O salão da matilha vizinha estava iluminado por milhares de luzes, o baile em honra à união de duas alcateias atraía líderes, guerreiros e futuros alfas de todas as regiões. A música suave, misturada ao cheiro de vinho e flores, tornava o ambiente quase mágico.
Ela entrou pela porta principal, trajando um vestido longo azul que realçava seus olhos claros. Cinco anos haviam se passado desde a última vez que o vira — o garoto que fora seu melhor amigo, seu confidente, aquele que conhecia cada detalhe dela. Agora, ele não era mais um simples lobo: estava prestes a ser coroado como o novo Rei Alfa.
Seus olhares se encontraram em meio à multidão. O coração dela disparou.
— Ele mudou tanto... — pensou, tentando disfarçar o rubor que subia por suas bochechas.
Ele, por sua vez, mal acreditava que era real. A menina que deixara cinco anos atrás agora estava diante dele, mais forte, mais determinada… pronta para ser a novata que irá treinar na própria matilha. Mas havia algo que queimava em seu peito: o cheiro que exalava dela.
Um cheiro que não era dele.
O coração dele rugiu em protesto. A deusa da lua havia sido clara: ela era sua companheira destinada. Mas... ela tinha um namorado.
Quando ele se aproximou, o ambiente pareceu silenciar.
— Você voltou… — ele murmurou, sua voz grave e rouca carregando emoção reprimida.
Ela engoliu seco, segurando o olhar.
— Voltei. E vejo que está prestes a se tornar rei.
O destino os havia separado, mas naquela noite, no baile, tudo voltaria a se alinhar.
Ele estendeu a mão para ela, com um olhar firme que fazia seu lobo interior se agitar.
— Me concede essa dança? — perguntou, sua voz baixa, quase uma ordem, mas com a doçura de quem esperou anos por esse momento.
Ela hesitou. Seu namorado a observava de longe, conversando com alguns guerreiros, mas o ciúme já ardia em seu olhar. Mesmo assim, o coração dela — e seu lobo — gritaram por aquele toque.
— Apenas uma dança… — respondeu, depositando a mão na dele.
O toque foi suficiente para despertar um arrepio que percorreu os dois. A música começou, lenta, e os corpos se aproximaram como se sempre tivessem pertencido um ao outro.
— Você mudou — ele sussurrou, aproximando os lábios de sua orelha.
Ela sorriu de canto. — Todos mudamos, não é? Você agora é quase um rei… e eu, apenas a novata.
Ele a girou com firmeza, seus olhos brilhando em prata por um instante.
— Para mim, você nunca foi "apenas" nada.
As lembranças invadiram a mente dela: os dois correndo pela floresta, rindo das broncas que levavam, dividindo segredos sob a luz da lua. Mas a realidade voltou rápido. O namorado dela os observava de longe, tenso, como se pudesse arrancá-la dali a qualquer momento.
— Não deveria estar me dizendo isso — ela murmurou, tentando controlar a respiração.
— Não consigo evitar — ele respondeu, com a sinceridade crua de um alfa. — Você é minha. Sempre foi.
O coração dela bateu forte, mas sua mente lembrou da promessa que tinha com o namorado. Do vínculo que acreditava ser suficiente. Ainda assim, dentro de si, sua loba rugia em resposta àquele chamado.
A música terminou, e eles pararam, respirando rápido. Ele se inclinou, deixando escapar um murmúrio apenas para ela:
— Lutarei contra qualquer um, até contra os deuses, se for preciso… mas não vou desistir de você.
O destino estava traçado. E aquela dança era só o início da guerra entre coração, dever e o chamado da lua.
Adrian
"As pessoas me cumprimentam, me reverenciam, mas eu mal ouço. Tudo o que sinto ainda é o perfume dela preso à minha pele. Ela dançou comigo, mesmo com o olhar possessivo daquele macho cravado em nós. A ousadia dela me mata e me alimenta ao mesmo tempo. Mas... por que ela não sabe? Por que não sente o chamado como eu sinto?"
— Adrian. — A voz grave do seu melhor amigo me tirou dos pensamentos. Era Kael, meu beta e irmão de alma, aquele que sempre me acompanhou nas guerras e treinamentos. — Está com aquela expressão de lobo faminto.
Reviro os olhos, mas ele apenas ri.
— Acha que ninguém percebeu? — ele continua. — A forma como olhou pra ela… como se fosse devorar cada pedaço.
Rosno baixo. — Ela é minha, Kael. A deusa me mostrou isso.
Kael ergue uma sobrancelha, cruzando os braços. — Então por que ela tem outro?
O veneno da realidade corta meu peito. — Porque ela não sabe. Mas vou fazer com que saiba.
Selene Carter
"Adrian. Mesmo o nome dele parece ecoar dentro de mim, como uma melodia proibida. Não deveria sentir isso, não depois de tudo o que construí com Aaron… meu namorado, aquele que esteve ao meu lado nesses anos. Mas... o que aconteceu naquela dança foi mais que nostalgia. Foi destino. Eu sei, mesmo que tente negar."
Minha amiga Maya, filha do conselheiro da minha matilha, se aproxima, um sorriso curioso nos lábios.
— Então… foi só impressão minha ou você e o rei dançaram como se estivessem prestes a devorar um ao outro?
— Maya! — sussurro, sentindo meu rosto esquentar. — Foi só uma dança.
Ela me encara, arqueando a sobrancelha. — Claro, só uma dança… e o jeito que o olhar dele queimava como se quisesse marcar você ali mesmo foi pura coincidência, né?
Eu respiro fundo, tentando me convencer. — Não posso sentir nada por ele. Tenho o Aaron.
Maya suspira. — Pode até ter o Aaron, Selene… mas sua loba não parece concordar.
Aaron (o namorado)
"Eu vi cada detalhe. O jeito que ela sorriu, o jeito que ele a segurou. É insuportável. Ele pode ser rei, pode ter o mundo aos seus pés, mas ela é minha. Eu estive com ela quando ninguém mais esteve. Eu cuidei dela, dei meu tempo, minha lealdade. Não vou permitir que ele apareça agora e a tome como se fosse um direito divino."
Meu amigo Derek, outro guerreiro da matilha, se aproxima, percebendo minha raiva.
— Você viu, não é? — ele pergunta.
— Vi. — respondo com a mandíbula travada. — E não vai se repetir.
— Aaron, ele é o futuro rei… mexer com ele pode custar caro.
Olho diretamente para Derek, meus olhos escurecendo. — Eu não ligo se ele é rei ou deus. Ela é minha.
Naquela noite, três corações pulsavam em direções diferentes, mas o destino já começava a puxar os fios invisíveis que iriam unir — ou destruir — todos eles.
Selene
A festa seguia, mas meu coração não conseguia acompanhar o ritmo. Cada risada, cada música, parecia abafada pelo som da minha própria respiração acelerada. Eu precisava de ar. De distância.
Saí pelos corredores do palácio até alcançar a varanda. A lua cheia brilhava acima, como se me vigiasse. Apoiei as mãos no parapeito de pedra e fechei os olhos.
"Respira, Selene. Esquece o que aconteceu na dança. Foi só nostalgia. Foi só saudade..."
— Fugindo de mim? — a voz grave ecoou atrás de mim.
Meu corpo inteiro estremeceu. Eu sabia quem era sem nem precisar olhar. Virei devagar e lá estava ele: Adrian, imponente, os olhos prateados refletindo a lua, a presença esmagadora de um rei prestes a nascer.
— Eu só precisava de ar. — tentei manter a voz firme.
Ele deu alguns passos na minha direção, e cada um parecia ecoar dentro de mim. — E encontrou?
Engoli em seco. — Adrian… não devia estar aqui.
Ele riu baixo, um som rouco que arrepiou minha pele. -Onde mais eu deveria estar, se não ao seu lado?
Adrian
Ela parecia frágil e forte ao mesmo tempo, como sempre. Selene não sabia o que fazia comigo. A lua brilhava sobre nós, e meu lobo urrava dentro de mim, pedindo que a marcasse ali mesmo. Mas eu precisava de controle… ainda.
— Olhe pra mim. — pedi, minha voz quase uma ordem.
Seus olhos claros encontraram os meus, e foi como se o mundo parasse. O vínculo brilhou entre nós, invisível para todos, mas queimando em nossas almas.
— Você sente, não sente? — perguntei, dando mais um passo, até estar perto o bastante para sentir seu perfume doce. — Essa ligação… esse chamado.
Ela balançou a cabeça, nervosa. — Não, Adrian. Eu… eu tenho o Aaron.
Rosnei baixo, não conseguindo conter. — Ele não é nada comparado ao que somos. A deusa não erra, Selene. Você é minha.
Vi sua respiração falhar, seu corpo reagindo apesar da negação em suas palavras. Eu a encurralei contra o parapeito, sem encostar, apenas deixando claro o que eu queria. O que eu sempre quis.
— Você pode mentir para si mesma, mas não pode mentir para sua loba. — murmurei. — Ela me reconhece.
Selene
Meu coração batia como se fosse explodir. Ele estava tão perto que eu podia sentir o calor do corpo dele. E, por um instante, minha loba rugiu dentro de mim, reconhecendo o que eu tentava negar.
— Adrian… por favor. — minha voz saiu em um sussurro.
Ele inclinou o rosto, tão perto que seus lábios roçaram minha têmpora.
— Você é minha, Selene. — a frase saiu como um voto, uma promessa, uma sentença.
Fechei os olhos, tentando lutar contra aquilo, mas dentro de mim algo já estava decidido.
Aaron (de longe)
Do outro lado do salão, procurei por Selene. Não a encontrei. Minha raiva cresceu como fogo. E então vi pela janela: ela, na varanda… com ele.
Meu peito se encheu de ódio. — Maldito. — murmurei, cerrando os punhos.
Derek tentou me segurar. — Aaron, não faça nada. Não agora.
Mas já era tarde. Eu não ia assistir ao futuro rei tomar o que é meu.
Selene
O coração batia tão alto que parecia ecoar pelo salão inteiro. Adrian estava perto demais, suas palavras ainda queimando em minha pele quando uma voz áspera cortou o ar:
— Solte ela.
Meu corpo congelou. Olhei para trás e encontrei Aaron, os olhos escuros de raiva, a mandíbula travada, o peito arfando. Ele parecia prestes a explodir.
Adrian nem se moveu. Apenas virou lentamente o rosto em direção a ele, um sorriso frio surgindo em seus lábios.
— Ela não está presa, Aaron. Se quisesse, já teria ido embora.
Aaron
"A audácia desse maldito... Ele olha pra mim como se fosse dono do mundo. Como se fosse dono dela. Não vou permitir."
— Você está ultrapassando limites, Adrian. — minha voz saiu firme, mesmo que meu sangue queimasse. — Selene é minha companheira.
Ele deu um passo à frente, e a simples pressão da aura dele quase me fez vacilar. Mas permaneci firme.
— Não minta para si mesmo, Aaron. — ele respondeu, cada palavra como um golpe. — A deusa nunca a entregou a você.
— Não preciso de bênçãos de deusa para saber o que sinto. — retruquei. — Ela me escolheu. E isso é tudo o que importa.
Adrian
O riso escapou da minha garganta, baixo e ameaçador.
— Escolheu? — repeti, arqueando a sobrancelha. — O que você chama de escolha é só a ignorância dela sobre o que realmente é.
Me aproximei ainda mais, até que ele sentisse a diferença entre nós: eu, alfa por natureza, destinado a governar. Ele, apenas um guerreiro teimoso tentando segurar algo que não lhe pertence.
— Selene é minha companheira. — rosnei, minha voz carregada com a força do meu lobo. — Isso está escrito na lua, e nem você, nem ninguém vai mudar.
Selene
A tensão entre eles era sufocante. Os dois lobos dominavam o espaço, e eu me sentia esmagada no meio daquilo. Meu peito se apertou. Eu não podia permitir que aquilo se transformasse em uma luta, não ali, não agora.
— Chega! — gritei, me colocando entre eles. — Vocês dois estão agindo como se eu fosse um troféu. Eu não sou de ninguém!
Aaron tentou se aproximar de mim, mas Adrian deu um passo à frente primeiro, seus olhos prateados brilhando.
— Você não é um troféu, Selene. É minha alma.
Aaron rosnou alto. — E é minha vida.
O silêncio caiu por um segundo, quebrado apenas pelas batidas dos tambores do baile ao fundo. Mas naquele instante, eu soube: essa guerra não ia parar ali.
Adrian
O rosnado dele ainda ecoava quando meu lobo avançou dentro de mim, exigindo que eu o esmagasse ali mesmo. Aaron ousava me desafiar diante da lua, diante dela. E eu não era conhecido por aceitar provocações.
Dei um passo à frente, minha aura de alfa explodindo pelo ar. O som dos tambores do baile pareceu sumir; o salão todo ficou em silêncio. Lobos mais próximos sentiram a pressão e abaixaram a cabeça instintivamente.
— Se continuar com essa insolência, garoto, vou te mostrar a diferença entre um rei e um guerreiro comum. — minha voz saiu baixa, mas carregada de poder.
Aaron rosnou de volta, o peito inflado. — Tente. E vai descobrir que não me intimido fácil.
Selene
O ar ficou pesado demais. Meu coração disparava, e minha loba dentro de mim gritava, dividida. “Ele é seu. Adrian é o seu vínculo!” ela rugia. Mas minha mente se fixava em Aaron, no olhar dele, no medo escondido atrás da raiva.
— Parem, por favor! — tentei intervir, mas eles já estavam prontos para avançar.
Aaron ergueu o punho, e Adrian moveu-se como uma sombra, pronto para reagir. Foi nesse instante que Kael entrou, empurrando-se entre eles com a força de um beta treinado.
— Basta! — Kael rugiu, sua voz ecoando pelo salão. — Se quiserem se matar, façam isso em campo aberto, não em território neutro!
Aaron
Fui empurrado alguns passos para trás, mas meus olhos nunca deixaram os dele. Adrian me olhava como se eu fosse nada. Como se eu fosse apenas um obstáculo descartável.
Meu amigo Derek apareceu ao meu lado, segurando meu braço. — Não é hora, Aaron. Ele é o próximo rei. Pense!
Mas eu não pensava. Eu só sentia. A raiva queimava, a dor queimava, o medo de perdê-la queimava.
— Não vou desistir dela. — murmurei, firme. — Nem por rei, nem por deus.
Adrian
Kael segurava meu ombro, mas eu ainda estava pronto para atacar. Ele sussurrou ao meu ouvido:
— Todos estão olhando. Se perder o controle agora, vai parecer um lobo fraco que não consegue se conter.
Respirei fundo, cada músculo do meu corpo pedindo por sangue, mas Kael estava certo. Ainda não era a hora.
Apontei o dedo para Aaron, deixando que minha voz carregasse a promessa da lua.
— Você pode lutar quanto quiser, pode se iludir o quanto quiser. Mas o destino não erra. E no fim… ela será minha.
Selene
Meu peito doía. Eu não queria ouvir aquilo, não queria que eles me arrancassem em duas direções diferentes.
Sem pensar, corri. Deixei os dois para trás, os olhares queimando em minhas costas. Passei pelas portas do salão e desapareci na noite fria, buscando o silêncio da floresta.
"Eu não posso escolher agora… mas até quando conseguirei fugir?"
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