Dois Corações e um Destino
01
Rafa — gay, um pouco dramático, workaholic, super certinho, mas tem um lado divertido que só os amigos próximos conhecem. Mora sozinho num apê pequeno no centro da cidade.
Caique — bissexual, artista, meio desorganizado, gente boa, muito carismático, mora do outro lado da cidade, mas precisa urgentemente de um lugar para ficar
Dois Corações e Um Destino
Cena 1 — O encontro inesperado
Rafa chegou em casa exausto, carregando a mochila cheia de documentos do trabalho e um café para se salvar do sono. Passou a chave na fechadura do seu pequeno apartamento no centro da cidade e, ao abrir a porta, deu de cara com uma figura enrolada num cobertor, sentada no sofá com uma expressão de quem havia acabado de ganhar na loteria — ou perdido tudo no mesmo dia.
caique
— Oi... — disse a figura, um pouco sem jeito. — Eu sou o Caique. Acho que a gente vai morar juntos agora.
Rafa piscou, derrubando o café que escorreu pela lateral da caneca
rafa
— Como? Morar juntos? Eu não te conheço, você não deveria estar aqui e... espera, quem te deixou entrar?
Caique deu uma risadinha, puxou o cobertor até o queixo e respondeu com um sorriso meio torto:
caique
— Bom, foi o porteiro. Ele disse que você tava devendo um mês de aluguel e que, pra resolver, a imobiliária colocou meu nome no contrato junto com o seu.
Rafa arregalou os olhos e tentou processar a confusão que acabara de entrar no seu apartamento — e na sua vida metódica.
rafa
— Isso só pode ser alguma pegadinha, né? Eu sou analista financeiro, não brinco com aluguel...
caique
— Pois é, eu sou artista plástico, então brincar com confusão é meu ponto forte — Caique disse, se esticando no sofá como se já fosse dono do pedaço.
Rafa deu um suspiro profundo. Era só o começo do caos que viria.
rafa
— Você tá de brincadeira — Rafa largou a mochila no chão, apertando as têmporas com as duas mãos como se tentasse resetar o cérebro.
caique
— Juro que não tô. Quer ver? — Caique puxou do bolso um papel meio amassado, com o nome dos dois impresso no contrato de co-locação. — Tá aqui, ó. Caique Oliveira da Silva e Rafael Henrique Costa. Irmãos de aluguel, parceiros de guerra, companheiros de geladeira.
Rafa arrancou o papel da mão dele e analisou como se fosse um crime contábil. E era. Na cabeça dele, era sim.
rafa
— Isso tem que ser um erro. Eu nunca autorizei isso. Eu tenho planilhas. Cronogramas! Um calendário de limpeza! Você tem noção de que esse cobertor... — ele apontou com indignação — tem glitter?!
caique
— É meu cobertor do carnaval — Caique respondeu, com o maior orgulho do mundo. — Tá vendo esse glitter azul? É da Ivete. Esse dourado aqui? Claudia Leitte. Cada cor, uma memória.
Rafa cambaleou até a cozinha como se estivesse sobrevivendo a um terremoto emocional. Caique foi atrás, já explorando tudo como se estivesse num tour turístico
caique
— Uau, você guarda os talheres separados por tipo E por cor? — ele abriu uma gaveta e riu alto. — Eu nunca tinha visto uma colher de chá em tom “cinza concreto urbano”.
rafa
— É grafite fosco, edição limitada, e sim, eu separo. Porque organização é civilização.
Caique abriu a geladeira.
caique
— Tem um iogurte aqui com etiqueta de validade feita à mão?
rafa
— Não é uma etiqueta, é uma anotação à caneta posca! Para eu saber o dia exato em que ele foi aberto. — Rafa cruzou os braços, já com dor de cabeça.
Caique pegou o iogurte, sentou-se no balcão e disse com a maior cara lavada do mundo:
caique
— Vai ser divertido morar com você.
rafa
— Você é um pesadelo com pernas.
caique
— E você é um robô com TOC. Vamos ser ótimos juntos.
Rafa bufou. Ele sabia, naquele momento, que sua vida organizada tinha acabado. Mas algo em Caique — talvez a leveza, o sorriso despreocupado, ou o glitter — fez com que ele não conseguisse expulsá-lo dali.
Pelo menos… não ainda.
02
Capítulo 2 — O Banheiro, o Bicho e o Berro
Rafa tinha regras. Muitas.
E a mais sagrada delas era: nada de entrar no banheiro enquanto ele estiver lá dentro. Nem bater na porta. Nem respirar perto. Era o único momento do dia em que ele podia meditar em paz — enquanto passava três cremes faciais, fazia a barba em silêncio absoluto e ouvia uma playlist chamada Rituais da Serenidade.
Mas ninguém avisou isso ao Caique.
Às 7h42 da manhã, Rafa estava passando o creme número dois (o esfoliante de pepino com carvão ativado), quando ouviu passos apressados. E então, a tragédia:
A porta se abriu.
caique
— Cara, foi mal, mas eu preciso muito fazer xixi! — Caique entrou com a naturalidade de quem cresceu em república de teatro e nem viu problema em estar só de cueca listrada e meias de bananas.
Rafa congelou. O creme pingando. A toalha perfeitamente dobrada escorregando da cabeça. E o intruso... ali. Sentado. Fazendo o que prometeu fazer.
rafa
— CAIQUE!!! — berrou Rafa, parecendo que estava sendo atacado por uma gangue de hipopótamos.
caique
— RELAXA, é coisa rápida! E você que tá aí com essa máscara esquisita que parece cimento, fiquei mais assustado eu!
rafa
— ISSO É CARVÃO ORGÂNICO, SEU SELVAGEM!
Caique soltou uma risada. Uma risada gostosa, irritante e, pra piorar, um pouco contagiante.
caique
— A gente vai ter que quebrar esse gelo, Rafa. Literalmente. Eu tô tremendo de vontade de rir desde ontem.
Rafa respirou fundo. Limpou o creme do rosto com um movimento dramático, passou por Caique como se fosse uma alma penada e saiu do banheiro sem dizer nada — mas deixando um post-it na porta:
“A PARTIR DE HOJE, AGENDAMENTO PRÉVIO PARA USO DO BANHEIRO.”
Mais tarde, enquanto tomavam café juntos (ou melhor, enquanto Rafa tomava café e Caique devorava um miojo de bacon com chocolate que ele jurava ser "uma experiência sensorial"), algo correu pelo chão da cozinha.
rafa
— O QUE É ISSO?! — Rafa se pendurou na cadeira como uma diva dramática.
caique
— Ah! É o Bento! — Caique sorriu e apontou para a criaturinha peluda com olhos grandes. — Meu hamster. Esqueci de te avisar.
rafa
— Você trouxe um ROEDOR pra dentro da minha casa?!
caique
— Nosso lar. Nosso. Agora.
Bento subiu em cima do tênis de Rafa, que já estava completamente paralisado, com os olhos arregalados e uma crise existencial se formando.
caique
— Ele é mais limpo que muita gente. E gosta de Coldplay.
rafa
— Eu não vou discutir com um hamster que ouve Coldplay... — Rafa murmurou, derrotado, enquanto Bento fazia carinho no cadarço dele com as patinhas.
03
Capítulo 3 — Namorados Por Acidente (Ou Quase)
Tudo começou com uma mensagem.
Mais precisamente, uma mensagem da mãe do Rafa:
> "Filho, passei no centro e resolvi te fazer uma visita surpresa! Chego em 10 minutos. Beijos, mamãe 😘"
Rafa congelou com o celular na mão, empalidecendo como se tivesse acabado de ver o Bento de smoking.
rafa
— CAIQUE! ALARME GERAL! NÍVEL CINCO! MAMÃE EM ROTA DE COLISÃO!
Caique apareceu na sala com a camisa aberta, segurando um pincel numa mão e um copo de suco no outro.
caique
— Nossa, parece até que a mulher é da polícia secreta. Relaxa.
rafa
— RELAXAR?! Você não conhece minha mãe! Ela já me perguntou QUATRO vezes se eu tô namorando e, da última vez que disse não, ela marcou um encontro com o filho da vizinha da prima da manicure!
caique
— Tá… e onde eu entro nessa história?
Rafa olhou lentamente para ele, os olhos cheios de desespero:
rafa
— Você vai ter que fingir que é meu namorado. Só hoje. Só enquanto ela estiver aqui. Depois você pode voltar a ser só… esse desastre com glitter.
Caique deu um sorriso malandro.
caique
— Ah, Rafa... Se queria um motivo pra me chamar de amor, era só pedir.
Dez minutos depois...
Dona Márcia chegou com um bolo, dois sacos de pão de queijo e a capacidade de detectar mentiras num raio de três metros.
Márcia
— Meu filhoooo! — ela abraçou Rafa com carinho, depois olhou pro Caique e piscou: — Ah, então esse é o tal “colega de apê
rafa
— É. Quer dizer… sim. Esse é… o Caique. Meu… namorado.
A palavra saiu da boca do Rafa como se ele estivesse engolindo uma pedra.
Caique, no entanto, entrou no papel como um ator de novela mexicana:
caique
— Prazer, sogrinha! — ele deu um beijo na bochecha dela, abraçou Rafa pela cintura e completou: — Eu cuido muito bem desse menino. Ele é o amor da minha vida.
Rafa arregalou os olhos. Márcia suspirou com a mão no peito.
Márcia
— Mas que fofo, gente. E vocês já estão dormindo no mesmo quarto?
Silêncio. Mortal.
Rafa travou. Caique, claro, respondeu:
caique
— A gente adora dormir juntinhos. Mas confesso que o Rafa tem uma mania esquisita de falar com a geladeira de madrugada.
rafa
— EU TAVA SONÂMBULO! — gritou Rafa, vermelho como um tomate.
Márcia riu, passou o bolo, serviu suco, e ficou ali por quase duas horas contando histórias da infância do Rafa — enquanto Caique ria com cada detalhe como se fosse um namorado apaixonado de verdade.
Quando ela finalmente foi embora, deixou um bilhete colado na geladeira:
> "Amei conhecer você, Caique. Cuidem um do outro. 💕"
Rafa se jogou no sofá como se tivesse corrido uma maratona.
rafa
— Acabou. Acabou. Acabou.
caique
— Mentira, ainda tem bolo.
rafa
— ...Eu devia te expulsar.
caique
— Mas aí perderia o namorado mais talentoso que já teve.
Rafa encarou Caique por um instante... e, pela primeira vez, deu uma risadinha. Uma daquelas de verdade.
rafa
— Isso foi horrível. E hilário.
caique
— Eu sei. Estamos indo muito bem, amorzinho.
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