📖 Capítulo Extra - Flashback: Quando Tudo Começou…
A lembrança vinha como um sopro quente em um fim de tarde de verão.
Vittorio ainda lembrava com exatidão do momento em que seus olhos encontraram os dela pela primeira vez. Eles tinham apenas 14 anos, estavam em um dos almoços tradicionais que envolviam famílias amigas dos Vitale, e tudo parecia normal... até Isadora Moretti surgir com o vestido florido, os cabelos presos de forma desajeitada e aquele riso leve, que fazia o tempo desacelerar.
Ela tinha chegado com os pais — discreta, educada, mas com um brilho curioso no olhar. Enquanto os adultos falavam de negócios e heranças, Vittorio observava aquela menina que parecia tão alheia a tudo aquilo, mas ao mesmo tempo... tão presente. Ela conversava com um dos garçons, elogiava a sobremesa, tirava os sapatos escondida debaixo da mesa. Uma rebeldia sutil. Uma liberdade que ele invejou.
— Você é o filho do Giancarlo, né? — ela perguntou de repente, aproximando-se.
— Sou. E você é a filha do Moretti. — ele respondeu, tentando parecer desinteressado, mas sentindo as bochechas esquentarem.
A partir dali, foi inevitável.
Começaram a conversar mais em cada encontro de família. Trocavam olhares em jantares longos e entediantes, bilhetes escondidos em guardanapos e sorrisos cúmplices quando ninguém via. Com o tempo, vieram as mensagens, as ligações escondidas. Uma amizade que crescia com um gosto doce de algo que ainda não tinha nome — mas que ambos já sentiam no peito.
Aos 16 anos, tudo mudou.
Foi no aniversário de um dos primos de Vittorio. A festa era cheia de jovens, música alta e pais distraídos. Isadora usava uma blusa branca simples e calça jeans. Ele não conseguia tirar os olhos dela. Ela, por sua vez, o provocava com olhares rápidos e aquele sorrisinho que parecia saber exatamente o que causava.
Eles escaparam da festa, indo até o jardim dos fundos da mansão. Ali, entre as luzes amareladas da varanda e o silêncio que contrastava com o burburinho da música distante, aconteceu.
— Você sempre me olha daquele jeito... — ela sussurrou, com o coração acelerado.
— Que jeito?
— Como se estivesse prestes a fazer alguma coisa que não devia.
Ele sorriu. Chegou mais perto. O mundo parou.
— Talvez eu esteja.
E então, o primeiro beijo.
Lento, tímido e intenso. Um beijo que guardava toda a curiosidade, o medo e a beleza do primeiro amor. As mãos dele seguraram o rosto dela com cuidado, como se ela fosse feita de cristal. Os dedos dela se agarraram à camisa dele, sentindo o coração bater disparado.
Ali, sob a lua e entre as sombras, começaram um namoro escondido. Um amor inocente, cheio de segredos, promessas sussurradas no escuro e juras de “pra sempre” que só os adolescentes ousam fazer — e acreditar.
Era o começo de algo que nenhum dos dois imaginava até onde os levaria.
Mas naquele momento, só importava uma coisa: eles se tinham.
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A partir daquele primeiro beijo, nada mais foi o mesmo.
Eles passaram a viver entre olhares rápidos nos corredores da escola, mensagens trocadas em celulares falsos, encontros às escondidas entre becos e vielas que apenas os apaixonados se arriscam a conhecer.
Vittorio a esperava sempre na clareira do bosque atrás da igreja antiga, perto da fronteira entre os territórios das duas famílias. Isadora chegava com o coração aos saltos, sempre com a respiração presa entre o medo e a ansiedade. Mas bastava vê-lo, e tudo se acalmava.
— Você é louca, sabia? — ele dizia enquanto a envolvia nos braços.
— E você é ainda mais por estar aqui comigo — ela sussurrava, com a testa colada à dele.
Com o tempo, o carinho ficou mais intenso. O toque das mãos se transformou em abraços demorados, os abraços em beijos mais quentes. Mas nunca ultrapassaram o limite. Havia algo sagrado no amor que compartilhavam. Uma urgência de se protegerem um do outro — como se o mundo fosse um campo de guerra e aquele sentimento fosse sua única trégua.
Na noite do aniversário de Isadora, aos 16 anos, ele a esperava com um presente especial. Uma correntinha fina de prata, com a inicial “V”.
— É simples… — disse ele, sem jeito — mas é pra você lembrar que não está sozinha.
Ela sorriu, emocionada.
— Eu nunca me senti sozinha desde que te conheci.
Naquela noite, deitados lado a lado sobre a grama fria, eles prometeram algo que parecia eterno: “Mesmo que o mundo esteja contra, vamos resistir. Eu sou teu, e você é minha.”
Mas o mundo... o mundo estava de olho.
Numa tarde de outono, o destino quase os pegou. Um dos capangas de Don Moretti os viu trocando um beijo rápido atrás da escola. O rapaz fugiu antes que pudesse registrar mais, mas a tensão pairou no ar.
— A gente precisa ser mais cuidadoso, Isa. Se te acontecer alguma coisa… — Vittorio dizia, a voz falhando.
— E se te acontecer? — ela devolvia, os olhos cheios de lágrimas contidas. — Eu não sobreviveria se te perdesse.
Era amor de verdade. Um amor adolescente, sim — mas carregado de verdade, coragem e intensidade.
Mesmo assim, sabiam que aquele amor era uma chama escondida em um barril de pólvora. Bastaria um erro, uma palavra errada, e tudo desabaria.
E mesmo com esse medo constante, eles continuaram. Porque amar um ao outro era mais forte do que temer o mundo.
E foi ali, naquele tempo onde o céu parecia mais azul e as dores pareciam distantes, que Isadora e Vittorio viveram os dias mais puros e perigosos de suas vidas.
Mal sabiam que o tempo logo viria cobrar esse amor proibido.
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🖤Fim de capitulo 🖤
As luzes da mansão Moretti estavam apagadas há horas, mas Isadora ainda sentia o coração bater acelerado no peito. Estava com dezesseis anos, mas amava com a intensidade de quem já conhecia a dor da perda.
Com passos leves, atravessou o corredor do andar de cima e empurrou a janela de seu quarto. Lá fora, à sombra do muro lateral, ele a esperava.
Vittorio Vitale, terno preto, cabelo levemente bagunçado, encostado no carro que estacionava duas ruas além. Ela desceu pela treliça com a destreza de quem já fez aquilo outras vezes.
Quando seus pés tocaram o chão, Vittorio se aproximou e a envolveu em um abraço firme.
— Você demorou — ele murmurou, os lábios roçando a testa dela.
— Meus pais ficaram acordados mais tempo do que o normal — ela respondeu, entrelaçando os dedos aos dele. — Mas eu viria. Sempre venho.
Naquela época, o namoro era feito de toques rápidos, encontros escondidos e beijos sob o luar.
Eles se viam às escondidas: na biblioteca deserta do colégio de elite onde estudavam, em estacionamentos escuros depois das aulas, nos corredores silenciosos dos bailes que frequentavam — sempre com o receio de serem descobertos.
— Hoje, meu pai recebeu um convite da máfia onde os Vitales vai para o evento beneficente da próxima semana — ela disse, com um sorrisinho travesso. — Claro que rasgou o envelope.
Vittorio rolou os olhos. — Seu pai me odeia sem nunca ter trocado uma palavra comigo.
— Não é pessoal. É guerra.
— Então eu estou cometendo traição? — ele brincou.
— Eu também. Mas não consigo me arrepender — ela disse, antes de beijá-lo.
Aquele amor era proibido. Famílias mafiosas rivais.
Desde pequenos ouviram que os Moretti e os Vitale jamais poderiam conviver — muito menos se misturar.
Mas entre eles, havia algo mais forte do que qualquer juramento de sangue.
— Um dia, eu vou te tirar disso — ele prometeu, acariciando o rosto dela. — Vamos sumir, começar do zero, num lugar onde ninguém se importe com sobrenomes.
Isadora sorriu, mas seus olhos estavam marejados.
— E se não der tempo?
Ele segurou seu queixo, forçando-a a encará-lo.
— Vai dar. Eu sou um Vitale, lembra? E você é a única fraqueza que eu me orgulho de ter.
Eles se beijaram como se fosse a última vez.
Como se o mundo estivesse prestes a ruir.
E naquela mesma semana, ela foi mandada para a Suíça.
Sem aviso. Sem escolha. Sem despedida.
Quando Vittorio descobriu, já era tarde.
E o que ficou para trás foi apenas uma promessa:
"Se o mundo permitir... volta pra mim."
O sol mal havia nascido sobre Florença quando Vittorio desceu as escadas da mansão Vitale, ainda com o casaco pendurado no ombro e o celular colado ao ouvido. A mensagem de Isadora, tão curta quanto confusa, não saía da sua cabeça desde a madrugada.
"Me perdoa por não me despedir. Eu te amo. Não se esqueça disso."
Ele tentou ligar dezenas de vezes. Nenhuma resposta.
Ao pisar no salão principal, encontrou Giancarlo Vitale de pé, em frente à janela, com uma taça de café amargo nas mãos e o semblante mais sério do que o normal.
— Pai, Eu preciso... — Vittorio começou, mas logo se calou ao ver o olhar gélido que o pai lhe lançou.
Giancarlo girou devagar, pousando a taça na mesinha de mármore ao lado. Vestia um terno escuro e os cabelos grisalhos estavam perfeitamente penteados. Sua postura era a de sempre: firme, autoritária, intransigente.
— Não precisa procurar mais — ele disse, a voz cortante como uma lâmina. — Ela foi embora.
Vittorio franziu o cenho, se aproximando. — Como assim, “foi embora”?
— Sua pequena aventura acabou. Isadora Moretti embarcou para a Suíça esta madrugada. Internato. Longo prazo. Sem data para voltar.
Um silêncio ensurdecedor se instalou na sala.
O coração de Vittorio martelava no peito. — Você está mentindo.
— Não minto para meus filhos — Giancarlo retrucou, frio. — Diferente de você, que mentiu para mim durante dois anos.
Vittorio sentiu o estômago despencar.
— Você sabia?
— Sempre soube. Desde a primeira vez que saiu pela janela como um moleque. Você não é tão esperto quanto pensa, Vittorio. Sua mãe me alertou. Seus olhares nos bailes, as desculpas esfarrapadas, os sumiços. Achou mesmo que esconderia algo de mim?
Vittorio respirou fundo, o sangue pulsando nas têmporas. — Ela não é como eles. Ela não é como o pai dela!
— Ela é filha de Moretti. E isso basta — Giancarlo respondeu com firmeza. — Esse relacionamento foi uma afronta à nossa história, ao nosso nome, à lealdade que exigimos dos nossos. Você é um Vitale. E um Vitale não se deita com o inimigo.
— Eu a amo — Vittorio disparou, com a voz embargada. — E você a afastou de mim como se ela fosse uma ameaça!
— Ela é uma ameaça. Ao seu foco, ao seu futuro. E, principalmente, ao legado da nossa família.
Giancarlo se aproximou, parando frente a frente com o filho.
— Considere isso um favor. Você ainda é jovem. Vai entender um dia. Mas, por agora, isso acaba aqui. Definitivamente.
Os olhos de Vittorio arderam, mas ele não chorou.
Não na frente de seu pai.
— Você pode controlar muita coisa, pai — ele disse, a voz baixa, carregada de raiva contida — mas não pode apagar o que eu sinto. Não pode arrancá-la do meu coração.
Giancarlo encarou o filho por alguns segundos, em silêncio. Depois, deu um passo para trás, recolheu a taça e virou-se para sair.
— Talvez não — murmurou antes de sumir pelo corredor. — Mas o mundo se encarrega disso.
Vittorio ficou sozinho na sala, sentindo o mundo desabar sob seus pés.
Isadora havia partido.
Sem um último abraço.
Sem um último beijo.
Sem tempo.
Mas no fundo, uma única coisa persistia, queimando em seu peito como brasas vivas.
A promessa que ela deixara:
"Não se esqueça que eu te amo."
E ele não esqueceria.
Nunca.
🖤fim de capitulo 🖤
Giancarlo sempre a frente com a faca e o queijo na mão, o homi e bom Brasil
O cigarro queimava lentamente entre os dedos de Vittorio Vitale, mas ele não parecia se importar. O olhar perdido pela janela de seu escritório no último andar do Cassino denunciava que sua mente estava muito longe dali.
O céu de Nápoles estava encoberto por nuvens densas, como se anunciasse uma tempestade.
— Oito anos — ele murmurou para si mesmo, a fumaça escapando por entre os lábios.
A porta se abriu sem aviso, e Enzo, seu braço direito e amigo de infância, e seu primo filho de sua tia Valentina , entrou com passos firmes. Carregava um maço de documentos embaixo do braço e uma expressão que misturava provocação e alerta.
— Está sabendo, né?
Vittorio não desviou o olhar da janela. — Depende. Do quê?
Enzo encostou-se à parede, cruzando os braços. — Da festa dos Moretti. Vai ser daqui duas noites, para anunciar o noivado da herdeira deles. Parece que convidaram até metade da aristocracia europeia e uns mafiosos americanos enfeitados demais pro meu gosto.
Vittorio apagou o cigarro no cinzeiro de mármore, finalmente virando-se.
— Eu sei.
Enzo arqueou uma sobrancelha. — Sabe também quem é que está de volta?
Silêncio. Vittorio soltou uma risada sem humor.
— Isadora.
Enzo balançou a cabeça. — E então? Vai fazer o quê?
Vittorio caminhou lentamente até o carrinho de bebidas e serviu um copo generoso de uísque.
— Nada.
— Nada? — Enzo franziu o cenho. — Ela vai se casar, Vittorio. O seu amor de adolescência, sua paixão até hoje.Não sei quem é o idiota com quem ela aceitou ficar noiva, mas... isso não te incomoda?
O olhar dele escureceu, firme como aço. Ele virou o copo de uma vez, deixando o gelo tilintar no fundo.
— O único homem que vai se casar com Isadora Moretti um dia... sou eu.
A declaração foi dita sem hesitação. Sem dúvida. Como se fosse uma sentença.
Enzo soltou um assobio baixo. — Isso vai dar problema.
Vittorio olhou para ele, um sorriso torto se formando no canto da boca.
— Que ótimo. Problemas eu resolvo. Mas perder ela de novo... isso, não.
O vento morno de Nápoles acariciava seu rosto pela primeira vez em anos. Isadora fechou os olhos por um segundo, inspirando o ar carregado de sal, história… e lembranças.
Ela sentia o coração disparar no peito, uma inquietação que não conseguia controlar desde o momento em que o avião tocou o solo italiano. Não era apenas saudade — era algo mais profundo, visceral. Era como se cada partícula do ar a lembrasse dele.
Vittorio.
O nome ecoava em sua mente como uma melodia proibida, doce e perigosa. O homem que seu coração — e o único que verdadeiramente o possuiu.
Ela desceu do carro da família Moretti com os olhos fixos na mansão à frente, mas sua alma parecia presa ao passado. Seus passos hesitantes na entrada contrastavam com a firmeza de seus pensamentos: Ele ainda está aqui. Estamos no mesmo país. Respiramos o mesmo ar.
Seu coração apertou no peito. Um sussurro interno dizia que ele também saberia. Que de alguma forma, ele sentiria sua presença.
— Não ouse procurá-lo.
A voz grave e autoritária de seu pai cortou seus pensamentos como uma navalha.
Ela virou-se lentamente e encontrou o olhar gélido de seu pai, homem de negócios, aliado de mafiosos e inimigo declarado da família Vitale.
— Papà…
— Escute com atenção, Isadora. — Ele se aproximou, encarando-a com dureza. — O passado acabou. Aquilo foi um erro da sua adolescência. Uma desonra que eu perdoei apenas por você ser minha filha.
Ela sentiu o sangue gelar nas veias.
— Vittorio Vitale é um homem perigoso. Ele cresceu, tornou-se pior do que o pai dele. Você não vai procurá-lo. Não vai falar com ele. E se ele ousar chegar perto de você…
se aproximou ainda mais, tão próximo que sua respiração se misturou com a dela.
— …haverá sangue. E não será pouco.
Isadora engoliu em seco, lutando para não demonstrar o tremor em suas mãos.
— Você me entendeu?
Ela assentiu, o olhar baixo, enquanto por dentro o coração gritava. Porque, apesar do medo, da proibição e do noivado forçado que carregava no dedo, uma parte dela ainda pertencia a Vittorio.
E ela sabia — mais cedo ou mais tarde — seus caminhos se cruzariam de novo.
🖤Fim de capitulo 🖤
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