Leonor e Nathan: Arquivos Proibidos
CASO 1 – Parte 1
Ano: 2009
Local: Londres, Inglaterra
Era uma noite de outono, fria e úmida, quando Nathan e Leonor Moore receberam a ligação. A voz do padre Thomas, trêmula e cansada, vinha do outro lado da linha:
> — Sr. e Sra. Moore… nós precisamos de vocês. Há algo naquela casa… algo que nem mesmo nós conseguimos enfrentar.
O endereço ficava no extremo leste de Londres, numa rua esquecida pelo tempo. A casa era um casarão vitoriano, de janelas altas e vidro fosco, com tijolos escurecidos pela umidade e pela poluição da cidade. Nenhum vizinho ousava chegar perto depois do anoitecer.
Nathan, de terno escuro e olhar investigativo, carregava uma maleta de equipamentos: gravadores de fita, câmeras de visão noturna, crucifixos e água benta. Leonor, loira de olhos azuis intensos, vestia um sobretudo preto, segurando seu caderno de anotações — e também, discretamente, uma pequena caixa de prata com símbolos gravados à mão.
No caminho, dentro do carro, o padre contou o que sabia.
> — Tudo começou em 1981… um casal morava lá com seus dois filhos, Angelo e Lucy. Quando tinham 12 anos, começaram a agir de forma estranha. Falavam línguas que não conheciam, desenhavam símbolos no chão, e sempre à meia-noite… levantavam-se e realizavam um ritual. Descobrimos depois que os antigos donos da casa eram ocultistas… adoradores de algo… antigo.
Quando chegaram, um vento gelado percorreu o corredor estreito da entrada. O relógio antigo na parede estava parado, marcando exatamente meia-noite.
Leonor observou as paredes e notou marcas queimadas, como se mãos humanas houvessem pressionado ali com força sobrenatural. Nathan ajustou a câmera e começou a registrar.
De repente, um ruído veio do andar de cima. Passos lentos… arrastados… como se algo pesado estivesse se movendo.
Ao subirem, encontraram o quarto das crianças ainda intocado desde 1981. Bonecas quebradas espalhadas pelo chão, um crucifixo invertido na parede, e no centro… um círculo desenhado com algo que parecia sangue seco.
Leonor se aproximou e sentiu uma pressão no ar, como se a atmosfera ficasse mais densa.
Nathan, ao gravar, percebeu que o áudio captava uma voz fraca… repetindo a mesma frase em latim, incessantemente.
O padre Thomas, que estava atrás deles, começou a rezar baixinho… e nesse momento, todas as portas do corredor bateram ao mesmo tempo.
A casa não queria visitas.
CASO 1 – Parte 2
Ano: 2009
Local: Londres, Inglaterra
O corredor permanecia mergulhado em uma penumbra quase sólida. A única luz vinha da lanterna que Nathan segurava, tremendo levemente em sua mão.
Leonor, imóvel, mantinha os olhos fixos na porta ao final do corredor — a única que não havia batido.
— Não sente isso? — sussurrou ela.
Nathan respondeu apenas com um aceno, mas o suor frio na sua testa já dizia tudo.
O padre Thomas fez o sinal da cruz e se aproximou daquela porta. Antes que pudesse tocar na maçaneta, um estalo seco ecoou pelo teto, como se a madeira estivesse cedendo sob um peso invisível.
— Há algo lá em cima… — murmurou Nathan, levantando a câmera.
O sótão.
A escada de acesso estava parcialmente escondida por uma viga, e a corda para puxá-la parecia gasta, quase prestes a se romper. O ar que vinha dali era gelado e carregava um cheiro forte de ferro e mofo.
— Não é hora para o sótão — disse o padre, a voz quase suplicante. — Não agora.
Mas, antes que alguém pudesse responder, a gravação de Nathan captou algo que não vinha de nenhum deles. Uma risada infantil, arranhada e metálica, ecoou na fita, seguida por um sussurro em latim:
> "Veniet Umbra Magna…"
Leonor engoliu seco e olhou para o marido.
— Essa frase… já a vimos antes. No caso de Dover.
— Sim. — Nathan baixou a câmera. — E da última vez… não terminamos o trabalho.
Um vento súbito percorreu o corredor, apagando as lanternas e deixando-os completamente no escuro. Apenas o gravador continuava funcionando, e nele… passos começaram a se aproximar. Lentamente.
A casa não queria visitas.
Mas agora, parecia querer que eles ficassem.
---CASO 1 – Parte 3 (Final)
Ano: 2009
Local: Londres, Inglaterra
O corredor estava mergulhado em completa escuridão.
Nathan tateou no bolso até encontrar os fósforos. Uma faísca acendeu, revelando rostos tensos e paredes que pareciam… mais próximas do que antes, como se a casa estivesse se contraindo ao redor deles.
Leonor respirava rápido, sentindo o ar pesado e frio.
— Nathan… não estamos sozinhos aqui.
Do fundo do corredor, um som começou — como unhas arranhando madeira, cada vez mais perto. O padre Thomas agarrou seu crucifixo, mas antes que pudesse pronunciar qualquer oração, a porta do quarto das crianças se fechou com violência, trancando os três lá dentro.
O som das unhas se transformou em batidas fortes, cada vez mais intensas, como se algo quisesse entrar.
Leonor acendeu sua pequena lanterna de bolso e a luz caiu sobre algo no canto do quarto: uma caixa de madeira escura, do tamanho de uma bíblia, com um símbolo gravado na tampa — o mesmo que eles tinham visto nos desenhos feitos pelas crianças em 1981.
— É isso… — sussurrou ela. — Está aqui dentro.
Nathan se aproximou cautelosamente e, usando um pano, pegou a caixa. Instantaneamente, a temperatura despencou e um grito estridente explodiu de dentro das paredes, como se centenas de vozes gritassem ao mesmo tempo.
O crucifixo do padre Thomas caiu no chão, vibrando como se estivesse vivo.
Leonor abriu sua própria caixa de prata e, com mãos trêmulas, retirou um pequeno frasco de vidro com água benta e um pedaço de pergaminho antigo. Ela recitou uma oração em latim, e Nathan colocou a caixa de madeira dentro da de prata, fechando-a com força.
Assim que a tampa se fechou, o vento cessou. O silêncio foi tão abrupto que o trio quase não acreditou.
O relógio da casa, parado havia décadas, começou a funcionar de novo — mas agora marcava 3h33.
Eles saíram sem dizer palavra, o padre Thomas caminhando atrás, pálido como cera.
Do lado de fora, Leonor olhou para Nathan.
— Sabe o que isso significa, não sabe?
Ele assentiu.
— Sim… esse símbolo não é único dessa casa. Ele faz parte de algo maior.
Ao entrarem no carro e se afastarem, uma cortina se moveu sozinha na janela do quarto das crianças. Atrás dela, a silhueta de uma menina observava.
O caso estava encerrado.
Mas o que estava na caixa… não ficaria em silêncio para sempre.
CASO 2 – Parte 1
Ano: 2010
Local: Marselha, França
Era o fim de tarde, e o porto de Marselha exalava o cheiro de maresia misturado ao óleo dos barcos. Nathan e Leonor haviam sido chamados por um contato antigo da polícia francesa — o inspetor René Vallois.
O caso envolvia o desaparecimento de uma jovem de 17 anos chamada Éloise Moreau, filha de um antiquário.
A loja da família, localizada em um beco estreito da cidade velha, estava fechada há semanas. Segundo o inspetor, o último registro de Éloise era uma filmagem de segurança interna: ela sozinha, na madrugada, conversando com algo fora do enquadramento. Segundos depois, a imagem distorceu e a garota simplesmente… desapareceu.
Leonor, com seu caderno no colo, ouvia René explicar enquanto caminhavam pelo beco.
> — O pai dela jurou que tudo começou quando recebeu uma caixa de prata, muito antiga. Não conseguiu abrir, mas desde então… a menina começou a ter pesadelos, falar em latim, e… — René baixou o tom — …ver coisas.
Nathan parou de andar.
— Caixa de prata? — olhou para Leonor.
Ela respondeu com um olhar frio.
Ao entrarem na loja, o ar estava denso e frio, apesar do verão. Prateleiras repletas de objetos antigos se alinhavam como sentinelas silenciosas. Um crucifixo partido repousava no balcão.
Leonor passou os dedos sobre o pó acumulado e viu marcas no chão — símbolos idênticos aos encontrados no quarto das crianças em Londres.
— Ele está aqui… — murmurou ela.
De repente, um ruído veio do porão. Lento, grave… como madeira arranhando pedra.
O inspetor René levou a mão à arma, mas Nathan o deteve.
— Armas não vão ajudar contra isso.
Eles desceram as escadas de pedra, cada degrau rangendo sob seus pés. A luz do porão piscava intermitente.
No centro do chão, havia um círculo de sal… quebrado. E dentro dele, repousava a caixa de prata. Mas agora… estava aberta.CASO 2 – Parte 2
Ano: 2010
Local: Marselha, França
O círculo de sal no chão estava rompido como se algo tivesse saído com força.
A caixa de prata, aberta, revelava apenas um pano de linho escurecido por manchas antigas. Mas, no centro do pano… um pequeno medalhão de metal negro, frio ao toque, com o mesmo símbolo gravado que eles tinham visto no caso de Londres.
Leonor não se aproximou — seus olhos permaneciam fixos nele.
— Nathan… isso não devia estar aberto.
O inspetor René, confuso, perguntou:
— Aberto? Do que vocês estão falando? Isso é só… um colar velho.
Antes que alguém respondesse, a lâmpada do porão explodiu, mergulhando-os na escuridão.
O silêncio que se seguiu não foi natural — parecia sugado, como se o som tivesse sido arrancado do ar.
De repente, passos começaram a ecoar ao redor deles. Não vinham de um único ponto, mas de todos os cantos, alternando entre lentos e corridos. Algo se movia rápido, mas nunca se mostrava.
Leonor sentiu um toque gelado na nuca e virou-se bruscamente — nada.
Nathan, guiado apenas pela luz fraca da lanterna, puxou seu crucifixo e o ergueu.
— Mostre-se! — ordenou com firmeza.
Uma risada infantil ecoou pelo porão, a mesma que eles tinham ouvido no quarto das crianças em 2009. Só que agora… estava mais próxima, mais clara, como se viesse de uma boca real.
No canto, entre duas prateleiras, uma silhueta começou a se formar: pequena, com cabelos longos e desgrenhados, pele acinzentada… e olhos completamente negros.
Ela inclinou a cabeça, olhando fixamente para Leonor, e sussurrou em latim:
> “Non potes effugere.”
(“Você não pode escapar.”)
O inspetor René, apavorado, apontou a arma — mas antes que pudesse atirar, todas as prateleiras do porão caíram ao mesmo tempo, bloqueando a saída.
O medalhão no chão começou a brilhar com uma luz vermelha intensa, pulsando como um coração.
Leonor, com o caderno nas mãos, olhou para Nathan.
— Se não fecharmos essa caixa agora… a coisa que saiu daqui vai seguir a gente.
CASO 2 – Parte 3 (Final)
Ano: 2010
Local: Marselha, França
O medalhão pulsava no chão, cada batida acompanhada por um impacto invisível que fazia o ar vibrar.
A silhueta infantil deu um passo à frente. Seus pés não tocavam o chão, e a sombra que se projetava atrás dela era muito maior que seu corpo — algo desproporcional, monstruoso.
Nathan retirou um pequeno frasco de água benta e o arremessou sobre o medalhão. O líquido chiou ao contato, liberando um cheiro de metal queimado. A criatura gritou, mas o som era distorcido, como se viesse de muitas bocas ao mesmo tempo.
René, com o rosto pálido, tentava afastar as prateleiras caídas.
Leonor ajoelhou-se e pegou o medalhão com um pano grosso, enquanto recitava em latim a oração que havia usado no Caso 1. O objeto queimava através do pano, como se tivesse vida própria.
De repente, uma força invisível os empurrou contra as paredes. A criatura agora estava no centro do porão, erguendo o rosto para o teto. Uma rachadura se abriu na laje, e um vento gelado começou a puxar tudo para dentro dela — poeira, pedaços de madeira, papéis, até o crucifixo quebrado.
— Leonor, fecha agora! — gritou Nathan.
Com esforço, ela colocou o medalhão de volta na caixa de prata e a fechou com um estalo seco. O vento cessou instantaneamente. A silhueta da criança congelou no ar… e, como vidro rachando, se despedaçou em milhares de fragmentos negros, que desapareceram no nada.
O porão ficou em silêncio. Apenas o som da respiração ofegante deles preenchia o espaço.
René encarou o casal, ainda trêmulo:
— O que diabos… era aquilo?
Nathan pegou a caixa e respondeu:
— Uma peça… de algo que não sabemos o tamanho.
Ao saírem para a rua, a noite de Marselha estava estranhamente calma. Mas, enquanto entravam no carro, Leonor notou algo pelo retrovisor: no alto de um prédio distante, a mesma silhueta infantil, imóvel, olhando na direção deles.
O motor foi ligado.
Eles sabiam que o objeto estava contido…
…mas não destruído.
O arquivo estava fechado.
Por enquanto.
Ano: 2011
Local: Praga, República Tcheca
A neblina cobria Praga como um manto cinzento e frio, transformando cada rua de paralelepípedo em um labirinto de sombras. O inverno apertava o ar, tornando cada respiração visível, e o som distante de sinos parecia ressoar em um eco que nunca terminava. Nathan e Leonor Moore caminharam pelo centro histórico, o som de suas botas sobre a pedra molhada marcando um ritmo tenso e desconfortável.
Eles haviam sido chamados pelo professor Pavel Richter, um especialista em manuscritos antigos e simbologia medieval, que afirmava ter descoberto um padrão aterrador: os símbolos encontrados no medalhão de Marselha e na caixa de Londres pertenciam a um conjunto de sete peças ritualísticas — todas ligadas a um selo que mantinha aprisionada uma entidade que a Igreja, séculos atrás, classificou apenas como “O Abismo”.
O encontro foi marcado em um antigo porão de biblioteca, acessado por uma escadaria estreita e íngreme, escondida atrás de uma porta de ferro enferrujada. O ar cheirava a mofo, livros antigos e cera de vela queimada. As paredes de pedra exalavam um frio que parecia penetrar na espinha.
— Vocês entenderam o risco? — perguntou Pavel, sem rodeios, sua voz baixa e trêmula. — Se alguém interferir no selo, mesmo que seja por curiosidade ou estudo, aquilo que está contido pode escapar. Não é apenas uma história de fantasmas. É algo… real.
Leonor, sempre meticulosa, abriu seu caderno e começou a desenhar os símbolos à medida que Pavel falava. Nathan, por sua vez, analisava cada canto do porão, as sombras que pareciam se mover sutilmente à medida que a vela tremeluziu.
> — Estas peças… — continuou Pavel, apontando para uma gravura antiga — …são sete, como vocês já sabem. Cada uma carrega parte da essência da entidade. Londres e Marselha correspondem às duas primeiras. A terceira, creio eu, ainda está aqui em Praga, escondida em um local que ninguém ousou investigar por séculos.
Antes que Nathan pudesse perguntar detalhes, um estalo ecoou atrás deles, seguido por um som metálico — como se correntes fossem arrastadas. Pavel engoliu em seco e desviou o olhar para o canto escuro do porão.
— Não… não pode ser tão rápido — murmurou ele.
O ar começou a ficar pesado. Uma corrente de vento gelado soprou de um ponto invisível, apagando as velas. O silêncio absoluto tomou o ambiente, interrompido apenas pelo som da própria respiração deles, agora acelerada.
— Mostrem-se! — Nathan ordenou, segurando firme o crucifixo.
No canto do porão, uma sombra começou a se formar. Não tinha contornos definidos, mas parecia pulsar, como se tivesse vida própria. Um cheiro de enxofre e ferro queimado tomou o ar, e a temperatura caiu rapidamente, formando um orvalho frio nas paredes e nos cabelos de Leonor.
Do nada, uma voz gutural e arranhada, que parecia vir de todos os lados ao mesmo tempo, sussurrou:
> “Vocês não verão a terceira peça… não chegarão à fonte.”
A sombra começou a se contorcer, crescendo, espalhando um medo quase físico. Leonor sentiu uma pressão em seu peito, como se algo invisível tentasse esmagá-la contra o chão. Nathan, firme, ergueu o gravador de campo e começou a registrar, enquanto Pavel apenas observava, incapaz de reagir.
— Precisamos sair daqui antes que… — começou Leonor, mas Nathan a interrompeu:
— Não podemos. Isso nos foi entregue para investigar. Se sairmos agora, alguém mais pode encontrar a terceira peça sem saber do risco.
A sombra avançou, e eles perceberam que a entidade não estava apenas tentando assustá-los — estava testando limites. O porão parecia se alongar, o chão estalar sob passos invisíveis, as paredes respirarem. Cada símbolo que Leonor havia desenhado no caderno parecia vibrar sutilmente, como se reconhecesse a presença da entidade.
Nathan então percebeu algo no fundo do porão: uma porta de madeira, coberta por teias e pó, com símbolos gravados muito semelhantes ao do medalhão. A porta parecia pulsar, respirando com a sombra, e a sensação de perigo aumentou.
— Ali — disse ele, apontando. — É lá que está a terceira peça.
Leonor engoliu seco, ajustando o caderno e a pequena caixa de prata que sempre carregava.
— E se ela não quiser que a encontremos?
Antes que pudessem se aproximar, um estrondo estourou o teto do porão, e a sombra se projetou contra a parede, formando uma figura que lembrava uma criança… mas com proporções impossíveis e olhos negros como brasas.
Nathan segurou firme o crucifixo, Leonor o caderno, e Pavel recitou uma oração hesitante. Mas o perigo estava apenas começando.
O primeiro capítulo do Caso 3 termina ali: com a terceira peça à vista, mas a entidade se manifestando de forma mais agressiva, testando os limites deles — e deixando claro que a série de arquivos proibidos estava apenas se tornando mais mortal.
Parte 2
Ano: 2011
Local: Praga, República Tcheca
A porta de madeira antiga parecia pulsar sob a mão de Nathan. Cada golpe que ele dava com o punho ecoava como um tambor de alerta, reverberando pelo porão úmido. Leonor segurava a caixa de prata contra o peito, ciente de que aquela peça poderia ser a chave para conter o que quer que estivesse por trás do selo.
Pavel tremia enquanto observava, murmurando palavras de advertência:
— Não… não forcem a abertura. Qualquer descuido…
Antes que pudesse terminar, o ar mudou. Um vento súbito e cortante atravessou o porão, apagando a última vela que restava. O frio era tão intenso que seus ossos pareciam rachaduras de gelo.
Leonor sentiu uma presença atrás de si. Virou-se lentamente e viu a silhueta da criança novamente, agora pairando sobre o chão, imóvel, mas com os olhos negros brilhando como carvão em brasa. Um sussurro ecoou pelo espaço:
> “Vocês não deveriam estar aqui…”
O som parecia vir de todos os cantos, reverberando no peito e na mente de cada um deles. A sombra começou a se contorcer, crescer, esticar braços impossíveis pelas paredes do porão, rasgando o ar. Livros caíram das prateleiras, poeira subiu e cada passo do trio se tornou perigoso, como se a gravidade estivesse sendo alterada.
Nathan ergueu o crucifixo e começou a recitar uma oração em latim, firme, com voz firme apesar do medo. Leonor, sentindo a pressão no ar aumentar, colocou a caixa de prata no chão e abriu-a. Dentro, o medalhão negro pulsava, lançando uma luz vermelha fraca que parecia sugar a escuridão ao redor.
O momento era delicado — o medalhão parecia consciente, vibrando em resposta à presença da entidade. Pavel recuou, mas Nathan se aproximou, determinado:
— Precisamos estudar isso, precisamos entender.
Quando Nathan tocou o medalhão com um pano, um grito que parecia vir de mil vozes explodiu pelo porão. A silhueta da criança se projetou contra eles, movimentando-se rápido demais para os olhos humanos, atravessando paredes como fumaça.
Leonor recitou rapidamente uma oração, desenhando símbolos de proteção no ar com a ponta do caderno. O medalhão começou a tremer violentamente. A sombra gritou de forma distorcida, um som que parecia quebrar os ossos e gelar a mente ao mesmo tempo.
De repente, uma corrente invisível arrastou Nathan e Leonor para trás, pressionando-os contra a parede. Pavel caiu de joelhos, tentando não olhar para a força que emanava do medalhão.
Leonor, respirando com dificuldade, percebeu que o medalhão emitia um som próprio, quase musical, que parecia ressoar diretamente em seu cérebro. Ela entendeu então que a peça não era apenas um objeto — era um foco de energia, uma âncora que prendia algo muito antigo e maligno.
— Nathan… se abrirmos completamente essa porta… — sua voz falhou, mas Nathan a interrompeu:
— Não podemos recuar agora. Se o que está aqui está ligado às outras peças… precisamos agir antes que outra pessoa encontre a terceira e cause algo irreversível.
Com um esforço conjunto, eles empurraram a porta, revelando um compartimento escondido, cheio de teias e velas apagadas. No centro, repousava um terceiro medalhão, idêntico ao que tinham visto em Londres e Marselha. Mas uma corrente negra parecia fluir dele para o teto e para as paredes, conectando-o à sombra que agora se agitava furiosa.
O porão inteiro tremeu. Um estrondo profundo fez as pedras se soltarem do teto, e a sombra da criança se projetou para dentro do compartimento, tentando se fundir com o medalhão.
Nathan e Leonor se entreolharam, cientes de que estavam lidando com algo que não podiam vencer com força física — apenas inteligência, fé e coragem. Eles precisavam conter a entidade ali mesmo, naquele instante, ou todo o trabalho dos casos anteriores seria em vão.
O capítulo termina com a tensão máxima: a terceira peça encontrada, a entidade mais agressiva do que nunca, e a consciência de que apenas um erro poderia liberar um poder que ninguém podia controlar.Parte 3 (Final)
Ano: 2011
Local: Praga, República Tcheca
O porão parecia vivo. Cada pedra, cada viga, parecia pulsar com a presença da entidade. O medalhão negro, agora revelando sua energia em ondas que sacudiam o ar, iluminava parcialmente o espaço, projetando sombras distorcidas que pareciam atacar os investigadores.
A silhueta da criança, agora completa, com braços desproporcionais e olhos como brasas, avançava. Cada passo fazia o chão tremer, como se a própria fundação da biblioteca estivesse reagindo à sua presença.
— Leonor, segura firme! — Nathan gritou, enquanto erguia o crucifixo e começava a recitar a oração em latim que haviam memorizado desde Londres.
Leonor, trêmula, segurava o caderno aberto sobre o medalhão, desenhando rapidamente símbolos de proteção, como se cada traço fosse uma barreira invisível. A pressão no ar aumentava, quase tirando-lhes o ar, e a sombra avançava, emitindo gritos que distorciam a realidade ao redor.
Pavel, apavorado, tentou recuar, mas uma força invisível o puxou para o chão, segurando-o com brutalidade.
— Nathan… — Leonor gritou — ele não vai resistir!
— Então nós vamos ajudá-lo! — respondeu Nathan.
Eles perceberam que não poderiam apenas recitar orações; precisavam usar os objetos que carregavam. A caixa de prata, com o medalhão de Marselha dentro, começou a vibrar violentamente. Nathan e Leonor colocaram a terceira peça dentro da caixa, unindo todas as partes do selo.
No instante em que a tampa se fechou, um grito coletivo de vozes espectrais reverberou pelo porão, e a entidade lançou-se contra eles. O impacto os jogou contra as paredes. Livros, velas, teias, tudo voava pelo ar.
Leonor gritou a última oração, desenhando símbolos luminosos ao redor da caixa. Nathan, segurando firme, sentiu o peso da força que tentava abrir a tampa. Cada músculo do corpo dele ardia, mas ele não cedeu.
De repente, o porão tremeu violentamente, pedras se soltaram do teto, mas a caixa permaneceu firme. A entidade gritou uma última vez, uma mistura de raiva e desespero, antes de ser sugada de volta para dentro do selo. Um silêncio absoluto caiu sobre o lugar.
Pavel, exausto e pálido, engoliu em seco:
— Conseguiram… — murmurou, sem acreditar.
Leonor fechou os olhos por um instante, respirando fundo.
— Não acabou… — disse ela, olhando para Nathan. — Isso é só uma peça de algo muito maior.
Nathan assentiu, olhando para a caixa.
— E cada vez que uma dessas peças for removida ou aberta… alguém vai enfrentar o mesmo que nós enfrentamos aqui.
Enquanto saíam do porão, a neve caía pesada sobre as ruas de Praga, cobrindo pegadas e apagando rastros. Mas algo pairava acima da biblioteca: uma sombra que observava, silenciosa, aguardando o próximo movimento.
O Caso 3 estava encerrado.
Mas Nathan e Leonor sabiam que não haviam visto o fim.
O Abismo ainda estava lá, e ele nunca esquecia.
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