NovelToon NovelToon

O MERCENÁRIO JUSTICEIRO

####PRÓLOGO RYDER

“Ryder”

Como todo americano, eu cresci acreditando em honra, liberdade e bandeira.

Fui criado para ser um bom patriota. E eu fui.

Jurei lealdade à pátria, à minha unidade, aos meus irmãos de guerra.

Cumpri.

Entrei para os Fuzileiros Navais aos dezessete.

Aos vinte e seis, já era comandante de operações da inteligência de campo — um fantasma sem rosto, uma lenda sem paradeiro.

Letal. Preciso. Rápido.

Me chamavam de “O Silêncio da Tempestade”.

Salvei vidas. Interrompi massacres.

Fiz justiça onde a política não alcançava.

E, mesmo assim…

Enquanto eu limpava a sujeira do mundo com sangue nas mãos…

destruíram a minha casa.

Minha esposa. Meus filhos.

Minha vida inteira, apagada em segundos por um grupo que jamais deveria ter me tocado.

Eles sabiam quem eu era.

Sabiam o que eu representava.

E não se importaram.

Porque aqui fora, longe dos campos de batalha, não há honra.

Só há poder.

E o poder mata quem quiser, quando quiser — sem prestar contas a ninguém.

Disseram que foi um incêndio acidental.

Mas eu já havia visto esse tipo de “acidente” antes.

Não restou nada. Nem justiça. Nem respostas.

Só o cheiro da mentira e o gosto do luto.

Foi nesse dia que Heider morreu.

E nasceu o homem que todos chamam hoje de Ryder.

Eu não sou um herói.

Não desde então.

Sou um mercenário. Um justiceiro.

Faço justiça do meu jeito.

Aceito contratos — mas com uma condição que ninguém ousa descumprir:

Se o alvo for inocente, o contratante se torna o alvo.

E o alvo… se torna minha proteção.

Já faz vinte anos que caminho entre a sombra da guerra e a podridão dos homens.

Vinte anos sendo o que ninguém quer ser, fazendo o que ninguém tem coragem de fazer.

Eles me pagam para matar.

Eu escolho por quem vale a pena puxar o gatilho.

Agora, estou diante de uma missão diferente.

O nome dela? Katrina Blardock Donavan.

Filha única. Dezenove anos. Desaparecida.

E o homem que me contratou… conheceu meu pai.

Acha que ainda existe algo em mim que vale a pena confiar.

Talvez esteja certo. Talvez esteja morto.

Mas uma coisa é certa:

Se ela estiver viva… eu vou encontrá-la.

E quem a tirou de casa… vai pagar.

Eu sou Ryder.

E quando meu nome aparece em uma missão…

é porque já passou da hora de justiça ser feita.

Anos antes... Cinzas do que eu fui

– A noite que me matou

A madrugada parecia comum demais para quem carrega morte nos ombros.

Voltar para casa após mais uma missão limpa, executada com precisão cirúrgica, era apenas rotina.

A cidade dormia.

Mas eu...

eu sentia algo errado no ar.

Virei a esquina da minha rua — e meu estômago virou junto.

As luzes vermelhas e azuis dançavam no escuro.

Sirene.

Fumaça.

Gritos abafados.

O calor no peito não era do motor do carro. Era um desespero puro.

— Não... — murmurei, acelerando sem pensar.

A rua estava isolada.

Corpos de bombeiros, viaturas e vizinhos amontoados atrás de uma fita amarela.

A minha casa...

em chamas.

Saltei do carro ainda em movimento.

O cheiro de carne queimada misturado com madeira estourando era insuportável.

— Minha família está aí dentro! — gritei, rompendo a barreira. — MINHA FAMÍLIA!

Duas mãos fortes me seguraram.

— Senhor! Calma! É perigoso!

— Soltem-me! Eles estão lá dentro! Minha esposa, meus filhos!

— Senhor, escute... Não há mais ninguém lá dentro.

— Do que está falando?!

— A estrutura colapsou. Não houve sobreviventes.

— COMO ASSIM?! — minha voz saiu entrecortada. — Isso é impossível... impossível.

Um dos bombeiros, mais velho, com rosto marcado pela tristeza, respondeu baixo:

— Estamos tratando como acidente doméstico. Pode ter sido gás... ainda não sabemos.

Olhei para a fachada destruída da minha casa.

Ou o que restava dela.

Lá dentro, estavam meus dois filhos pequenos.

Minha esposa.

Minha vida inteira.

— Acidente? — cuspi a palavra como veneno.

— Sim, senhor. Vamos investigar.

— Não.

— Senhor?

— Minha esposa foi treinada por mim. Ela revisava cada válvula de gás, cada disjuntor, cada entrada da casa antes de dormir.

Ela era cuidadosa. Metódica.

Ela era meu espelho.

Me ajoelhei na rua, com as mãos no asfalto.

O calor do incêndio queimava minha pele.

Mas era outro fogo que nascia dentro de mim.

— Isso não foi um acidente — sussurrei. — Foi uma execução.

Ninguém respondeu.

Ninguém se importou.

O relatório oficial foi vago. Nenhum suspeito. Nenhuma investigação formal.

Eles queriam enterrar minha família com silêncio.

Mas eu sou o tipo de homem que escava até o inferno pra encontrar a verdade.

Naquela noite, o marido morreu.

O pai foi sepultado.

E o soldado…

o soldado virou algo pior.

Nasceu Ryder.

E com ele, o caçador de monstros.

Os monstros têm nomes

Me disseram para seguir em frente.

Disseram que o tempo curava.

Mas o tempo não cura o que é arrancado à força.

Não quando você volta do campo de guerra para enterrar sua mulher de vinte e quatro anos...

seus dois filhos pequenos.

Um com três anos. O outro...

tinha só sete meses.

O mais velho chamava meu nome quando eu entrava em casa.

O menor sorria só de ouvir minha voz.

Agora só restava o eco.

E o cheiro de cinzas queimadas.

A primeira coisa que fiz foi vasculhar a cena.

O “relatório” dizia que o fogo começou na cozinha. Um “curto”.

Mas faltavam coisas. Marcas. Dispositivos. Peças que deviam estar lá, não estavam.

As digitais da mentira estavam espalhadas por toda parte.

Então fui atrás de câmeras da rua.

Instalei pessoalmente algumas — sempre fiz isso. Paranoia de soldado.

Peguei os HDs de segurança que ficavam no meu cofre pessoal, embutido na garagem.

Intacto.

Três carros passaram duas vezes no mesmo horário naquela madrugada.

Dois minutos antes do incêndio começar.

A placa de um deles era da empresa.

Cobri o nome. Pesquisei.

Fachada de uma empreiteira. Mas o dono? Um nome conhecido da segurança privada. Ex-militar. Expulso com desonra.

O primeiro da lista.

Ele não esperava me ver.

Nem que eu viria sem fazer perguntas.

O encontrei em um clube de tiro clandestino, nos arredores de Houston.

Bebia uísque como se estivesse imune ao inferno.

— Você é o Blardock? — ele disse, assim que me viu.

— Fui.

— Escuta, cara…

— Não, você escuta. Só vou perguntar uma vez. Quem mandou matar minha família?

Ele riu.

Riu.

Até o primeiro tiro atravessar o ombro dele.

— EU VOU MORRER DE QUALQUER JEITO! — ele gritou.

— Isso depende de você. Você fala, eu acabo rápido. Você cala... eu abro você devagar.

Ele me deu um nome.

Depois, outro.

E mais um.

Havia uma lista. Uma cadeia. Uma maldita estrutura.

Minha esposa e meus filhos foram assassinados… por vingança.

Porque um dos nomes que eliminei em missão era parente de alguém importante demais.

E minha família pagou o preço da minha lealdade.

Foi nessa noite que eu entreguei minha baixa oficial.

Deixei o uniforme dobrado sobre a mesa do comandante.

E nunca mais usei meu nome verdadeiro.

O Ryder que nasceu ali… só conhecia três coisas: armas, rastros... e justiça.

E todos os nomes que ele recebeu naquela noite…

viraram alvos.

O dia em que meu nome morreu

O relatório final foi entregue.

"Acidente doméstico."

Duas páginas. Sem esforço.

No dia seguinte, o governo dos Estados Unidos depositou o seguro militar da minha família.

Uma quantia generosa.

Pagamento por silêncio.

Por luto.

Por lealdade.

Aceitei.

E investi até o último centavo na minha vingança.

Com o dinheiro, montei meu refúgio.

Um bunker abaixo de um armazém abandonado no Texas.

Somente eu tive acesso.

Lá, guardei armamentos, explosivos, equipamentos táticos e um arsenal de disfarces.

Criei identidades falsas. Rostos falsos. Passados falsos.

A cada missão de rastreio, a cada emboscada, eu era outro homem.

Outro nome.

Na superfície, meu histórico era de um soldado condecorado, liberado por honra.

Na escuridão... eu era uma sombra com sede de sangue.

Minha esposa não sabia quem eu era de verdade.

Ela sabia que eu servia à Marinha. Sabia que eu viajava em missões confidenciais.

Mas nunca soube da minha real função.

Ela não sabia que era casada com um dos homens mais letais da inteligência americana.

E eu a mantive assim, para protegê-la.

Falhei.

Passei um ano inteiro vasculhando a dark web.

Rastreando nomes, contratos, mensagens cifradas.

Assumi um codinome: Ride.

Me infiltrei nos fóruns onde o mal se encontra para negociar, recrutar, destruir.

E quando encontrei o último nome da lista...

o homem que mandou apagar minha família,

o parente da elite podre que achou que poderia me vencer pela covardia…

eu não hesitei.

Esperei ele voltar para sua mansão de praia.

Esperei ele se despir de poder, cercado por seguranças arrogantes e confiança demais.

Entrei.

Eliminei um por um.

E deixei ele por último.

Não dei um tiro.

Usei as mãos.

A lâmina.

A dor.

Ele gritou.

Pediu perdão.

Prometeu dinheiro.

E então... eu o queimei.

Vivo.

Para que ele sentisse o que minha família sentiu.

Naquela noite, olhei para o espelho.

O homem que eu era... não estava mais lá.

Meu nome verdadeiro foi enterrado com minha esposa e meus filhos.

O que sobrou… é Ryder.

Mercenário.

Executor.

Juiz.

E carrasco.

Desde então, não há contrato fácil.

Não há alvo seguro.

Se for culpado, eu executo.

Se for inocente, eu protejo.

E se alguém ousar me usar... eu viro o caçador.

Essa foi a última vez que fui chamado pelo meu verdadeiro nome.

Hoje, eu sou apenas o que o mundo precisa quando a justiça falha.

####Cinzas do que eu fui

– A ligação que acendeu o inferno

Oriente Médio. 04h37.

Areia nos olhos, suor escorrendo sob o colete, cheiro de pólvora e óleo queimado.

Mais uma missão encerrada. Mais uma vida salva. Mais uma alma minha entregue.

Acionei o satélite privado.

Conectei ao canal seguro.

Só três pessoas sabiam que aquele número existia:

Eu, meu contato na inteligência e... ela.

O tom chamou uma vez.

Duas.

E então, a voz que me fazia continuar respirando:

— Heider?

— Sou eu, amor.

— Ai, graças a Deus... Você tá bem?

— Inteiro. E com saudade.

— Você vai voltar quando?

— Em breve. Dessa vez... eu fico. Um ano inteiro. Promessa de soldado.

— Jura?

— Jura de sangue.

O riso leve dela do outro lado.

A respiração.

A vida.

Ouvi os passos das crianças correndo.

— Papai? Papaaaaai?

— Tô aqui, campeão! E aí, cuidando da mamãe?

— Sim! Mamãe deixa eu dormir na cama dela quando você tá longe!

— Então aproveita, porque o papai tá voltando…

— Quando?

— Vai ser surpresa.

Minha esposa voltou à linha, emocionada.

— A gente sente tanto a sua falta…

— Eu também. Mas agora é pra valer. Vou desligar, amor, estou chegando em breve, me espera TE AMO.

E desliguei.

Com o coração cheio.

Mas não sabia que aquele era o último “eu te amo” que ouviria da boca dela.

A quilômetros dali, na mesma base onde eu operava, alguém ouvia a conversa em tempo real.

O comandante Garrick Moore, alto escalão da inteligência clandestina, traficante de armas e vidas, viu no meu retorno uma ameaça.

Eu estava cavando fundo demais. Esbarrando onde não devia.

E ele sabia que eu não era burro.

Sabia que eu jamais deixaria pra lá o que descobri semanas antes.

— Então você vai voltar pra casa, Blardock? — ele murmurou sozinho, tomando seu uísque sujo. —

Vamos ver o que vai sobrar de “casa” pra você voltar.

Ele fez o que sempre faz.

Usou as conexões.

Pagou em espécie.

Mandou simular um acidente doméstico.

Rápido. Limpo. Irreversível.

Dois dias depois…

Cheguei de madrugada.

Voo clandestino. Desembarque fora do radar.

Queria surpreendê-los.

Mas fiquei surpreendido.

Virei a esquina da minha rua — e a fumaça preta cobria o céu.

Sirenes. Gritos. Polícia. Fita amarela.

Minha casa...

em chamas.

— MINHA FAMÍLIA ESTÁ LÁ DENTRO!

— Senhor! Fique atrás da linha!

— EU DISSE QUE ELES ESTÃO LÁ DENTRO!

— Senhor, não houve sobreviventes...

Meu corpo caiu de joelhos.

Meu coração, direto no inferno.

— Foi um acidente doméstico, senhor — disse um bombeiro. — Ainda será periciado, mas há indícios de falha elétrica.

Olhei pra ele com olhos de guerra.

— Minha esposa foi treinada por mim.

Ela sabia desligar a casa com uma única chave de segurança.

Sabia onde estava cada fio, cada risco.

Ela cuidava dos nossos filhos como um soldado que cuida do seu país.

Isso não foi acidente.

Naquela noite eu morri.

E com as cinzas da minha família, Ryder nasceu.

Onde a dor vira arma

Na manhã seguinte ao enterro — ou o que sobrou dele —, vesti pela última vez o uniforme.

Dobrei com as mãos trêmulas.

Deixei sobre a mesa do general encarregado da minha liberação.

Sem discurso. Sem cerimônia.

Só silêncio.

E ódio.

Eu sabia quem era meu inimigo.

Ou melhor, suspeitava.

O comandante Garrick Moore.

Sempre estive um passo à frente dele em campo.

E isso o irritava.

O tipo de homem que não suporta quem enxerga além da missão.

O tipo que lucra com o caos.

E que cala quem ameaça seu império sujo.

Mas eu ainda não tinha provas.

Ainda não.

Por isso, entrei em contato com alguém que vive à margem do mundo:

Thanasio.

Não é um nome. É um código.

Um fantasma do Vale do Silício.

Um dos melhores engenheiros de tecnologia tática da atualidade — se é que ainda se pode chamar de “engenheiro”.

Thanasio me devia um favor. Um bem grande.

E eu cobrei.

— Preciso montar um sistema completo.

Sem rastreio.

Sem falhas.

Sem deixar rastro digital.

Rastreamento, blindagem, sensores, IA, biometria. Tudo.

Do outro lado da linha, a resposta veio curta:

— Já deixei no local. Sem custo. Agora somos dois caçados.

O que poucos sabiam — nem mesmo minha esposa — é que no fundo do terreno onde nossa casa foi construída, eu havia erguido um bunker subterrâneo anos antes.

Projeto próprio. Acesso por escada camuflada sob o assoalho da oficina.

Nunca havia usado. Nunca precisei.

Até agora.

Aos poucos, enquanto o mundo acreditava que eu havia desaparecido…

eu reergui minha casa por fora.

E construí meu quartel-general por dentro.

O bunker ganhou paredes reforçadas.

Servidores criptografados.

Um arsenal de armas adaptadas e modificadas.

Tecnologia vinda direto da escuridão — cortesia de Thanasio.

Lá dentro, surgia o que o mundo começaria a sussurrar nas redes escuras da Deep Web:

RYDER .

High Executioner In Dark Environments.

Comecei a minha caçada com calma.

Um por um.

O motorista do caminhão que “acidentalmente” bateu no poste da rua na hora exata do incêndio.

O técnico da companhia elétrica desligou os sensores de segurança uma hora antes.

O funcionário da empresa de gás que jurou ter feito manutenção na semana anterior.

Mentiras. Todas. E todos pagos.

Não os executei de longe.

Eu queria que eles me vissem.

Queria que soubessem por quê.

Queria que sentissem o que eu senti.

Alguns chorei enquanto matava.

Outros não.

Cada morte me levava mais perto do coração do problema.

Do comandante traidor.

Mas eu deixei ele por último.

Não porque ele merecesse misericórdia.

Mas porque ele merecia o inferno completo.

Eu precisava construir esse inferno

com as minhas próprias mãos.

Cada morte me levava mais perto do coração do problema.

Do comandante traidor.

Mas eu deixei ele por último.

Não porque ele merecesse misericórdia.

Mas porque ele merecia o inferno completo.

E eu precisava construir esse inferno com as minhas próprias mãos.

E foi aí que nasceu a minha assinatura.

Todo mercenário tem uma identidade.

A minha se espalhou como fumaça entre os becos da Deep Web e os corredores do submundo.

Um relógio analógico, parado no horário exato da morte da minha família.

E a mensagem: “Tic-tac.”

Sempre escrita à mão.

Sempre deixava sobre o peito do alvo.

Primeiro foi só um sussurro.

Depois, um medo coletivo.

O mundo começou a entender que RYDER estava solto.

E que o tempo dos culpados estava correndo…

até parar para sempre.

Cada morte me levava mais perto do coração do problema.

Do comandante traidor.

Mas eu deixei ele por último.

Não porque ele merecesse misericórdia.

Mas porque ele merecia o inferno completo.

E eu precisava construir esse inferno com as minhas próprias mãos.

Foi nessa fase da minha caçada que criei minha assinatura.

Fria. Impessoal. Rastreável? Nunca.

Todo mercenário tem uma identidade.

A minha não deixa DNA, não deixa impressão, não deixa dúvida.

Cada vez que um culpado caía,

eu deixava uma pequena foto impressa, sem digitais,

de um relógio marcando exatamente 04h37 da manhã —

a última vez que falei com minha esposa.

Tic-Tac.

Digitado em fonte padrão.

Sem caligrafia.

Sem emoção.

Só tempo.

“Tic-Tac.”

A contagem regressiva havia começado.

Eu raspava cada centímetro de pele antes de cada missão.

Sem pelos. Sem suor. Sem traço.

O cabelo? Peruca cirurgicamente colada.

O rosto? Liso. Sem barba, sem identidade.

O traje? Descartável.

As armas? Modificadas.

Os caminhos? Nunca os mesmos.

Comecei a me tornar um pesadelo sem rosto.

Os corpos surgiam.

E junto deles, a imagem do relógio.

Marcando o mesmo horário.

E sempre, a mesma mensagem:

Tic-Tac.

O mundo do submundo entendeu o aviso.

E os culpados começaram a tremer, porque sabiam:

Se você observar o relógio, o tempo acabou.

Tic-Tac, Moore. Tic-Tac.

Eu poderia tê-lo matado em vinte formas diferentes.

Silencioso. Distante. Indolor.

Mas isso seria um pouco maior.

Ele matou minha família.

Sem aviso. Sem chance. Sem honra.

Então, antes de tirar a vida dele…

eu arranquei tudo o que ele ainda acreditava possuir.

Reputação. Segurança. Sanidade.

Comecei devagar.

Na primeira semana, ele recebeu uma carta.

Continha apenas uma imagem impressa de um relógio digital.

Horário: 04h37.

Embaixo, apenas duas palavras:

Tic-Tac.

Na segunda semana, seu GPS começou a apresentar falhas.

Mas não foram falhas.

A rota piscava, tremia… e então aparecia a imagem do mesmo relógio.

Com a voz sussurrando no som:

“Tic… Tac…”

Na terceira semana, o rádio de seu carro ligava sozinho.

O som? O barulho constante de um relógio antigo.

E o canto repetido de um pássaro cuco.

Cuco…Tic-Tac…Cuco…Tic-Tac…

Ele mandou verificar o carro. Nada foi encontrado.

Na quarta semana, as luzes da casa começaram a piscar.

A televisão ligava sozinha.

Tela preta. Um relógio parado.

Sempre no mesmo horário.

Ele começou a perder o sono.

Depois, a sanidade.

E por fim a dignidade.

Mas eu não terminei ali.

Enviei um dossiê completo, com provas incontestáveis dos crimes dele, para a inteligência das Forças Armadas.

Dados criptografados, rastros digitais de pagamentos, extratos de contratos com traficantes de pessoas, conversas de voz vazadas…

Toda a podridão que ele tentou esconder, eu expus.

O exército o afastou.

A carreira militar desfeita em um dia.

Ele virou manchete.

"O Comandante Caído."

Mas ele ainda respirava.

E isso, pra mim, era imperdoável.

Esperei.

Deixei ele se esconder.

Fingir que ainda tinha controle.

Fingir que não sabia quem era o monstro por trás do relógio.

E então... eu fui buscá-lo.

Ele acordou numa sala escura.

Amarrado.

Nu.

Com o som alto de um relógio de parede ecoando sobre sua cabeça.

Tic. Tac. Tic. Tac. Cuco. Cuco.

Ele gritou.

Chorou.

Prometeu.

— Quem está aí?! PELO AMOR DE DEUS!

— Você sabe quem.

— NÃO! EU JURO QUE NÃO!

— Mentira. Você só não quer admitir… que sua vida está nas mãos de quem você julgou descartável.

Acendi uma luz.

Apenas o bastante para ele ver meu rosto coberto.

Meus olhos.

Minhas luvas.

O bisturi em minhas mãos.

— Eu não vim para te matar, Moore.

— O quê...?

— Eu vim para te ensinar como se morre.

E ele aprendeu.

Cada corte. Cada queimadura. Cada minuto.

Eu fiz ele sentir o que minha esposa e meus filhos jamais puderam.

Ele implorou pra morrer.

Mas antes… eu o deixei ver o fogo.

E ouvir, pela última vez,

o mesmo som que o acompanhou nas últimas semanas:

“Tic…Tac…”

E então…

ardeu.

Gritou.

Silenciou.

O relógio parou.

TIC... TAC...KILL

####Confissão no Inferno

A sala era isolada.

Sem janelas.

Sem câmeras externas.

Apenas concreto, ferro e silêncio.

O comandante Garrick Moore estava amarrado à cadeira metálica no centro da câmara.

Seu rosto estava inchado. A respiração, acelerada.

E a alma... já em frangalhos.

No canto da sala, sobre uma bancada de aço inoxidável, repousava o meu kit cirúrgico personalizado.

Pinças, bisturis, tesouras curvas, alicates de precisão, serrotes manuais, facas especiais para corte nervoso.

Ferramentas de guerra silenciosa.

Ferramentas de punição lenta.

Liguei o gravador digital.

A voz saiu alterada, filtrada, sem nenhuma frequência identificável.

— Nome completo.

— Eu... eu não vou falar.

— Confesse.

— Vai matar de qualquer jeito, não vai? — ele riu, cuspindo sangue. — Então faça. Mas saiba… eu não me arrependo.

Me aproximei lentamente.

Inclinei o rosto diante do dele, olhos nos olhos, por trás da máscara.

Falei com firmeza:

— Justamente. Vai morrer. Mas se falasse… eu não precisaria fazer o que mais desejo fazer.

E você sabe exatamente do que sou capaz.

Ele empalideceu.

Abri a maleta com um estalo metálico.

Organizei os instrumentos com precisão clínica.

Peguei o primeiro: o extrator de unha.

Comecei pelos dedos dos pés.

Um por um.

Devagar.

Ele gritou.

— Mata logo, desgraçado!

— Não. Ainda não.

— Pelo amor de Deus...

— Eu quero que confesse.

— Eu não vou falar!

— Ótimo. Então continuemos.

Peguei o bisturi.

Deslizei a lâmina lentamente pela parte interna da coxa.

O sangue escorreu quente.

A pele se abriu como papel molhado.

— Quem mandou matar minha família?

— NÃO VOU FALAR!

O som da serra elétrica preencheu a sala.

Ele tentou se soltar, mas os punhos estavam presos por tiras de aço reforçado.

— Agora… vamos abrir espaço, senhor comandante.

Uma perna de cada vez.

— EU FALO! EU FALO! PELO AMOR DE DEUS, TERMINE LOGO COM ISSO!

— Então cante. Como um passarinho.

Ele chorava. O rosto banhado em desespero.

— Foi… foi o senador Lutz! Ele... ele mandou... porque o irmão dele morreu na sua missão no Líbano. Disse que era para apagar você. Que era para fazer você sangrar. Que sua família era o preço!

Eu permaneci imóvel.

Frio.

Gravando tudo.

— E você?

— Eu fui o canal. Eu coordenei. Paguei os homens. Eu... eu mandei encenar o acidente.

— Por quê?

— Porque você estava atrapalhando os planos! Você descobriu demais! Você sempre soube demais!

Silêncio.

A verdade havia sido dita.

E a sentença... estava pronta.

Peguei o galão de gasolina.

Abri lentamente.

Derramei sobre ele, deixando o líquido escorrer pelo corpo amarrado, pela roupa rasgada, pelo chão da sala.

Ele chorava.

O medo era mais forte que a dor.

— O que... o que vai fazer?

— Vou conceder a única coisa que você negou à minha família: a chance de sentir.

Risquei o fósforo.

O fogo acendeu lentamente.

As chamas subiram como serpentes.

— O que acha de ser queimado vivo?

Gritei apenas uma última vez, direto na gravação:

— Missão encerrada. Nome do alvo: Comandante Garrick Moore.

Confissão registrada. Justiça feita.

Código: Tic-Tac.

Saí em silêncio.

Levei meus equipamentos.

O corpo ficaria ali, consumido.

Sem rastros.

Sem retorno.

As chamas dançavam em silêncio.

Os gritos cessaram.

O fogo consumia tudo — carne, osso, pecado.

Eu observei.

Não com prazer.

Mas com propósito.

Quando tudo virou carvão, murmurei baixinho:

— Depois que as chamas se apagarem…

voltarei.

Recolherei o que restar.

E dissolverei no tanque de ácido.

Nada. Absolutamente nada. Vai sobrar do comandante.

A missão estava concluída.

Mas a guerra… não.

Enquanto eu ajustava os instrumentos de volta à maleta, a imagem do próximo nome brilhava no visor do meu terminal:

Senador Louis Lutz.

— Que culpa eu tive se não consegui salvar o irmão dele? — murmurei, enquanto trancava o bunker.

— Não… “não consegui” é bondade demais.

Eu deixei o irmão dele morrer.

Porque ele era escória. Um criminoso infiltrado nas operações.

Traidor. Contrabandista.

E o senador sabia.

Apoiava.

Protegia.

Respirei fundo.

— E, pelo que vejo, o “senadorzinho” é feito da mesma lama.

Escória disfarçada de patriotismo.

Corrupto com terno e comitê.

Fechei a maleta.

Olhei para o céu limpo de madrugada.

E disse em voz baixa, firme, como um sussurro para a própria morte:

— Próximo alvo:

Um senador que enganou a pátria.

Tic-Tac, Lutz.

O relógio está contando.

Lá fora, o céu estava limpo.

E a guerra de verdade começou.

####O Veneno das serpentes

Enquanto as cinzas do comandante ainda ardiam em silêncio no fundo do tanque de ácido,

o terminal seguro de Heide apitou.

Chamada codificada.

Origem: Grécia.

Atendeu com a voz modificada.

— Fale.

— Senhor Ryder, o contato #942 me deu este número. Disse que o senhor entrega o que promete.

— Qual é o alvo?

— Stephanos Vasiles.

— Parentesco?

— Filho.

— Nome completo do solicitante?

— Astraea Vasiles.

— Motivo?

— Ele está em meu caminho.

Pausa.

— Transferência feita?

— Ainda não. Prefiro pagar pessoalmente.

A chamada foi encerrada.

Mas um alerta interno foi ativado.

A forma como ela falava.

O uso do nome “filho” com indiferença.

A rapidez com que pronunciava a sentença.

Algo estava errado.

Muito errado.

Em menos de 48 horas, Rayder embarcou com novo disfarce:

Erik Krüger, cidadão alemão de negócios internacionais.

Olhos castanhos escuros, barba grisalha falsa, cicatriz sutil no rosto, sotaque cuidadosamente ensaiado.

Traje impecável, postura firme, identidade blindada.

Chegou a Mykonos em um voo particular.

Hospedou-se com documentação limpa, seguindo protocolos de segurança estabelecidos com Tanásios, seu único fornecedor de tecnologia e blindagem global.

A reunião ocorreu no terraço de um hotel cinco estrelas.

Astraea Vasiles.

Alta, fria, elegante. Olhos de quem nunca hesita.

Ela estendeu uma maleta com quinhentos mil euros em espécie.

— O restante será entregue após o serviço — disse. — Assim que Stephanos estiver fora do caminho.

Ryder observou.

Não respondeu de imediato. Considere o serviço feito.

Apenas aceitou a maleta, com luvas.

Mas ali, naquele momento, a suspeita veio à tona .

Porque o julgamento dele ainda não havia sido feito.

— Entendido. — respondeu, com sotaque carregado. — Mas o tempo de execução do alvo eu determino.

Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

Mas ele já não estava mais ali, emocionalmente.

Já havia ativado o protocolo de investigação.

De volta ao quarto, ligou seus sistemas de varredura digital.

Começou a escavar tudo que existia sobre Stephanos Vasiles:

Nascimento, registros, movimentações, arquivos ocultos, contatos.

E descobriu.

Astraea não era quem parecia ser.

Era hora de investigar a mãe de Stephanos e Alexander, irmãos gêmeos, empresários gregos.

A missão estava oficialmente código investigar alvo e provavelmente inverter a missão no futuro.

Fechou o notebook.

Olhou para o relógio.

— Tic-Tac...

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!