Liam Caccini
Filho do meio da tradicional e influente família Caccini — uma das mais respeitadas da Itália — Liam sempre soube que carregar um sobrenome poderoso vinha com responsabilidades e vigilância constantes. Desde jovem, aprendeu a medir cada palavra, cada gesto, cada decisão. Viver sob os holofotes da elite italiana o tornou um homem cauteloso, reservado e extremamente racional.
Aos 17 anos, sua vida mudou drasticamente: tornou-se pai. A experiência, em vez de trazer alegria, o marcou com traumas profundos. A mulher com quem teve seu filho nunca demonstrou amor verdadeiro pela criança — apenas interesse pelo prestígio e fortuna da família Caccini. Como resultado, o garoto cresceu ouvindo histórias distorcidas sobre o pai, carregando ressentimentos que Liam nunca conseguiu apagar.
Liam não é um pai exemplar — ele sabe disso. Na verdade, ele carrega essa culpa como sua maior falha. Frio, metódico e muitas vezes emocionalmente inacessível, ele acredita que proteger os outros é sinônimo de manter distância. E talvez por isso seus relacionamentos sempre tenham sido marcados por fracassos silenciosos.
Agora, aos 38 anos, Liam enfrenta um novo dilema: depois de anos adiando um casamento por pura conveniência, ele enfim teve coragem de pôr um fim definitivo ao noivado com Cristiane Tonini, a mulher que dizia amá-lo, mas que, ao ser rejeitada, decidiu destruí-lo publicamente. Em questão de dias, sua reputação — já fragilizada — foi arrastada pela mídia, tornando-o alvo de escândalos e julgamentos.
Frio nos negócios, mas com o emocional soterrado sob camadas de mágoas mal resolvidas, Liam tenta reconstruir sua imagem... e sua vida. O que ele não esperava, era que o verdadeiro desafio ainda estivesse por vir — na forma de uma jovem determinada, com um olhar que o desarma mais do que qualquer crise empresarial.
Thabita Bianchi
Ser ítalo-brasileira sempre foi motivo de orgulho para Thabita, mesmo que parte de suas raízes venha acompanhada de lembranças e sentimentos complicados. Nascida na Itália, mas criada no Brasil pela mãe — uma mulher forte e afetuosa — e por um padrasto de conduta questionável, Thabita aprendeu desde cedo a se virar sozinha. Seu pai biológico, um empresário influente italiano, esteve presente apenas à distância: pagava cursos, enviava presentes caros e garantia que ela tivesse "o melhor". Mas carinho, presença e amor genuíno? Isso nunca chegou.
Apesar disso, Thabita nunca se fez de vítima. É resiliente, determinada e dona de uma maturidade que vai além da sua idade. Seu senso de justiça é forte, e ela não se cala diante do que considera errado. É doce com quem ama, mas firme com quem tenta subestimá-la — o tipo de pessoa que sorri com leveza, mas não abaixa a cabeça para ninguém.
Ao completar 20 anos, ela decide retornar à Itália. Mas longe do luxo, dos holofotes e do caos que envolvem o sobrenome do pai e seus meio-irmãos. Estabelece-se em Florença, onde abre uma pequena e aconchegante cafeteria, construída com esforço e paixão. Durante o dia, trabalha com dedicação. À tarde, estuda na faculdade. E à noite, relaxa ao lado das poucas, porém verdadeiras, amigas que conquistou ali.
Sua rotina simples e organizada ganha um toque inesperado quando se envolve com Agustín Caccini, o carismático — e problemático — herdeiro de uma das famílias mais poderosas da Itália. Durante um tempo, ela acreditou que havia algo real entre eles, mesmo que o universo de Agustín fosse completamente diferente do seu. Mas a realidade se impôs: Agustín era imaturo, egocêntrico e acreditava que sua posição social o autorizava a brincar com os sentimentos alheios.
O namoro não durou mais de um ano. E terminou de forma amarga, quando Thabita descobriu que havia sido traída — mais de uma vez. Ele, com sua arrogância habitual, tentou justificar o imperdoável com frases do tipo: "isso é normal no nosso mundo". Para ela, não era. Nunca seria.
Cansada de ser subestimada por homens com sobrenomes pesados e egos frágeis, Thabita decidiu seguir sozinha. Seu coração ainda está ferido, mas sua força continua intacta. O que ela não esperava era que, no meio do seu recomeço, acabaria presa em uma ilha com Liam Caccini — ninguém menos que o pai de Agustín e o homem que, até então, era só mais um símbolo do mundo que ela rejeitava.
Só que Liam não é o que ela imaginava. E o que começa como desconforto logo vira tensão… da mais perigosa.
Milla Silva
Milla Silva é o furacão em forma de mulher que ninguém vê chegando — e, quando chega, é impossível ignorar. Brasileira nata, desbocada com charme, carismática sem esforço e dona de uma presença que ocupa qualquer espaço, ela está sempre a um passo entre o caos e a diversão.
Melhor amiga de Thabita Bianchi desde a adolescência, Milla decide tirar umas semanas de férias para visitar a amiga na Itália, em busca de boas risadas, vinho barato e, quem sabe, uma aventura passageira. Só não imaginava que o destino lhe entregaria tudo isso — e muito mais — dentro da casa de uma das famílias mais poderosas (e mais complicadas) do país: os Caccini.
Sem saber, Milla cai direto no centro de uma tempestade emocional e social, onde lealdades são frágeis, amores são perigosos e cada gesto tem peso político. E no meio disso tudo, ela cruza o caminho de Vittorio Caccini, o irmão mais velho de Liam — um homem que carrega no olhar o peso de décadas de silêncio, controle e segredos não ditos.
Vittorio é tudo o que Milla costuma evitar: sério, tradicional, metódico e com uma postura impecável que grita "distância". Só que por trás daquela fachada fria, ela enxerga algo mais — e, pior (ou melhor?), ele também vê algo nela que não esperava encontrar. O choque entre os dois é inevitável: ela, puro instinto e liberdade; ele, feito de contenção e regras. A química entre eles é como fogo em pólvora: intensa, perigosa e difícil de apagar.
Milla, que nunca quis compromisso, se vê enredada em um jogo de olhares, provocações e conversas carregadas de tensão emocional. E quando se dá conta, está não só envolvida com o homem mais fechado dos Caccini, mas também com os segredos que ele passou a vida inteira tentando proteger.
Entre cafés em Florença, jantares silenciosos e noites que prometem mais do que descanso, Milla vai descobrir que, às vezes, o amor verdadeiro não grita — ele apenas permanece. E que, mesmo nos lugares mais improváveis, corações partidos ainda podem encontrar abrigo.
Vittorio Caccini
Vittorio Caccini é o primogênito da poderosa família Caccini, e carrega nos ombros não apenas o peso do sobrenome, mas também o legado silencioso de quem sempre precisou ser o pilar. Diferente de Liam, que domina os holofotes e conduz o jogo social com naturalidade, Vittorio prefere o silêncio das decisões nos bastidores, onde o verdadeiro poder é exercido sem alarde.
Elegante, reservado e extremamente controlado, Vittorio é um homem de rotinas meticulosas, fala pausada e olhar que parece atravessar camadas. Seu mundo é feito de disciplina, responsabilidade e obrigações cumpridas com precisão quase obsessiva. Ele não vive para agradar — vive para manter tudo em ordem. E, por isso, é muitas vezes confundido com frieza.
Mas Vittorio não é frio. É apenas alguém que aprendeu a suprimir sentimentos em nome do dever. Enquanto Liam escolheu o caminho da ousadia, da paixão e dos riscos, Vittorio se tornou o guardião da reputação da família, o homem das decisões difíceis, aquele que sempre colocou os outros à frente de si mesmo. Nunca casou. Nunca se permitiu falhar. Nunca teve tempo para amar — ou assim ele gosta de acreditar.
A chegada de Milla Silva, com seu jeito livre, seu sotaque arrastado e seu riso escancarado, é um abalo em sua estrutura de concreto. Milla representa tudo o que ele evitou a vida inteira: o imprevisível, o caótico, o espontâneo. E mesmo assim — ou por causa disso — ele não consegue ignorá-la.
A atração entre eles é improvável, desconcertante e incômoda. Milla o provoca sem pedir licença, desafia seus limites com sorrisos, e bagunça sua mente com verdades simples. E Vittorio, que sempre teve controle de tudo, começa a perceber que há vida além do dever... e que talvez seja tarde para ignorar o que sente.
Em um mundo onde todos desempenham papéis cuidadosamente calculados, Vittorio começa a questionar quem ele é — e o que ainda pode ser — quando está ao lado de uma mulher que o enxerga por completo, inclusive nas partes que ele próprio havia enterrado.
LIAM
Arremesso o tablet longe com força. Era tão simples. Tão malditamente simples. Como é que ninguém consegue fazer as coisas direito?
— Desculpe. — diz Igor, meu assistente, abaixando-se para pegar o aparelho no chão. — Tentamos de tudo. A senhorita Tonini pagou as páginas de fofoca antes que chegássemos. E mesmo oferecendo o dobro... ninguém quis alterar as publicações. — ele explica, sem conseguir esconder o desconforto.
Sete anos da minha vida desperdiçados ao lado de Christiane Tonini. Um erro monumental. Eu já conheci mulheres perigosas, mas Christiane... Christiane é movida a vingança. Uma versão socialmente aceitável da Ellen — só que com mais maquiagem, menos limites e uma obsessão patológica por destruir minha reputação.
— O que devemos divulgar à imprensa, senhor?
— A mesma nota de sempre. — respiro fundo. — Diga que o casamento foi cancelado por falta de cumplicidade. Que nunca houve amor verdadeiro. Apenas sexo e negócios. Não seria mentira.
— Sim, senhor. — Igor acena, saindo da sala em passos silenciosos.
Mal ele fecha a porta, outra se abre. E minha mãe entra como se flutuasse, o sorriso dela tão largo que seria capaz de iluminar a cidade inteira.
Dona Irelia Caccini, sempre elegante, sempre no controle, sorri como se tivesse acabado de ganhar na loteria. E eu odeio isso. Odeio o quanto ela parece satisfeita com o meu fracasso amoroso.
— Diga, Mama... — murmuro, sem esconder o tédio.
— Vai participar do jantar da família neste fim de semana? — ela pergunta direto, como quem já conhece a resposta, mas quer ouvir da minha boca.
— Não. — respondo seco. — Deixe essa tarefa para o Vittorio este ano. Ele adora essas formalidades. Vou viajar depois de amanhã.
O sorriso dela não some. Pelo contrário, parece até crescer.
E, sinceramente, isso me preocupa mais do que qualquer manchete.
O sorriso dela não diminui. Pelo contrário, cresce. Um pouco mais afiado, um pouco mais satisfeito. É nesses momentos que entendo perfeitamente de onde Christiane tirou as lições de manipulação dela. Comparada à minha mãe, a Tonini era só uma aluna aplicada.
— Já esperava por essa resposta. — Irelia diz, andando pela sala como se fosse dela. Seus dedos deslizam casualmente pelos móveis, analisando cada detalhe do ambiente, como se procurasse algo fora do lugar ou dentro de mim.
— Então por que perguntou? — retruco, afundando na poltrona com um cansaço que não é físico.
— Porque sou sua mãe, Liam. E gosto de fingir que você ainda tem um pouco de respeito pelas tradições da nossa família. — Ela para em frente à janela, de costas para mim. — Ou pelo menos pelo seu pai. Ele ficará desapontado.
— Ele já vive desapontado comigo, Mama. Não será novidade. — minha voz sai mais dura do que o necessário, mas verdadeira. — Mande flores em meu nome. Faço questão que sejam caras.
Ela se vira devagar. A expressão ainda é serena, mas seus olhos... os olhos da minha mãe dizem tudo que ela não precisa verbalizar. Olhos que viram mais do que deviam, olhos que aprendem rápido e esquecem devagar.
— Você pode fugir da Christiane, da imprensa, dos almoços em família... Mas não vai conseguir fugir do que está se tornando. — ela diz, num tom baixo, quase gentil. — Frio. Amargo. Cínico.
Dou uma risada curta.
— E você queria o quê? Que eu saísse dessa história cantando ópera e acreditando no amor?
— Não. — ela responde, com um leve arquear de sobrancelha. — Queria apenas que fosse mais como o Vittorio.
Claro. Sempre o Vittorio. O perfeito, o equilibrado, o diplomático. O irmão que faz tudo certo e nunca perde o tom. A versão masculina da nossa mãe, em versão envelhecida e mais silenciosa.
— O Vittorio pode ficar com o jantar da família. Com o aplauso do papai. E com as conversas sobre política e vinhos caríssimos. — digo, levantando-me. — Eu só quero distância. De tudo. E de todos.
— Inclusive de você mesmo?
A pergunta paira no ar, como uma taça prestes a cair no chão. Mas não respondo.
Minha mãe me observa por mais alguns segundos, então solta um suspiro pesado, como se carregasse o peso do mundo nos ombros — ou como se quisesse que eu acreditasse nisso.
— A vida vai te cobrar, Liam. E um dia, quando não tiver mais ninguém pra culpar, vai entender que se afastar é fácil. Difícil mesmo é permanecer inteiro quando se escolhe ficar.
Ela se vira e caminha até a porta, pausando apenas por um segundo antes de sair:
— Boa viagem, figlio mio. Espero que, dessa vez, encontre algo... ou alguém... que te faça querer voltar.
THABITA
Termino de ajeitar a vitrine com cuidado, enquanto a Paolla atende os poucos clientes que ainda restam.
O movimento anda fraco nos últimos dias — talvez porque as aulas ainda não começaram e esse bairro funciona mais como um point estudantil, ou talvez porque, como no ano passado, os Caccini estão prestes a dar início à festa anual deles. Quando esse clã organiza algo, parece que a cidade inteira para.
Ano passado, infelizmente, eu estive nessa festa. Fui como acompanhante do Agustín, o que por si só já foi um erro. A celebração era linda, glamourosa, e a maioria da família dele era um verdadeiro encanto. Mas ter que passar o dia inteiro ouvindo meu então namorado reclamar do pai, para depois sumir misteriosamente e ser encontrado se enroscando com outro homem? Não foi o tipo de lembrança que se guarda com carinho.
Encaro o bolo na vitrine. Fiz ele com tanto cuidado, cada detalhe confeitado com uma delicadeza quase poética. Dá até pena de cortar e servir.
Foi assim que tratei o meu relacionamento também: com carinho, paciência e entrega. E mesmo com toda a raiva que senti de Agustín, jamais o expus. Engoli a dor, me reconstruí em silêncio. Porque se tem uma coisa que herdei da minha mãe foi dignidade — mesmo nos piores momentos.
— Terra chamando Thabita! — A voz de Paolla me puxa de volta. — Você de novo viajando no tempo, garota.
— Me peguei pensando na festa dos Caccini. — respondo, tirando o olhar do bolo.
— Aiii, era sobre isso que eu ia falar com você! — Paolla arranca o avental e caminha até mim, animada. O café está vazio, o que nos dá esse breve respiro de conversa. — Eu queria muito ir! Tipo, muito mesmo!
— Pode ir, Paolla. — digo, com um sorriso pequeno. — A cafeteira já não ia abrir esse final de semana mesmo. Esqueceu que eu vou embarcar naquele cruzeiro?
— Meu Deus! É verdade!
A Paolla é minha única funcionária — e uma das poucas pessoas em quem realmente confio aqui na Itália. Foi uma daquelas amizades inesperadas que a vida entrega quando você menos espera, mas mais precisa.
— Ai, eu ia amar passar um final de semana inteiro num cruzeiro. — ela diz, voltando ao caixa, já sonhando acordada.
Bem... eu não estou exatamente animada como ela estaria. Mas meu pai insistiu, pagou tudo, e dessa vez o motivo é mais nobre: uma aula especial com o renomado chef francês Edmond Clear. Uma oportunidade única de aprender com um dos melhores do mundo.
...❤️...
Assim que fecho a última persiana do café, ouço o som familiar do corpo da Paolla despencando no chão. Ela se senta no cantinho mais próximo e já está com o celular nas mãos, os dedos deslizando com a velocidade de alguém que nasceu para ser digital.
Minha amiga é cronicamente online — o que faz todo sentido, considerando que é formada em Relações Públicas. Metade da vida dela acontece ali, entre tweets, stories e fofocas de celebridades que ninguém pediu, mas todo mundo quer saber.
— Qual a fofoca quente de hoje? — pergunto, trancando a porta com a chave e me jogando no pufe atrás do balcão.
— Nada de muito novo. — responde, sem desviar os olhos da tela. — Só a Christiane Tonini fazendo o que ela faz melhor: acusar o Liam Caccini de ser um péssimo namorado.
Reviro os olhos com um suspiro. A novela eterna.
— Juro que não entendo essa mulher. — digo. — Eles namoraram por sete anos, ficaram noivos, nunca moraram juntos, ele adiou o casamento seis vezes! Como é que ela ainda perde tempo com ele?
— Bem... o Liam é um Caccini. — Paolla responde com aquele tom irônico e cheio de duplo sentido.
— Se é isso que ela pensa, então ela não é muito melhor do que ele. Ficar em um relacionamento só por causa de dinheiro e influência? Francamente.
— Tata... — Paolla levanta os olhos do celular, cruzando as pernas no chão. — Gente rica lida com problemas de forma completamente disfuncional. Olha pro seu pai! Se divorciou e tá agindo como se o mundo estivesse acabando. Como se ele fosse o único homem abandonado da face da Terra.
Ela ri, debochada, e eu acabo rindo junto. Porque, infelizmente, ela tem razão.
— Bem, isso é um fato inegável. — admito, pegando meu próprio celular.
Abro uma notificação e lá está mais uma matéria sobre Luigi Bianchi. A ex-mulher dele está acusando meu pai de traição agora. Francamente? Eu duvido muito.
Meu pai tem muitos defeitos — e a lista é longa —, mas infidelidade nunca foi um deles. Ele é orgulhoso demais pra esse tipo de escândalo. Prefere acabar com tudo antes de se sujar assim. Se o casamento terminou, foi por outras mil razões. E provavelmente a culpa foi dos dois.
Suspiro, deslizando o dedo pela tela. É impressionante como as coisas ganham proporções gigantescas só porque alguém tem um sobrenome importante.
Mas, ainda assim, ser filha de um homem poderoso não me impede de sentir o peso das consequências. Mesmo quando as fofocas não são sobre mim... de certa forma, elas sempre me atingem.
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