No Topo do Quilombo
Princesa perigoso
Às vezes, o coração do mundo pede por mais chances — mais chances de florescer, de se tornar alguém, de conquistar uma vida que mereça ser vivida com dignidade. Mais chances de lutar, de recomeçar, de simplesmente sobreviver ao turbilhão. Mas eu... eu nunca tive sequer uma única chance. E aqui estou eu, subindo o morro, pra falar com o Chefe de tudo, mais conhecido como: O Magnata.
Quem eu sou? Han Jinsung. Eu tenho apenas dezoito anos e moro com minha mãe, meu irmão mais novo e meu padrasto. Minha vida nunca foi fácil. Quando tinha quatro anos, meu pai morreu, ele era policial e morreu num confronto com uma facção que roubaram um banco. Quando completei seis anos, minha mãe se casou com um cara, ele era mó gente boa no começo, mas depois dos meus treze anos, as coisas desandaram, ele começou a passar a mão em mim, ir ao meu quarto, e até que aconteceu... eu fui... abusado. Foi a pior sensação da minha vida, sentir aquelas mãos em mim, aquele gosto horrível na minha boca e a sensação horrorosa de ter ele dentro de mim.
Minha mãe não sabe de nada até hoje, e tenho medo que aconteça com meu irmão mais novo, ele só tem quatro anos. Meu padrasto mandou me tirar da escola quando fiz dezeseis anos, disse que tava muito caro pra pagar, e proibiu minha mãe de me colocar em outra.
Desde que me lembro, minha mãe sempre apanhou dele, e meu sonho sempre foi me vingar. Meu padrasto é policial, e o único foco dele é pegar O Magnata. Eu, por não ter estudado, não consigo arrumar trabalho, por isso, vou ter que ir pedir ao dono do morro, então vou ter que subir até a boca, eles ficam lá a maior parte do tempo. Aliás, eu moro numa favela do Rio, Morro do Quilombo.
O barulho da favela é constante: moto subindo a ladeira, criança gritando no beco, som de tiro ecoando de longe como se fosse parte do cotidiano. E é.
No Morro do Quilombo, o céu é bonito demais pra tanto sofrimento.
Mas mesmo assim, eu subi. Porque às vezes, é isso ou morrer.
☆°•PK•°☆
*Um cara alto, encostado numa moto, diz.*
Eai! Tá perdida, princesa?
☆°•Han Jinsung•°☆
*Respira fundo, mantendo a postura.*
Quero bater um papo com o Magnata.
☆°•PK•°☆
*O encarando, como se ele fosse louco.*
Tu quer oque?!
☆°•Han Jinsung•°☆
Quero falar com o Magnata. Quero um trampo.
☆°•PK•°☆
*Ri alto e debochado.*
Olha essa princesa, Bin!
Ele chamou outro cara, que apareceu logo em seguida. Era mais baixo, forte, e tinha cara de poucos amigos. No morro era conhecido como Chumbinho ou Changbin.
☆°•Changbin•°☆
*Fala rindo.*
Tu quer trampar aqui? Tu não tem cara de que aguenta um soco.
☆°•Han Jinsung•°☆
E tu aguenta? Tamanho não é documento. Me dá uma chance. Só preciso de uma.
☆°•PK•°☆
Tu sabe quem é o Magnata, parceiro? Aqui, policial que bate de frente com ele desce no saco preto. Se tu gaguejar na frente dele, tu vai virar almoço de urubu.
☆°•Han Jinsung•°☆
Então é isso aí mermo. Ou eu consigo trampo...
☆°•Han Jinsung•°☆
Ou cês podem me enterrar.
Eles se entreolhara. O primeiro pegou o rádio e falou algo baixinho. Depois de um tempo, fez sinal com a cabeça.
☆°•PK•°☆
Sobe. Mas anda na linha. Não fala merda. Não encara ninguém. E nem pensa em mentir.
Subi com a alma vibrando em nervosismo. O barraco era no alto mesmo, com a vista que alcançava até o asfalto lá embaixo. Um segurança com cara de serial killer abriu a porta.
Lá dentro, ele tava sentado.
Minho.
O Magnata.
Camisa regata preta, corrente grossa de prata, cigarro de maconha no canto da boca e olhar mais frio que já vi na vida. Tinha presença. Silêncio onde ele tava virava respeito. Ou medo.
☆°•Lee Minho•°☆
*sopra a fumaça do cigarro e olha Jisung.*
Tu que quer trampo?
☆°•Han Jinsung•°☆
Sou eu mesmo. Han Jisung.
☆°•Lee Minho•°☆
Nome bonito...
☆°•Lee Minho•°☆
Pena que nome bonito não vale porra nenhuma aqui em cima.
Ele soltou a fumaça novamente, olhando pra mim como se enxergasse cada trauma, cada medo, cada anseio, cada cicatriz do meu corpo.
☆°•Lee Minho•°☆
*Olhando nos olhos de Han.*
Qual foi tua última opção antes de subir?
☆°•Han Jinsung•°☆
Nenhuma. Ou era isso, ou deixar meu irmão virar estatística.
Ele deu uma risada seca, sem humor. Levantou e caminhou devagar na minha direção. Parou perto. Bem perto.
☆°•Lee Minho•°☆
E teu pai? Tá onde?
☆°•Han Jinsung•°☆
vive dormindo fora.
☆°•Lee Minho•°☆
Ele não fica em casa?
☆°•Lee Minho•°☆
E ele dorme onde?
☆°•Han Jinsung•°☆
No cemitério. Tá morto.
☆°•Lee Minho•°☆
*Segurando a leve risada.*
Tua mãe?
☆°•Han Jinsung•°☆
Apanha todo dia.
☆°•Lee Minho•°☆
E teu padrasto?
minha mandíbula travou. A raiva subiu igual lava.
☆°•Han Jinsung•°☆
Um verme. Policial de merda. Vive de bater na minha mãe... e me..
☆°•Han Jinsung•°☆
*Engole em seco e trava a mandíbula novamente.*
Me faz coisas que nem um animal merece.
O Magnata não reagiu. Só se afastou, como se já soubesse.
☆°•Lee Minho•°☆
*Chama sem levantar a voz.*
Chan, Bin e Hyunjin.
Os três apareceram.
Bangchan, com cara de quem manda em tudo mesmo sem precisar falar.(Por isso ele é chamado de Reizinho.)
Changbin, veio atrás ainda me encarando, com a cara fechada.
E Hyunjin... o mais bonito, mais estranho. Alto, cabelo solto, sorriso debochado nos lábios. No morro, ele é o famoso Mano Don.
☆°•Lee Minho•°☆
Esse aqui quer um trampo.
☆°•Lee Minho•°☆
Mas aqui, a gente não dá trampo. A gente dá chance, e é só uma.
☆°•Lee Minho•°☆
Don, leva ele na escadaria da caixa d'água. Vê se ele segura.
☆°•Hyunjin•°☆
*Olha com um meio sorriso malicioso. Meio desafiador.*
Demorô, Chefia.
☆°•Hyunjin•°☆
*Olha pra Jisung e dá um estalo de língua.*
Vambora, princesa.
O caminho até a escadaria foi tenso. Ele andava devagar, como se não tivesse pressa. Falava nada.
Chegamos. Era uma área meio afastada, sem ninguém por perto.
☆°•Hyunjin•°☆
Tá pronto, princesa?
☆°•Han Jinsung•°☆
pronto pra que?
☆°•Hyunjin•°☆
Pra descobrir se tu é mais um corpo... ou mais um soldado.
Antes que eu respondesse, ele me deu um soco no estômago. Fiquei sem ar, caí de joelhos.
Mas levantei.
Sangue quente.
Raiva mais ainda.
Depois de uns dez minutos de porrada, ele parou. Levantou rindo, ofegante, a cara toda marcada.
☆°•Hyunjin•°☆
Caralho, princesa...
☆°•Hyunjin•°☆
*Passa a língua no lábio marcado.*
Tu é diferente.
☆°•Han Jinsung•°☆
*Cai no chão respirando pesado.*
Diferente pra bom ou pra ruim?
☆°•Hyunjin•°☆
*Rindo.*
Pra perigoso.
Han Jisung
Princesa
18 anos
Católico
Morador do Morro do Quilombo
Minho
O Magnata
25 anos
Católico
Dono do Morro do Quilombo
Bangchan
O Reizinho
26 anos
Agnóstico
Braço direito do Magnata
Seungmin
???
18 anos
Católico não praticante
Mora na zona sul, mas vive no Morro do Quilombo (se diz favelado por osmose)
Hyunjin
Mano Don
20 anos
Umbandista
Braço direito do Magnata
Félix
23 anos
???
Sincrético religioso
Mora em um condomínio residencial na zona sul
Changbin
Chumbinho
20 anos
Católico
Braço direito do Magnata
Jeongin
???
18 anos
Católico
Mora no condomínio Flor de Lótus (zona sul)
☆°•Autor•°☆
Todas as fotos são tiradas do Pinterest
☆°•Autor•°☆
E não, eu não achei foto melhor pros meninos
☆°•Autor•°☆
Todos os lugares que aparecem aí são fictícios também
☆°•Autor•°☆
E sim, eu peguei uma foto do Bené pra pôr no PK
Princesa perigoso PT.2
Nunca pensei que um pivete fosse tão resistente. O moleque ainda bate fraco, falta firmeza no ataque, mas a defesa? Firme igual concreto. Só precisa de treino. Uns meses comigo e vira máquina.
Sobre o papo com a família dele... ainda tô desenrolando essas paradas. Nunca liguei muito pra isso, sempre mandava alguém ir resolver. Na maioria das vezes era o Reizinho ou o Chumbinho que cuidava dessas fita. Mas esse Jisung... tem alguma coisa nele que me deixou bolado. Quando ele contou, nem precisei ouvir tudo pra sentir o sangue ferver. Já sabia que aquele bota filha da puta do padrasto dele era um lixo. E eu mesmo vou cuidar desse desgraçado.
☆°•Lee Minho•°☆
Passou no primeiro teste.
☆°•Lee Minho•°☆
*Solta a fumaça devagar e fala.*
Mas ainda não acabou. Quero tu aqui amanhã as seis da matina. Vai dar um rolezinho com o Waguinho.
☆°•Hyunjin•°☆
*Deitado na poltrona como se fosse rei.*
Qual vai ser o vulgo do muleque?
☆°•Lee Minho•°☆
*Olhando pra Jisung com uma sobrancelha arqueada.*
Quer escolher?
☆°•Han Jinsung•°☆
*Da de ombros, todo largado.*
Ah, não me amarro nessas paradas, não. Desde que não seja um nome ridículo...
☆°•Hyunjin•°☆
*Com um sorrisinho de canto, que vem sempre antes da maldade.*
Princesa.
☆°•Lee Minho•°☆
Tá aí, gastei.
☆°•Lee Minho•°☆
*Sorrindo e tragando o cigarro até a ponta.*
Combina com a carinha dele. Bonitinho, mas perigoso.
☆°•Hyunjin•°☆
*Gargalhando.*
Vão zoar ele até dizer chega.
☆°•Lee Minho•°☆
Deixa zoar. se aguentar, ele fica. se não aguentar... vaza.
Nesse mundo, ou tu aprende a rir da porra toda, ou tu vira estatística.
Jisung ficou quieto. Deu pra ver o maxilar dele travado, mas nem reclamou. Só assentiu, com os olhos pegando fogo. Gostei disso.
☆°•Lee Minho•°☆
Tá liberado, Princesa. Vai pra cada, dorme bem, que amanhã começa tua nova vida.
Ele se virou e saiu com o mesmo silêncio que chegou. Quando bateu a porta, Hyunjin me olhou.
☆°•Hyunjin•°☆
Tá mesmo botando fé nesse moleque?
☆°•Lee Minho•°☆
Ainda não. Mas tô curioso.
☆°•Hyunjin•°☆
Curioso... ou atraído?
☆°•Lee Minho•°☆
Vai tomar no cu, Hyunjin!
Respondi rindo, jogando a bituca no cinzeiro.
Mas a verdade? Nem eu sabia a resposta.
Pietro Kauã
PK
22 anos
Soldado do Magnata
Wagner
Waguinho
20 anos
Vapor do morro
☆°•Autor•°☆
O resto apresento no decorrer da história.
Pivete Jotinha
Acordei era cinco da matina. Nem precisou despertador, o corpo já tava no modo alerta. Minha mãe sabia mais ou menos no que eu tava me enfiando… não menti pra ela, só pro traste do marido dela. Se ele me pega nessas fita, eu tô fudido... literalmente.
Desci pra cozinha, tomei um café puro, preto e amargo igual a vida. Quando me sentei na mesa, o desgraçado chegou com aquela voz nojenta.
☆°•Diogo•°☆
*sentando a mesa.*
Ôh, filho da puta, fica com teu piolho aí. Tua mãe vai ter que ir no posto fazer uns exames.
eu só consegui pensar: Fudeu.
peguei meu celular mandei uma mensagem pro Don.
Guardei o celular no bolso e fui lá acordar o Jotinha, meu irmãozinho. O moleque tinha uns quatro anos, cinco talvez. Não fala muito, mas tem um olhar esperto, ligeiro até demais pra idade.
☆°•Han Jinsung•°☆
*Balançando ele de leve, falando baixo.*
Bora, menor, levanta aí. Vai dar um rolezinho com o irmão hoje.
Ele piscou os olhos devagar, ainda todo enrolado no sono, mas levantou sem reclamar. Vesti a camisa mais decente que eu tinha, botei um boné pra esconder a cara de sono e enfiei o chinelo no pé.
Subi com ele pela quebrada, o sol ainda nem tinha nascido direito. O morro tava calado, só dava pra ouvir os galos gritando e um ou outro cachorro latindo de canto. Chegando na laje onde o Magnata fazia as entregas, vi ele encostado, fumando um cigarro de palha e olhando o céu.
☆°•Han Jinsung•°☆
*Segurando a mão do irmão.*
Aí, trouxe o moleque.
☆°•Lee Minho•°☆
*Olhando o menino de cima a baixo.*
É esse aí?
☆°•Han Jinsung•°☆
É meu irmão, Don disse que tu ia segurar ele hoje.
☆°•Lee Minho•°☆
Tá, entra aí.
*Aponta com a cabeça.*
Dá um suco pro muleque e deixa ele com a tia Marlene.
☆°•Lee Minho•°☆
Mas vê se na demora. Waguinho já tá te esperando lá embaixo.
☆°•Han Jinsung•°☆
Valeu, Magnata. Tu é brabo.
Soltei o Jotinha com a tia Marlene, dei um beijo na testa dele e falei que eu voltava mais tarde. Ele só assentiu, sério como sempre, e entrou.
Quando desci a viela, lá tava o Waguinho. Grandão, sorriso torto, camisa do Flamengo, e o radinho preso no short.
☆°•Waguinho•°☆
Eai, princesa. Dormiu bem?
☆°•Han Jinsung•°☆
*Passa a mão na nuca.*
Nem dormi.
☆°•Waguinho•°☆
Bora, então, que hoje tu vai ver como que funciona o corre de verdade.
E ali começou meu segundo teste.
O passeio com o Waguinho não era bem um passeio, né? Era trampo, corre de responsa. Ele me passou umas cinco bolsinhas pequenas, cada uma com um endereço diferente — quase tudo condomínio de luxo. Os playboy nem sonha onde tão se metendo.
A gente desceu da moto em frente ao primeiro prédio, lá no Jardim Pernambuco. Waguinho me entregou a encomenda e disse:
☆°•Waguinho•°☆
Tu vai ter que subir, Princesa. Quero ver se tu tem postura de patrão.
Peguei o pacotinho e entrei pelo portão lateral, como se eu fosse motoboy. O porteiro nem olhou na minha cara, já foi liberando o elevador de serviço.
Quando o playboy abriu a porta, nem me encarou. Tava de óculos escuros dentro de casa, camisa aberta no peito, com cheiro de cigarro de erva no ar. Me entregou o dinheiro enrolado e disse:
Playboy qualquer
Diz pro Magnata que eu quero mais da branca semana que vem.
Só assenti com a cabeça, virei e fui embora calado. O Waguinho tava lá embaixo, rindo:
☆°•Waguinho•°☆
Viu? Esses cara compra droga igual compra delivery.
E assim foi o dia todo. Um prédio aqui, outro ali, um monte de riquinho pagando caro pra se afundar em coisa que nem entende. A diferença entre eles e a gente? Eles escolhem isso. A gente faz porque não tem escolha.
Quando deu umas três e vinte da tarde, a gente voltou pro morro. O sol batia forte na laje, o céu já tava com aquela cor alaranjada de fim de tarde. Subi as escadas do barraco do Magnata e parei na porta... pra ver uma cena que eu nunca ia imaginar.
O Magnata — aquele mesmo, cara fechado, braço fechado de tatuagens, olhar que mete medo até em polícia — tava sentado no chão com o Jotinha no colo, mostrando um carrinho de ferro velho que ele mesmo tinha consertado.
☆°•Lee Minho•°☆
Aí, ó, agora ele corre de verdade, tá vendo?
Fiquei parado ali, observando, sem saber se ria ou se chorava. Nunca tinha visto o Magnata daquele jeito. Parecia outro homem. Humano. Pai.
Ele me viu na porta, levantou devagar e botou o carrinho no chão.
☆°•Lee Minho•°☆
*Passando a mão nos cabelos da criança.*
Teu irmão é sangue bom. Caladinho, mas esperto.
☆°•Han Jinsung•°☆
Obrigada por cuidar dele...
☆°•Han Jinsung•°☆
De verdade.
Ele só assentiu, como quem diz “não precisa falar mais nada”.
Peguei o Jotinha no colo e ele encostou a cabeça no meu ombro, já meio mole de sono. Desci com ele nos braços, coração pesado, cabeça cheia. O mundo era cruel, mas às vezes, só às vezes, ele dava uma trégua.
Diogo
Rato
38 anos
???
Morador do Morro
Polícia corrupto
☆°•Autor•°☆
Sorry, mas deu preguiça de perder meu tempo caçando foto boa pra esse merda. ;-;
João
Jotinha
4 anos
???
Morador do Morro do Quilombo
Irmão de Jisung
☆°•Autor•°☆
Meus personagens tem ig
☆°•Autor•°☆
O meu é @m_jeongin.a
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