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Grávida de Gêmeos do CEO

Capítulo 1 – Apenas por Uma Noite

A chuva batia contra os vidros da janela como se o mundo lá fora também chorasse com ela. Isabel largou a última ligação não atendida do seu celular e empurrou o aparelho para longe no sofá. Seus ombros caíram em cansaço, e o silêncio do apartamento só acentuava a bagunça que era sua vida naquele momento.

Era sexta-feira, mas não havia alegria em seu rosto. Apenas olheiras fundas, uma expressão vazia e a solidão de quem se cansou de esperar que as coisas melhorassem.

Três meses atrás, ela havia deixado tudo para trás: o relacionamento que a esmagava aos poucos, a cidade onde cresceu e o emprego que mal pagava as contas. Agora vivia em um apartamento minúsculo, com contas atrasadas na geladeira e um currículo ignorado por todas as empresas que pareciam exigir experiências que ela ainda não tinha.

— Só hoje... — sussurrou para si mesma, levantando-se do sofá com esforço. — Só hoje eu quero esquecer de tudo.

Foi até o quarto e abriu a porta do guarda-roupa como quem invade um território proibido. Tirou o vestido preto que não usava desde a formatura da irmã. Maquiou os olhos com mais intensidade do que o habitual, prendeu o cabelo num coque desleixado que, ironicamente, realçava a delicadeza do seu pescoço, e calçou os saltos mais altos que encontrou.

Ela não queria ser notada. Queria desaparecer por uma noite. Mas havia algo em sua postura, no brilho quase amargo dos olhos, que chamava atenção mesmo quando ela tentava se esconder.

O clube ficava no centro da cidade, e o letreiro vermelho piscando era um convite indecente. Assim que entrou, foi engolida pelo som vibrante da música, pelas luzes que se revezavam em tons de roxo e azul, e pela fumaça leve que criava uma névoa entre os corpos dançantes.

Ela não bebeu de imediato. Observou. Cada rosto, cada gesto. Casais que se tocavam como se o mundo fosse acabar naquela pista. Pessoas sozinhas buscando algo — ou alguém — para preencher o vazio.

Quando finalmente se aproximou do bar, pediu a bebida mais forte do cardápio. Precisava apagar as bordas do pensamento.

Foi então que o viu.

De pé, perto de uma das colunas de vidro fumê, um homem alto, de terno escuro e olhos atentos. Ele não parecia pertencer àquele lugar. Tinha classe demais, presença demais. Como se o clube inteiro girasse em torno dele e ele sequer se importasse.

Os olhares se cruzaram.

Por um segundo, Isabel pensou em desviar. Fingir que não viu. Que não sentiu o frio percorrer sua espinha quando aquele olhar se fixou nela como se a despisse em silêncio. Mas ela não desviou. Nem ele.

— Está esperando alguém? — a voz dele soou próxima. Grave, com um sotaque leve que ela não soube identificar.

Isabel sorriu, sem graça, sentindo o álcool fazer efeito.

— Estou tentando esquecer alguém, na verdade.

Ele a observou com mais atenção. Como se entendesse sem que ela dissesse mais nada.

— E acha que vai conseguir?

Ela deu de ombros.

— Não sei. Mas por hoje... só por hoje... eu não quero lembrar.

O silêncio que seguiu não foi desconfortável. Era um acordo tácito. Um pacto entre dois desconhecidos feridos o suficiente para se permitirem existir um no outro — apenas por uma noite.

Ele estendeu a mão.

— Sem nomes?

— Sem nomes — ela concordou, encaixando os dedos nos dele.

O quarto de hotel era amplo e silencioso. O som abafado da cidade mal atravessava as cortinas pesadas.

Isabel nunca tinha feito aquilo antes. Não era do tipo que confiava em estranhos, muito menos do tipo que dormia com um. Mas aquela noite era uma exceção. Como se não pertencesse à sua vida real.

Os toques foram lentos no início. Como se ambos tateassem as próprias cicatrizes antes de tocá-las no outro. Ele a beijava com fome contida, e ela se deixava levar, rendida a uma sensação que fazia tempo demais que não sentia: desejo misturado com liberdade.

Não havia promessas, nem palavras doces. Mas havia cuidado. Um cuidado silencioso, quase reverente, como se ele também precisasse daquilo para se lembrar que ainda era humano.

Depois, deitada ao lado dele, Isabel quis dizer algo. Mas ele já estava quase dormindo, com o braço ainda ao redor de sua cintura, como se o instinto de protegê-la não tivesse sido desligado.

Ela fechou os olhos.

“Só por hoje.”

Repetiu para si mesma como um mantra. Só por hoje, tudo bem se permitir. Só por hoje, ela podia ser outra pessoa. Alguém livre. Alguém desejada.

Pela manhã, o travesseiro ao lado estava vazio. Um envelope com a conta do hotel repousava sobre a mesa de cabeceira. Nenhuma nota. Nenhum bilhete. Nenhum nome.

Isabel respirou fundo. Nem surpresa, nem magoada.

Ela se levantou devagar, pegou o celular e pediu um carro. Aquela noite nunca existiria, decidiu. Foi um erro com hora marcada para ser esquecido.

Mas o destino, é claro, tinha outros planos.

E dentro dela, silenciosos e invisíveis naquele momento, dois corações minúsculos já batiam — anunciando o início de uma história que mudaria tudo.

Capítulo 2 – Duas Linhas, Dois Destinos

O banheiro do apartamento exalava o cheiro forte de desinfetante barato misturado com o vapor do banho que Isabel acabara de tomar. Ela se sentou na tampa fechada da privada, com os cotovelos nos joelhos e o rosto apoiado nas mãos. O sol filtrava pelas cortinas encardidas, mas nem a luz parecia real naquele instante.

Sobre a pia, um teste de gravidez.

O terceiro.

Duas linhas.

Duas linhas bem nítidas.

Ela não precisava de mais confirmações. Já sabia, desde o primeiro atraso. Desde as náuseas insistentes pela manhã. Desde o enjoo que a fazia virar o rosto até com o cheiro do próprio shampoo. Tentou ignorar. Tentou convencer a si mesma de que era estresse, café vencido, qualquer coisa. Mas o corpo falava mais alto.

Ela estava grávida.

Sozinha. Sem planos. Sem um nome sequer para colocar na ficha médica.

Cobriu o rosto com as mãos, o peito apertado como se não coubesse mais nenhum ar ali dentro. Chorou em silêncio. Sem escândalo, sem drama. Um choro contido, denso, do tipo que não precisa de testemunha.

Depois de minutos que pareceram horas, levantou-se devagar. Lavou o rosto, prendeu o cabelo, respirou fundo. A mulher no espelho estava pálida, os olhos inchados, mas ainda era ela. Ainda era Isabel.

— Vai dar certo... — murmurou, encarando a própria imagem. — Você vai dar um jeito. Como sempre deu.

Durante os dias que se seguiram, Isabel se enterrou em currículos e entrevistas. Precisava de um emprego, precisava se manter ocupada. Qualquer coisa para não pensar na vida que crescia dentro dela.

A barriga ainda não mostrava nada, mas ela já se sentia diferente. Havia um silêncio novo em seu corpo. Um tipo de cuidado involuntário que a fazia tocar o ventre vez ou outra, como se pedisse desculpas por não ter se preparado melhor.

Algumas empresas nem retornaram. Outras a chamaram apenas para entrevistas cansativas em que ela era reduzida a números e expectativas inalcançáveis. Mas num dia nublado, quando já considerava voltar para o antigo emprego no café da esquina, uma ligação mudou tudo.

— Isabel Duarte? Aqui é da Hudson Enterprises. Seu currículo chamou a atenção do nosso RH. Podemos agendar uma entrevista?

Ela quase deixou o celular cair.

Hudson Enterprises. Uma das maiores corporações da cidade. Salários altos, ambiente exigente, oportunidades reais de crescimento. E ela? Uma mulher grávida, sem experiência sólida, sem contatos, sem diploma.

— Claro — respondeu, a voz saindo antes da razão. — Quando?

A sede da Hudson era um arranha-céu de vidro e aço que parecia tocar o céu. Isabel chegou com a blusa mais discreta que tinha, o currículo impresso numa pasta azul, e o coração disparado como um alarme.

Foi recebida por uma assistente educada, passou por uma triagem técnica rápida, e em menos de trinta minutos estava sentada diante de duas mulheres do RH que analisavam seu currículo com expressões neutras.

— Você tem ótimos pontos aqui — disse uma delas. — Mas por que está há tanto tempo fora do mercado?

— Tive questões pessoais... — respondeu, evitando detalhes. — Mas estou pronta para recomeçar. E aprender.

Houve um momento de silêncio. Elas se entreolharam, trocaram anotações.

— Acreditamos que você se encaixa para a vaga de apoio administrativo no setor financeiro. O contrato é inicial de seis meses. Aceita?

Isabel mal acreditou no que ouvia.

— Sim. Claro que sim.

Saiu de lá em choque. Um tipo bom de choque. Pela primeira vez em muito tempo, algo parecia funcionar a seu favor. Talvez fosse um sinal de que ainda havia espaço para recomeços.

Durante as semanas seguintes, ela se esforçou mais do que qualquer outra pessoa. Chegava cedo, saía tarde, aceitava toda tarefa que lhe passavam. Não dizia nada sobre a gravidez. Ainda não era visível, e ela precisava de tempo. De estabilidade. De chão.

Mas então começaram os enjoos durante o expediente.

E depois veio a tontura.

E o desmaio no banheiro feminino, que gerou alvoroço.

— Você precisa ir ao médico — disse uma colega do setor, enquanto a ajudava a se sentar. — Tá branca como papel!

Foi ao pronto-socorro à noite, já quase no fim do expediente. Sentou na cadeira dura da sala de espera e esperou por horas. Quando finalmente foi chamada e encaminhada ao ultrassom, sua expectativa era apenas confirmar se tudo estava certo com o bebê.

Mas o que viu na tela mudou tudo.

— Parabéns — disse a médica com um sorriso gentil. — São dois.

— D-dois?

— Gêmeos. E parecem bem saudáveis.

Isabel sentiu o mundo girar. O ar rarear.

Dois coraçõezinhos batendo ao mesmo tempo. Dois destinos crescendo dentro dela. Duas vidas pelas quais seria responsável. E ninguém para dividir o peso.

Na volta para casa, ela andou devagar. As ruas estavam vazias, e o frio da noite começava a morder a pele. Mas o calor em seu ventre era real.

Chegando no prédio, antes de entrar, parou em frente ao vidro da portaria e encostou a mão na barriga.

— Vocês têm a mim — sussurrou. — Eu não sei como, nem quando... mas vou cuidar de vocês. Prometo.

Ela só não sabia que, enquanto fazia essa promessa, um par de olhos frios e intensos a observava de um andar muito acima.

Declan Hudson. O CEO da empresa.

Ele não sabia ainda quem ela era.

Mas o destino estava prestes a revelar tudo — e nada, absolutamente nada, ficaria como antes.

Capítulo 3 – O Homem do Elevador

Na manhã seguinte, Isabel acordou com uma náusea tão intensa que mal conseguiu escovar os dentes. O enjoo parecia escalar da garganta até o topo do crânio, fazendo-a sentar no chão do banheiro por alguns minutos, tentando recuperar o controle sobre o próprio corpo.

Dois corações. Dois bebês. Duas vidas. Ela ainda repetia isso mentalmente, como se precisasse se convencer de que era real.

Mas ela não podia parar. Precisava continuar. O contrato com a Hudson ainda era recente, e qualquer sinal de fragilidade poderia ser um problema. O ambiente corporativo era exigente. Frio. Implacável. E ela era só uma entre dezenas de funcionários que podiam ser substituídos num piscar de olhos.

Vestiu-se com cuidado, escolhendo uma blusa um pouco mais solta, e prendeu o cabelo num coque simples. Usou corretivo para esconder as olheiras e sorriu para o espelho com um otimismo forçado. A barriga ainda não aparecia, mas o corpo gritava de dentro para fora.

O dia prometia ser longo.

A Hudson Enterprises era como um organismo vivo, pulsando em cada andar com sua própria lógica, velocidade e pressão. Isabel já começava a se acostumar com o som dos saltos apressados nos corredores, com os telefonemas urgentes, e com a hierarquia silenciosa que pairava sobre tudo.

O setor onde trabalhava era no 17º andar. Lá, era apenas mais uma assistente administrativa entre números, prazos e planilhas. E gostava disso. O anonimato a protegia.

Pelo menos até aquele dia.

— Você foi convocada para levar documentos ao 28º andar — disse a supervisora com uma pressa que não permitia perguntas. — Diretoria executiva. Pegue o elevador privativo. Não atrase.

Isabel congelou por um segundo. O 28º andar. O último. O inacessível.

Era onde ficava o coração da empresa. Os grandes nomes. O poder.

Ela nunca havia estado lá. Nunca havia sequer pensado em subir.

Com os documentos nas mãos e o estômago revirado — agora por razões além da gravidez — Isabel entrou no elevador privativo. O interior era silencioso e revestido de espelhos escuros. Cada andar subido fazia seu coração bater mais forte.

Ao chegar ao 28º, as portas se abriram com um som sutil. Um espaço amplo e sofisticado se revelou à sua frente: mármore no chão, janelas de vidro que iam do chão ao teto, e silêncio absoluto. Era outro mundo. Um onde tudo era calculado, perfeito, luxuoso.

Ela caminhou até a recepcionista do setor executivo, entregou os papéis e virou-se para voltar ao elevador — quando a porta de vidro à sua direita se abriu.

E ele saiu.

Declan Hudson.

O homem da boate.

O homem da noite que ela tentou esquecer.

O homem que agora era seu chefe.

O tempo parou. Ou talvez só ela tenha parado.

Ele estava exatamente como naquela noite, talvez ainda mais impressionante sob a luz branca e elegante do ambiente. Terno preto impecável, expressão fria e olhar letal. Mas seus olhos — os mesmos olhos que a devoraram naquela pista de dança — se estreitaram ao vê-la.

Reconhecimento.

Isabel sentiu o sangue sumir do rosto.

Declan parou de andar por um segundo. Seus olhos percorreram o corpo dela com a precisão de um scanner. Não era desejo, não dessa vez. Era cálculo. Memória.

— Você? — a voz dele foi baixa, quase um sopro. Mas havia um peso cortante nela.

Ela engoliu em seco.

— Senhor Hudson... — disse, tentando manter o tom profissional.

Mas ele já tinha entendido. Não precisava de mais pistas.

Ele deu um passo à frente, e a recepcionista desviou o olhar, claramente percebendo a tensão.

— Nos conhecemos de algum lugar? — ele perguntou com frieza ensaiada, embora os olhos gritassem outra coisa.

Isabel manteve a postura.

— Acho que o senhor está enganado.

Mentira. Mas necessária.

Ele ergueu uma sobrancelha. O tipo de expressão que deixava claro que não aceitava ser desafiado.

— Engraçado. Eu raramente esqueço um rosto.

— Ainda assim, deve estar se confundindo.

E ela virou-se rapidamente, apertando o botão do elevador como se sua vida dependesse daquilo.

As portas se fecharam, e ela sentiu as pernas fraquejarem.

Naquela noite, ela não conseguiu dormir.

E não foi só por causa dos enjoos, ou do cansaço. Foi porque agora ela sabia.

Ele estava ali.

Declan Hudson.

E mais cedo ou mais tarde, ele descobriria a verdade.

O problema é que... quando esse dia chegasse, ela já não estaria mais grávida de poucas semanas. Ela estaria de meses. Com uma barriga impossível de esconder.

E dois corações batendo por dentro dela — filhos dele.

Enquanto isso, no alto do prédio, Declan Hudson observava a cidade da janela, os punhos cerrados nos bolsos do paletó.

Ele não acreditava em coincidências. Nunca acreditou.

E aquela mulher — a mulher da única noite em que ele havia se permitido perder o controle — agora trabalhava na sua empresa.

Algo estava errado.

Ou talvez... estava prestes a se revelar muito certo.

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