Segredo e Sangue e uma Nova Era é um romance de ação, mistério e intriga familiar que acompanha Rebecca, uma jovem de 16 anos criada em um orfanato após ser abandonada ainda bebê. Vista por todos como apenas uma garota forte e determinada, ela carrega um passado envolto em segredos sombrios e uma herança perigosa ligada a uma poderosa máfia.
Determinada a forjar o próprio destino, Rebecca usa inteligência e astúcia para sobreviver e se fortalecer. Mas quando um advogado misterioso lhe oferece uma bolsa para estudar Direito numa prestigiada universidade, ela se vê envolvida em um jogo muito maior, onde alianças improváveis, vigilância silenciosa e caçadas perigosas fazem parte da rotina.
Entre conspirações, revelações sobre sua verdadeira família e uma série de missões que testam sua coragem, Rebecca descobre que o sangue pode ser uma prisão, mas a escolha de lutar é sua arma mais poderosa.
Uma história intensa, repleta de ação, segredos familiares, dilemas morais e personagens marcantes — onde cada página traz uma nova reviravolta e cada decisão pode significar a vida ou a morte.
Meu nome é Rebecca. Tenho 16 anos.
Fui deixada no portão do Orfanato Santa Ágata ainda bebê. Um cobertor, um colar quebrado e uma carta rasgada com uma única palavra: "Perdão."
Nunca soube quem eram meus pais. E, por muito tempo, achei que era só isso — um abandono comum, mais uma história entre tantas. Mas o orfanato tem um cheiro estranho nas paredes. Um silêncio que fala. Um segredo que espera.
Crescer aqui foi uma batalha. Dias bons, dias ruins, e alguns dias em que a única coisa que me manteve de pé foi a raiva de não saber por que fui deixada para trás.
Hoje começou como qualquer outro dia. Acordar cedo, comida sem gosto, sala de aula abafada. Mas ao sair para levar um envelope à diretora, ouvi um barulho estranho vindo do pátio dos fundos.
Gritos abafados. Risadas pesadas. Choro.
Aproximei-me devagar, silenciosa como aprendi a ser. Três garotos cercavam uma menina pequena, nova ali. A mesma cena de sempre: fracos tentando parecer fortes.
No centro deles, Thayler, o garoto que acha que manda aqui. Arrogante. Violento. E burro o suficiente pra achar que pode fazer o que quiser.
— O que vocês estão fazendo aqui? — minha voz cortou firme, sem tremor. — Devem estar na aula, ou não?
Todos pararam. Thayler virou devagar, como se estivesse cansado de me ver.
— Vai embora, Rebecca. Isso não tem nada a ver com você.
— Tudo aqui tem a ver comigo — respondi, com um sorriso frio. — Ainda mais quando envolve covardes.
Me aproximei. Meus olhos não saíam dos pés de cada um. Vi quem tremia. Quem estava pronto pra correr. Quem ia tentar lutar.
— Então vamos fazer assim, Thayler... duas opções.
Levantei dois dedos.
— A primeira: vocês desaparecem. Agora. Ninguém se machuca, ninguém fica sabendo.
— A segunda: a gente resolve aqui mesmo. Só eu e vocês. Sem testemunhas. Sem piedade.
Ele engoliu em seco.
— Você acha que pode mandar na gente? Você nem sabe de onde veio...
— E ainda assim, estou inteira. Vocês não.
Thayler avançou.
Não esperei. Me movi primeiro. Um passo lateral, joelho no estômago, cotovelo no pescoço. Ele caiu como uma árvore podre.
Dois segundos. Um deles já no chão.
O outro hesitou, então correu. O terceiro ficou parado, tremendo.
— Leva a menina. Agora. — minha voz saiu baixa, mas afiada.
Ele obedeceu. Ficamos sozinhos.
Thayler tossiu no chão. Olhou pra mim com raiva... e medo.
— Você não é como a gente, Rebecca... você tem algo errado. Tá nos olhos.
Me abaixei, pegando o colar que escorregara da gola da minha blusa. O pingente em forma de asa quebrada balançou entre nós.
— Talvez. — sussurrei. — Ou talvez eu seja a única aqui que sabe o que está por vir.
Antes que ele pudesse responder, um barulho atrás da cerca chamou minha atenção.
Olhei. Havia alguém ali.
Capuz preto. Silhueta alta. Parado. Observando.
Os olhos... eram exatamente como os meus.
E quando pisquei, ele havia desaparecido.
O que ninguém entende sobre crescer num orfanato é que as aulas mais importantes não estão nas apostilas. Estão nos olhares tortos, nas palavras ditas por trás, nos empurrões que os adultos não veem.
Sobrevivência é matéria diária.
A professora Marta falava sobre leis antigas naquela manhã.
— "A justiça, crianças, é cega por um motivo. Para não se corromper pela aparência." — Ela dizia com o tom de quem não esperava que ninguém prestasse atenção.
Mas eu prestava.
Justiça.
Era uma palavra que me queimava. Uma palavra que não existia nos corredores do Santa Ágata. Se existisse, Thayler já estaria fora daqui. Mas ele estava ali. Sentado duas fileiras atrás, com um corte no lábio e raiva mal disfarçada nos olhos.
Ele não esqueceu o que aconteceu ontem.
Cada dia parecia uma nova chance para alguém testar minha paciência. Tropeços “sem querer” no corredor, bilhetes ofensivos na minha carteira, até mesmo esconderem meus cadernos. Às vezes, eu revidava. Outras vezes, eu apenas olhava nos olhos deles e sorria.
Isso os irritava ainda mais.
Mas nada me tirava da cadeira da frente, a que eu mesma puxava todas as manhãs. Nada me impedia de prestar atenção em cada palavra, de anotar cada frase, de aprender.
A escola era uma prisão para muitos ali. Para mim, era uma arma.
— Quem criou o conceito de Estado de Direito? — perguntou a professora Marta, olhando a turma por cima dos óculos.
Silêncio.
Thayler riu no fundo. Alguns cochichavam.
Levantei firme.
— Montesquieu. No século XVIII. Mas o termo evoluiu com o tempo, principalmente com as ideias de soberania limitada e divisão de poderes.
A professora Marta piscou. Depois sorriu.
— Muito bem, Rebecca. Como sempre.
Alguns reviraram os olhos. Eu nem ligava.
Naquela tarde, ao fim da aula, a professora se aproximou de mim discretamente.
— Me encontre na biblioteca. Depois do jantar. Mas não conte a ninguém.
Mais tarde, biblioteca vazia.
As lâmpadas piscavam. O cheiro de livros velhos preenchia o ar. Marta esperava por mim junto à estante mais empoeirada, no fundo da sala. Ela moveu uma pilha de caixas, e atrás delas, abriu uma pequena porta baixa de madeira, quase imperceptível.
Ali dentro havia uma prateleira escondida. Livros antigos, manuais de direito civil, penal, constitucional… volumes que não faziam parte do acervo comum da escola.
Ela passou os dedos nas lombadas, até escolher três deles. Colocou em minhas mãos.
— Você nasceu pra entender as regras que governam esse mundo, Rebecca. — Ela me encarou. — E, quem sabe, pra quebrar as que precisam ser quebradas.
Meu coração acelerou.
— Por que está me dando isso?
— Porque você é diferente. E não por causa da sua força. — Ela fez uma pausa. — Você é a única aqui que enxerga além.
Segurei os livros como quem segura um segredo.
Na contracapa de um deles, uma frase sublinhada me chamou a atenção:
"A justiça não é feita para os que gritam mais alto, mas para os que não se calam diante do silêncio."
Naquele momento, eu soube.
Meu destino não era apenas sobreviver. Era aprender. E vencer.
Mesmo que eu tivesse que passar por cima do passado inteiro pra isso.
.
Os dias seguintes foram iguais em aparência… mas não no fundo.
Eu continuava sendo o alvo de cochichos, piadinhas e olhares atravessados. Mas algo estava mudando. Eu estava diferente.
Mais focada. Mais calada. Mais forte.
Enquanto eles perdiam tempo tramando formas de me irritar, eu estava devorando livros de Direito escondida à noite, copiando trechos à luz de lanterna e treinando argumentação no espelho rachado do banheiro.
Eu queria mais do que brigas. Eu queria poder.
O tipo de poder que vem do conhecimento, não dos punhos.
Mas é claro que Thayler não deixaria isso passar.
Foi no refeitório que ele tentou me quebrar de novo.
Hora do almoço. Fila longa, bandejas rangendo. Eu estava sentada sozinha, como de costume, lendo uma folha de anotações escondida sob o prato.
Thayler apareceu na minha frente. Alto, com aquele mesmo sorriso torto de sempre. Mas agora com algo diferente no olhar: insegurança disfarçada de desprezo.
— Estudando leis de novo, Rebecca? Vai defender os coitadinhos quando sair daqui?
Não respondi.
— Você sabe que ninguém vai querer uma garota como você. Abandonada. Fria. Esquisita.
Colocou a mão sobre minha folha de anotações, tentando amassar.
Errou.
Eu me levantei, devagar. Encostei o indicador no peito dele.
— Sabe qual é a diferença entre nós, Thayler?
Ele arqueou a sobrancelha, surpreso com a calma.
— É que você ainda precisa provar que manda.
Eu? Já mando sem precisar fazer nada.
Silêncio. O refeitório ficou tenso.
Alguns começaram a rir baixinho. Não de mim. Dele.
A humilhação não era física. Era mental.
E ele sentiu isso.
Thayler rangeu os dentes, empurrou a bandeja da própria mesa no chão e saiu, murmurando xingamentos que não me atingiam mais.
Naquela noite, escrevi uma frase no final do meu caderno:
"Eles me deram um mundo podre. Eu vou devolver em chamas — com leis escritas por mim."
Naquela noite, depois do refeitório, fiquei na biblioteca até mais tarde. A professora Marta tinha me deixado com outro livro de Direito — esse sobre ética e justiça restaurativa. A capa era gasta, mas dentro dele havia algo estranho: uma anotação à mão, antiga.
"O sangue não define o destino. A escolha, sim."
Não era da professora. Era uma letra masculina, firme, com a tinta um pouco desbotada pelo tempo.
Fechei o livro devagar.
Essa frase... me provocava um arrepio esquisito. Como se alguém estivesse me observando, mesmo ali, no silêncio da biblioteca.
Na manhã seguinte, fui chamada pela diretora.
Pensei que fosse por causa do incidente com Thayler. Mas não era.
Ela me olhou por cima dos óculos com uma expressão que raramente usava comigo: respeito.
— Rebecca, houve uma… visita ontem. Um homem. Disse ser advogado de uma fundação de apoio a jovens excepcionais. Mencionou você.
Franzi a testa.
— Eu não me inscrevi em nada.
— Eu sei. Mas eles já sabiam seu nome. Sabiam da sua média, da sua disciplina, dos elogios da professora Marta. E deixaram isso.
Ela deslizou um envelope grosso sobre a mesa.
Meu nome estava escrito na frente — em letra cursiva dourada. E no canto inferior... um símbolo. Um brasão com um corvo pousado sobre uma balança.
Senti meu peito apertar.
Já tinha visto esse símbolo antes... no rodapé de um documento antigo, encontrado meses atrás no porão do orfanato.
Minhas mãos tremiam levemente quando abri o envelope.
Dentro havia:
Uma carta formal, oferecendo uma bolsa integral para cursar Direito numa das melhores universidades particulares da região.Um cartão com o nome de um advogado: Sandro A. Valentini.E uma observação escrita à mão no final da carta:"Quando chegar a hora, você entenderá por que foi deixada para trás. Por enquanto… apenas aprenda."
Guardei o envelope sem dizer nada à diretora.
Apenas agradeci, com um leve aceno de cabeça.
Ao sair da sala, vi Thayler de longe, encostado na parede, me observando. Mas dessa vez… ele não disse nada.
Apenas desviou o olhar.
Naquela noite, no quarto escuro, sentei-me na cama com os livros no colo. Abri o primeiro capítulo da constituição e sussurrei as primeiras linhas.
"Todo poder emana do povo…"
— Eu sou o povo. — murmurei. — E estou pronta pra buscar o que é meu.
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