A vida de Helena Vasques, uma juíza reconhecida por sua firmeza e incorruptibilidade, sempre esteve pautada pela lei. Desde jovem, ela acreditava que a toga seria sua armadura contra as injustiças do mundo. Criada por sua mãe viúva, Helena cresceu acreditando que a coragem e a retidão eram os únicos caminhos para se enfrentar a violência que rondava a sociedade. Porém, tudo muda quando seu destino cruza com o da máfia.
O caso mais perigoso de sua carreira chega às suas mãos: o julgamento de Vittorio Mancini, chefe de um dos maiores impérios criminosos do país. Um homem acostumado a transformar o medo em moeda de troca, capaz de silenciar testemunhas, manipular políticos e enterrar processos. Mancini sempre venceu. Sempre comprou ou quebrou qualquer um que ousasse se levantar contra ele. Mas, dessa vez, encontra um muro: Helena, a juíza que não recua.
Desde o início, o processo se torna um campo minado. Jornalistas pressionam, policiais caminham em alerta, e a cidade parece prender a respiração. A cada sessão, Helena sente o peso de estar no centro de uma guerra invisível. Sua mãe, a mulher que sempre foi seu alicerce, insiste para que ela se proteja, que não arrisque tanto. Helena, porém, não aceita curvar-se diante do crime. Até que o preço da sua escolha chega de forma brutal.
Na véspera da sentença, sua mãe é assassinada. Um recado frio e direto: se Helena subir ao tribunal, não será apenas sua carreira que acabará, mas sua vida — e a de quem ela ama. Pela primeira vez, a juíza sente o peso insuportável do medo.
E há algo mais que Mancini ignora, mas que torna a ameaça ainda mais cruel: Helena é mãe. Escondida atrás da força da toga, ela guarda sua maior vulnerabilidade — uma menina de quatro anos, olhos azuis como o céu, a quem protege com todas as forças. Sua filha é sua luz, seu motivo de seguir em frente, mas também seu ponto fraco. O inimigo sabe disso, e não hesitará em usá-lo como arma.
No entanto, mesmo diante da dor da perda e do risco de ver a própria filha em perigo, Helena toma sua decisão. Na manhã seguinte, de luto, mas erguida pela coragem, ela entra no tribunal. A sala está lotada. Vittorio Mancini sorri, certo de que o medo venceu. Mas Helena mantém a voz firme ao declarar: prisão perpétua, sem direito a apelação.
A sala explode em tensão. Jornalistas registram o momento histórico. Mancini é derrotado. Mas a vitória tem um preço altíssimo: agora, Helena não é apenas uma juíza que desafiou a máfia — é o alvo número um de um império criminoso que não perdoa afrontas.
A partir desse momento, sua vida se transforma em uma luta pela sobrevivência. Não apenas a dela, mas também a de seu filho. Viver sob escolta já não basta. Amigos e colegas podem ser traidores. Cada esquina pode esconder uma emboscada. Cada noite pode ser a última.
Helena descobre que a lei sozinha não a protegerá. Terá de confiar em policiais leais, em jornalistas corajosos, em pessoas que, como ela, estão dispostas a enfrentar o poder da máfia. Mas, mais do que nunca, terá de lutar contra o medo — o medo de perder a única pessoa que lhe resta, a filha que carrega a inocência de um mundo que ela deseja preservar.
Mancini, de dentro da prisão, continua a mover suas peças. A ordem é clara: Helena deve ser silenciada. A criança, se necessário, pode ser a isca. E assim, o que começou como um processo judicial transforma-se em uma guerra aberta.
Agora, Helena precisa descobrir até onde está disposta a ir. Será capaz de proteger a filha sem abrir mão da justiça? Até onde uma mãe pode lutar sem se perder dentro da própria escuridão?
Entre atentados, perseguições e decisões impossíveis, a juíza que sempre acreditou na lei aprenderá que a justiça tem um preço muito mais alto do que imaginava. E que, quando a máfia declara guerra, não existem inocentes.
Neste thriller sombrio e eletrizante, Helena não é apenas uma juíza. Ela é uma filha em luto, uma mulher marcada pela dor, uma mãe disposta a enfrentar o impossível. Sua fraqueza tem nome, tem rosto, e olhos azuis que precisam ser protegidos a qualquer custo.
E, quando uma mãe decide lutar, nenhum poder do mundo pode fazê-la recuar.
A cidade de San Fiore sempre pareceu viver em dois mundos. À luz do dia, era bela, quase tranquila: praças arborizadas, ruas de paralelepípedos, cafés sempre cheios, gente cumprimentando vizinhos como se todos se conhecessem. Mas, quando a noite descia, a atmosfera mudava. Os bares enchiam-se de figuras estranhas, as vielas ganhavam sombras perigosas, e os segredos da máfia caminhavam lado a lado com os cidadãos.
Era nesse cenário que Helena Vasques havia escolhido permanecer. Ela conhecia cada rua, cada canto escondido da cidade. San Fiore era ao mesmo tempo lar e campo de batalha.
Sua rotina começava cedo, antes do nascer do sol. O relógio mal batia cinco horas quando ela já estava em pé, cabelos presos em um coque apressado, um café preto entre as mãos. No andar de cima, a respiração leve da filha lembrava-lhe do motivo pelo qual não podia ceder ao medo.
A pequena Rafaela, de apenas quatro anos, era sua fraqueza e sua força. Os olhos azuis dela— tão diferentes dos dela — sempre a faziam lembrar que havia pureza em um mundo corrompido.
— Mamãe, você vai sair de novo? — perguntava ela, todas as manhãs, com a inocência que partia o coração.
— Vou, meu amor. Mas volto para te contar uma história antes de dormir — respondia, beijando-lhe a testa.
Ela nunca reclamava, nunca chorava alto. Talvez porque, desde cedo, já tivesse aprendido a lidar com ausências. Mas, no fundo, Helena sabia que sua escolha de ser juíza cobrava um preço alto também da criança.
A rotina dela era uma dança entre responsabilidades e riscos. Entre o café da manhã apressado com Rafaela e a corrida até o tribunal, cada movimento era calculado. Dois policiais à paisana a acompanhavam discretamente — proteção que ela fingia ignorar para não assustar a filha, mas que sabia ser necessária.
No tribunal, a toga pesava mais a cada dia. Processos se acumulavam, testemunhas recuavam, e o nome de Mancini surgia como um fantasma em cada folha de papel. Nos corredores, sussurros a seguiam. Alguns a admiravam por sua coragem, outros a condenavam em silêncio, chamando-a de insensata.
Mas era em casa que Helena deixava cair a máscara. Quando a noite chegava e ela voltava, cansada, para a sala iluminada apenas pelo abajur infantil, a juíza se transformava em mãe.
Sentava-se na cama de Rafaela, ajeitava-lhe o cobertor e inventava histórias. Não histórias de príncipes ou castelos, mas contos de coragem e esperança.
— Mamãe, e se os monstros existirem mesmo? — perguntou ela, certa noite, olhos arregalados.
Helena ficou em silêncio por um instante. O coração apertou, porque sabia que os monstros não viviam embaixo da cama — estavam nas ruas, vestiam terno e carregavam armas. Mas, com um sorriso suave, respondeu:
— Se existirem, nós vamos enfrentá-los juntos.
A menina sorriu, confiante, e adormeceu. Mas Helena ficou acordada, olhando-a dormir, como quem vigia o tesouro mais precioso do mundo.
E, no fundo, sabia: cada decisão tomada no tribunal era também uma tentativa desesperada de proteger aquele par de olhos azuis.
Naquela noite, a casa estava mergulhada em silêncio.
Helena acabara de colocar Rafaela na cama, depois de mais uma história improvisada sobre um cavaleiro que vencia monstros. A menina dormia tranquila, os cílios longos pousados sobre as maçãs rosadas do rosto.
No andar de baixo, Dona Lourdes, mãe de Helena, organizava a cozinha como fazia todas as noites. Tinha o hábito de deixar a chaleira cheia de água para o café da manhã, uma mania antiga que a filha achava curiosa.
— Mãe, deixa isso para amanhã. A senhora já fez muito hoje — disse Helena, da escada.
— Eu não consigo dormir sabendo que a casa está desarrumada. Amanhã vai ser um dia difícil, eu sei… — respondeu Lourdes, com olhar grave. — Só quero facilitar sua manhã.
Helena desceu, abraçando-a por trás. O cheiro de sabonete simples misturado ao de café fresco sempre a acalmava. Lourdes não era apenas mãe; era a fortaleza silenciosa que a sustentava.
— Obrigada por ficar com a Rafaela amanhã cedo — murmurou.
A mãe acariciou sua mão.
— Lembre-se, minha filha: coragem não é não ter medo. Coragem é seguir em frente apesar dele.
Essas foram as últimas palavras que Helena ouviria da mãe.
Pouco depois da meia-noite, o som seco de vidro quebrado cortou a madrugada. Helena acordou com o coração disparado. Desceu as escadas correndo e ouviu a voz da mãe na cozinha:
— Quem está aí?
Foram os segundos mais longos da sua vida.
Um estampido ecoou. O cheiro metálico da pólvora invadiu o ar. O corpo de Dona Lourdes tombou sobre o piso frio, os olhos ainda abertos em choque.
Helena correu até ela, ajoelhando-se no sangue que se espalhava pelo chão. A sombra de um homem escapava pela porta dos fundos. Rápido. Profissional. Um recado.
— Mamãe? — a vozinha sonolenta de Rafaela veio do alto da escada.
Helena correu, pegou a filha no colo e a apertou contra o peito, afastando-a da cena.
— Está tudo bem, meu amor… eu estou aqui.
Mas não estava. Nada estava.
Ela sabia: não era um assalto, era uma mensagem. “Se ousar condenar Mancini, perderá tudo o que ama.”
Até às próximas linhas.
G.sandles
As sirenes cortaram a madrugada. Policiais, vizinhos assustados, jornalistas curiosos. A cozinha transformara-se em cena de crime. O corpo da mãe fora levado sob um lençol branco, pequeno demais para conter a grandeza daquela mulher.
No sofá, Helena permanecia imóvel, a filha nos braços.
— Mamãe… a vovó vai acordar? — perguntou Rafaela, com a inocência que a dilacerou.
Helena fechou os olhos.
— A vovó agora virou estrelinha. Vai cuidar da gente lá de cima.
Queria acreditar nisso. Mas o que sentia era guerra.
Às oito da manhã, de toga, Helena entrou no tribunal. O luto ainda fresco queimava dentro dela como fogo sob a pele, mas sua postura não deixava espaço para fraqueza. O salão estava lotado: jornalistas, policiais, curiosos. Cada olhar parecia esperar que ela desmoronasse.
As câmeras piscavam em silêncio, prontas para capturar qualquer tremor em suas mãos, qualquer hesitação na voz. Mas Helena manteve a cabeça erguida. O peso do pano negro da toga parecia mais denso naquele dia, como se carregasse não apenas a lei, mas também a morte da mãe sobre os ombros.
O réu foi conduzido. Vittorio Mancini. Alto, bem penteado, terno impecável de corte italiano. Não parecia um homem atrás das grades, mas um empresário saindo para uma reunião. A cada passo, tamborilava os dedos no corrimão da mesa — um gesto pequeno, repetido, quase insolente. O som rítmico ecoava como um desafio, como se quisesse marcar o compasso da própria vitória.
Ele se sentou, ajeitou a gravata com calma ensaiada e sorriu. Um sorriso frio, calculado, que não deixava dúvidas: acreditava já ter vencido. Seus olhos escuros varreram a sala até repousarem sobre Helena. E, naquele instante, a distância entre eles desapareceu.
— Senhora juíza — disse, com voz arrastada, cada sílaba gotejando veneno. — Sinto muito pela sua perda. Mas não precisa continuar esse teatro. Todos sabemos como termina.
O murmúrio correu pelo salão, como vento por uma chama prestes a explodir. Jornalistas se inclinaram para frente, canetas prontas, câmeras focadas. Policiais reforçaram a posição, atentos.
Helena respirou fundo. O coração gritava, mas sua voz saiu firme, cortante, como lâmina de aço:
— Sim. Termina agora.
Ergueu o martelo. O gesto pareceu arrastar o tempo em câmera lenta. Por um instante, ela viu o rosto da mãe na cozinha, os olhos abertos, o sangue no piso frio. Mas não hesitou.
O martelo bateu como trovão.
— Este tribunal condena Vittorio Mancini à prisão perpétua, sem direito a apelação.
O impacto reverberou nas paredes, e a sala explodiu em murmúrios. Jornalistas correram para anotar cada palavra, câmeras dispararam freneticamente. Os policiais se moveram de imediato, fechando o cerco ao redor de Mancini.
Mas ele não perdeu o sorriso. Enquanto as algemas eram presas novamente em seus pulsos, inclinou-se para frente, olhos cravados nos de Helena, e sussurrou, alto o suficiente para ela ouvir, baixo o bastante para parecer um segredo mortal:
— Você acabou de assinar a sentença da sua filha.
O sangue de Helena gelou. A sala, cheia de vozes, flashes e passos apressados, pareceu desaparecer. Era apenas ela e o monstro à sua frente. Ainda assim, não desviou o olhar. Ele precisava saber: não a quebraria.
Quando voltou para casa, o silêncio foi mais cruel que qualquer barulho do tribunal. As portas se fecharam atrás dela como grades.
Na mesa da sala, encontrou um desenho de Rafaela: duas figuras de mãos dadas, uma mulher de cabelos pretos e uma menina loira, sob um sol sorridente. Rabiscos infantis que, naquela noite, se tornaram um lembrete devastador. Aquele era o mundo que ela jurara proteger — simples, inocente, colorido.
O coração de Helena se partiu em pedaços invisíveis.
Subiu devagar as escadas, como se cada degrau pesasse mais que o anterior. No quarto, a filha dormia encolhida, abraçada à boneca de pano, os cabelos loiros espalhados no travesseiro. O quarto exalava paz, contrastando cruelmente com a guerra que a cercava.
Helena sentou-se à beira da cama, passando os dedos pelos fios macios da menina. Queria guardar na memória aquele cheiro infantil, aquela respiração calma, aquela pureza intacta.
As palavras de Mancini ecoavam como veneno em sua mente: “Você acabou de assinar a sentença da sua filha.”
Lágrimas silenciosas escorreram por seu rosto, mas não diante da criança. Para Rafaela, precisava ser fortaleza, nunca ruína.
Ergueu os olhos para o teto escuro, a respiração firme, e fez seu juramento em voz baixa, como uma oração invertida:
— Eu vou proteger você. Nem que eu precise enfrentar o inferno inteiro.
A casa mergulhou em silêncio. Mas dentro dela, a guerra havia começado.
E Helena sabia: a sentença que dera não encerrava nada. Apenas abrira as portas do abismo.
Até às próximas linhas.
G.sandles.
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