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Amor Inexistente

epílogo

“Eles repetem 'amor' como um mantra vazio, com sorrisos que não alcançam os olhos. Mas amor de verdade... esse nunca apareceu. Como acreditar no que só existe no som e nunca no gesto?”
•●•
Felix andava sempre com passos leves, como se a qualquer momento alguém fosse gritar para ele desaparecer. A mochila nas costas era leve, os cadernos organizados, as notas altas. Mas seus ombros viviam caídos. Como se cada elogio que ele recebia dos professores lhe pesasse como mais um tijolo nas costas.
Acordar era automático. Escovar os dentes, vestir o uniforme, calçar os tênis. Descer as escadas em silêncio, evitar contato visual, ouvir as risadas da irmã mais nova enquanto derrubava leite na toalha nova da cozinha e, mesmo assim, ouvir a mãe dizer:
Lee hyeon
Lee hyeon
— Ai, que gracinha! Você é toda desastrada que nem eu!
Enquanto isso, Felix pegava sua torrada queimada e ouvia:
Lee hyeon
Lee hyeon
— Não vai comer nada? Está com essa cara de morto. Depois desmaia na escola e quem paga o mico sou eu.
Ele engolia a torrada sem respirar
•●•
Na escola, ele era o "garoto exemplo". Os professores elogiavam sua educação, sua postura. Diziam que ele era "um jovem centrado e inteligente". Mas isso só servia pra afastar os colegas. Ninguém se aproxima de alguém que parece perfeito — mesmo que só por fora.
Felix passava os intervalos no pátio, no canto mais afastado, onde uma árvore antiga fazia sombra suficiente para esconder qualquer coisa — inclusive lágrimas. Ele lia. Mas não por prazer. Lia porque precisava parecer ocupado. Se não fingisse, alguém poderia tentar falar com ele. E isso era perigoso. Pessoas se aproximam. E quando se aproximam… vêem. E se verem demais, se vão.
Já Hyunjin era barulho.
Chegava na escola quase sempre atrasado, com a jaqueta voando pelos ombros e o cabelo bagunçado. Sempre sorrindo, mesmo quando tropeçava. Cumprimentava todos — até os inspetores mal-humorados. Às vezes, esquecia o dever de casa, outras vezes, fazia o dobro.
Ele se sentava no meio do caos. Era amigo dos bagunceiros, dos estudiosos, dos esquecidos. Mas não era próximo de ninguém, não de verdade. Ele se dava com todos, mas às vezes, à noite, deitava e pensava: “será que se eu desaparecesse, alguém realmente sentiria?”
A única coisa que ele sabia com certeza é que seus pais o amavam. Isso era inquestionável. E por isso, mesmo nas noites mais escuras, ele conseguia dormir.
•●•
Naquela manhã de quarta-feira, Hyunjin chegou correndo pelos portões, rindo sozinho. A professora já estava com o diário em mãos e lançou aquele olhar de censura misturado com costume.
Sra. choi
Sra. choi
— Última carteira, Hwang.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Já tô indo, professora!
Respondeu ele, ofegante.
Mas as últimas carteiras estavam todas ocupadas. Todas... menos uma. Ao lado do garoto de cabelos claros e expressão indiferente. Felix.
Por um segundo, Hyunjin hesitou. Mas logo deu de ombros, atravessou as fileiras e se jogou ao lado de Felix como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Ei... eu não ronco
Disse com um sorriso, como se esperasse arrancar uma reação.
Nada.
Felix sequer desviou o olhar da janela.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Ok, entendi...
Murmurou Hyunjin, mais para si do que para o outro
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Operação "derreter o gelo" iniciada.
Mas o gelo de Felix era espesso. E não derreteria tão fácil.

cap²

"Amor realmente vale a pena? Quando ele te rasga por dentro e ninguém nota, quando sua dor é ignorada como se fosse drama, quando o que deveria curar… só fere ainda mais? Ainda assim chamam isso de amor. Mas então… o que é o oposto?"
•●•
Hyunjin já havia passado por muitas carteiras na vida. Com os amigos, com desconhecidos, até já sentou do lado de um garoto que chorava baixinho e fingia que não. Mas nada, absolutamente nada, se comparava ao estranho silêncio de Lee Felix.
Era um silêncio que não pedia resposta. Não era desconfortável… era sufocante. Como se ao sentar ao lado dele, todo o barulho de Hyunjin fosse automaticamente engolido por um buraco invisível.
Nos primeiros três dias, Hyunjin tentou conversar.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Você sempre lê esse tipo de livro?
Silêncio.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Não vai nem fingir que ouviu?
Nada.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Sabe que eu tô começando a me sentir invisível, né?
Felix virava a página, como se aquilo fosse mais interessante que qualquer tentativa de contato.
No quarto dia, Hyunjin se jogou na carteira e apenas disse:
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Sabe, eu podia muito bem ficar falando sozinho aqui. Mas aí você me daria uma nota baixa como parceiro de grupo, então vou respeitar o seu… espaço.
Felix apenas piscou devagar, sem responder. Ele não se incomodava com a presença de Hyunjin — mas também não se importava. Pra ele, qualquer pessoa era só mais um ruído a ser ignorado.
No intervalo, Hyunjin comentou com seu melhor amigo, Jisung
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Mano, o Felix é tipo um iceberg. Mas não desses bonitinhos que flutuam. Ele é o tipo que afunda navio.
Han Jisung
Han Jisung
— Então, por que continua tentando?
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Porque ele me intriga. Ele não fala com ninguém, não tem amigos, não sorri. E mesmo assim, parece… inteiro. Tipo, ele não precisa de ninguém.
Han Jisung
Han Jisung
— Isso é assustador.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Um pouco. Mas também é triste pra caramba.
Felix ouvia.
Sempre ouvia. As pessoas achavam que ele não prestava atenção, mas era o contrário. Ele percebia tudo. A conversa dos outros, os cochichos, os risos abafados. O modo como Hyunjin falava dele não como uma piada, mas como alguém tentando entender.
Mas ele não podia se permitir responder.
Porque responder significava abrir uma fresta. E abrir uma fresta significava dar a chance de alguém entrar.
E toda vez que alguém entrava, ele sangrava.
Naquela sexta-feira, a aula de ciências terminou mais cedo, e a professora decidiu propor uma atividade em duplas. Felix sabia o que vinha a seguir.
Sra. choi
Sra. choi
— Vocês estão sentados juntos, então serão dupla
Ela disse com aquele tom automático.
Hyunjin sorriu, quase satisfeito.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Parece que o universo tá do meu lado.
Felix não respondeu.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Bom…
Hyunjin pegou o caderno
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— eu fico com a parte da pesquisa e você faz a apresentação? Ou prefere o contrário?
Silêncio.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Cara, você precisa dizer pelo menos "sim" ou "não". Jura que é tão difícil assim?
Felix levantou o olhar pela primeira vez.
Lee Felix
Lee Felix
— Eu faço tudo.
Hyunjin piscou, surpreso.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— O quê?
Lee Felix
Lee Felix
— Eu faço a pesquisa, a apresentação, o resumo. Você só precisa assinar seu nome. Não preciso de ajuda.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Mas… não é assim que uma dupla funciona.
Lee Felix
Lee Felix
— Então troca de lugar comigo e pede pra professora mudar.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Não quero trocar de lugar.
Felix voltou os olhos para frente.
Lee Felix
Lee Felix
— Então assina e cala a boca.
•●•
Foi nessa noite que Hyunjin, deitado na cama olhando pro teto, pensou:
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
💭“Ele não é só frio. Ele tá tentando sobreviver.”

cap³

"Dizem que o amor salva. Que amor é lar. Mas e quando o lar é onde te ferem mais fundo? Quando quem mais deveria te amar… só queria seu fim? Me diz, como acreditar? Quando a pessoa que te pôs no mundo, queria que você o deixasse — cedo demais. Quando ela queria que você mesmo encerrasse sua história… ou estava disposta a fazer isso por você?"
•●•
Felix odiava trabalho em dupla.
Porque ele sempre fazia tudo sozinho
Não por querer ser o melhor. Não por orgulho. Mas porque era mais fácil assim. Mais seguro. Ninguém errava, ninguém o culpava. E, principalmente, ninguém se aproximava demais.
Naquela sexta-feira à noite, ele ficou na biblioteca da escola até tarde. Organizou os dados, escreveu o resumo, preparou os slides. Quando saiu, o céu já estava escuro, e a cidade começava a se iluminar com luzes frias de postes e carros.
Caminhou em silêncio pela calçada, ouvindo o som abafado de buzinas e passos apressados. Quando chegou em casa, a luz da sala estava acesa.
Lee hyeon
Lee hyeon
— Demorou
Disse sua mãe, sem desviar os olhos do celular.
Ele não respondeu.
Lee hyeon
Lee hyeon
— Avisa da próxima vez. Eu sou sua mãe, não sou vidente.
Felix apenas subiu as escadas, sentindo o olhar cortante dela em suas costas.
•●•
Na semana seguinte, Hyunjin não tocou no assunto do trabalho. Nem forçou conversa. Apenas se sentava ao lado de Felix e rabiscava seu caderno com desenhos estranhos enquanto as aulas aconteciam.
No segundo dia, ele deslizou um papel para o lado. Era um rabisco de um bonequinho de cabelo espetado segurando uma placa que dizia:
“SOCORRO. MINHA DUPLA NÃO ME SUPORTA.”
Felix olhou, por um segundo. Depois apenas empurrou o papel de volta. Mas não o rasgou. E isso já era um avanço.
•●•
No terceiro dia, durante o intervalo, Hyunjin estava jogando vôlei com alguns amigos. A quadra ficava na parte de trás da escola, perto da cerca.
Felix estava no pátio, de novo sob a árvore. Tentava se concentrar na leitura, mas os gritos vinham de longe.
???
???
— Hyunjin! Cuidado!
O som da bola batendo foi seguido por um grito abafado.
Felix olhou por instinto. Viu Hyunjin sentado no chão, rindo com a mão na testa.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Idiota
Ele dizia aos risos
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— 'cês querem me matar?
O sangue escorria lentamente pela lateral da testa, nada grave. Mas a professora foi chamada, o time se dispersou, e alguém levou Hyunjin para a enfermaria.
Felix ficou parado ali por alguns segundos. Depois baixou os olhos pro livro e continuou lendo.
Felix ficou parado ali por alguns segundos. Depois baixou os olhos pro livro e continuou lendo
Ou pelo menos tentou.
Aquela imagem não saía da sua mente: Hyunjin sorrindo, com sangue escorrendo.
Como alguém podia sorrir machucado?
•●•
Na aula seguinte, Hyunjin voltou com um curativo branco na testa.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Agora sim, estilo anime completo
Ele disse, jogando a mochila na cadeira.
Felix apenas lançou um olhar. Rápido. Mas havia um leve franzir em sua testa.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Você olhou!
Hyunjin disse, quase empolgado.
Lee Felix
Lee Felix
— Tava distraído.
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
— Claro que tava. Aposto que pensou: "droga, minha dupla imbecil vai morrer antes da apresentação."
Felix abriu a boca, como se fosse retrucar. Mas apenas suspirou e virou o rosto.
Hyunjin sorriu. Um sorriso pequeno. Quase de vitória. Ele sabia que não ia quebrar o gelo com uma martelada. Era um trabalho de formiga. Paciente. Cuidadoso.
•●•
Na aula de literatura, a professora pediu que os alunos escrevessem uma frase que descrevesse como estavam se sentindo naquela semana. Anônimo. Seria colocado numa caixa e depois ela leria algumas.
Felix hesitou. Mas pegou o papel.
Escreveu com a caligrafia limpa de sempre. Dobrou. E colocou na caixa
Horas depois, no fim da aula, a professora leu algumas frases:
Sra. choi
Sra. choi
— "Estou cansado, mas feliz."
Sra. choi
Sra. choi
— "Minha mãe voltou do hospital, então tô melhor."
Sra. choi
Sra. choi
— "Às vezes sinto que gritar não resolveria, porque ninguém ouviria mesmo."
Silêncio na sala.
Hyunjin ergueu os olhos. Sentiu aquilo como um soco leve no peito.
Felix não reagiu.
Mas por dentro, pela primeira vez em muito tempo… ele torceu para que alguém tivesse escutado.
•●•
Na saída, Hyunjin acompanhava os amigos no portão, quando o viu.
Felix estava de fones, andando sozinho, como sempre. Mas havia algo em seu rosto. Não era cansaço. Era... peso. Como se o mundo estivesse agarrado aos tornozelos dele.
Hyunjin observou. Silenciosamente.
E, pela primeira vez desde que sentou ao lado dele, pensou:
Hwang Hyunjin
Hwang Hyunjin
💭“Eu vou fazer você perceber que merece ser escutado.”

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