curioso entre sua postura rígida de executivo e a humanidade que transpareceu em seus olhos quando quase a atropelou.
Ela entrou na sala de aula, tentando recuperar a compostura. Os alunos já a aguardavam, animados e barulhentos. Clara ajeitou os óculos, apoiou os livros sobre a mesa e, com a voz calma que costumava impor respeito, disse:
— Vamos abrir os livros na página 42. Hoje falaremos sobre o romantismo.
As palavras saíam automaticamente, mas sua mente divagava. O som dos carros freando, o toque firme da mão de Daniel, a intensidade do olhar dele. Clara tentava afastar a imagem, mas era como uma página de um romance que se recusa a ser virada.
Do outro lado da cidade, em um prédio espelhado que dominava a paisagem urbana, Daniel caminhava pelo corredor de sua empresa. O ambiente era sofisticado, cheio de pessoas de terno passando apressadas com pastas e tablets.
— Senhor Costa, temos reunião em quinze minutos. — Informou sua assistente, Júlia, acompanhando seus passos.
— Já estou indo. — respondeu ele, sério, mas a mente longe dali.
Enquanto as vozes de executivos o cercavam, Daniel recordava o momento na rua. A professora de olhar doce, o sorriso nervoso, o jeito simples que contrastava tanto com o mundo em que ele vivia. Ele estava acostumado a encontros frios, negócios, contratos. Mas aquela mulher... havia algo diferente.
Júlia notou sua distração e arriscou:
— Está tudo bem, senhor?
Ele piscou, voltando ao presente.
— Sim, claro. Apenas pensando em alguns números.
Mas não eram números. Eram palavras. Era “Clara Martins, professora de literatura”.
Naquela noite, Clara chegou em casa cansada. O pequeno apartamento era aconchegante, cheio de livros empilhados em prateleiras, plantas nos cantos e uma luminária amarelada que dava ao espaço uma sensação de lar. Preparou um chá de camomila e se sentou no sofá, abrindo um dos cadernos dos alunos para corrigir.
Mas sua caneta parou sobre a primeira redação. Suspirou e, baixinho, murmurou:
— Daniel Costa... por que não consigo tirar você da cabeça?
Nesse exato momento, seu celular vibrou sobre a mesa. Uma mensagem inesperada de um número desconhecido:
“Boa noite, Clara. Aqui é Daniel. Consegui seu contato com o diretor do colégio. Espero não ser invasivo, mas… não consegui deixar de pensar em você desde hoje cedo.”
O coração dela acelerou. Os dedos tremeram antes de digitar a resposta.
— “Boa noite… confesso que fiquei surpresa com sua mensagem. Achei que já teria esquecido esse encontro.”
A resposta veio quase imediata:
“Esquecer? Pelo contrário. Quero me redimir do susto que causei. Aceitaria jantar comigo amanhã?”
Clara mordeu o lábio, hesitante. Sabia que aquele convite poderia mudar muita coisa. Ele era um CEO poderoso, um homem do qual todos falavam. Ela, apenas uma professora simples. Dois mundos tão diferentes…
E, ainda assim, havia algo dentro dela que a empurrava para aceitar.
— “Amanhã… sim. Aceito.” — respondeu, antes que a coragem escapasse de seus dedos.
Ao enviar a mensagem, encostou a cabeça no sofá e fechou os olhos. Sentia-se como uma personagem de um romance que estava prestes a viver um capítulo inesperado.
Do outro lado da cidade, Daniel sorriu pela primeira vez em semanas ao ler a resposta.
O destino havia acabado de unir duas vidas improváveis.
Clara passou o dia seguinte inquieta. Entre uma aula e outra, seus pensamentos sempre voltavam ao convite de Daniel. As colegas de trabalho notaram seu ar distraído, mas ela preferiu não comentar nada. Como explicar que um dos homens mais poderosos da cidade havia lhe enviado uma mensagem e a convidado para jantar?
Ao chegar em casa, abriu o guarda-roupa e suspirou. Entre vestidos simples e roupas do dia a dia, nada parecia adequado para um jantar com um CEO. Depois de longos minutos, escolheu um vestido azul-marinho discreto, que realçava seus olhos, e prendeu os cabelos num coque delicado.
No horário marcado, um carro preto estacionou em frente ao prédio. O motorista desceu e abriu a porta para ela.
— Senhorita Clara? O senhor Costa a aguarda.
Seu coração acelerou. Ao entrar no carro, sentiu um frio na barriga. A cidade passava pelas janelas como um cenário distante, até que finalmente chegaram a um restaurante sofisticado, com fachada iluminada e guardas na entrada.
Daniel a esperava na porta. Estava impecável em um terno sob medida, mas o olhar era menos frio do que o da manhã anterior.
— Você está linda. — disse, com um sorriso raro.
Clara corou levemente.
— Obrigada. Você também parece… bem formal.
Ele riu.
— O terno é parte do uniforme. Mas esta noite não quero ser apenas o CEO. Quero ser apenas Daniel.
Entraram no restaurante. O ambiente tinha música suave ao piano, mesas bem postas e garçons discretos. Sentaram-se em um canto reservado, onde a iluminação suave destacava o brilho dos olhos dela.
— Confesso que não esperava vê-la aqui. — disse Clara, tentando quebrar o gelo. — Achei que meu “não” viria mais fácil que o “sim”.
— Eu não sou de desistir fácil. — respondeu ele, com firmeza. — E, além disso, há algo em você, Clara… que não consigo ignorar.
Ela desviou o olhar, mexendo nervosa na taça de vinho.
— Eu sou apenas uma professora. Minha vida é simples demais comparada à sua.
Daniel se inclinou para frente, olhando-a nos olhos:
— Você não é “apenas” nada. Quando quase a machuquei, senti algo que não sentia há muito tempo: medo de perder alguém que eu nem conhecia.
Clara respirou fundo. A sinceridade dele a desarmava.
O jantar seguiu entre conversas sobre livros, memórias de infância e até risadas inesperadas. Clara falou com paixão sobre literatura e os sonhos que tinha para os alunos; Daniel contou como se sentia sufocado no mundo dos negócios, cercado de falsidade.
Em um momento de silêncio confortável, ele perguntou:
— Posso ser honesto?
— Claro. — respondeu ela, curiosa.
— Eu tenho um filho. Rafael, oito anos. É a razão da minha vida.
Clara sorriu com doçura.
— Isso é lindo. Ele deve ter muito orgulho de você.
Daniel suspirou.
— Eu tento ser o melhor pai possível… mas às vezes sinto que o mundo dos negócios me rouba tempo demais.
Ela tocou suavemente a mão dele sobre a mesa, num gesto espontâneo:
— O mais importante é estar presente de verdade quando está com ele.
Daniel olhou para ela como se aquela fosse a resposta que sempre quis ouvir.
Na saída do restaurante, o ar fresco da noite os envolveu. Daniel a acompanhou até o carro. Antes que ela entrasse, segurou a mão dela por mais um instante.
— Clara… isso é apenas o começo.
Ela sentiu o coração disparar.
— Veremos, Daniel. Veremos…
Enquanto o carro partia, Clara se perguntou no que estava se envolvendo. Havia algo nele que a atraía intensamente, mas também uma sombra por trás daquele olhar firme.
E, em algum lugar do alto de um prédio distante, alguém observava os dois entrarem no carro, anotando cada detalhe em um caderno preto.
O encontro que parecia o início de um romance… poderia também ser o início de uma intriga.
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