Caminhamos bastante até chegar à escola. As ruas pareciam mais longas naquela manhã, ou talvez fosse só a sensação do tempo se esticando entre risos, passos apressados e o silêncio confortável que existia entre nós dois. O vento jogava meus cabelos contra o rosto, e a cidade aos poucos despertava ao nosso redor.
Quando atravessamos o portão principal, algo dentro de mim acelerou. Aquele típico burburinho de alunos espalhados pelos corredores, o som abafado de vozes misturadas, risos e passos ecoando pelas paredes — tudo isso me empurrou para a realidade de mais um dia.
Sem pensar muito, corri na frente dele, apressada, tentando escapar do fluxo apertado de estudantes entrando. Meus passos ecoavam apressados no piso gelado do corredor, o barulho dos armários se abrindo e vozes misturadas criando uma trilha sonora caótica ao fundo.
Foi então que, distraída, virei o corredor com tudo — e esbarrei em alguém.
Uma garota, alta, de cabelos longos e escuros, carregava uma pilha de livros nos braços. Não tive tempo de parar, nem de pedir desculpas. O choque entre nós foi o suficiente para me desequilibrar por completo.
O mundo pareceu girar por um segundo, e eu me preparei para cair no chão frio… mas não caí.
Fui amparada por dois braços firmes, que me seguraram com precisão. Meu corpo colidiu com o dele, e por um instante, tudo ficou em silêncio — como se o tempo segurasse o fôlego junto comigo.
Levantei os olhos devagar.
Ele estava ali. Alto, imponente. Os traços do rosto marcados, o olhar afiado como se analisasse cada detalhe meu. Não disse nada. Apenas me olhava… frio e calculista. Havia algo na forma como ele me encarava — como se pudesse ler pensamentos, segredos, medos. Como se nada escapasse da observação dele.
E isso... me fez rir. Uma risada curta, involuntária, escapou dos meus lábios — mais pelo nervosismo do que pela graça. Mas ele não reagiu.
A expressão dele continuava exatamente a mesma. Séria. Imóvel. Olhar fixo em mim.
E eu ali, nos braços de um completo estranho, sem saber se tinha começado o melhor ou o pior dia da minha vida.