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Pétalas Presas ao Galho

Prólogo - As coisas que nunca foram, ditam o silêncio

Narrado por Hinata Hyuuga

Eu não chorei quando Naruto me contou que amava Sasuke.

Nem quando o vi de mãos dadas com ele, no final da última missão conjunta, os dedos entrelaçados como se o mundo inteiro tivesse esperado por aquilo.

Senti, sim, um tipo de silêncio que se instala por dentro, como uma porta fechada sem tranca. Um vazio que não era fúria nem tristeza, apenas... ausência.

Ausência de uma história que nunca começou.

Ausência de um amor que existiu só em mim.

E tudo bem.

Afinal, quem nunca foi correspondido sabe que amar também é aceitar sumir do final feliz do outro.

Naquela manhã, o salão do clã Hyuuga parecia mais gelado que o habitual.

O chá esfriava antes mesmo de tocar os lábios.

As paredes brancas refletiam a rigidez dos que estavam ali.

Meu pai me chamou sem aviso.

Quando entrei, Neji já estava presente — calado, com as mãos cruzadas às costas, o olhar fixo no chão.

Hiashi Hyuuga se mantinha ereto, como se fosse uma continuação da tradição que o moldou.

— Hinata, precisamos falar sobre o futuro da linhagem principal. — ele disse, direto, como sempre.

Meu estômago se fechou.

O "futuro da linhagem" nunca era um assunto neutro.

— Com os recentes acontecimentos e as rupturas que se instalaram, o conselho tomou uma decisão.

Olhei para Neji.

Ele permanecia imóvel.

— Um casamento será necessário.

Silêncio.

— Você irá se casar com Neji.

O mundo não caiu.

Não houve explosão, nem grito, nem lágrimas.

Apenas... a mesma ausência.

Olhei para meu primo, e só então ele me encarou.

Seu rosto estava rígido, mas não frio.

Havia algo ali. Um incômodo que ele não sabia disfarçar.

— Isso não pode estar acontecendo. — murmurei, mesmo sabendo que já estava.

— A união entre vocês garantirá estabilidade e pureza à linhagem. — disse meu pai, como quem anuncia uma cerimônia e não uma sentença.

— Não somos peças no tabuleiro do clã. — retruquei.

Mas minha voz soou baixa. Sem força.

Talvez porque parte de mim estivesse cansada demais para lutar.

Nos dias que seguiram, evitei todos.

Passei longas horas no campo de treino, acertando alvos que não existiam, suando até as roupas grudarem na pele.

Tentei escapar da realidade pelo corpo, já que a mente me prendia no que não queria pensar.

Naruto tentou falar comigo.

Nos encontramos por acaso no mercado. Ele me viu, hesitou, depois se aproximou.

— Hinata, sobre tudo que aconteceu…

— Está tudo bem. — falei antes que ele terminasse. — Vocês dois estão... onde deveriam estar.

— Eu nunca quis te machucar.

— E não machucou.

Mas é claro que doeu.

Não por maldade.

Mas porque... era o último fio de ilusão que eu segurava.

A notícia do casamento se espalhou rápido.

Tenten veio até mim, constrangida, tentando não parecer aliviada.

— Neji e eu já não estávamos bem... — disse ela. — Mas quero que saiba que não foi por isso. Que não...

— Eu sei. — cortei, suave. — Não se preocupe, Tenten.

Ela também não tinha culpa de estar apaixonada por outra pessoa.

Por Rock Lee, de todos. Mas quem sou eu pra julgar o improvável?

No fim daquela semana, a cerimônia de noivado foi selada.

Vestida de branco, com flores presas ao cabelo, ouvi os anciãos falarem da importância da continuidade.

Vi os olhares satisfeitos do conselho.

E os olhos de Neji... presos aos meus.

Não havia amor entre nós.

Havia história.

Havia dor.

E, acima de tudo, havia o peso de carregar um nome maior que nossas vontades.

Depois da cerimônia, ele me levou até o jardim interno do templo.

O mesmo onde costumávamos treinar quando éramos crianças.

— Eu não queria isso. — ele disse, direto.

— Nem eu.

Ficamos um tempo em silêncio.

Ele então completou, com a voz mais baixa que já ouvi nele:

— Mas se vamos seguir com isso...

Que seja do nosso jeito.

Eu não entendi de imediato.

Mas alguma parte de mim... sentiu alívio.

Porque pela primeira vez, Neji não estava contra mim.

Ele estava ao meu lado.

Mesmo sem saber como caminhar.

Às vezes me pergunto se é possível construir algo verdadeiro sobre ruínas.

Se um amor forçado pode, um dia, se tornar escolha.

Mas talvez...

Talvez o que começa em silêncio também possa florescer —

Mesmo que seja entre espinhos.

 

O silêncio entre nós

Narrado por Hinata Hyuuga

O céu de Konoha estava pintado em tons de dourado e lilás quando atravessei os portões da vila. O ar da tarde trazia o cheiro suave de madeira queimada, misturado ao perfume distante de flores silvestres que cresciam nos jardins. A missão havia durado quatro dias — curtos para um shinobi, mas suficientes para me deixar com o corpo cansado e a mente saturada de silêncio.

Era sempre assim quando voltava de longe. Por mais que houvesse conversas entre os membros da equipe, risadas ou trocas de informações, eu sentia um espaço entre mim e o mundo. Um lugar quieto, só meu, onde cabiam meus pensamentos… e ele.

Naruto.

Apenas pensar no nome me fazia respirar diferente. Era como se cada letra tivesse um peso suave, familiar, que me ancorava mesmo quando estava perdida. Ao longo dos anos, aprendi a esconder esse sentimento com a mesma habilidade com que escondia um selo de jutsu. Mas ele estava lá, sempre. No campo de batalha, nos intervalos de treino, nas noites longas em que o sono teimava em não vir.

Enquanto caminhava pelas ruas, as luzes começavam a acender nas casas. Crianças corriam, mães chamavam seus filhos para dentro, e o som distante de uma canção popular ecoava de uma janela aberta. Tudo parecia tão normal, e eu, por um instante, imaginei que minha vida também pudesse ser assim — simples, previsível, feliz. Imaginei… nós dois, dividindo o mesmo teto, talvez discutindo coisas pequenas como o tempero do jantar ou quem varreria o quintal. Coisas que nunca seriam parte da vida de um shinobi, mas que, para mim, eram preciosas justamente por serem impossíveis.

Fechei os olhos por um momento enquanto caminhava. Vi Naruto sorrindo para mim, não o sorriso radiante e aberto que ele oferecia a todos, mas um mais contido, reservado, como se fosse só meu. Vi nossas mãos se encontrando naturalmente, sem hesitação. Vi um futuro que existia apenas na minha cabeça… mas que, ainda assim, me aquecia por dentro.

Quando abri os olhos, o caminho que escolhi não foi o que levava à mansão Hyuuga. Meus pés, guiados por um impulso quase infantil, me levaram para mais perto do centro da vila — para o lugar onde, instintivamente, eu sabia que poderia encontrá-lo.

A praça principal estava menos movimentada àquela hora, mas ainda havia vendedores fechando barracas e alguns casais caminhando lentamente. Foi então que o vi. Naruto, parado perto da fonte central, a luz alaranjada do entardecer desenhando um brilho dourado no cabelo dele. Meu coração reagiu antes da minha mente. A batida acelerou, e a respiração ficou leve, quase trêmula. Por um instante, hesitei em me aproximar, observando-o de longe. Ele estava de costas para mim, mas a postura relaxada denunciava que não estava em guarda, não estava pensando em batalha.

E então percebi que ele não estava sozinho.

Sasuke estava ali, de frente para ele. A cena, à primeira vista, poderia ter sido apenas mais um reencontro tranquilo. Mas havia algo na forma como se olhavam — um silêncio denso, carregado de coisas não ditas. Sasuke estava mais próximo do que seria casual. E Naruto… Naruto sorria de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Não era o sorriso largo e inocente. Era menor, mais suave, íntimo.

Antes que eu pudesse recuar, aconteceu. Sasuke ergueu uma mão, tocando o rosto de Naruto, e o puxou levemente para frente. Naruto não resistiu. Pelo contrário — fechou os olhos, como se já estivesse esperando. Os lábios se encontraram em um gesto breve, mas profundo. Um beijo que não precisava ser prolongado para dizer tudo.

Foi como se o som ao meu redor desaparecesse.

A fonte continuava jorrando água, mas eu não ouvia. As vozes dos poucos passantes se dissolveram no ar. Só restou aquele instante, preso nos meus olhos, queimando na minha mente. Senti o chão firme sob meus pés, mas ao mesmo tempo, era como se eu estivesse caindo — lentamente, sem fim.

Meu corpo não se moveu. Parte de mim queria virar as costas e ir embora. Outra parte… simplesmente não conseguia. Eu me obriguei a olhar para longe, para qualquer outra coisa, mas a imagem já estava gravada. Não havia retorno.

Eu sabia que não tinha direito de sentir aquilo. Naruto não me devia nada. Nunca houve promessa, nunca houve reciprocidade. Só que o amor, quando é verdadeiro, não segue lógica. Ele dói mesmo quando não tem razão para doer.

Um nó se formou na minha garganta, seco, pesado. Não havia lágrimas, porque não era um choro que queria sair. Era outra coisa. Uma ausência. Como se uma porta tivesse se fechado dentro de mim, deixando para trás um cômodo vazio.

Quando finalmente consegui me mover, meus passos foram lentos, quase cuidadosos, como se qualquer movimento brusco pudesse despedaçar algo que eu ainda segurava. Não olhei para trás. Não precisava. Aquela cena estava tatuada na parte mais vulnerável da minha memória.

Segui por ruas estreitas, evitando as áreas mais iluminadas. A cada passo, as imagens voltavam — o toque, o sorriso, o jeito como o mundo parecia caber apenas nos dois. E eu? Eu era a espectadora silenciosa, a sombra que observa e depois desaparece.

Quando cheguei à mansão Hyuuga, a noite já havia tomado conta do céu. Não entrei de imediato. Fiquei parada diante do portão, observando a lua entre as nuvens. A mesma lua que iluminava cada canto da vila, inclusive onde eles estavam. E pela primeira vez, senti que aquela luz não me alcançava.

Subi para o meu quarto sem encontrar ninguém no corredor. Tirei o casaco de missão e deixei cair no chão. Sentei-me no tatame, abraçando os joelhos. Foi aí que o silêncio se instalou de verdade. Não havia raiva. Não havia inveja. Só o eco constante do que eu tinha visto. Um eco que, eu sabia, me seguiria por muito tempo.

Fechei os olhos e respirei fundo. A lembrança do beijo não sumiu — pelo contrário, parecia ainda mais nítida. Talvez porque eu não quisesse apagá-la completamente. Parte de amar é aceitar ver a felicidade do outro, mesmo que isso signifique se excluir dela. Mas essa aceitação não vem sem custo.

Naquela noite, adormeci com a estranha sensação de que algo dentro de mim tinha se deslocado. Como uma peça que, uma vez fora do lugar, nunca mais volta exatamente para onde estava.

E eu sabia, no fundo, que aquela era apenas a primeira rachadura.

Flores queimadas

Narrado por Neji Hyuuga

A missão não foi longa, mas o corpo sentia como se tivesse atravessado uma guerra. Quatro dias fora de Konoha, carregando no ombro o peso constante da responsabilidade — e, no fundo, outro peso mais silencioso, que nada tinha a ver com o campo de batalha.

Tenten.

Nossa última conversa não havia terminado bem. Não era incomum discutirmos — ela tinha um temperamento firme, e eu, uma teimosia que herdara do sangue Hyuuga. Mas dessa vez, as palavras ficaram afiadas demais. Ela havia me acusado de frieza; eu a acusei de distração. E, como sempre, nos afastamos sem resolver nada.

Enquanto caminhava pelas ruas de Konoha, a luz suave do entardecer caía sobre os telhados, e pensei no quanto odiava deixar as coisas assim. Nunca fui um homem de gestos românticos — não precisava ser. Mas dessa vez… talvez fosse necessário. Talvez ela merecesse um sinal de que eu não queria que aquela briga fosse o último capítulo.

Foi quando passei por uma pequena floricultura na rua lateral. O cheiro doce escapava pela porta aberta, e o impulso me fez parar. As cores vivas das pétalas pareciam destoar do resto do dia, e por um instante, imaginei Tenten segurando um buquê. O sorriso que ela daria, o brilho nos olhos. O tipo de coisa que não admito em voz alta, mas que guardo para mim.

Escolhi lírios brancos e rosas vermelhas — uma combinação de paz e intensidade. Talvez fosse piegas, mas não importava. Paguei, agradeci à senhora que embrulhou as flores com cuidado, e segui em direção ao apartamento dela.

A cada passo, a exaustão parecia pesar menos. Eu não costumava fazer surpresas, mas a ideia de vê-la abrir a porta e esquecer a discussão me dava uma estranha sensação de… esperança.

Subi os degraus do prédio com calma, ouvindo o som distante de risadas vindo de outras janelas abertas. Ao chegar ao corredor, algo me chamou a atenção. A porta do apartamento dela estava encostada — não o suficiente para parecer abandono, mas também não trancada como de costume. Meu primeiro instinto foi achar que ela havia se esquecido. Mas então ouvi.

Um som abafado. Um gemido.

Fiquei imóvel por um segundo, os músculos tensos, como se o corpo tentasse decidir entre entrar ou recuar. Não queria pensar no que poderia significar. Me forcei a acreditar que ela talvez estivesse treinando com alguém, ou machucada. Mas então veio outro som. Mais claro. Mais íntimo. Não havia como confundir.

O ar no corredor parecia rarefeito. Meu peito subia e descia devagar, controlando a respiração como se estivesse prestes a entrar numa emboscada. O buquê, que antes me parecia um símbolo de reconciliação, agora pesava nas minhas mãos como um fardo inútil.

Empurrei a porta com cuidado, o suficiente para abrir uma fresta. O cheiro foi a primeira coisa que me atingiu — suor e algo mais, um perfume adocicado que não vinha das flores.

Dei mais um passo. E então vi.

Tenten estava ali, o corpo coberto apenas por lençóis desalinhados, os cabelos soltos colados à pele úmida. Ao lado dela, Rock Lee — sem a faixa na cabeça, respirando com força, o olhar cravado nela como se o mundo se resumisse àquele momento. A cama, o desarranjo, o silêncio carregado de um ato recém-consumado… tudo falava mais alto que qualquer palavra.

O som do meu próprio pulso foi o único que ouvi. Não houve explosão de raiva, nem grito. Apenas uma sensação de algo quebrando por dentro, tão profunda que quase não fez barulho. Eu sabia exatamente o que estava vendo. E, por mais que o corpo quisesse recuar, meus pés ficaram presos ao chão.

Tenten me viu primeiro. Os olhos dela se arregalaram, a boca se abriu para dizer algo, mas nada saiu. Lee se virou em seguida, um sobressalto evidente no rosto. Ele tentou se levantar, mas a vergonha o prendeu à cama.

— Neji… — ela começou, a voz trêmula. — Eu… não é o que parece.

Dei uma risada curta, sem humor.

— Não é? — perguntei, minha voz baixa, cada sílaba carregada de um gelo que eu mesmo não reconhecia.

— Nós… — ela tentou se cobrir melhor, evitando meu olhar. — Foi um erro.

— Um erro — repeti, mais para mim do que para ela. — Curioso como erros exigem tempo, oportunidade e… escolha.

Lee abriu a boca para falar, mas ergui uma mão. Não queria ouvir.

— Não tenho interesse em ouvir justificativas. — mantive o tom firme, quase calmo. — Só preciso deixar claro que… isso não tem volta.

O silêncio entre nós era mais pesado do que qualquer batalha que já enfrentei. Tenten abaixou a cabeça, talvez em vergonha, talvez em arrependimento. Mas, naquele momento, não importava. Tudo que eu tinha sentido por ela se recolhia, como um mar que, ao recuar, deixa para trás apenas pedras afiadas.

Olhei para o buquê nas minhas mãos. O papel delicado, as cores vivas, o cuidado com que havia sido montado. Passei os dedos pelas pétalas uma última vez e, sem dizer nada, deixei-o cair no chão do quarto. As flores tombaram lentamente, algumas pétalas se soltando, espalhando-se pelo tatame.

Sem esperar resposta, me virei e saí, fechando a porta com um clique suave. Mais suave do que o que eu sentia por dentro.

O caminho até a mansão Hyuuga foi longo. Não porque a distância fosse grande, mas porque cada passo parecia pesar mais que o anterior. A noite havia caído completamente, e as ruas estavam vazias. Eu caminhava com as mãos nos bolsos, sentindo ainda o perfume das flores no tecido da minha roupa, misturado ao gosto amargo da traição.

Ao atravessar os portões da mansão, não cumprimentei ninguém. Subi direto para meu quarto, fechei a porta e me sentei no chão. Não havia lágrimas. Apenas um silêncio denso, quase confortável, que preenchia o espaço onde antes havia qualquer coisa por Tenten.

Naquele instante, entendi algo simples:

A guerra fora das muralhas é brutal, mas previsível. A guerra dentro de nós é silenciosa, e não avisa quando vai começar.

E, para mim, ela tinha acabado de começar.

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