Pietro, atualmente com 29 anos, ex capitão dos bombeiros
As memórias daquele fatídico dia ainda atormentam minha alma, ainda me lembro com exatidão de toda dor e medo que senti no dia que ouvi a voz da minha amada pela última vez. Lembro de seu olhar quando saí para trabalhar aquela manhã, do seu sorriso, do beijo que me deu. Mesmo com o passar do tempo, Juju ainda não compreende totalmente a situação e por mais que eu lute para que ela tenha uma infância o mais normal possível, nunca consegui suprir a carência e a falta que Emily faz a nossa filha. A menina que antes era alegre, doce, gentil, meiga e brilhava ao ver os pais, hoje apenas existe nesse mundo cruel. Minha casa que antes era pura felicidade, hoje parece um sepulcro, pois temo ter falhado na missão mais importante que eu tinha, que era cuidar da nossa pequena Juju. Mesmo não conseguindo, continuo tentando. Pois elas precisam que eu me mantenha de pé... Julia precisa do pai e Emily precisa que eu não desista. Ela precisa que eu cumpra minha promessa de nunca desistir do nosso amor e é por isso que ainda a mantenho viva. Seus pais já me pediram para deixá-la descansar, mas eu não posso, me recuso a desistir assim. Tenho certeza de que minha mulher ainda vai voltar para mim, e não importa o tempo, estarei aqui esperando por ela!
Julia (Juju) atualmente com 3 anos
Um ano e meio antes...
Ainda completamente atordoado e de joelhos no chão vendo o carro da minha esposa ser consumido pelas chamas, tudo que consigo pensar é na nossa pequena Juju e em como ela vai reagir quando eu disser que sua mãe não está mais aqui. Ao imaginar essa hipótese, meu coração dói e o grito que sai de minha garganta é de angústia e desespero, que transbordavam por não caber mais em meu coração. Porém, ao ouvir meu soldado dizer o nome dela, levantei-me com desespero indo até onde ele estava.
Soldado – Ela está ali, senhor!
Meu coração acelera e as mãos tremem ao ver apenas parte do seu corpo. No desespero, ignoro a voz dos meus soldados pedindo para que eu espere o resgate chegar, mas eu sei que aqui começa minha luta contra o tempo. Meu único objetivo é chegar no amor da minha vida, que ainda não sei se está viva. Sem pensar duas vezes, não medi esforços para arriscar minha vida por ela. De tudo que eu posso perder, Emily e Julia não se enquadram... eu dou tudo de mim, por elas e se necessário minha vida, mais nunca desistirei da minha família.
Quando me aproximei, senti a pior sensação que senti em toda minha vida em ver ela toda ensanguentada. Sua cabeça estava sangrando muito e a primeira coisa que fiz foi parar o sangramento já gritando para o soldado trazer um médico.
Soldado – A ambulância está vindo, senhor!
Droga, eles não irão descer aqui, preciso de minha equipe e rápido. Pego o telefone e ligo para a central e específico que quero eles aqui o quanto antes. A atendente confirma e diz que estarão aqui em minutos, mas eu sei que esses minutos são cruciais para determinar se minha esposa vive ou morre. Abafo o desespero dentro de mim, para conseguir ajudar a Emily e enquanto tento me controlar, meu telefone toca.
Ligação on
Pietro – Bella, eu não posso perder o amor da minha vida, não posso viver sem ela, me ajuda!
Bella – Calma, o soldado já me disse o que aconteceu. Onde vocês estão?
Pietro – Ainda esperando o resgate, já liguei para a central... preciso da minha equipe aqui para conseguir levá-la para cima.
Bella – Então fique calmo, sei que é a última coisa que precisa ouvir agora, mas ela depende de você.
Pietro – Eu vou tirá-la daqui nem que isso custe minha vida, Bella!
Bella – Ok! Faça isso e eu vou atrás de quem causou esse acidente.
Pietro – Quem vai mandar o infeliz para o inferno sou eu.
Meus olhos ardem em fogo enquanto abraço o corpo quase sem vida de minha mulher.
Bella – Ok, vou cuidar para que isso aconteça... vejo vocês no hospital.
Pietro – Tá, me faz um favor... peçam que levem Julia e o Sullivan para sua casa, não quero que essa notícia chegue em minha pequena antes de mim.
Bella – Será feito!
Pietro – Obrigado!
Ligação off
Volto a olhar para o rosto dela e as lágrimas voltam a descer com minha mente tentando imaginar um mundo na qual ela não esteja comigo. Não, esse universo não existe, não dá para viver sem você meu amor. Então lute como sempre fez, lute por nós, não desista, eu estou aqui com você. Seja a mulher forte e determinada que conquistou esse homem aqui com apenas um olhar, que fez meu coração se render sem muito esforço. Lute, meu amor, lute e fique conosco!
Minutos depois, a equipe chega e lhes dou as coordenadas para que desçam em segurança. Denise me ajuda a imobilizar a Emily e a colocamos e prendemos na maca para subir. Não foi um trabalho fácil, mas conseguimos com muito esforço. Durante o caminho até o hospital, Emily teve duas paradas cardíacas dentro da ambulância, o que me deixou ainda mais desesperado.
Paramédico – Senhor, ela está estável agora.
Pego em sua mão implorando novamente para que ela não desista e fique comigo.
Emily, atualmente com 27 anos...
Pietro
Ao chegar no hospital, uma equipe estava nos esperando do lado de fora da emergência e sei que isso é coisa da Bella. Rapidamente, eles tiram Emily da ambulância enquanto os paramédicos dão todas as informações do que aconteceu. Minhas mãos ainda tremiam e eu queria ficar do lado dela, mas fui impedido pelo médico que disse para eu me acalmar.
Pietro – Salva minha mulher, doutor. Ela não pode morrer!
Médico – Farei o possível para isso, mas o senhor precisa nos deixar trabalhar.
O bipe do monitor cardíaco volta a fazer barulho e acabo me assustando.
Enfermeira – A pressão está caindo!
Pietro – Não!
Médico – Eu preciso ir, por favor... espere aqui! Vamos estabilizar ela e levar para a cirurgia.
Eles fecham a cortina tirando-a do meu campo de visão e minha tia Emília aparece.
Emília – Querido, cheguei agora porque estava em uma cirurgia. Como ela está?
Pietro – Teve duas paradas cardíacas na ambulância e agora estão tentando a estabilizar... ela não pode morrer, tia. Aquela mulher é meu mundo, dona do seu próprio universo. Não posso perdê-la!
Emília – Não fraqueje, meu querido e não perca a esperança... vou ver se posso ajudar.
Pietro – Por favor!
Ela me dá um pequeno sorriso e abre a cortina para tentar ajudar. O som das vozes vindas de lá não me agradam e ainda me dá um maior desespero.
Médico – Temos pouco tempo, doutora Emília, ela vai morrer se não a levarmos para a cirurgia imediatamente.
Emília – Eu vou na frente e agilizar o processo, estabilizem e a levem assim que possível para a sala 10, ela vai estar pronta.
Médico – Ok!
Vejo a cortina ser aberta novamente e minha tia sai com uma expressão não muito boa de lá, mas tudo que ela faz é me dar um pequeno sorriso e sair apressadamente. Me abaixo sentindo meu peito queimar enquanto ainda escuto o bipe do monitor cardíaco, um som desagradável evidenciando o estado crítico da minha esposa.
Denise – Senhor!
O som de sua voz ecoa baixo mesmo ela estando tão perto, pois todo meu foco agora é desejar que Emily sobreviva.
Denise – Senhor, pediram para eu tentar convencê-lo de esperar na sala de espera...
Pietro – Não saio daqui até ter certeza de que ela está fora de perigo.
Denise – Isso não vai lhe fazer bem, não é o que ela ia querer!
Me levanto com raiva e olho em seus olhos com fúria
Pietro – Não fale como se ela tivesse morrido, a Emily vai sair dessa.
Denise – Desculpe, não foi o que eu quis dizer.
Médico – Conseguimos, vamos!
A cortina é aberta novamente e todo meu mundo desmorona ao ver Emily entubada sendo levada para a cirurgia.
Médico – Vamos levar ela agora, o senhor pode ir para a sala de espera, assim que terminar vou lhe encontrar.
Pietro – Prometa que fará de tudo para salvá-la.
Médico – Tem minha palavra!
Confirmo e ele segue os outros, que empurravam a maca onde minha estava.
Denise – Vou ficar com o senhor até a cirurgia acabar.
Pietro – Não precisa, pode voltar para o quartel.
Denise – Eu faço questão! Vamos?
Sem forças para questionar, acabo aceitando e fomos para a sala de espera. Logo Bella, Violeta e Bruna chegaram perguntando se já tinha notícias e minha irmã estanha a presença da Denise... não adianta, quando Bella não gosta de alguém, ela não faz questão nenhuma de esconder. Teve uma época em que Emily também não gostava da Denise, mas isso mudou com o tempo.
Bella – Ainda não vieram dizer nada?
Denise – Não, a cirurgia começou tem meia hora e...
Bella – Eu perguntei ao meu irmão, fofa!
Respiro fundo olhando para ela com repreensão, pois tudo que eu não preciso agora é de confusão
Denise – Desculpe!
Bella entende em meu olhar que não precisava de tudo aquilo e respira fundo
Bella – Me desculpe, eu estou nervosa.
Denise – Sim, e não é para menos. Vou pegar uma água, querem?
Violeta – Estou bem, obrigada!
Bruna – Também estou.
Bella – Não, obrigada.
Denise – Chefe?
Pietro – Não, não consigo engolir nada, preciso saber se ela está bem.
Ela confirma e sai nos deixando sozinhos
Violeta – Não consigo gostar dessa mulher.
Bella – Obrigada!
Acabo revirando os olhos e Bella pega o telefone
Bella – A tia Emília mandou mensagem e disse que a cirurgia é delicada, mas está sobe controle.
Meu peito volta a apertar enquanto meu rosto é inundado novamente.
Violeta – Vamos pegar os responsáveis por isso, não importa o quanto se escondam.
Pietro – Ainda não sabem quem fez isso?
Bella – Infelizmente, eram só executores... estamos longe dos mandantes de pegar os mandantes. Era justamente sobre isso que estávamos falando mais cedo. Eles são covardes demais para aparecer.
Violeta – Os homens que estavam seguindo-a, tinham um dispositivo implantado no dente, que assim que morderam com muita força, o mesmo liberou uma substância que os matou imediatamente.
Pietro – Não, isso não!
Bella – Estamos lidando com pessoas super treinadas e capazes de matar e morrer pela causa. Porém, nós vamos achar esses desgraçados e você terá sua vingança.
Pietro – Apesar da raiva e ódio que sinto, tudo que mais quero agora é ver minha mulher sair daquela cirurgia bem.
Bruna – Ela vai!
Bella se senta ao meu lado e segura minha mão, que estava tremendo
Bella – A mamãe e o papai estão lá em casa com as crianças e o Sullivan, que parecer saber o que está acontecendo, pois ele não sai de perto da Juju.
Pietro – Aquele carinha é melhor que muito ser humano por aí e por isso é tão apegado a nós. Estou com muito medo, mana!
Asafe – Não fiquei, estamos aqui com você!
Ele aparece e me puxa para um abraço forte enquanto deixo as lágrimas rolarem
Asafe – Pode chorar agora, mas depois se levante para ajudar sua esposa... você precisa estar de pé para quela fique bem.
Pietro – Diz que ela não vai morrer, irmão, não posso perder aquela mulher.
Asafe – Confia, ela vai ficar bem!
Suas palavras eram como um apoio invisível que me mantinha de pé. Sabem o quanto o apoio familiar e o amor que rodeia os Corleones Cortez faz toda diferença em momentos assim.
Pietro
Longas horas angustiantes depois esperando alguma notícia, o celular da Bella volta a apitar voltando a atenção para minha irmã. Todos estavam esperando a mensagem da tia Emília, que parou de responder faz três horas. Frustrada, Bella diz mais uma vez que não é a mensagem que estávamos esperando e sim minha mãe querendo saber como estão as coisas. Quase não consigo respirar com a enorme tensão no ar, o medo continua rondando meu coração e por mais que eu tente espantá-lo para longe, ele insiste em me fazer chorar ao imaginar o pior.
Violeta – Estão vindo!
Ela diz olhando para o médico e a tia Emília, que andam do outro lado da imensa parede de vidro enquanto meu coração para de bater por dois segundos. Minha vontade era de me levantar e correr até eles para então saber o que aconteceu. A expressão do médico não é o que eu queria ver, não é o que esperava. Minha tia tenta conter a emoção com um olhar triste e a impressão que eu tenho é que aqui começa meu pior pesadelo.
Pietro – Tia!
Emília – Você precisa ter calma, querido.
Pietro – Não, tia... não faz isso comigo!
Emília – Olha para mim!
Ela segura meu rosto e olha em meus olhos
Emília – Como médica eu sou obrigada a ti dizer a real situação de sua esposa, mesmo que como tia meu coração sangre.
Pietro – Não vou conseguir viver sem ela, tia... por favor, salvem minha mulher.
Emília – Estamos fazendo tudo que podemos, meu querido e agora só depende dela.
Denise – Ela ainda está viva?
A pergunta da Denise chama a atenção das meninas e por mais que eu quisesse repreendê-la agora, estava mais interessado em saber da resposta.
Pietro – Responda, tia!
Emília – Sim, mas as próximas 48 horas serão cruciais. Emily bateu muito forte com a cabeça e sofreu um traumatismo craniano severo. Foi preciso colocá-la em coma, pois é a única chance que ela tem.
Pietro – Meu Deus, não leva minha mulher, por favor!
Médico – Sua esposa perdeu muito sangue e além do trauma na cabeça, ela teve duas costelas quebradas e uma fratura na perna direita. Como a doutora disse, foi uma cirurgia longa e muito delicada, agora só depende dela.
Pietro – Eu quero ver minha mulher!
Médico – A colocamos no CTI e daqui a pouco vou liberar sua entrada, porém eu preciso que entenda, que só vai poder ficar lá no máximo 5 minutos.
Pietro – Eu agradeço, doutor!
Médico – Não precisa agradecer. Quando puder vê-la, eu venho te buscar, ok?
Confirmo agradecendo mais uma vez e ela sai
Emília – Precisa ser forte por ela, querido e nós seremos pelos dois.
Ela me abraça deixando as lágrimas rolarem e sei que está preocupada.
Pietro – Me diz que ela vai ficar bem, tia, por favor. Eu preciso saber, preciso saber que ela vai ficar bem
Emília – Queria muito te dar essa certeza, querido, mas agora tudo depende dela.
Respiro fundo voltando a me sentar e Bella olha para mim.
Bella – Vamos te esperar aqui para ir para casa.
Pietro, não vou a lugar algum, passarei a noite sentado nessa cadeira se for preciso.
Bella – Mano, não poderá fazer nada aqui, Julia precisa de você em casa.
Pietra – Eu sei, mas eu não posso aparecer na frente da minha filha destruído assim. Vou ficar e amanhã vou vê-la.
Bruna – Nós entendemos, Pietro. Olha, fica firme e confie que ela vai ficar bem. Benício disse que passa aqui amanhã cedo para te ver assim que chegar de viagem
Pietro – Obrigado!
Me despeço deles e os vejo ir embora me deixando sozinho com a tia Emília. Um tempo depois, o médico vem avisar que eu já posso entrar e me mostrou ande posso lavar as mãos e colocar uma roupa especial para não correr o risco de levar infecções lá para dentro. De frente para a porta do quarto de CTI que ela estava, as lágrimas voltam a descer. O coração teimoso não quer se acalmar, as mãos tremulas não querem parar e o medo invade meus pensamentos.
A porta foi aberta, o desespero se multiplicou e a dor só aumentou em vê-la ali. Nunca imaginei que passaria por isso e fui incapaz de prever tal feito em nosso futuro. Mas se tem uma coisa que eu sou, é persistente. Vou lutar por você, meu amor!
Me aproximo de sua maca e com muito cuidado pego em sua mão ainda chorando muito. As pernas falham trazendo à tona todo meu desespero enquanto o universo insiste em tirar o amor da minha vida de mim.
Pietro – Estou aqui, amor. Estou aqui e não sairei enquanto não tiver certeza de que ficará bem. Eu te amo tanto que chega doer imaginar uma vida sem você. Então seja forte e lute, lute como sempre fez.
O bipe suave e constante do munitor é angustiante, mesmo mostrando que ela está estável. Em sua perna suspendida há uma barra de ferro, suas mãos estão frias e sua pele arranhada...
Pietro – O que direi a nossa filha, amor? Sabe como ela é esperta e eu tenho a certeza de que não conseguirei esconder a verdade dela por muito tempo. Por que ela tinha que ser tão parecida com a mãe?
Tento sorrir um pouco imaginando o que ela me diria agora
Pietro – Não posso viver sem o seu sorriso, amor. Não posso viver sem o seu carinho... não vou conseguir criar nossa pequena sem você. Então lute e eu prometo que lutarei por você aqui, tudo que precisa fazer é se curar!
Escuto batidas na porta e respiro fundo...
Pietro – É hora de lhe deixar em paz, amor. Prometo que volto amanhã!
Solto sua mão lentamente e me afasto por entender o quanto é perigoso para ela minha permanência aqui.
Pietro – Te amo!
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