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Alma de Leonor

Almas Renascidas

LEONOR

-Brasil: 24 de fevereiro de 1901.

Em uma noite de tirar o folego, com brilhantes estrelas no céu e uma lua iluminando o caminho por entre as casas na fazenda, no interior do Rio de Janeiro, havia uma vila bem pitoresca, dentro de uma das diversas fazendas produtoras de café da região, um grito enorme cortou o riso das crianças a brincar, o olhar apavorado das pessoas, logo virou um olhar de alegria, finalmente Leonor abria seus olhos e contemplava a visão de seus pais, seu nome foi lhe dado devido ao significado “Luz”, a vida não era fácil e para seus pais foi algo quase que impossível ter uma criança tão saudável em meio a tudo que viviam, a escravidão podia ter acabado, mas os pobres ainda sofriam.

Seus pais José e Ana, cresceram e viveram nessa pequena vila do interior e seu maior sonho era ter seu primeiro filho, mas com o passar dos anos Ana não conseguia segurar uma criança em seu ventre, devido a isto o nascimento de Leonor era uma grande notícia para todos os seus amigos e a realização de um sonho.

Os primeiros meses foram de grande alegria, todos na vila ajudavam Ana e José a cuidar de sua filhinha, de vez em quando tinham que sair para trabalhar, os vizinhos tomaram conta da pequena Leonor, como era uma criança tranquila, todos queriam ficar à sua volta e apreciar seu pequeno sorriso. Tanto seu pai quanto sua mãe trabalhavam na fazenda, José plantava e colhia café enquanto Ana cuidava dos afazeres domésticos da casa de seu patrão.

Leonor foi batizada na pequena igreja da vila, suas paredes de madeiras e pequenas torres chamavam a atenção pela simplicidade, muitos estavam presentes para apreciar tal alegria, afinal o povo da vila era como uma enorme família.

Quando Leonor completou seis meses a pequena vila foi atacada, saqueada e incendiada, muitos morreram devido a este ataque, inclusive seus pais, sua mãe que estava na casa de uma vizinha cuidando das crianças, morreu no incêndio tentado salvar os pequenos, não conseguindo sair do local, no desespero José entrou no incêndio conseguindo salvar Leonor, mas devido a fumaça que inalou não sobreviveu, deixando assim sua pequena filha sozinha e desprotegida.

Apesar deste grande marco em sua vida, os sobreviventes a acolheram e a ensinaram a ser uma jovem educada e gentil, Leonor tinha cabelos castanhos, com sua pele parda, medindo um pouco mais de 1,56 de altura, com aproximadamente 55 kg, uma aparência comum, mas chamava muito a atenção pela sua maneira de ver sempre o lado bom de tudo, aos seus olhos tudo era belo, um lindo sorriso estava sempre estampado em seu rosto. Estava sempre ajudando as mães da vila a cuidar das suas crianças, pois em sua mente estava em débito com eles, por terem lhe alimentado e dado um teto para dormir, para arrecadar algum dinheiro fazia doces para vender na cidade, quando não precisava cuidar das crianças, pois seu grande sonho era ter sua própria casa, um local seguro onde pudesse iniciar sua família.

Os anos se passaram e Leonor foi crescendo, todos tinham extremo carinho por ela, pois assim como seus pais imaginaram ela era a luz do lugar.

Sua vida começou a mudar quando finalmente completou 15 anos.

JOAQUIM

-Brasil: 22 de junho de 1900.

Estava caindo uma tempestade torrencial, ventos descontrolados, no hospital da cidade mais movimentada, nascia o quarto filho da família, o grito da mãe ecoava pelos corredores, o pai aflito esperava sentado apenas escutando a tortura do parto de sua esposa, até que finalmente Joaquim deu as caras, abrindo seus olhos e contemplando o rosto de sua mãe.

Alfredo e Joaquina, estavam casados a dez anos e lado a lado tocavam a fazenda das Oliveiras no interior do Rio de Janeiro, uma família muito abastada, juntos tinham além de Joaquim recém-nascido, Ana de 02 anos, Francisco de 5 anos, Tomas de 7 anos e Roberto de 9 anos, seu primeiro filho. Como era uma família muito tradicional, conforme seus filhos cresciam iam estudar na capital, para ter uma educação de mais qualidade.

Assim que Joaquim completou 6 anos, foi para uma escola na capital para aprimorar seus estudos, lá cresceu sendo criado pela governanta da família Berta, a mesma que auxiliou seus irmãos, viviam os quatro irmãos separados dos seus pais, devido ao trabalho que a plantação de café dava, não foi fácil se afastar de sua família tão pequeno, então Joaquim sendo o mais novo, foi o mais rebelde, matava aula para jogar bola com os outros rapazes da região e ao completar seus 16 anos, já fazia com que diversas meninas se apaixonasse por ele, seus cabelos negros, e olhar penetrante contrastavam com sua pele clara, devido ao seu porte era um rapaz que chamava muita atenção.

Devido sua beleza, na escola fazia sucesso com as garotas, ficando até mesmo com fama de mulherengo, Joaquim não costumava ter pena do sentimento das meninas que o cercavam, mesmo sendo galanteador e flertando com diversas mulheres.

Em um dado momento seu irmão mais velho Roberto viu que se seguisse por este caminho Joaquim não teria um grande futuro, entrou em contato com seu pai Alfredo, através de carta.

Meu Caro Pai

Meu querido irmão mais novo, o qual tenho grande apreço vem mostrando um comportamento desordeiro, não respeita minha opinião, nem mesmo a Senhora Berta consegue contê-lo. Já não sei mais o que fazer para que mude de atitude, sinceramente acredito que é por estar em meio a más influências, estes dias avistei Joaquim e seus amigos bebendo e fumando, demonstrando em público comportamento desordeiro.

Peço sua ajuda!

Sem mais delongas Alfredo solicitou que com grande urgência Joaquim fosse enviado de volta para a fazenda das Oliveiras. Não muitas semanas depois Joaquim estava de volta à fazenda.

Caminhos Cruzados

--Dezembro de 1916.

O momento esperado chegou após anos sem ver seu filho Alfredo e Joaquina esperam pelo retorno do seu desordeiro filho caçula, foram até a cidade aguardar o trem que chegava da capital onde Joaquim havia crescido. A estação de trem não era muito grande, tinha um pequeno guichê onde podia-se comprar os bilhetes e alguns bancos onde todos podiam aguardar, sua estrutura feita em tijolos a vista e uma pequena plataforma onde o trem parava.

-Será que Joaquim não ficará chateado de voltar? (Falou Joaquina)

-Ele não tem opção, retornava ou Roberto o expulsava de casa. (Falou sério)

-Roberto também não tem muita paciência com seus irmãos, pensam que todos tem que ser como ele. (Joaquina deu um longo suspiro)

-Roberto segurou muito bem as pontas junto de Berta, eu no lugar dele faria o mesmo.

-Você também não tem muita paciência com crianças, por isso mandou meus filhos para longe. (Alfredo abraçou sua esposa)

-Joaquina, você sabe que não foi assim, acredito que não gostaria que seus filhos fossem uns caipiras, como o povo da fazenda.

Joaquina deu um leve suspiro e balançou a cabeça suavemente concordando com seu marido, era uma linda tarde de verão, tinha um leve vento que batia suavemente nos seus cabelos negros, sua pele clara e olhos claros chamavam atenção por onde passava, alguns diziam que ela era a mulher mais linda da região.

Alfredo com seus cabelos grisalhos, pele parda e olhos escuros, não chamava tanta atenção pela sua aparência, mas sim pela sua personalidade egocêntrica, já sua esposa tinha uma personalidade extremamente gentil.

Joaquina e Alfredo estavam esperando na estação olhando atentamente para os trilhos do trem, ambos contando os segundos para o retorno do seu filho. A estação tinha janelas e portas com os cantos arredondados, muitos entalhes de madeira, que com o passar dos anos a tinta acabou se desgastando, próximo as paredes tinham bancos rústicos para que o público pudesse aguardar a chegada de seus familiares ou a hora de sua partida.

-Será que meu filho é tão lindo quanto imagino. (Falou imaginando)

-Deixe de besteira, nada importa se for um vagabundo.

-Alfredo, não fale assim de seu filho. (Falou brava)

-Se esse pivete aprontar pela redondeza vou lhe dar tanto trabalho, que ele não vai conseguir nem respirar.

-Nossa você e Roberto são mesmo pai e filho.

-Claro, ele é lindo e encantador como eu. (Ele riu)

Joaquina apenas balançou a cabeça levemente e deu uma risada, não muito tempo depois o trem chegou, ambos estavam ansiosos, pois fazia muito tempo que não viam seu filho. A visão de seu filho saindo do trem com uma grande mala nas mãos os fez abrir um grande sorriso.

Não muito longe da estação Leonor, entregava seus doces caseiros e geleias que fazia para vender, como era uma pessoa muito doce vários negócios locais pegavam para revender e uma vez na semana ela vinha repor o estoque e pegar os valores arrecadados com as vendas.

-Bom dia, senhora Francisca, como está hoje? (Falou sorrindo)

-Minha menina, estou bem, e fico feliz em lhe contar que vendemos todas as suas geleias. (Falou dando um abraço em Leonor)

-Isto é uma boa notícia.

-Claro, minha querida, como vai o pessoal da vila?

-O filho de Lúcia e João, já começou a dar seus primeiros passos. (Coloco o cabelo para trás)

-Que bênção, tome aqui o valor arrecadado da semana.

-Francisca muito obrigado por me apoiar. (Dou um grande abraço nessa grande amiga)

-Leonor, você é filha de todos nós, e todos somos pais muito orgulhosos do que se tornou.

-Assim você me faz chorar. (Secou suavemente as lágrimas que correram por sua face)

-Você sabe minha querida, qualquer coisa que precisar só falar.

-Obrigado, vou indo, ainda tenho um longo caminho a percorrer.

A venda da Dona Francisca, não era muito grande, mas tinha um pouco de tudo, mesmo com as paredes desgastadas devido a idade do prédio, era um local muito limpo. Conforme o dia foi passando Leonor entregou seus doces a mais alguns comerciantes da região e hoje seu dia havia rendido, pois quase tudo que deixou na semana anterior foi vendido. Leonor tinha faturado um bom dinheiro, finalmente iria conseguir comprar roupas novas, pois as suas já estavam velhas e gastas.

Quando terminou de coletar o valor arrecadado com suas vendas, foi até a loja de roupas de Anabeth, era uma loja humilde, mas suas peças tinham ótimo preço e uma boa qualidade.

-Boa tarde Anabeth!

-Boa tarde, no que posso lhe ajudar?

-Preciso de algumas roupas novas. (Falou sorrindo)

-Dá para perceber querida. (Usou um tom de sarcasmo)

Mesmo Anabeth sendo uma mulher arrogante, ela sempre esteve disposta a ajudar Leonor.

-Venha, tenho algumas peças que vão ficar muito boas em você.

-Obrigado!

Não muito tempo se passou e Leonor já estava saindo com sacolas na sua mão com algumas roupas, andando a caminho da fazenda, pela estrada de terra, ela avistou Alfredo e Joaquina.

Alfredo parou com urgência o veículo, ao avistar aquela pequena garota na estrada.

-Leonor, está a caminho da fazenda?

-Sim, senhor Alfredo.

-Venha, entre lhe damos uma carona, estamos voltando à fazenda também.

- Agradeço, mas não quero incomodá-los.

-Deixe de besteira, venha querida. (falou Joaquina)

Apesar de seu receio, Leonor subiu, sentou-se ao lado de um rapaz com um olhar muito penetrante, seus olhos escuros contrastam contra a sua pele clara, o que fez pela primeira vez a jovem garota imaginar como seria se alguém com esta aparência gostasse dela.

-Leonor, este é nosso filho Joaquim, acabou de voltar da capital. (Falou Joaquina)

Leonor apenas balançou a cabeça para concordar.

-Quem é a senhorita? (Perguntou Joaquim)

-Leonor.

-Isto já sei, sua história?

Que garoto arrogante ela pensou, mal o conheceu e ele já quer detalhes de sua vida.

-Moro na Vila da fazenda, junto com os trabalhadores.

-Entendi, é apenas mais uma funcionária da fazenda.

Neste momento Leonor teve uma pequena vontade de dar um tapa na cara deste moleque, e sua primeira impressão sobre o rapaz logo se desfez.

-Deixa de ser arrogante garoto, Roberto não lhe ensinou modos. (Falou Alfredo)

-Não fui arrogante, apenas constatei os fatos.

-Leonor, não é nossa funcionária, mas sim filha de antigos funcionários. (Contou Alfredo)

-Não precisa explicar tudo para Joaquim, esta é a vida privada de Leonor.

Devido ao clima a conversa esfriou e o resto da viagem seguiu com um silêncio ensurdecedor. Ao chegar na fazenda deixaram Leonor, na vila e seguiram para a residência principal.

Na vila:

-Leonor, voltou cedo hoje. (Questionou Lucia)

-Sim, o Senhor Alfredo e a Senhora Joaquina me deram carona.

-Eles têm um grande coração mesmo, o que tem nestas sacolas.

-Comprei algumas roupas já que as minhas estão muito velhas.

-As crianças estão lhe esperando para o jantar, se apresse e guarde suas coisas.

Quando seus pais faleceram, Leonor, ficou morando junto com os melhores amigos de seus pais, Lúcia e João. Apesar de sua casa ser simples e terem quatro filhos, eles a acolheram como se fosse mais uma de suas filhas e Leonor sempre retribuiu com muita gentileza e sempre ajudava a cuidar das crianças.

Na residência principal:

-Você mal chegou e logo nos fez passar vergonha. (Falou batendo na mesa)

-Por que vergonha mãe?

-A garota. (Deu um olhar afiado)

-O que tem?

-Os pais dela eram nossos melhores funcionários.

-Você mesma disse eram, porque tem que dar carona a uma ninguém.

-Seu pivete. (Disse Alfredo indignado)

-Os pais dela morreram no grande incêndio da vila antes de você nascer, ela tinha seis meses, foi criada pelos funcionários da fazenda.

Joaquim virou as costas para seus pais e seguiu em direção ao seu quarto, já fazia anos que não retornava, e nunca queria voltar, a sensação de estar em volta de caipiras, como ele dizia, o trazia apenas desprezo.

Quando chegou ao seu quarto, deixou suas malas próximas ao guarda roupa e se deitou em sua cama, devido ao cansaço da viagem logo pegou no sono.

Na vila:

Leonor já tinha jantado com as crianças e com seus amigos, estava cansada do trabalho, mas também realizada, fazia tempo que não via tanto dinheiro, quando se deitou não levou muito tempo dormiu pesadamente.

Almas Perdidas

Janeiro de 1917.

Algumas semanas já tinham passado, desde a chegada de Joaquim a fazenda, o

garoto passava boa parte do tempo preso em seu quarto.

Joaquim:

Não passa a hora neste lugar, nada para fazer, na cidade pelo menos tinha

algumas garotas para me divertir. Roberto me paga, ele não devia ter feito isso comigo, me

mandar de volta para este fim de mundo. Levanto-me e vou em direção da janela, acabou

de amanhecer, pelo menos o nascer do sol é bonito neste fim de mundo.

Escuto um barulho de batida na porta, vou em direção e quando abro está

meu pai com aquela cara de que estou fazendo algo errado.

-Garoto, se continuar desse jeito vai criar raízes dentro deste quarto. (Me

olhou ferozmente)

-Me diga o que mais tenho para fazer Senhor Alfredo. (Falei debochando)

-Me respeita, vai dar uma volta na fazenda, conhecer as outras pessoas,

fazer amigos.

-Amigos, não sou amigo de pobre.

-Moleque arrogante. (Quase me deu um tapa)

Meu pai saiu e fui trocar de roupa, assim como ele pediu vou dar uma volta,

quem sabe vejo algo interessante por aí, alguém para matar o tempo, tem aquela garota,

como era mesmo o nome?

Mesmo sendo suja, até que era bonitinha. Mas não trabalha na fazenda, vou

ver se consigo achar outra diversão.

Após trocar de roupa tomo meu café na sala de jantar, sozinho pois meus

pais acordam junto com as galinhas, coloco minhas botas e vou em direção da plantação de

café, já que minha família vive disso não custa nada aprender um pouco, mesmo sabendo

que quem vai cuidar de tudo isso é Roberto.

Estava andando pelo campo, quando de longe, parecia ser mentira, avisto a

garota, ela não deveria estar aqui, já que não trabalha na fazenda, até estava pensando em

passar na vila mais tarde, para ver se por acaso encontrava ela. Ela parece do estilo

teimosa e apaixonada, adoro este tipo de garota. Vou andando em sua direção, mas ela

está tão concentrada que não vê quando estou chegando perto dela, ela estava brincando

com as crianças em meio a plantação, enquanto os outros estavam trabalhando, que vida

fácil.

Fico analisando por um tempo, ela realmente é boa com crianças, quem

sabe um dia até se torne uma boa mãe, não posso ficar parado aqui que nem um maníaco,

dou uma pequena cutucada em seu ombro e ela me olha assustada.

-Oi garota.

-Que susto Senhor Joaquim. (Colocou a mão no peito)

-Não precisa me chamar de senhor, Joaquim basta. (Sorri)

Leonor:

A manhã foi tranquila, passei o seu início montando lanches para as crianças

comerem, fazia tempo que não ia até a plantação e prometi fazer um piquenique para elas,

ambas estavam muito ansiosas, inclusive eu.

No final da manhã, reuniu boa parte das crianças pequenas da vila, e fomos

na plantação visitar os trabalhadores, as crianças adoravam correr em meio aos pés de

café. Assim que acabaram o lanche estavam brincando de pega-pega, estava de olho nelas

para nenhuma das crianças se machucar. Estava bem distraída, quando senti alguém

cutucar meu ombro levei um susto, era o filho do Senhor Alfredo e da Senhora Joaquina.

-Oi garota. (Deu um pequeno sorriso)

-Que susto Senhor Joaquim. (Coloquei a mão no peito para acalmar meu

coração)

-Não precisa me chamar de senhor, Joaquim basta. (Agora sim meu coração

vai disparar)

-Senhor Joaquim, devo manter o respeito, tendo em vista que esta fazenda

também é sua, e como disse anteriormente sou apenas filha de funcionários. (Falei séria)

-A você é daquelas que fica presa ao passado, peço desculpas, não estava

em um bom dia. (Fez um movimento como se estivesse tirando o chapéu)

-Não precisa estar em um mau dia para ofender uma pessoa. (Peguei

pesado)

-Eu já pedi desculpas.

-Tudo bem, no que posso lhe ajudar?

-Meu pai pediu que eu conhecesse a fazenda, mas não conheço ninguém, e

estão todos trabalhando, você se importa de me mostrar. (Esse sorriso vai me matar)

-Claro. (O que foi que eu disse, era para ser não)

-Vamos.

-Só vou deixar as crianças na vila.

-Lhe acompanho, assim já posso conhecer o local.

Seguimos o caminho até a vila, ele estava muito perto podia sentir sua

respiração e seu perfume, vendo-o andando calmamente ao meu lado não parecia aquele

rapaz arrogante que conheci anteriormente, quem sabe até possamos ser amigos. Não

demorou muito chegamos na vila, as crianças foram para as suas casas, a fila para se

despedir era enorme.

-Vamos. (Eu disse)

-Claro.

Conforme fomos andando pela fazenda Joaquim não falava nem sequer uma

palavra, aquilo estava estranho, depois de um tempo quebrei o silêncio.

-Então está gostando de ter voltado? (Que jeito de puxar assunto, está claro

que não, ele nem tenta esconder isso)

-Estou entediado e envergonhado.

-Como assim?

-Entediado, pois sinto falta da capital, dos meus amigos principalmente e

envergonhado porque não me lembro seu nome. (Sério isso?)

-Não sei se posso desculpá-lo por isso.

-Que foi, mal nos conhecemos.

-Tudo bem, era brincadeira.

-E aí qual seu nome? (Ele sorriu)

-Leonor.

-Diferente, acho que você é a primeira.

-Me sinto lisonjeada neste caso. (O que estou fazendo)

-Gosto de você, é bem sincera. (Meu coração saltou)

-Você é o primeiro a me dizer isso. (De novo, não controlo mais o que digo)

-Qual parte? (Você também sabe flertar)

-Sincera. (Engulo a seco)

-Duvido muito que seja esta parte. (Ele para e se senta no gramado, batendo

a mão suavemente ao seu lado)

-Sério, sempre dizem que sou doce e amável.

-De fato não estão mentindo, você parece ser bem doce. (Ele olhou dentro

dos meus olhos fazendo meu coração saltar)

Conforme ele olhava dentro dos meus olhos, senti como se não fosse capaz

de respirar, meu coração acelerou como nunca, Joaquim começou a se aproximar

suavemente de mim, colocou a mão na minha bochecha fazendo um carinho bem suave,

estava derretendo em suas mãos, conforme foi passando o tempo ele foi se aproximando,

até que finalmente nossos lábios se encontraram, o beijo foi delicado e doce, era como se

fossemos perfeitos um para o outro.

Coloco minha mão em seu peito e o afasto.

-Não podemos. (Disse sem fôlego)

-Por que?

-Somos muito diferentes.

Novamente ele me agarrou agora com mais urgência, me beijou com força,

agarrando minhas costas fazendo com que sentisse vontade de não sair mais dali, até que

recuperei a consciência e o empurrei, levantei e sai correndo em direção da minha casa.

Quando deitei em minha cama fiquei imaginando novamente o que tinha acontecido, estava

sem entender nada como alguém como ele poderia sentir algo por mim.

Joaquim:

Leonor me empurrou e correu para longe, estava com uma grande vontade

de rir, acho que assustei a garota, fiquei mais um tempo sentado no gramado olhando a

noite começar a cair, até que finalmente levantei e fui em direção da residência principal.

-Onde estava filho? (Perguntou minha mãe)

-Encontrei Leonor na plantação e ela me mostrou a fazenda.

- Parece que está começando a gostar um pouco da garota.

-Ela não tem culpa de ser quem é.

-Teve uma vida miserável, não vá magoá-la.

-Mãe, seremos grandes amigos.

Aquela garota nem pode imaginar o que está esperando-a, conheço esse

tipo, é o tipo de pessoa que sonha em mudar de vida, gosta de romance, basta apenas

tratá-la com um pouco mais de carinho que uso habitualmente.

Logo caio no sono, sonho com a capital, sinto tanto a falta dos meus amigos,

das nossas festas juntas. A noite passa como um sopro, logo amanhece e tenho a ideia de

ir ver o nascer do sol, vai que encontro aquela garota novamente, é legal brincar com ela,

acredita em tudo que eu falo. Me lavo e vou tomar café da manhã, acordei tão cedo que

nem meus pais acreditaram em tal feito.

-Acredito que terá um temporal hoje. (Falou sarcasticamente)

-Por que pai?

-Nosso majestoso Joaquim acordou a esta hora.

-Alfredo, não incomode Joaquim. (Minha mãe sempre me protegendo)

-Ele precisa crescer, a fazenda em breve será dele e dos irmãos. (Lá vem ele

com essa história)

-Pai, já falei que não quero a fazenda.

-Você não tem poder de escolha, Roberto e Tomás ficam com a loja na

capital e você e Francisco tomam conta da produção de café. A propósito, já estou cuidando

do casamento da Ana.

-Alfredo, vamos parar de tratar de negócios, vamos apenas tomar um café da

manhã tranquilo.

Finalmente minha mãe cala o meu pai, as semanas vão passando e não vejo

Leonor novamente, será que ela está se escondendo de mim, talvez eu tenha pegado muito

pesado com ela. Quero muito vê-la novamente.

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