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Do Ódio ao Coração

capítulo 1

Do Ódio ao Coração

Na escola Santa Helena, os corredores sempre pareciam barulhentos demais, cheios de passos apressados e vozes adolescentes. Mas ninguém fazia mais barulho juntos do que Alex e Jonas.

Desde o início do ano, os dois viviam em pé de guerra. Bastava um olhar torto, uma palavra atravessada, e já estavam discutindo. Alex era impulsivo, falava sem pensar. Jonas era irônico e adorava provocar. Eram como fogo e gasolina — perigosos juntos, mas ninguém conseguia tirar os olhos deles.

— Vai tropeçar na própria arrogância um dia, Alex — disse Jonas, cruzando os braços e encostando-se no armário.

— E você vai se afogar no seu próprio veneno — respondeu Alex, lançando um olhar frio.

Os colegas já estavam acostumados com as farpas entre os dois, mas naquele dia, a discussão foi longe demais. Uma troca de empurrões na quadra levou os dois à diretoria. Sentados lado a lado no banco de madeira, eles encaravam o chão em silêncio, respirando pesadamente.

— Não aguento mais olhar pra sua cara — murmurou Alex, sem virar o rosto.

— Engraçado. Eu penso o mesmo. Mas continuo olhando — disse Jonas, num tom tão baixo que quase parecia... triste?

A diretora aplicou os devidos castigos: uma semana ajudando na biblioteca da escola. Juntos. Todos os dias. À tarde.

O primeiro dia foi um inferno. Um tentando ignorar o outro, derrubando livros sem querer — ou talvez de propósito — e trocando comentários ácidos. Mas no terceiro dia, o silêncio começou a parecer diferente. Não era mais tenso. Era curioso.

— Você gosta de ficar quieto assim? — perguntou Alex, quebrando o gelo enquanto empilhava livros de poesia.

— Gosto de ouvir. As pessoas falam demais — respondeu Jonas, olhando para ele com um leve sorriso. — Inclusive você.

Alex riu, pela primeira vez na presença de Jonas. Um riso verdadeiro.

Aos poucos, as provocações deram lugar a conversas. Descobriram que os dois gostavam das mesmas músicas tristes, dos mesmos filmes antigos, e que tinham medos parecidos — especialmente o de se sentirem sozinhos.

Na sexta-feira, quando o sol atravessava as janelas da biblioteca e pintava tudo de dourado, Jonas se aproximou devagar e disse:

— Você me irritava porque... me confundia.

— Confundia como?

Jonas hesitou. Os olhos estavam sérios, mas havia um brilho ali. Um brilho que Alex não soube decifrar de primeira.

— Porque... eu não entendia por que meu coração batia mais rápido quando você gritava comigo.

Alex ficou em silêncio, sentindo o próprio coração acelerar.

E então, pela primeira vez, não houve briga. Houve só um olhar. Um silêncio. E algo novo nascendo ali, entre estantes e segredos.

O relógio da biblioteca marcava 17h12 quando Alex percebeu que estava observando Jonas há tempo demais. Ele tentava se concentrar nos livros, mas a forma como o outro franzia a testa ao ler, ou mordia levemente o lábio inferior, chamava sua atenção de um jeito estranho. Novo.

— Você tá me encarando faz um tempo. Vai dizer que se apaixonou? — provocou Jonas, ainda com os olhos no livro.

Alex corou na hora, engolindo seco.

— Você queria, né?

Jonas finalmente o olhou, e o sorriso debochado sumiu por um instante. O clima entre eles mudou de novo — de tenso para intenso.

— Eu não sei o que eu quero — disse Jonas, sincero. — Mas sei que nunca te odiei de verdade. Só não sabia lidar com... isso.

Alex sentiu o peito apertar. Ele também não sabia lidar. Com esse calor que nascia quando estavam próximos. Com essa confusão boa e dolorida ao mesmo tempo.

— Eu também tô tentando entender — confessou, com a voz baixa.

Eles ficaram ali, sentados no chão da biblioteca, cercados de livros e de sentimentos novos, ainda sem nome. Mas uma coisa era certa: a briga tinha acabado. E outra história estava começando.

capítulo 2

Silêncios Que Dizem Muito

Depois daquele dia na biblioteca, algo mudou entre eles.

Não houve declarações. Nem promessas. Mas os silêncios, antes carregados de tensão, agora tinham outra textura — suave, quase confortável. Quando se encontravam pelos corredores, já não trocavam farpas, e sim olhares rápidos, discretos, mas intensos.

Na segunda-feira seguinte, Alex chegou mais cedo na escola. Ele nunca fazia isso. Mas havia algo que o inquietava. Uma vontade de ver Jonas de novo. Entender o que estava acontecendo dentro de si.

Sentado no pátio vazio, Alex folheava distraidamente um livro que pegou da biblioteca. Nem sabia por que estava com ele. Até ouvir passos.

— Você realmente está lendo poesia ou só tá segurando pra parecer profundo? — disse Jonas, com um sorriso provocador.

Alex ergueu os olhos, sorrindo de lado.

— E você realmente veio aqui só pra me zoar ou... sentiu saudade?

Jonas hesitou por um segundo. E foi aí que Alex percebeu. A brincadeira estava ali, mas agora vinha misturada com verdade.

— Talvez um pouco dos dois — respondeu ele, sentando ao lado de Alex. — Você me irritava tanto, sabia?

— Eu sei. Mas acho que era porque a gente se via demais um no outro.

O silêncio caiu de novo, mas era confortável dessa vez. Os olhos de Jonas se perderam nos de Alex, e por um instante, tudo ao redor pareceu parar. Nenhum barulho de escola, nenhum aluno correndo. Só eles dois, naquele espaço onde o tempo desacelerava.

— Eu nunca... gostei de ninguém assim — disse Jonas, quase num sussurro. — E muito menos de outro garoto.

— Nem eu — respondeu Alex, com sinceridade. — Mas, com você... é diferente. E isso me assusta. Mas também me atrai.

O sol começava a subir, e seus rostos eram banhados por uma luz quente e dourada. Jonas estendeu a mão, com um leve tremor.

Alex olhou para ela, e sem dizer nada, segurou com firmeza.

Ali, no meio da escola onde antes eram vistos como inimigos, eles descobriram o que era ser cúmplice, mesmo sem entender completamente o que estavam sentindo.

O amor começava tímido. Mas era verdadeiro.

Naquele dia, depois do toque do sinal, Alex e Jonas caminharam juntos até o portão da escola. Era estranho. Natural demais. Não havia empurrões, nem piadas maldosas — só passos sincronizados e um silêncio cheio de perguntas não ditas.

— Me espera amanhã? — perguntou Jonas, quase sem encarar.

Alex parou por um segundo. O coração acelerou. E a resposta saiu sem hesitação:

— Espero.

No dia seguinte, o ritual se repetiu. No outro também. Os dois passaram a se encontrar antes das aulas e, depois, à tarde na biblioteca, mesmo sem obrigação. Ninguém entendia. Nem eles. Mas havia uma segurança ali — um espaço onde poderiam ser só... eles.

Com o tempo, os olhares se tornaram toques sutis. Um encostar de braço, uma troca de livros onde os dedos se encontravam. Cada gesto dizia mais do que palavras.

Na sexta-feira, enquanto guardavam alguns exemplares nas prateleiras, Jonas parou. Virou-se para Alex, o rosto sério, os olhos atentos.

— Você acha que... isso aqui é errado?

Alex respirou fundo. Sentiu um medo antigo se agitar dentro do peito. Mas encarou Jonas com firmeza.

— Não. Errado era quando a gente se odiava. Isso aqui... é o mais certo que eu já senti.

Jonas sorriu. E, pela primeira vez, o silêncio entre eles terminou com um abraço — demorado, tímido, mas cheio de verdade.

capítulo 3

Onde o Medo Se Esconde

O fim de semana chegou, mas, para Alex, não trouxe alívio. Na verdade, o silêncio do sábado o incomodava mais do que os gritos de qualquer briga com Jonas. Porque agora, aquele silêncio era ausência — e ele sentia falta. Falta de Jonas. Falta de algo que ainda não sabia nomear.

Deitado na cama, encarando o teto do quarto, ele lembrava dos olhos de Jonas. Do jeito como ele sorria com os cantos da boca. Do toque tímido dos dedos na biblioteca. E, principalmente, daquela pergunta: “Você acha que isso aqui é errado?”

Alex queria responder de novo, em voz alta, que não. Mas por dentro, havia um turbilhão. Como explicar isso ao mundo? Aos amigos do futebol que viviam fazendo piadas? Ao pai, que dizia que “homem de verdade” não podia ser “sensível demais”?

No domingo, sem aguentar mais, ele mandou uma mensagem:

Alex: Você vai amanhã mais cedo?

A resposta veio quase imediata.

Jonas: Claro. 6h50 no banco de sempre.

Era tudo o que ele precisava saber.

Na segunda-feira, o ar parecia diferente. Não importava o céu nublado, nem o cansaço do início de semana. Alex atravessou o portão da escola e viu Jonas sentado no banco perto da árvore do pátio, como prometido.

Jonas sorriu ao vê-lo. Um sorriso calmo, que aquecia por dentro.

— Pensei que fosse desistir — disse ele.

— Pensei também — respondeu Alex, sentando ao lado dele. — Mas alguma coisa me puxou até aqui. Acho que era você.

Os dois se olharam, e o momento se alongou no tempo. Nenhum deles ousava dizer mais, como se palavras pudessem quebrar algo delicado demais.

— Você falou pra alguém? — perguntou Jonas, desviando o olhar.

— Não... E você?

Jonas balançou a cabeça negativamente. Havia uma tristeza discreta ali. Um medo compartilhado, pesado demais para dois adolescentes.

— Eu fico pensando se isso vai durar — disse ele, baixinho. — Ou se vai acabar assim que alguém descobrir.

Alex sentiu o estômago apertar. Ele pensava nisso também. Em como tudo parecia frágil, secreto. Bonito demais para o mundo aceitar.

— Eu também tenho medo. Mas... prefiro viver isso com medo do que passar o resto da vida fingindo que não aconteceu.

Jonas virou o rosto devagar, encarando-o. Os olhos estavam úmidos, mas firmes.

— Eu gosto de você, Alex. De verdade. Não é brincadeira.

Alex sentiu o coração bater forte no peito. Cada palavra de Jonas soava como uma avalanche e, ao mesmo tempo, como um alívio.

— Eu gosto de você também. Mesmo sem entender tudo. Mesmo com medo.

Nesse instante, um grupo de alunos passou correndo pelo pátio, fazendo piadas, jogando mochila uns nos outros. Um deles gritou algo sobre "viadinhos da biblioteca", rindo alto. Alex e Jonas se afastaram instintivamente. A bolha em que estavam explodiu de repente.

— É disso que eu falo — sussurrou Jonas. — A gente mal se encosta e já vira alvo.

Alex apertou os punhos. Queria levantar e bater em alguém. Mas não o fez. Porque no fundo, ele também queria se esconder. E isso o envergonhava.

— Eles não sabem nada. São idiotas — tentou dizer, mas soou fraco até para si mesmo.

Jonas se levantou.

— Eu preciso ir. Te vejo depois?

— Jonas, espera...

Mas Jonas já se afastava, rápido demais. Alex ficou sentado, sentindo o coração afundar.

As horas seguintes passaram lentas. Na aula, Alex mal conseguia prestar atenção. A imagem de Jonas indo embora, machucado, não saía da sua cabeça.

Depois da escola, ele foi até a biblioteca, como nos dias anteriores. Jonas não apareceu.

Na terça, foi igual. Nem sinal dele.

Na quarta, Alex decidiu procurá-lo.

Achou Jonas no fundo do pátio, encostado no muro, com os fones nos ouvidos. Mas o olhar estava longe, perdido.

— Você me evitou — disse Alex, direto.

Jonas tirou os fones devagar.

— Só tô tentando respirar. Tá difícil.

Alex se sentou ao lado dele, deixando um espaço entre os dois. O silêncio durou alguns segundos.

— Eu não sou como você, Alex. Você parece forte. Eu me desmancho fácil.

— Você é mais forte do que pensa. E eu só pareço forte. Por dentro, eu sou um caos.

Jonas olhou para ele, os olhos vermelhos. — Eu queria segurar sua mão no meio do pátio. Só isso. Sem ter medo.

Alex sentiu a garganta fechar. Ele também queria. Queria mais do que tudo. Mas o medo ainda o prendia.

— Então... vamos fazer isso. Quando a gente estiver pronto. Mas não sozinhos.

Jonas respirou fundo. — Promete que não vai sumir?

— Só se for com você.

Os dois sorriram, tristes, mas cúmplices. Não era fácil. Nunca seria. Mas agora, sabiam que estavam juntos nessa jornada.

Naquela noite, Alex ficou acordado até tarde. Pensava em como o amor era uma coisa estranha. Nascia do nada. Crescia no meio do medo. Mas ainda assim, era bonito.

Ele abriu o bloco de notas do celular e escreveu uma frase só:

"Mesmo em silêncio, o coração deles gritava um pelo outro."

E ali, no escuro do quarto, Alex sorriu. Porque, apesar de tudo, eles estavam começando a amar.

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