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Vidas Trocadas

Prólogo

🌙 Nota da Autora

Olá, leitores!

Sejam muito bem-vindos ao universo de Vidas Trocadas — uma história ambientada em um mundo Omegaverse, com temática LGBTQIA+, voltada ao público que aprecia romances dramáticos, relações intensas e personagens com jornadas emocionais profundas.

Esta obra é pura ficção e não tem o objetivo de incitar ódio, preconceito, discriminação, nem comportamentos ilegais ou moralmente questionáveis. Todos os eventos e personagens aqui retratados pertencem ao campo da fantasia e foram criados com o intuito de entreter, emocionar e provocar reflexões.

Aceito com carinho todas as críticas construtivas, pois acredito que a escrita é um processo constante de crescimento. 💬

Se este não for o tipo de conteúdo que você gosta, tudo bem! Apenas peço respeito — e que evite consumir ou denunciar a história por não se alinhar com suas preferências. Existem muitas outras leituras maravilhosas esperando por você por aí. 🌈

A quem decidir seguir nesta jornada comigo, desejo que aproveite cada capítulo com o coração aberto. Obrigada por estar aqui. Boa leitura! 💖

Com carinho, Luminha 💜

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Yudie por trás do véu

A manhã do casamento amanheceu cinzenta. Um céu sem cor, como se até as nuvens soubessem que algo estava errado.

Yudie sentou-se na beira da cama, os pés descalços tocando o chão frio, enquanto as mãos trêmulas seguravam o delicado pedaço de papel que sua mãe havia deixado sobre o criado-mudo. Era uma ameaça — mais uma entre tantas. Mas naquele dia, diferente dos outros, a assinatura vinha com um laço de seda e a promessa de um novo inferno.

O terno branco — feito sob medida para Yurie — estava pendurado atrás da porta, reluzente como uma farsa bem construída.

Yurie, é claro, não estava em lugar algum.

"Ele não vai aparecer", sussurrou seu pai, sem olhar para Yudie. "Você sabe o que tem que fazer."

Yudie sabia. Sempre soube. Porque sua vida inteira fora um treino silencioso para apagar-se por completo.

Vestir-se com a identidade do irmão.

Entrar em um carro de luxo.

Descer do lado esquerdo, como Yurie fazia.

Manter os olhos abaixados, esconder o medo, conter o coração disparado.

Na porta da imponente mansão Bernocchi, ele sentiu o peso do mundo sobre os ombros frágeis. O véu cobria metade de seu rosto, mas não o bastante para esconder o terror no olhar.

Ao longe, o noivo esperava. De terno escuro, com uma máscara cobrindo todo seu rosto, com um olhar indecifrável. Edward Bernocchi.

Diziam que ele não podia andar. Diziam que estava desfigurado. Diziam… tantas coisas. Mas nada prepararia Yudie para a presença daquele homem que, mesmo imóvel, parecia maior que a própria cerimônia.

“Não chore”, sussurrou sua mãe antes de empurrá-lo para o altar.

“Lembre-se quem paga suas contas.”

Yudie respirou fundo.

Um, dois, três passos.

A cada batida do coração, uma parte dele ficava para trás.

Seu nome, sua identidade, seus sonhos.

Naquele dia, Yudie Beaumont deixou de existir.

Nascia Yurie, o substituto.

O boneco bem treinado que iria se deitar ao lado de um estranho… e carregar um sobrenome que nunca pediu.

Mas nem mesmo todo o medo no peito o impediu de sentir.

Porque por trás do rosto endurecido de Edward,

algo dentro dele também parecia prestes a desmoronar.

Cap.1

O despertador tocou às 7h30 em ponto, como fazia todas as manhãs, seu som estridente cortando o silêncio do quarto de Yudie Beaumont como uma faca afiada. Ele abriu os olhos devagar, encarando o teto branco com rachaduras finas que pareciam veias de uma história antiga, mapeando anos de negligência. A penumbra suave do quarto, iluminada apenas por um fio de luz que escapava pelas cortinas puídas, dava ao ambiente uma sensação de suspensão, como se o mundo lá fora ainda estivesse adormecido. Mas Yudie sabia que, naquela casa, nada jamais dormia de verdade.

As palavras continuavam sussurrando pelas paredes, carregadas de desdém; os olhares continuavam pesando, mesmo na ausência de quem os lançava. Era uma mansão viva, pulsante, mas não com calor humano — com algo mais frio, mais cortante.

Com um suspiro contido, ele se levantou da cama estreita, o colchão rangendo sob seu peso leve. Seus pés descalços tocaram o chão frio, e ele estremeceu, não pelo frio, mas pela familiaridade daquela sensação de isolamento que o acompanhava desde que se entendia por gente.

Ele caminhou até o pequeno banheiro anexo ao quarto, reservado para ele e os empregados, um espaço que cheirava a mofo e produtos de limpeza baratos. A torneira antiga gotejava enquanto ele lavava o rosto com água gelada, o choque térmico não trazendo alívio, apenas um lembrete de que o dia já começava com um peso invisível. Ele escovou os dentes com movimentos mecânicos, penteou os cabelos loiros, quase brancos, com cuidado para não puxar os fios macios, e vestiu uma camisa branca simples e calças azul-marinho que pareciam gritar sua insignificância em comparação com as roupas impecáveis de seu irmão. O espelho, manchado nas bordas, refletiu seus olhos azuis grandes, expressivos, mas com um brilho que parecia se apagar a cada dia, como uma vela consumida pelo vento.

Yudie desceu as escadas com passos leves, quase inaudíveis, como se temesse perturbar o equilíbrio da mansão Beaumont. A casa, com seus lustres de cristal, tapetes persas e quadros de ancestrais que pareciam julgá-lo, era mais um mausoléu do que um lar. Ele conhecia cada degrau, cada rangido da madeira, e ainda assim, sentia-se um intruso. O aroma de café fresco e pão quente o alcançou quando ele se aproximou da sala de jantar, um perfume que deveria trazer conforto, mas que, para ele, era apenas uma promessa vazia de algo que nunca lhe pertenceu.

Na sala, as vozes já ecoavam, familiares e cortantes. Eve Beaumont, sua mãe, estava sentada à cabeceira da longa mesa de mogno, o vestido de seda azul escura reluzindo sob a luz do lustre. Seu rosto, esculpido pela vaidade e anos de privilégio, exibia um sorriso que Yudie raramente via direcionado a ele. Ao lado dela, Robert, seu pai, segurava uma xícara de café com uma mão enquanto folheava o jornal financeiro com a outra, o rosto rígido como pedra. E, no centro da cena, como uma pintura viva, estava Yurie, seu irmão gêmeo, a imagem espelhada de Yudie, mas distorcida por um brilho de arrogância que ele nunca conseguiria imitar. Os mesmos cabelos loiros, os mesmos olhos azuis, mas em Yurie, tudo parecia mais vivo, mais digno de admiração.

Eve: Meu filho, você é a verdadeira joia desta família! — exclamava Eve, a voz melosa, carregada de um afeto que Yudie só conhecia de longe. Ela inclinou a cabeça, os olhos brilhando com orgulho enquanto olhava para Yurie, como se ele fosse a única coisa que valia a pena naquela sala.

Yurie: Não exagera, mamãe — retrucou Yurie, reclinando-se na cadeira com um sorriso preguiçoso, o tipo de sorriso que sabia o efeito que causava. Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto calculado, e continuou: — Bem, talvez um pouco. Eu sei que sou um deleite para os olhos. Não é todo dia que se vê essa simetria perfeita.

Robert soltou uma risada grave, o som ecoando pela sala como um trovão baixo. Ele dobrou o jornal com um movimento brusco, os olhos fixos no filho favorito.

Robert: E pensar que você e o outro vieram do mesmo ventre… inacreditável. Um é puro ouro, o outro, ferro velho.

As palavras de Robert cortaram o ar como uma lâmina, e Yudie, parado à porta, sentiu-as como um golpe físico. Ele hesitou, o coração apertado por uma esperança tola que insistia em renascer, mesmo após anos de rejeição. Talvez hoje fosse diferente. Talvez hoje eles o vissem. Ele pigarreou suavemente, forçando um sorriso que não alcançava os olhos, e murmurou:

Yudie: Bom dia.

A reação foi instantânea. Os sorrisos desapareceram, como se uma cortina tivesse sido puxada sobre a cena. Três pares de olhos voltaram-se para ele, carregados de um desdém tão familiar que Yudie já sabia exatamente o que viria. Eve ergueu as sobrancelhas, o rosto contorcido em uma expressão de desgosto, como se a presença dele fosse uma afronta pessoal.

Eve: O que está fazendo aqui? — perguntou ela, a voz fria, como se ele tivesse invadido um espaço sagrado.

Yudie engoliu em seco, a garganta seca apesar do aroma tentador do café.

Yudie: Vim tomar café… — respondeu, a voz tímida, quase um sussurro, como se pedisse permissão para existir.

Yurie foi o primeiro a falar, reclinando-se ainda mais na cadeira, os lábios curvados em um sorriso doce, mas venenoso.

Yurie: Tomar café? Seu lugar não é aqui, irmãozinho! — disse ele, arrastando as palavras com um sarcasmo que fez o estômago de Yudie se contorcer. Ele gesticulou com a mão, um movimento displicente, como se espantasse um inseto.

Robert se levantou, o movimento brusco fazendo a cadeira ranger contra o chão de madeira polida. Seus olhos, duros como aço, fixaram-se em Yudie.

Robert: Você ouviu o que ele disse. Vai para a cozinha. Coma com os empregados, onde pertence.

Eve completou o golpe com um gesto desdenhoso da mão, os anéis brilhando sob a luz.

Eve: Gentinha como você não deve se sentar à mesa conosco — disse ela, cada palavra dita com uma precisão cruel, como se estivesse recitando uma lei imutável.

Yudie hesitou por um segundo, os olhos fixos na mesa farta: croissants dourados, geleias reluzentes, o bule de café fumegante. O cheiro parecia zombar dele, como se dissesse: Você nunca vai me provar. Ele sentiu o coração murchar, uma dor tão familiar que já fazia parte dele, como uma cicatriz antiga que ainda latejava. Sem dizer mais nada, ele deu meia-volta, os ombros curvados, e caminhou para a cozinha, o som dos risos abafados de Yurie ecoando atrás dele como uma perseguição.

Na cozinha, o ambiente era diferente, mais quente, mais vivo. O cheiro de ervas frescas e pão assando preenchia o ar, misturando-se ao vapor que subia de uma panela no fogão. Eulália, a governanta que criara Yudie e Yurie como se fossem seus, estava de pé, mexendo o conteúdo da panela com uma colher de pau. Seu avental azul-claro estava salpicado de farinha, e os cabelos grisalhos, presos em um coque frouxo, brilhavam sob a luz da janela. Ao ver Yudie entrar, ela ergueu o rosto enrugado, os olhos castanhos cheios de uma ternura que ele raramente encontrava em outros lugares.

Eulália: Outra vez? — perguntou ela, a voz suave, mas carregada de uma tristeza que espelhava a dele.

Yudie forçou um sorriso, sentando-se à pequena mesa de madeira no centro da cozinha.

Yudie: Sempre. Eles nunca mudam, Lála.—murmurou, o apelido carinhoso escapando com uma familiaridade que era seu único refúgio. Ele apoiou os cotovelos na mesa, as mãos envolvendo o rosto, como se pudesse esconder a dor que transborda em seus olhos.

Eulália desligou o fogo com um movimento decidido e pegou uma xícara do armário, o som da louça tilintando como uma melodia reconfortante.

Eulália: Senta direito, menino. Te sirvo um café como gente — disse ela, enchendo a xícara com o líquido fumegante. Ela cortou uma fatia generosa de pão fresco, espalhou manteiga com cuidado e colocou o prato na frente dele antes de se sentar ao seu lado, os olhos marejados de compaixão. — Você não merece isso, Yudie.

Ele pegou a xícara, o calor aquecendo suas mãos frias, e olhou para o líquido escuro, vendo seu reflexo distorcido na superfície.

Yudie: Mas aguento — respondeu, a voz baixa, quase inaudível. — Não tenho escolha.

Eulália balançou a cabeça, o cenho franzido com uma mistura de indignação e impotência.

Eulália: Tem sim. Tem um coração bom. E isso ninguém pode tirar de você, nem mesmo aquela mulher amarga — disse ela, referindo-se a Eve com um tom que não escondia seu desprezo. Ela estendeu a mão, tocando o ombro de Yudie com um carinho maternal que ele raramente sentia. — Um dia, meu menino, o mundo vai ver quem você é de verdade.

Yudie sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno, embora seus olhos ainda estivessem perdidos na fumaça do café. Ele queria acreditar nas palavras de Eulália, queria se agarrar à ideia de que havia algo de valor dentro dele, algo que justificasse sua existência. Mas a dor de ser constantemente rejeitado, de ser tratado como uma sombra indesejada, era mais forte. Ele comeu o pão em silêncio, o sabor caseiro sendo o único conforto que encontraria naquela manhã.

Horas depois, na sede da Beaumont Holding, o ar era denso com uma tensão que parecia prestes a explodir. A sala de reuniões, ampla e envidraçada, com paredes de vidro que refletiam a cidade lá fora, era um contraste frio com o caos que se desenrolava dentro. Robert estava sentado à cabeceira de uma longa mesa de mogno, os punhos cerrados sobre a superfície polida. Eve, ao seu lado, mantinha a postura rígida, as mãos cruzadas no colo, mas os olhos brilhando com uma mistura de ansiedade e cálculo. Yudie, como sempre, estava no fundo da sala, de pé, quase invisível, segurando uma prancheta com anotações que ninguém jamais pediria para ver. Yurie, claro, não estava presente — ele nunca se dignava a aparecer em reuniões, e ninguém questionava sua ausência.

O contador, um homem magro de óculos redondos chamado Harold, limpou a garganta, o som ecoando no silêncio opressivo.

— Senhor Beaumont, os números do segundo trimestre… não são bons — disse ele, a voz hesitante, como se temesse a reação que viria.

Robert franziu a testa, o rosto já vermelho antes mesmo de ouvir os detalhes.

Robert: Quão “não bons” estamos falando? — perguntou, a voz grave, carregada de uma ameaça velada.

Harold hesitou, os dedos tremendo enquanto puxava um gráfico na tela projetada na parede. Linhas vermelhas descendentes cortavam o fundo branco, uma acusação silenciosa.

— As dívidas acumuladas ultrapassam a margem de investimento. Se não houver um aporte emergencial nas próximas semanas, a empresa entrará em insolvência.

O silêncio que se seguiu foi tão pesado que parecia esmagar todos na sala. Yudie, no canto, sentiu o ar ficar mais denso, como se o próprio ambiente estivesse prendendo a respiração. Ele observava o pai, notando o modo como as veias em seu pescoço pulsavam, o modo como seus olhos se arregalavam em uma mistura de choque e fúria.

Robert se levantou de súbito, a cadeira raspando contra o chão com um som agudo.

Robert: Isso é ridículo! Impossível! — gritou, a voz ecoando pelas paredes de vidro. Ele bateu as mãos na mesa, os papéis voando como folhas ao vento. — Anos construindo este império, e agora vocês me dizem que está tudo desmoronando? Como deixaram isso acontecer?

Harold engoliu em seco, ajustando os óculos com dedos trêmulos.

— Temos relatórios, senhor. Não houve recuperação após o último escândalo na mídia. Os investidores estão recuando. Precisamos de ajuda externa, e rápida.

Eve olhou para o marido, os olhos arregalados, o rosto pálido sob a maquiagem impecável.

Eve: E agora? O que vamos fazer, Robert? — perguntou, a voz tremendo, mas com um tom que sugeria que ela já estava calculando as próximas jogadas.

Robert levou a mão à testa, os dedos pressionando as têmporas enquanto andava de um lado para o outro, os passos pesados ecoando no chão de mármore. Ele suspirou, um som longo e carregado de desespero.

Robert: Vamos conversar em casa — disse, finalmente, a voz baixa, mas firme. — Isso não pode sair desta sala.

Eve assentiu, os olhos brilhando com algo que Yudie não conseguiu decifrar. Era um olhar que ele conhecia bem — um olhar de quem já estava planejando algo, traçando caminhos que ele não podia prever. Do canto da sala, Yudie observava tudo, o coração apertado por um pressentimento que ele não conseguia nomear. Ele era invisível, como sempre, mas algo naquele momento parecia diferente. Algo estava vindo, algo que mudaria tudo, e ele, sem saber, estava no centro disso.

Cap.2

A noite caíra sobre a mansão Beaumont, trazendo consigo um silêncio pesado que parecia amplificar o peso das decisões não ditas. No escritório de Robert, uma sala de paredes escuras forradas com livros que ninguém lia e um tapete persa que absorvia os passos nervosos, o ar era denso com a tensão do dia. A luz suave de um abajur de bronze lançava sombras longas sobre a mesa de mogno, onde Robert estava sentado, os ombros curvados como se carregassem o peso de um império em ruínas. Eve, ao seu lado, tamborilava as unhas perfeitamente cuidadas na superfície polida, o som rítmico ecoando como um tique-taque de um relógio que contava o tempo que lhes restava. O aroma de uísque pairava no ar, o copo meio vazio na mão de Robert um testemunho de sua tentativa de afogar a ansiedade que o consumia.

Eles haviam passado o dia revisando números, relatórios, e opções, mas cada caminho parecia levar ao mesmo beco sem saída. A Beaumont Holding, o orgulho de Robert, o legado que ele construíra com suor e ambição, estava à beira do colapso. Ele esfregou as têmporas, os olhos fundos de quem não dormia há dias, e murmurou, quase para si mesmo: — Como chegamos a isso, Eve? Como deixei isso acontecer?

Eve ergueu o queixo, o rosto rígido, mas os olhos brilhando com uma determinação fria.

Eve: Não é hora de lamentações, Robert — respondeu ela, a voz firme, mas com um leve tremor que traía sua própria inquietação. — Precisamos de uma solução, não de arrependimentos. Temos que encontrar uma saída, custe o que custar.

Antes que Robert pudesse responder, a porta do escritório se abriu com um rangido, e Yurie entrou, a postura confiante, os cabelos loiros impecavelmente penteados reluzindo sob a luz. Ele usava uma camisa de seda que parecia gritar sua superioridade, e o sorriso em seu rosto era o de quem sabia que o mundo girava ao seu redor.

Yurie: O que está havendo aqui? — perguntou, a voz carregada de curiosidade, mas com um toque de desdém, como se qualquer problema fosse indigno de sua atenção. — Vocês dois parecem que estão planejando um funeral.

Robert e Eve trocaram um olhar, a hesitação palpável. Por um momento, o silêncio entre eles foi tão pesado quanto o próprio ar da sala. Robert tomou um gole do uísque, o líquido queimando sua garganta enquanto ele buscava coragem para falar.

Robert: A empresa… — começou, a voz rouca. — Estamos em apuros, Yurie. Apuros sérios.

Yurie franziu o cenho, o sorriso desaparecendo. Ele cruzou os braços, inclinando-se contra a porta.

Yurie: Apuros? Que tipo de apuros? — perguntou, o tom agora mais sério, mas ainda carregado de uma arrogância que parecia inabalável.

Eve suspirou, levantando-se da cadeira e Caminhando até a janela, onde a escuridão do jardim se estendia como um reflexo do futuro que temiam.

Eve: A Beaumont Holding está à beira da falência — disse ela, as palavras cortando o ar como lâminas. — As dívidas se acumularam, os investidores estão se retirando, e sem um aporte financeiro imediato, tudo que construímos vai desmoronar.

Yurie ficou em silêncio por um momento, os olhos arregalados, processando a informação. Ele riu, um som curto e incrédulo, como se a ideia fosse absurda.

Yurie: Falência? Isso é ridículo. A Beaumont Holding é intocável. Somos nós. Somos o topo.

Robert bateu o copo na mesa, o som ecoando como um trovão.

Robert: Não somos mais, Yurie! — exclamou, a voz carregada de frustração. — Não sem ajuda. Não sem… sacrifícios.

O silêncio voltou, mais opressivo do que antes. Yurie se endireitou, os olhos estreitados, como se estivesse tentando decifrar um enigma.

Yurie: E o que vocês estão pensando? Um empréstimo? Vender ativos? — perguntou, o tom agora mais prático, mas ainda com um traço de impaciência.

Eve virou-se da janela, os olhos brilhando com uma ideia que começava a tomar forma.

Eve: Um empréstimo — disse ela, lentamente, como se estivesse testando a palavra. — Mas os bancos já nos viraram as costas, Robert. Eles sabem que estamos enforcados. Mas… há outra opção.

Robert ergueu os olhos, o cenho franzido.

Robert: Outra opção? — perguntou, a voz carregada de desconfiança.

Eve cruzou os braços, o rosto iluminado por um sorriso calculista.

Eve: Evert Bernocchi — disse ela, o nome caindo como uma pedra no silêncio da sala. — Ele tem o capital, o poder, os contatos. Se alguém pode nos salvar, é ele.

Yurie inclinou a cabeça, um brilho de interesse nos olhos.

Yurie: Bernocchi? O dono da Lux Prime Hotels? — perguntou, a voz tingida de curiosidade. — Ele não é de fazer favores por caridade. Ele vai querer alguma coisa em troca.

Robert balançou a cabeça, os ombros tensos.

Robert: Não sei, mas se há uma chance, temos que tentar — disse ele, a voz firme, mas com um toque de desespero. — Não temos escolha.

Yurie sorriu, o ego inflado pela ideia de que, mesmo em crise, a família Beaumont ainda tinha cartas para jogar.

Yurie: Então façam. Marque uma reunião com ele. Se alguém pode convencê-lo, somos nós — disse, o tom cheio de confiança, como se sua mera presença fosse suficiente para dobrar qualquer homem.

Eve olhou para o filho, o orgulho evidente em seu rosto, mas seus olhos ainda carregavam aquele brilho calculista.

Eve: Vamos fazer isso — disse ela, decidida. — Amanhã mesmo.

Na manhã seguinte, o sol brilhava sobre a cidade, mas o interior da Lux Prime Hotels Bernocchi era um mundo à parte, um templo de opulência onde cada detalhe — dos lustres de cristal aos tapetes de veludo — gritava riqueza. Robert e Eve, vestidos com a elegância que a situação exigia, atravessaram o saguão com passos determinados, mas o nervosismo era evidente no modo como Robert apertava a pasta de couro contra o peito e Eve ajustava o colar de pérolas com dedos inquietos.

Eles foram conduzidos a uma sala privativa no topo do edifício, onde Evert Bernocchi os esperava. Ele era um homem imponente, com cabelos grisalhos penteados para trás e olhos que pareciam enxergar além das palavras. Sua presença dominava o ambiente, e mesmo sentado atrás de uma mesa de ébano, ele parecia maior do que a sala.

Evert: Robert, Eve — disse ele, a voz grave, quase um ronco baixo que reverberava na sala. — Imagino que não estão aqui por uma visita social.

Robert pigarreou, o peso da situação visível em suas mãos trêmulas enquanto abria a pasta.

Robert: Evert, somos amigos há anos. Você sabe o quanto a Beaumont Holding significa para mim. Mas… estamos em uma situação delicada — começou ele, a voz firme, mas com um tremor que traía seu desespero.

Ele expôs os números, a queda nas ações, as dívidas que cresciam como uma avalanche, e o risco iminente de insolvência. Cada palavra parecia arrancar um pedaço de sua alma, mas ele continuou, os olhos fixos em Evert, buscando um sinal de compaixão.

Eve, ao seu lado, mantinha a postura ereta, mas seus dedos apertavam o colar com força, como se pudesse extrair dele a força que precisava.

Eve: Precisamos de sua ajuda, Evert — disse ela, a voz suave, mas carregada de urgência. — Um aporte financeiro, uma parceria. Qualquer coisa que nos mantenha de pé.

Evert ouviu em silêncio, os olhos semicerrados, as mãos cruzadas sobre a mesa. Ele era um homem que não se comovia facilmente, e a frieza em seu olhar fez o coração de Robert apertar.

Evert: Vocês sabem que não faço negócios por sentimentalismo — disse Evert, finalmente, a voz cortante como uma lâmina. — Vou pensar na proposta. Darei uma resposta em breve.

Robert e Eve trocaram um olhar, a esperança misturada com o medo. Eles se levantaram, agradeceram com formalidades tensas, e deixaram a sala, o peso da incerteza os seguindo como uma sombra.

.........

De volta ao império da Lux Prime, Evert permaneceu em sua sala, o olhar perdido na vista da cidade que se estendia além da janela. Ele convocou Edwin, seu filho mais jovem, o prodígio que assumira o centro das atenções após o acidente de Edward. Edwin entrou com a confiança de quem sabia que o futuro lhe pertencia, os cabelos escuros penteados com precisão, o terno impecável.

Edwin: O que foi, pai? Por que está com essa cara? — perguntou, a voz firme, mas com um brilho nos olhos que sugeria que ele já farejava uma oportunidade.

Evert recostou-se na cadeira, tamborilando os dedos na mesa.

Evert: Os Beaumont estão desesperados. Pediram ajuda para salvar a empresa deles — disse ele, resumindo a situação com a precisão de um homem que não desperdiçava palavras. — O que acha?

Edwin sorriu, um sorriso lento e calculista. Ele viu, naquele momento, uma chance de resolver dois problemas de uma vez.

Edwin: Aceite, pai — disse ele, a voz suave, mas carregada de intenção. — Mas com uma condição.

Evert: Condição? Que condição?

Edwin: Faça com que Edward se case com Yurie Beaumont. Seria… vantajoso para todos nós. Nós dois sabemos que ninguém vai querer um aleijado como o Edward. Esse casamento vai ser ótimo para nos livrar do peso que ele é.

Evert ergueu uma sobrancelha, intrigado. A ideia era ousada, quase cruel, considerando os rumores que cercavam Edward — o filho quebrado, o monstro que vivia nas sombras. Mas Evert conhecia o valor de alianças estratégicas, e a proposta de Edwin acendeu uma faísca em sua mente.

Evert: É uma condição interessante — murmurou ele, o tom pensativo. — Vou considerar.

.........

Naquela noite, Evert pegou o telefone e ligou para Robert, a voz firme enquanto convocava um encontro para o dia seguinte.

📲 Evert: Temos o que discutir — disse ele, sem revelar mais.

Robert, do outro lado da linha, sentiu um misto de alívio e apreensão, sem saber que o preço da salvação seria mais alto do que imaginava.

No dia seguinte, o encontro aconteceu em um café discreto, mas elegante, onde o aroma de expresso se misturava ao peso das negociações. Robert e Eve sentaram-se à mesa, a tensão visível em seus rostos. Evert, impecável em seu terno cinza, tomou um gole de café antes de falar.

.........

Evert: Estou disposto a ajudar a Beaumont Holding — disse ele, a voz calma, mas firme. — Mas há uma condição.

Eve: Condição? Qual?

Evert: Yurie, seu filho, deve se casar com meu filho, Edward.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Robert engoliu em seco, os olhos arregalados, enquanto Eve apertava a bolsa contra o colo, o rosto pálido.

Robert: Edward? — perguntou Robert, a voz quase um sussurro, como se o nome sozinho trouxesse à tona os rumores sombrios que cercavam o filho de Evert.

Evert: Sim — confirmou Evert, o tom inflexível. — É o preço.

Eve olhou para Robert, os olhos brilhando com cálculo, mas também com um traço de pavor. Eles sabiam que não tinham escolha, mas a ideia de sacrificar Yurie, o filho perfeito, era um golpe que não estavam preparados para absorver. Ainda assim, eles assentiram, as palavras presas na garganta, selando um acordo que mudar.

Eve: Yurie? — repetiu Eve, a voz quase inaudível, como se o nome do filho favorito fosse uma corda apertando seu peito. Ela se inclinou para a frente, os dedos apertando a bolsa com tanta força que as articulações ficaram brancas.

Eve: Mas… Edward? Os rumores… Ele não é… — Ela parou, incapaz de pronunciar as palavras que dançavam em sua mente: monstro, deformado, sem escrúpulos.

Os boatos sobre Edward Bernocchi eram como sombras que se moviam no canto dos olhos, impossíveis de ignorar, mas difíceis de confirmar. Ele era o filho rejeitado, o que vivia recluso, envolto em mistérios que ninguém ousava desvendar.

Evert recostou-se na cadeira, o olhar frio como o mármore da mesa entre eles.

Evert: Meu filho é um Bernocchi — disse ele, a voz carregada de um orgulho que parecia mais defensivo do que genuíno. — Ele é digno do nome da família, e o casamento com Yurie será uma aliança que beneficiará a todos. Vocês salvam sua empresa, e nós fortalecemos nossa posição. É um acordo justo.

Robert sentiu o chão sob seus pés desaparecer. Ele imaginou Yurie, com sua beleza estonteante, seu charme que fazia corações se curvarem, preso a um homem que a sociedade pintava como um espectro. A ideia era um veneno lento, corroendo a imagem de perfeição que ele construíra para o filho favorito. Ele olhou para Eve, buscando nos olhos dela uma faísca de resistência, mas encontrou apenas cálculo. Ela estava pesando o custo, medindo o valor do império Beaumont contra o futuro de Yurie. Robert sabia o que ela estava pensando: Yurie é forte. Ele sobreviverá a isso. Mas a empresa... A empresa é tudo.

Robert: E se Yurie recusar? — perguntou Robert, a voz rouca, como se estivesse tentando agarrar uma última tábua de salvação.

Evert sorriu, um sorriso que não alcançava os olhos.

Evert: Então, suponho que a Beaumont Holding terá que enfrentar seus credores sozinha — disse ele, cada palavra um golpe preciso. — Vocês sabem o que está em jogo. Não me façam perder tempo.

O café parecia menor agora, as paredes se fechando sobre Robert e Eve enquanto eles absorviam a proposta. Robert sentiu o peso do legado que construíra, as noites insones, as decisões implacáveis que o levaram ao topo. Perder tudo isso era inconcebível. Ele olhou para Eve, e o leve aceno de cabeça dela foi o suficiente.

Robert: Está bem — disse ele, finalmente, a voz tão pesada quanto o futuro que temiam. — Vamos discutir com Yurie e voltar com uma resposta formal.

Evert assentiu, levantando-se com a fluidez de um homem que sabia que a vitória já era sua.

Evert: Espero sua ligação até o fim da semana — disse ele, antes de se retirar, deixando Robert e Eve sozinhos com o eco de suas palavras.

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