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ENTRE O ESTETOSCÓPIO & A MÁFIA

CAPÍTULO 1

Valentina (Selena) 25 anos

Nunca imaginei que um emprego pudesse me levar a quase presenciar uma morte. Mas ali estava eu, caminhando pelas ruas estreitas de Moscou, tentando encontrar algo que pagasse as contas da minha mãe e da minha irmã em Nova York. O bar que encontrei não parecia nada especial: luzes baixas, cheiro de álcool e cigarro, uma mistura de música alta e vozes ásperas. Vi a placa: “Vagas de emprego”. Talvez fosse ali. Talvez não, mas não tinha escolha.

Entrei, o coração acelerado, olhos atentos. Os clientes me olhavam de maneira incômoda, e a sensação de perigo misturava-se à curiosidade que sempre me acompanhou. Foi então que eu o vi: Enzo Volcokv.

Ele estava bêbado, apoiado no balcão, cercado por dois seguranças robustos. Naquele instante, não sabia quem ele era. Parecia apenas mais um CEO milionário que comprava tudo com dinheiro e status. A arrogância no ar, o modo como ele falava, o leve sorriso satisfeito — era o suficiente para que minha curiosidade despertasse.

Enzo levantou-se e entrou no banheiro, acompanhado de seu segurança. Mas algo chamou minha atenção: um homem estranho o seguiu, os olhos frios, calculistas, com intenção evidente. Algo dentro de mim se acendeu. Curiosidade ou instinto de sobrevivência, não sei dizer. Apenas segui, me aproximando silenciosa, escondendo-me na fresta da porta entreaberta.

O que vi me congelou. Dois homens lutavam como leões — cada golpe parecia letal, cada movimento carregava o peso da morte. Um deles, obviamente treinado, não hesitava em atacar. Enzo, mesmo bêbado, tentava se defender, mas não era suficiente. Meu coração disparou, e eu senti um pânico que nunca havia sentido antes.

De repente, outro homem entrou, colocando uma arma contra a cabeça de Enzo. Meu instinto gritou: “Eles vão matá-lo!”. Sem pensar, gritei, tentando chamar atenção:

— CUIDADO! — minha voz ecoou pelo corredor.

O tiro ecoou. O mundo pareceu parar. Meu coração parou. Pensei que tudo tinha acabado, que o homem que eu nem conhecia tinha sido condenado à morte naquele instante. Tremi, incapaz de respirar direito, e o cheiro do pólvora e da tensão ainda me queimava as narinas.

Mas então, Enzo saiu. Ferido, machucado, mas vivo. Seus seguranças o seguiram, olhando para mim com uma mistura de alerta e aprovação. Ele parou por um instante, me encarando com intensidade, e disse:

— Parabéns, gatinha. Salvou o Pakhan da Bratva. Estamos em dívida.

Pisou de leve, um sorriso breve, e desapareceu na multidão, deixando-me com o coração acelerado e a mente confusa.

Ainda sem entender completamente o que havia acontecido, uma mulher cambaleante se aproximou, apoiando-se no balcão e rindo com dificuldade:

— Garota… você acabou de salvar Enzo Volcokv — disse, a voz arrastada pelo álcool. — Esse gostoso, todo mundo inveja…

Meu estômago se revirou. Enzo Volcokv. O nome que eu ouvi apenas em sussurros e histórias sombrias. O nome que carregava medo, poder e respeito. Tudo que eu tentei evitar, de repente, estava ali, diante de mim.

Meu corpo tremeu, mas não era só pelo frio ou pelo choque. Era o impacto do destino. Eu, Valentina, simples sobrevivente, jamais pensei que um acaso me colocaria na linha de frente de um mundo que eu não conhecia. E ainda assim, ali estava.

O bar parecia menor, mais escuro, mais perigoso do que nunca. Cada rosto ao redor, cada olhar, carregava uma tensão que eu não podia ignorar. Minha vida, que até aquele momento parecia linear, ordenada apenas pela necessidade de cuidar da minha família, mudava a cada segundo.

Enquanto caminhava para fora, senti o peso da responsabilidade crescer. Eu não sabia quem realmente era o homem que salvei, não sabia o que isso significaria, nem o que a dívida que ele mencionou poderia implicar. Mas algo dentro de mim se acendeu. A coragem que sempre me manteve viva em Nova York agora se mostrava ainda mais necessária.

Selena. O nome que adotaria no submundo, a Dama da Noite. Não porque escolhi ser alguém diferente, mas porque precisava ser mais forte, mais rápida, mais esperta do que qualquer perigo que surgisse. E naquele instante, eu sabia que Moscou não seria gentil comigo.

O frio da noite parecia cortar a pele enquanto eu caminhava pelas ruas desertas, os pensamentos se atropelando. Cada passo me aproximava de algo que eu ainda não compreendia, mas que sentiria profundamente: a linha entre a sobrevivência e a vida, entre medo e desejo, entre inocência e escuridão.

E assim, entre luzes tremeluzentes, sombras que se alongavam pelos becos e o som distante de passos pesados, comecei minha jornada. Uma garota tentando proteger sua família, sem saber que o destino, sob o nome de Enzo Volcokv e a sombra da Bratva, já havia colocado seus olhos sobre mim.

Porque, naquele instante, Valentina deixou de ser apenas Valentina. A sobrevivente começou a surgir, e com ela, Selena, a Dama da Noite, estava prestes a despertar.

**Prólogo II — Yury Volcokv**

Nunca gostei de férias. A palavra em si sempre me pareceu vazia, inútil, um convite ao acio que eu nunca soube aproveitar. Meu chefe não discutiu. Disse apenas que minhas férias estavam vencidas, que eu precisava me afastar das cirurgias e do laboratório por noventa dias. Eu relutava. Precisava, sim, mas não queria. Nunca gostei de ser mandado. Ainda mais quando isso significava voltar à Rússia.

Eu tinha um motivo para ceder. Meu irmão gêmeo, Enzo, pediu. Pediu, ou melhor, exigiu com o tom sutil de quem sabe que não há como recusar. Ele sempre teve esse jeito, a mesma confiança que o destino lhe deu como herdeiro da Bratva. Eu não tinha obrigação de concordar, mas no fundo sabia que, se recusasse, minha relação com ele jamais seria a mesma.

Doze anos de estudo, de noites em claro, de mãos trêmulas diante do primeiro bisturi, de suor frio em corredores silenciosos… para que? Para ser puxado de volta ao epicentro de uma vida que sempre rejeitei. Eu tinha recusado a máfia desde que entendi o que ela realmente significava. Sempre preferi a ciência, a medicina, a lógica absoluta de um cérebro humano, à loucura sangrenta e à obsessão pelo poder que corria nas veias da minha família.

E mesmo assim, aqui estou. No aeroporto de Moscou, esperando a bagagem, sentindo o ar gelado que mais parece punhal cortando a pele. Cada vez que penso em minha família, sinto uma pressão invisível no peito, como se estivesse sendo esmagado por uma mão invisível, e percebo que o silêncio é meu único refúgio.

Nunca fui bom com pessoas. Nunca precisei ser. A interação humana é imprevisível, cheia de nuances emocionais que eu não sei processar. Prefiro a solidão. Prefiro o silêncio. Prefiro a precisão de um bisturi à desordem de um coração. Virgem aos 30 anos, sem laços afetivos reais, sem contato íntimo com ninguém… e, no fundo, satisfeito com isso.

Mas há uma coisa que não consigo controlar: a obrigação de proteger, de assistir, de estar presente quando a família, mesmo que eu tente ignorar, chama. Enzo, Yecataryna, minha própria linha de sangue… ainda há um fio invisível que nos conecta, e eu nunca serei capaz de cortá-lo completamente.

Ao descer do avião, a brisa gélida de Moscou me atingiu como um alerta. A cidade não mudou. Ainda vibrava com a energia das sombras, com o peso de quem respira medo e poder. Eu, Yury Volcokv, não tinha direito a isso. Nunca quis. Mas o mundo que deixei para trás há doze anos agora me cercava novamente.

No caminho até a casa de Enzo, a memória da infância me assaltava. Eu e ele corríamos pelos corredores da mansão da família, brincando, inconscientes do futuro que nos aguardava. Ele era o escolhido, o moldado, o Pakhan. Eu? Eu era o solitário, o que não se encaixava, o que fugia. Hoje, tudo parecia igual, e mesmo assim, algo dentro de mim dizia que nada permaneceria como antes.

Enzo me recebeu com aquele sorriso que sempre me irritou: confiante, dono do mundo, seguro de si.

— Você finalmente veio — disse ele, sem qualquer formalidade. — Achei que fosse fugir de novo.

— Não tinha escolha — respondi, seco, sentindo meu coração permanecer imóvel.

Ele riu, como se meu tom frio fosse uma piada. — Sempre a mesma muralha, Yury. Mas não se preocupe, você vai se acostumar.

Eu não disse nada. Apenas o observei, analisando cada gesto, cada traço, cada sombra que pairava sobre ele. Enzo sempre foi meu oposto. Sempre será. E talvez seja exatamente por isso que me sinto… ligado.

Nos primeiros dias, tentei permanecer invisível. Passei horas no quarto de hóspedes, lendo, estudando casos clínicos, revisando protocolos. O silêncio era absoluto, como eu gostava. A casa da família era um castelo de memórias, e cada corredor parecia murmurar segredos que eu nunca quis ouvir. Mas inevitavelmente, o passado me alcançava. Cada olhar lançado por um primo, cada comentário sobre a Bratva, cada menção a decisões que eu nunca tomei, me lembrava de que a sombra da família estava sempre presente.

Apesar de tudo, algo começou a mudar. Pequenos detalhes. A maneira como Enzo comandava os encontros, a forma como Yecataryna falava de seus planos para o futuro, o modo como todos me olhavam como se esperassem que eu fizesse algo, que eu participasse. Eu não queria participar. Mas a sensação de que minhas escolhas pessoais estavam sendo lentamente corroídas começou a incomodar.

E então percebi: não se tratava apenas da Bratva ou da família. Era sobre mim. Sobre quem eu sou quando o mundo inteiro espera que você seja outra pessoa. Sobre o desejo que nunca admiti ter, a solidão que nunca compartilhei, a curiosidade silenciosa pelo que acontece quando se cruza o caminho do perigo e da paixão.

Eu era frio. Virgem. Solitário. não por ser feio ou algo assim, me sentia um cara normal, bastante músculoso por conta dos treinos cabelos lisos e loiros olhos azuis, alto as mulheres da faculdade e do hospital se jogam aos meus pés, mais nunca senti atração para algo mais explícito apenas beijos e amassos nunca passou disto. Mas eu mesmo eu podia sentir a tensão no ar, a fagulha invisível que anuncia mudança. Não sabia ainda que o meu caminho iria cruzar com alguém que desafiaria todas as minhas regras. Alguém que me faria questionar cada princípio que defendi, cada escolha que me manteve intacto.

E, pela primeira vez em muito tempo, senti um impulso que não era racional. Uma sensação estranha, desconfortável, e ao mesmo tempo… necessária. O mundo que eu tentei evitar durante doze anos estava finalmente me alcançando.

Eu me preparei. Não por coragem, mas por necessidade. O silêncio continuaria sendo meu refúgio. A solidão, meu escudo. Mas sabia, lá no fundo, que nada seria suficiente para me proteger do que estava por vir.

Porque o futuro, por mais que eu tentasse controlar, já batia à porta de Yury Volcokv.

YURY E ENZO. YURY É O DE TERNO PRETO E ENZO O DE TERNO MARROM CLARO.

CAPÍTULO 2

— O Passado de Valentina**

Cresci aprendendo cedo que o mundo não era gentil. Minha mãe sempre dizia que a vida era feita de escolhas — e de consequências. Minha irmã mais nova, ainda menina, não entendia o peso de nossas decisões, e eu precisava ser o escudo, a força que mantinha nossa família inteira. Em Nova York, cada dia era uma luta silenciosa: contas a pagar, empregos temporários, clientes que se aproveitavam de tudo e todos. Mas eu nunca desisti. Eu não podia.

Desde pequena, aprendi a olhar a realidade com olhos duros. A fragilidade não tinha vez em mim; se mostrasse fraqueza, o mundo me engolia. Por anos, me esforcei para manter minha mãe e minha irmã longe de problemas, longe da escuridão que parecia sempre nos rodear. Trabalhei em cafés, lojas, entregas, qualquer coisa que trouxesse algum dinheiro. Cada centavo economizado era um passo para manter nossas vidas equilibradas.

Mas mesmo com esforço, a sensação de insuficiência sempre me acompanhava. Era como se, por mais que fizesse, nunca fosse o suficiente. E quanto mais lutava, mais me percebia sozinha. Não havia amigos de verdade, não havia abraços que realmente confortassem. Havia apenas a responsabilidade, o dever e o medo constante de perder quem eu amava.

Foi nessa rotina sufocante que ouvi falar de Moscou. Uma cidade distante, fria, cheia de oportunidades e perigos que eu só podia imaginar em filmes ou livros. Era a chance de recomeçar. Eu não sabia exatamente o que me esperava, mas precisava tentar. Precisava de algo maior, algo que me tirasse do sufoco constante e que me desse a chance de proteger minha família sem depender de esmolas.

Cheguei a Moscou com uma mala pequena e a mente cheia de estratégias. Cada passo na cidade parecia novo, cada esquina carregava uma mistura de fascínio e perigo. Passei dias procurando emprego, entregando currículos, enfrentando portas fechadas e olhares desconfiados. Mas eu não desistia. Não podia.

E então, em uma dessas tardes cinzentas, entre becos e ruas estreitas, vi a placa: *“Vagas de emprego”*. O bar tinha luz baixa, cheiro de álcool e cigarro, uma música constante que quase não deixava ouvir o próprio pensamento. Algo me dizia que ali poderia haver algo. Ou talvez fosse apenas sorte.

Entrei, respirando fundo, tentando manter a postura. O bar estava cheio, clientes espalhados por mesas e balcão, alguns me olhando com interesse, outros nem me notando. Foi então que meus olhos encontraram **Enzo Volcokv**.

Ele estava bêbado, apoiado no balcão, cercado de dois seguranças. Eu não sabia quem ele era, nem fazia ideia de que estava prestes a cruzar o caminho do homem que mudaria minha vida. Naquele momento, parecia apenas mais um CEO milionário, daqueles que compram tudo com dinheiro e poder. O modo como se movia, como falava, sua presença imponente… tudo me chamou atenção.

Quando ele se levantou e entrou no banheiro, um homem o seguiu com intenções que eu não conseguia decifrar de imediato. Algo em mim despertou — curiosidade ou instinto de sobrevivência, não sei. Apenas segui, silenciosa, observando pela fresta da porta entreaberta.

O que vi me congelou. Dois homens lutavam como predadores, cada golpe carregando a força e a determinação de quem não planeja sobreviver sem ferir o outro. Enzo tentava se defender, mas era evidente que não tinha chance. E então, outro homem entrou, arma em punho, apontando diretamente para a cabeça dele. Meu corpo reagiu antes da mente: gritei.

— **CUIDADO!**

O tiro ecoou. Meu coração parou. Pensei que o mundo tinha acabado para ele, que minha intervenção fora em vão. Mas logo depois, Enzo saiu do banheiro, ferido, machucado, mas vivo. Seus seguranças o seguiram, atentos. E então ele olhou para mim, de uma maneira intensa, avaliativa, e disse:

— **Parabéns, gatinha. Salvou o Pakhan da Bratva. Estamos em dívida.**

Pisou de leve, sorriu, e desapareceu na multidão. Meu corpo ainda tremia, meu coração batia descompassado, mas algo dentro de mim mudara para sempre.

Uma mulher bêbada se aproximou, rindo e apontando para mim:

— Garota… você acabou de salvar **Enzo Volcokv** — disse, a voz arrastada pelo álcool. — Todo mundo inveja esse gostoso.

O nome ecoou na minha mente, carregado de poder, respeito e perigo. Enzo Volcokv. Eu mal podia acreditar. Tudo que tentei evitar, tudo que pensei estar longe da minha vida, estava ali, diante de mim, exigindo atenção, coragem e inteligência.

Naquele momento, **Valentina deixou de ser apenas Valentina**. Eu sabia que precisava ser mais forte, mais esperta, mais rápida do que qualquer situação que surgisse. A sobrevivente que sempre fui começou a se tornar **Selena**, a Dama da Noite. E Moscou, com seus becos frios, luzes tremeluzentes e perigos escondidos, acabava de se transformar no palco onde meu destino começaria a ser traçado.

Porque, no fundo, eu sabia: nada seria mais como antes. Eu havia cruzado com Enzo Volcokv e, sem perceber, entrado em um mundo que me exigiria coragem, inteligência e, acima de tudo, sobrevivência.

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CAPÍTULO 3

**Capítulo 2 — Yury Volcokv**

Crescer em meio à sombra da Bratva não é algo que se esquece. Eu sempre soube que carregava um sobrenome que inspirava respeito, medo e, às vezes, ódio. Mas desde cedo decidi que meu caminho seria diferente. Enquanto minha família moldava herdeiros para o poder e a violência, eu buscava a ciência, a lógica, a precisão — e, acima de tudo, a distância da escuridão que corria em nossas veias.

Minha infância foi silenciosa. A presença do pai, **Ivan**, era firme, autoritária, quase sempre acompanhada de expectativas pesadas. Meu tio **Nikolai** me ensinou mais sobre estratégia e paciência do que qualquer livro de escola. Minha mãe, **Eleonora**, oferecia ternura com moderação, sempre com cuidado para que a proteção não se confundisse com indulgência. Minha tia **Helena** era a mistura perfeita de força e sensibilidade, e minha prima **Yecataryna**, mesmo jovem, já mostrava sinais de que herdaria a inteligência fria e a ambição de nossa família. Ela e eu éramos parecidos nesse ponto: viciados em trabalho, difíceis de se conectar, mas determinados a dominar o que quer que escolhessem construir.

Minha adolescência foi de estudo e disciplina. Enquanto outros buscavam distrações, eu devorava livros, passava horas em laboratórios, me moldando para a carreira que escolhi: neurocirurgia. Cada ano de estudo me aproximava do meu objetivo — me tornar impecável, respeitado, e sobretudo, independente do legado sombrio que carregava no sangue.

Doze anos se passaram em hospitais, bibliotecas e salas de cirurgia. A residência foi extenuante, mas me destacou entre os colegas. Me tornei conhecido como um dos melhores jovens neurocirurgiões do hospital. Inteligente, preciso, dedicado — e, para aqueles que tentavam se aproximar, frio. Eu nunca gostei de contato social. Abraços, conversas triviais, festas ou gestos de intimidade me incomodavam. Preferia o silêncio, a solidão e a companhia de meus próprios pensamentos.

Minha aparência ajudava a manter a distância: alto, corpo definido pelo esforço constante, olhos penetrantes que afastavam qualquer tentativa de aproximação. E, apesar de tudo, **virgem**, como sempre fui. Não por escolha moral, mas por uma aversão inconsciente ao contato que pudesse quebrar minha rotina, meu foco e meu controle.

Quando meu chefe insistiu que eu tirasse férias — noventa dias que estavam atrasadas — resisti. Não queria sair, não queria voltar para a Rússia, não queria enfrentar a família. Mas o pedido do meu irmão gêmeo, **Enzo**, acabou vencendo minha resistência. Ele precisava de mim perto, de alguma forma, e eu cedi.

A viagem para Moscou foi silenciosa. Cada quilômetro percorrido me aproximava de uma vida que eu tentei ignorar por anos. Chegar à **mansão dos Volcokv** foi como voltar ao epicentro da minha origem: luxo, poder, tradição… e expectativas.

O reencontro com meu pai, **Ivan**, foi tenso. Ele ainda carregava a frustração por eu não seguir os caminhos da Bratva, e não poupou críticas.

— Você pode até ser o melhor neurocirurgião do mundo, Yury — disse ele, firme — mas aqui, sangue e poder ainda são mais importantes do que diplomas.

Não era uma acusação aberta, mas cada palavra pesava como chumbo. Eu permaneci calmo, contido, respondendo apenas quando necessário. O respeito estava presente, mas a conexão era tênue.

Com minha mãe, **Eleonora**, havia outra dinâmica. Seu carinho era genuíno, suas palavras sempre um alívio em meio à tensão familiar. Pequenos gestos, olhares compreensivos, conversas curtas sobre saúde e bem-estar. Ela entendia meu desejo de distância do mundo da Bratva e aceitava minhas escolhas sem julgamento.

Com meu tio **Nikolai**, havia mais abertura. Ele sempre fora direto, porém sábio. Conversávamos sobre estratégia, sobre moral, sobre decisões difíceis. Ele me via como alguém capaz de pensar além da violência, mas ainda assim respeitando os códigos que moldaram nossa família.

Minha tia **Helena** e minha prima **Yecataryna** eram outro desafio. Helena carregava a experiência de quem já enfrentou horrores, e sua presença era ao mesmo tempo protetora e exigente. Yecataryna, minha prima, estava imersa em sua própria empresa de tecnologia, difícil de alcançar, viciada em trabalho, tão focada e obstinada quanto eu. Encontrar espaço para conexão com ela exigia esforço; éramos parecidos demais para sermos naturalmente próximos.

Mesmo cercado pela família, eu me mantinha isolado. Observava, analisava, aprendia. Minha atenção estava voltada para o que realmente importava: manter meu controle, preservar minha rotina e continuar me destacando no hospital, mesmo à distância de quem realmente controlava o poder em Moscou.

E, ao mesmo tempo, sabia que a chegada a Moscou significava inevitavelmente enfrentar o mundo que tentei evitar por tanto tempo. Enzo, o irmão que carregava a responsabilidade do legado da Bratva, já havia me envolvido de maneira indireta, e cada olhar, cada comentário sobre negócios e política familiar, me lembrava que minha escolha de ser apenas médico nunca apagaria meu sangue.

O peso do sobrenome **Volcokv** ecoava em cada gesto, em cada decisão, em cada olhar que eu lançava sobre minha família. Eu estava no limiar entre a liberdade conquistada e o destino que minha origem me impunha. E, apesar de tudo, um pensamento persistia: **eu faria diferente, eu seria diferente.**

Porque, enquanto Yury Volcokv podia carregar a herança de sangue, frio e distante, ele também podia escolher ser apenas homem, médico, irmão… e, talvez, um dia, alguém capaz de sentir algo além da lógica e do silêncio.

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