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Prometida ao Duque

Escândalos começam nos jardins

Capítulo 1 — Escândalos começam nos jardins

Lady Eloise Montrose jamais entenderia como a elite londrina conseguia transformar a mesma conversa entediante em cem variações igualmente vazias. Ela já havia circulado pelo salão dos Bartholomew por duas horas — tempo suficiente para ouvir sobre os tecidos importados da França, os escândalos da última temporada e, naturalmente, a mais recente falência do Conde de Waverly.

Tudo isso sem sequer uma menção digna à ciência, literatura ou plantas medicinais.

Era por esse motivo — e apenas esse, Eloise repetia para si mesma — que ela havia escapado discretamente pelos fundos do salão. Seu vestido azul-acinzentado, costurado com pérolas discretas e tecido leve, arrastava-se com elegância pelas pedras do jardim enquanto ela avançava com passos rápidos. A brisa noturna tocava seus cabelos castanhos soltos apenas o suficiente para escandalizar sua mãe, e o cheiro das rosas recém-desabrochadas a guiava pelo caminho como se fosse um convite pessoal.

Ela levava uma pequena lanterna de óleo, surrupiada da cozinha da casa. O destino? A estufa dos Bartholomew, onde se dizia que florescia uma orquídea da espécie Paphiopedilum hirsutissimum — algo raro, tropical e completamente fascinante.

Para Eloise, aquilo era o ápice da noite. Uma oportunidade de escapar da mesmice dos salões, das perguntas forçadas sobre sua solteirice persistente e das tentativas desesperadas das mães de cavalheiros sem graça.

Além do mais, era ali, no meio das folhas e das sombras, que ela se sentia mais viva.

Ela estava prestes a abrir a porta da estufa quando ouviu o estalo sutil de um galho se partindo atrás de si.

— Não deveria estar aqui — disse uma voz grave, seca, e terrivelmente irritante.

Eloise virou-se com um susto, quase deixando a lanterna cair. Seus olhos demoraram um instante para se ajustar à penumbra, até distinguirem uma silhueta alta e perfeitamente composta entre os arbustos. O homem estava imóvel, mas sua presença era como a de uma estátua prestes a despertar.

— Também não deveria estar aqui — retrucou ela, erguendo o queixo com natural desafio.

— E, no entanto, aqui estamos.

A voz era impessoal, mas carregava uma autoridade sutil — do tipo que não precisava se impor. Ele deu dois passos à frente, saindo das sombras, e a luz tênue da lanterna revelou um rosto que ela reconheceu de imediato.

— Duque de Thornewood — murmurou ela, surpresa.

Alexander Cavendish.

A elite o chamava de o Duque de Gelo. Raramente aparecia em eventos sociais, quase nunca sorria, e tinha um histórico de recusar convites com mais precisão que um exército em marcha.

Alto, de ombros largos, cabelos escuros perfeitamente alinhados e olhos cinzentos tão frios quanto tempestades de inverno. Ele parecia deslocado ali — como se aquele jardim, tão cheio de vida, contrastasse com a rigidez de sua alma.

— Lady Eloise Montrose — respondeu ele, fazendo uma leve reverência. Seu tom não soava cordial; era mais o equivalente aristocrático a “infelizmente, sim, sou eu”.

— Imagino que esteja... admirando as orquídeas — disse ela, com ironia.

— Imaginação brilhante, Vossa Senhoria — rebateu ele, num tom seco.

Ela sentiu um leve arrepio percorrer a espinha. Não pelo frio da noite — que estava ameno —, mas pela presença dele. Era como se sua simples existência exigisse que todos ao redor se portassem melhor, falassem menos e respirassem com mais discrição.

— Acredito que invadi seu santuário — comentou ela.

— O jardim não me pertence.

— Então não há invasão.

— Há inconveniência.

Ela deu uma risada baixa.

— Vossa Graça, estamos em um jardim florido, com iluminação romântica e cheiro de jasmim. Dificilmente é o cenário de um crime.

— Depende da companhia — disse ele, encarando-a por um segundo mais longo do que seria adequado.

Eloise arqueou uma sobrancelha.

— Devo interpretar isso como uma provocação ou um elogio envenenado?

Ele não respondeu de imediato. Seus olhos pousaram no livro que ela carregava preso à lateral do vestido — um tratado sobre plantas medicinais que ela escondera sob o xale.

— Poucas damas trazem literatura científica para bailes — comentou ele.

— Poucos duques se escondem em jardins para evitar convívio social. Suponho que temos mais em comum do que parece.

Por um instante, uma sombra de sorriso ameaçou os lábios de Alexander — mas foi embora tão rápido que ela se perguntou se havia mesmo imaginado.

Eles ficaram em silêncio. Não um silêncio desconfortável, mas curioso. Como se dois mundos, acostumados a repelir os outros, tivessem colidido ali, sob o luar e entre as flores.

E então, inevitavelmente, a paz se quebrou.

— Lady Eloise?! — exclamou uma voz feminina e escandalosamente aguda, vinda da varanda.

Era Lady Clarissa Hastings, uma das matronas mais fofoqueiras da cidade e possivelmente a mulher com os ouvidos mais aguçados da Inglaterra.

Eloise virou-se lentamente, como quem observa o próprio desastre se aproximando em câmera lenta.

Lady Clarissa estava acompanhada de três outras damas. Seus olhos arregalados estavam fixos na cena: uma jovem dama desacompanhada, em trajes de festa, sozinha com um duque... tarde da noite... no jardim.

Alexander deu um leve passo para o lado, mas era tarde demais. A imagem estava formada.

— Que maravilha — murmurou Eloise, com um suspiro entediado.

Alexander olhou para a varanda, depois para Eloise. Sua expressão era quase de resignação.

— Parece que estamos prestes a protagonizar o escândalo da temporada.

— Ou um noivado relâmpago.

— Pior ainda.

A multidão da varanda começava a murmurar entre si. Alguém cochichou “comprometida” antes mesmo de voltar para o salão.

— Poderíamos correr — sugeriu ela, meio rindo.

— Prefiro enfrentar uma tempestade no mar.

— Já estive em uma. Não é tão ruim quanto um chá com Lady Clarissa depois de um escândalo.

Alexander a encarou por um instante. Seus olhos pareciam analisá-la, avaliando algo que ia além das aparências.

— Lady Eloise, creio que esta noite nos tornamos peças de um tabuleiro que nem sabíamos estar jogando.

— Se for xadrez, estou sempre dois lances à frente.

Ele lhe ofereceu o braço.

— Nesse caso, permita-me escoltá-la de volta antes que sua mãe declare guerra ao reino inteiro.

Eloise aceitou o gesto, sentindo que o toque dele era surpreendentemente quente, apesar de toda a frieza exterior.

Enquanto voltavam lentamente pelo jardim, lado a lado, ela não pôde evitar um pensamento incômodo:

Talvez o Duque de Thornewood não fosse apenas um homem frio e inacessível. Talvez houvesse algo ali, sob a superfície, que despertasse nela um tipo diferente de curiosidade.

E, considerando as circunstâncias, aquilo era um problema. Um problema com título, fortuna... e um escândalo em pleno andamento.

A proposta impossível

Capítulo 2 — A proposta impossível

Na manhã seguinte ao Baile dos Bartholomew, o sol mal havia despontado no céu de Londres quando os primeiros cochichos começaram a se espalhar como fumaça em palha seca.

Nas casas dos nobres, nas floriculturas, nas confeitarias e até entre as cocheiras, um único assunto dominava os sussurros: Lady Eloise Montrose foi vista sozinha nos jardins com o Duque de Thornewood. À noite. Sem acompanhante. Por tempo indefinido. E com testemunhas. Muitas testemunhas.

— Isso é uma catástrofe — murmurou Lady Beatrice Montrose pela décima vez em menos de meia hora, andando de um lado para o outro no salão de visitas como um furacão de seda bordada e indignação.

Eloise, por sua vez, permanecia sentada à janela, observando calmamente os pássaros que bicavam o jardim da família.

— Mãe — disse ela com uma serenidade que só irritava ainda mais a matriarca —, está exagerando. Foi apenas um mal-entendido.

— Um mal-entendido? Clarissa Hastings praticamente se jogou da varanda para contar a todos! E ela nunca exagera... bem, nunca quando o escândalo envolve outra pessoa.

— A culpa não foi minha — disse Eloise, tentando parecer mais inocente do que realmente se sentia. — O duque estava lá primeiro.

— Isso é ainda pior! — esbravejou a mãe. — Ele é um homem! Um duque! Você deveria ter saído correndo!

— E tropeçado em um vaso de cerâmica no caminho, dando ainda mais espetáculo?

Lady Beatrice jogou as mãos ao ar em desespero.

— Por todos os santos! Você será arruinada, Eloise! Nenhum cavalheiro digno vai querer casar com você agora. A não ser…

— Não diga. Por favor, não diga.

— ...o próprio Duque de Thornewood — completou a mãe com satisfação trágica.

Eloise recostou-se na cadeira como se o teto tivesse desabado sobre sua cabeça. Alexander Cavendish? O homem mais glacial da nobreza inglesa? Casar-se com aquele homem?

Ela preferia lutar com uma planta carnívora do que com a expressão permanentemente entediada dele.

— Isso é desumano — murmurou.

— Isso é necessário. — A mãe apontou com firmeza. — Você irá para a sala de visitas. Agora. Ele está vindo.

— Ele... o quê?

— Ele está vindo pedi-la em casamento. É o mínimo que pode fazer. Arruinou sua reputação, sua temporada e talvez a vida amorosa de suas irmãs.

— Que exagero...

— Desça. Imediatamente.

Eloise bufou, levantando-se com relutância. Ao passar por um espelho, ajeitou o cabelo com os dedos. Não por vaidade, mas por orgulho. Se era para encarar o Duque de Thornewood, o faria com a cabeça erguida, os cachos em ordem e a língua afiada.

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Alexander Cavendish detestava perder tempo. Ainda mais quando envolvia questões sociais, boatos e senhoras ansiosas para enfiar-lhe anéis matrimoniais nas mãos.

Contudo, naquela manhã, ele se encontrava parado no salão dos Montrose, segurando a bengala com força demais e sentindo uma leve dor de cabeça se formar atrás dos olhos.

"Por que eu fui ao jardim?", pensava consigo. "Por que eu não a ignorei? Por que o destino insiste em me testar com damas espirituosas de olhos penetrantes e língua ferina?"

Mas ele sabia a resposta. E isso era ainda mais irritante.

A porta se abriu.

E lá estava ela.

Eloise Montrose entrou na sala como se fosse dona do mundo. O vestido simples, em tom de verde musgo, realçava sua figura com elegância sutil, mas era o olhar que chamava atenção: direto, firme, desafiador.

Ela parou diante dele e fez uma reverência impecável.

— Vossa Graça.

— Lady Eloise.

Silêncio.

— Agradeço por vir — disse ela, com um leve sorriso. — Embora tenha certeza de que preferiria estar em qualquer outro lugar.

— Estaria enganada.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Prefere estar aqui sendo forçado a me propor casamento do que, digamos, cavalgando pelas colinas de Yorkshire?

— Sim. Cavalos têm menos opinião.

Eloise deu uma risada curta.

— Duro, Duque. Mas justo.

Alexander respirou fundo.

— Não vim fazer uma cena. Vim porque entendo a gravidade da situação. A senhorita foi exposta, e, mesmo que nada de impróprio tenha ocorrido — o que é verdade —, a sociedade não perdoará. E, por esse motivo... — ele hesitou, como se cada palavra custasse mais do que ouro — ofereço-lhe minha mão em casamento.

Ela o encarou.

— Apenas isso? Sem joelhos dobrados? Sem declarações inflamadas de honra e sacrifício?

— Não sou um ator de teatro.

— Que pena. Eu gosto de dramatizações. Especialmente as ruins.

Outro silêncio.

— Pode recusar, é claro — disse ele. — Mas devo avisar que, se o fizer, poderá comprometer o futuro de suas irmãs.

Eloise suspirou profundamente.

— Gosto quando é direto, Vossa Graça.

Ela deu alguns passos, parando em frente à lareira. Os dedos deslizaram sobre o mármore, pensativa.

— E se eu aceitasse?

— Teria um casamento digno. Respeito. E espaço. Eu não interfiro em suas atividades. A senhorita não interfere nas minhas.

— Teria liberdade?

— Dentro dos limites da decência e da segurança, sim.

— E não haveria... obrigações conjugais imediatas?

Alexander não corou, mas sua mandíbula se contraiu.

— Apenas com mútuo consentimento.

Eloise o olhou com curiosidade.

— Frio e sensato. O casamento dos sonhos.

— Não estou prometendo sonhos, Lady Eloise. Estou prometendo estabilidade.

Ela se aproximou mais um passo. Agora, os dois estavam tão próximos que poderiam ouvir a respiração um do outro.

— Então, me diga, Vossa Graça: por que, de verdade, está aceitando isso?

Alexander a encarou. Seus olhos cinzentos não vacilaram.

— Porque, apesar do escândalo, da língua afiada e da propensão a se esconder em jardins alheios... há algo em você que me intriga. E eu não ignoro o que me intriga.

Eloise sentiu o ar rarefeito por um instante.

— O senhor deveria trabalhar com encantamentos. Disse isso como se fosse um elogio, quando na verdade é um aviso.

— Considerarei isso um elogio, de qualquer forma.

Ela sorriu. Um sorriso de canto, carregado de ironia e... curiosidade.

— Está certo, Vossa Graça. Aceito sua proposta.

— De verdade?

— De verdade.

— Sem ameaças, chantagem ou lágrimas?

— Talvez lágrimas. Mas só no altar, para causar impacto.

Eles apertaram as mãos. O toque foi breve, mas firme. Como um pacto entre dois generais prestes a entrar em guerra.

— Isso — disse ela com uma voz melódica — será absolutamente encantador.

Alexander não respondeu. Mas, enquanto a observava sair da sala com a postura ereta e o passo elegante, teve a estranha sensação de que aquele casamento seria tudo… menos previsível.

O anúncio do noivado causa alvoroço

Capítulo 3 — O anúncio do noivado causa alvoroço

A notícia espalhou-se pela sociedade londrina com mais velocidade do que um incêndio em biblioteca.

Na manhã seguinte à visita oficial do Duque de Thornewood à casa dos Montrose, a cidade inteira sabia do noivado. Ou, mais precisamente, a cidade inteira achava que sabia. Versões conflitantes da história pipocavam em todos os salões, clubes e confeitarias:

— “Dizem que ela o seduziu no jardim com poesia proibida.”

— “Ouvi que ele a encontrou desmaiada entre as rosas e a salvou heroicamente.”

— “Ela estava escondida lá para escapar de um pretendente bêbado!”

— “A mãe dela armou tudo! Típico dos Montrose!”

— “Duques não se casam por obrigação. Ele deve estar apaixonado.”

A verdade, naturalmente, ninguém sabia. E Eloise não fazia questão de esclarecê-la.

Ela observava tudo do salão da residência Montrose, sentada em uma poltrona próxima à janela. Seus dedos brincavam com uma fita de cetim enquanto sua mãe caminhava de um lado para o outro, eufórica.

— Já chegaram flores de quatro famílias — anunciou Lady Beatrice, segurando cartões com entusiasmo. — E dois convites para jantares. A Condessa de Whitford quer nos receber antes do final da semana!

— Que maravilha — murmurou Eloise. — A temporada mal começou e já ganhei um noivo e uma fama duvidosa.

— Duvidosa, não! — a mãe ergueu um dedo. — É uma fama poderosa. Agora você é a futura Duquesa de Thornewood. E com esse título, minha querida, ninguém ousará questionar seu passado.

Eloise bufou. A ironia não a abandonava.

— O passado aconteceu ontem. Acho que ainda estou nele.

— Por favor, querida. Mostre-se agradecida. Você capturou o homem mais desejado — ou pelo menos o mais inacessível — da cidade. Nem Lady Agatha conseguiu isso.

— E lá vem ela — murmurou Eloise, ao ver uma carruagem luxuosa parar diante da casa. — Senti um calafrio.

A porta mal havia sido aberta quando Lady Agatha Pembroke entrou como um furacão polido, vestida em tons de lavanda e joias discretas, mas caríssimas. Era bonita no sentido clássico: cabelos loiros presos em um coque sem fio fora do lugar, olhos azuis e sorriso treinado para esconder más intenções.

— Lady Beatrice! — exclamou ela, com falsa doçura. — Que notícia maravilhosa! Vim oferecer minhas mais sinceras... surpresas. Digo, felicitações!

— Lady Agatha, que delicadeza — disse a mãe de Eloise, levantando-se depressa para recebê-la. — Fique à vontade. Eloise está logo ali.

Eloise, sem levantar-se, fez uma reverência sutil.

— Lady Agatha. Que prazer... inesperado.

Agatha se aproximou como uma gata prestes a dar o bote.

— Então é verdade. O duque... enfim, escolheu. — Ela sorriu. — Imagino que tenha sido tudo muito... espontâneo.

— Como uma explosão — respondeu Eloise com doçura. — Rápido, barulhento e inevitável.

Agatha piscou lentamente, o sorriso apenas tremendo.

— Imagino que esteja encantada com ele.

— Encantada não é a palavra. Desafiada, talvez.

— Hum. Ele não é um homem fácil.

— Ótimo. Homens fáceis nunca me interessaram.

O duelo velado entre as duas foi interrompido por Lady Beatrice, que, em sua inocência, achava que o chá amenizava rivalidades.

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Enquanto isso, Alexander Cavendish estava tendo um dia igualmente tortuoso.

Ele se encontrava no Clube Cavendish, lugar que não tinha seu nome por acaso — havia sido fundado por um ancestral com mais senso de propriedade do que humildade. No clube, cavalheiros de linhagem impecável liam jornais, bebiam conhaque e julgavam o mundo entre uma baforada de charuto e outra.

Alexander detestava o lugar. Mas naquela manhã, precisava “cumprir o protocolo”, como dissera sua irmã Helena ao arrastá-lo para lá.

— Você tem que ser visto, Alex — insistira ela. — Se sumir agora, vão dizer que está sendo forçado.

— Estou sendo forçado.

— Então pareça feliz.

Ele havia tentado. Usava um terno escuro perfeitamente ajustado, o queixo barbeado, o cabelo arrumado. Ainda assim, sua expressão mantinha a mesma frieza habitual.

Sir Cedric Armstrong foi o primeiro a se aproximar.

— Parabéns, Thornewood — disse com um sorriso malicioso. — Uma jogada surpreendente.

— Não foi um jogo.

— Claro que não. — Cedric riu. — Mas a senhorita Montrose... interessante. Corajosa. Insolente. Exatamente o tipo que você evita.

— Talvez eu esteja reformulando meus critérios.

— Ou talvez tenha caído em uma armadilha muito bem montada.

Alexander girou o anel no dedo. Um antigo hábito quando estava irritado.

— Se está insinuando que a senhorita Montrose tramou algo, recomendo que retire isso.

— Calma, duque. É apenas conversa entre amigos.

Alexander não tinha amigos.

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Naquela noite, os Montrose ofereceram um jantar discreto para “comunicar formalmente” o noivado aos mais próximos.

Discreto, no entanto, era uma palavra subjetiva.

Havia mais de cinquenta convidados, três músicos, dois bufês, vinho francês, sobremesas com nomes impronunciáveis e três arranjos florais do tamanho de carruagens.

Eloise desceu as escadas como uma verdadeira debutante — não por desejo, mas por sobrevivência.

Usava um vestido vinho com detalhes em dourado, escolhido por sua irmã mais nova, Cressida. O cabelo estava preso em um coque trançado, com algumas mechas soltas para suavizar o rosto. Seus olhos, no entanto, estavam mais vivos do que nunca.

Alexander já estava lá, conversando com o Visconde de Ashby. Assim que a viu, interrompeu a conversa e foi ao seu encontro.

— Está... — ele começou, claramente desconfortável com elogios — apresentável.

— É o vestido — disse ela. — Ele faz todo o trabalho.

— E o resto?

— O resto aguenta firme.

Eles ficaram lado a lado durante quase todo o jantar, cumprindo a obrigação social de sorrir, agradecer os parabéns, e parecer minimamente agradáveis um ao outro.

A certa altura, Alexander inclinou-se e murmurou:

— Quantas vezes já lhe perguntaram se está feliz?

— Quinze. E você?

— Dezessete. Aparentemente, estou sorrindo demais.

— Isso é sorrir?

— Para mim, sim.

Mais tarde, durante a sobremesa, Lady Agatha aproximou-se com duas outras damas da sociedade.

— Lady Eloise — disse ela, com a sutileza de uma adaga envolta em seda. — Um noivado relâmpago é sempre tão... emocionante. Imagine os bailes que virão. Tantos olhos sobre vocês.

— A sociedade precisa de entretenimento. E, pelo visto, nos tornamos protagonistas — disse Eloise.

— E você, Duque? — perguntou Agatha, dirigindo-se a Alexander. — A senhorita Montrose conquistou seu coração tão rapidamente?

Alexander não respondeu de imediato. Seu olhar pousou no de Eloise. Ela levantou uma sobrancelha, desafiando-o a continuar com a mentira — ou, quem sabe, a transformá-la em algo maior.

— Lady Eloise me surpreendeu — disse ele, enfim. — E eu sempre valorizei o que é imprevisível.

Agatha sorriu como quem engole vinagre.

— Que resposta... encantadora.

— Ele ensaia — respondeu Eloise. — Mas está melhorando.

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Quando a noite terminou, Eloise recolheu-se à biblioteca. Queria distância da música, dos sorrisos falsos e das expectativas depositadas em seus ombros.

Alexander apareceu pouco depois, sem aviso, como era de se esperar dele.

— Fugiu da própria festa? — perguntou ele, encostando-se à porta.

— Não. Apenas vim respirar.

— Sabe que agora tudo mudou.

Ela virou-se para ele, os olhos brilhando sob a luz das velas.

— Sei. Agora sou a futura esposa de um homem que não acredita em amor, e você é o futuro marido de uma mulher que desafia regras em tempo integral.

— Parece um belo caos.

— Caos é meu sobrenome.

Ele deu um passo à frente.

— Está com medo?

— Um pouco.

— Eu também.

E pela primeira vez, o silêncio entre eles não foi de resistência, mas de cumplicidade.

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