Nova York pulsava.
As luzes, os arranha-céus, os táxis apressados — tudo tinha um ritmo feroz. Mas mesmo no meio do caos, Yago Lancaster sentia que havia algo ainda mais intenso o esperando naquela cidade.
Era a primeira vez que morava tão longe de casa. Longe da segurança dos pais, longe dos irmãos, longe de qualquer pessoa que soubesse quem ele era além da aparência calma e da pele sensível que tremia nos dias próximos ao cio.
Yago era um ômega de 24 anos, e havia aprendido a esconder isso como se fosse um segredo perigoso. Porque era. No mundo corporativo, os ômegas ainda eram vistos com desconfiança, como se suas emoções, ciclos e instintos fossem obstáculos e não parte de sua biologia. Ele já tinha sido recusado em três entrevistas por "não se adequar à cultura da empresa".
Mas agora... agora ele estava prestes a entrar na Montgomery & Co., uma das maiores holdings de investimentos de Manhattan. E ali, tudo seria diferente. Ou ao menos era o que ele dizia a si mesmo.
Na manhã da entrevista, Yago usava um suéter de lã fino, mesmo com o calor. Era a única maneira de esconder a leve pulsação da glândula na nuca. Ele havia tomado supressores desde dois dias antes — por precaução — mesmo sem cio previsto. A ansiedade já era o bastante para bagunçar seu ciclo.
Ao entrar no saguão da empresa, o cheiro de alfas preencheu seus sentidos como uma onda invisível. Feromônios misturados ao perfume caro de couro e bergamota, somados ao cheiro de café e concreto novo.
Mas havia um cheiro específico. Forte. Quente. Dominante. Como madeira escura queimada e especiarias. Um cheiro que o puxava, sem permissão.
— Ele chegou cedo hoje — murmurou uma das recepcionistas.
Yago se virou discretamente.
E foi quando viu Matteo Montgomery pela primeira vez.
O alfa atravessava o corredor como quem não devia satisfações a ninguém. Alto, cabelos castanho-escuros perfeitamente alinhados para trás, olhos escuros levemente puxados como lâminas, corpo atlético dentro de um terno cinza grafite sob medida.
Yago sentiu o estômago revirar.
Foi instinto. Cru. Quente. Imediato.
O cheiro de Matteo se espalhava pelo ambiente como autoridade líquida. E quando seus olhos se encontraram — por apenas dois segundos — Yago teve a certeza de que sua vida estava prestes a sair completamente do controle.
Matteo também parou por um segundo. Olhou. Sentiu. E continuou andando. Sem dizer nada. Mas com o olhar... dizendo tudo.
Naquela noite, sozinho em seu apartamento pequeno em Williamsburg, Yago não conseguia dormir.
Ele estava contratado.
E seu chefe... era Matteo Montgomery.
Um alfa que parecia feito para ser evitado. Mas cujo cheiro já havia se enraizado em sua memória, como se dissesse:
"Você é meu. Só não sabe ainda."
Yago respirou fundo e fechou os olhos, o peito apertado.
Ele não sabia se aquilo era o início de um recomeço…
Ou o começo do seu fim.
Mas sentia: tudo o que ele conhecia sobre controle estava prestes a ser destruído.
E ele não teria forças para impedir.
**Apresentação dos Personagens Principais**
Yago Lancaster (Ômega, 24 anos)
Inteligente, sensível, com feridas do passado que o tornam reservado.
Filho de um ômega solteiro, foi criado longe de alfas dominantes, o que moldou sua visão crítica sobre vínculos forçados.
Carrega um histórico de ansiedade e já reprimiu cios com supressores por anos.
Veste-se de forma elegante, mas discreta. Sonha em ter uma vida estável — algo que nunca teve.
Matteo Montgomery (Alfa, 29 anos)
Dono e CEO da Montgomery & Co., um império financeiro.
Controlador, ambicioso, solitário. Cresceu com a pressão de ser "o perfeito alfa dominante" e nunca soube o que é amor genuíno.
Teve envolvimentos físicos com ômegas, mas nunca se envolveu emocionalmente.
A presença de Yago o desconcerta — e isso o enfurece mais do que gostaria.
Clara Rivers (Beta, 27 anos)
Melhor amiga de Yago. Leal, espirituosa, feminista, e brutalmente honesta.
Ajuda Yago a manter os pés no chão e é quem o protege quando as emoções o dominam.
Nora Hathaway (Beta, 28 anos)
Recém-contratada na empresa, competitiva, direta e extremamente ambiciosa.
Já teve um envolvimento platônico com Matteo e sente ciúmes mal disfarçado de Yago.
É fria, mas também carrega um passado de traumas com alfas, o que será explorado mais adiante.
Luca Vega (Ômega, 30 anos)
Secretário de Matteo. Educado, misterioso e com um passado conturbado com alfas.
Tenta alertar Yago sobre os perigos de se envolver com Matteo, mas se torna um amigo valioso.
Guarda um segredo importante que será revelado no arco de meio da história.
O elevador era silencioso, revestido de aço escovado e espelhos escuros, refletindo as imagens com suavidade. O som do motor era quase imperceptível, e ainda assim, Yago Lancaster sentia o coração pulsando alto demais dentro do peito.
Era o seu primeiro dia oficial na Montgomery & Co., e ele fazia de tudo para manter o controle. Supressores em dia. Postura firme. Roupas alinhadas e discretas — um terno marfim com detalhes dourados sutis, como ele gostava. Era elegante, mas não provocante. Ou ao menos, ele esperava que não fosse.
O elevador parou no 27º andar, onde ficava o setor de planejamento e análise. Quando as portas se abriram, o cheiro o atingiu.
Forte. Quente. Marcante. Alfa.
Yago travou por um segundo. Aquilo não era normal. Supressores deviam protegê-lo dessas reações — mas o que invadia suas narinas era selvagem, amadeirado, misturado com especiarias e algo mais primitivo. Seu corpo respondeu antes que sua mente processasse: o coração acelerou, a pele se arrepiou, e a nuca queimou sob a gola da camisa.
Ele deu um passo hesitante para fora do elevador.
Foi quando o viu.
Matteo Montgomery.
O CEO da empresa. O alfa que comandava um império.
Ele estava parado ao lado da sala de reuniões de vidro, falando com dois diretores, com uma expressão séria. Alto, imponente, terno preto ajustado perfeitamente ao corpo largo. Os cabelos escuros estavam penteados para trás com precisão, e seus olhos levemente puxados, quase felinos, eram escuros como a noite antes da tempestade.
E então... Matteo olhou para ele.
Yago congelou.
O mundo pareceu silenciar naquele segundo. O alfa franziu levemente a testa, como se detectasse algo no ar — e claro que detectava. Ele sentia Yago. O cheiro, mesmo abafado, atravessava o andar.
Matteo piscou devagar, mas seus olhos não se desviaram.
Nem os de Yago.
Aquele instante durou apenas segundos. Mas Yago sentiu tudo: o instinto gritando, o estômago se contraindo, o corpo inteiro pedindo para correr… ou se entregar.
Ele abaixou o olhar, forçando as pernas a se moverem. Caminhou até sua mesa, onde Clara, sua supervisora imediata, o esperava.
— Está tudo bem? — ela perguntou, entregando-lhe uma caneca de café.
— Sim — Yago respondeu rápido demais. — Só... calor.
Clara arqueou uma sobrancelha.
— Bem-vindo ao inferno dos feromônios. Esse andar é quase uma arena. E você acabou de atrair o olhar do rei.
Yago não respondeu. Sentou-se, tentando normalizar a respiração.
Mas sabia.
Nada naquele dia seria simples.
E nenhum supressor do mundo o impediria de sentir aquele cheiro outra vez.
Horas depois, Matteo atravessava os corredores com passos pesados. A conversa com os diretores já havia terminado, mas o cheiro do novo ômega ainda estava na sua memória. Algo doce, refinado, e ao mesmo tempo selvagem. Era como se Yago exalasse um convite silencioso ao caos.
Matteo odiava isso.
Ele não gostava de distrações. De emoções. E muito menos, de instinto.
Mas ao passar novamente pelo setor de planejamento, seus olhos o buscaram, mesmo sem querer.
E lá estava ele.
Yago Lancaster.
E Matteo soube, naquele instante silencioso entre o controle e a perdição:
Aquele ômega ia ser o seu fim.
O primeiro dia de Yago na Montgomery & Co. havia terminado, mas o impacto que causara não seria esquecido tão cedo — e não apenas por ele.
Clara o observava discretamente desde o outro lado da baia, com aquele jeito protetor de quem sabia ler pessoas melhor do que relatórios. Assim que o relógio marcou 18h, ela se aproximou com um sorriso e dois copos de café frio.
— Você sobreviveu. Isso já é uma vitória — disse ela, sentando-se ao lado dele na estação de trabalho, agora vazia.
Yago riu baixinho, cansado.
— Nem sei como. Achei que ia desmaiar na primeira hora.
— Por causa dele?
Ele não precisou perguntar quem.
— Eu não sabia que ele vinha tanto ao setor...
— Ele quase nunca vem. Hoje ele apareceu três vezes. Só isso já seria estranho. Mas o jeito como te olhou? Isso aí só não viu quem não queria.
Yago desviou o olhar para a tela do computador, onde o gráfico do orçamento anual ainda piscava, como se lembrasse que o mundo corporativo não dava espaço para distrações.
— Eu não posso me dar ao luxo de... de nada — murmurou.
— É, mas vai ter que aprender a lidar com isso rápido — Clara disse, firme. — Porque se não for você quem define os limites, o resto vai fazer isso por você. E alguns já começaram.
Yago franziu o cenho.
— O que quer dizer?
Clara hesitou, depois passou o celular para ele. Era uma troca de mensagens do grupo de funcionários.
[Bellamy]:
O novo ômega é bonito, vou admitir.
Mas parece saber muito bem o que tá fazendo.
Esses olhos de quem quer subir pelo cio.
[Outro]:
Matteo tem histórico com ômegas?
Porque eu apostaria cem dólares que esse vai sair com promoção antes do segundo mês.
[Bellamy]:
Só se for debaixo da mesa da diretoria. rsrs
Yago devolveu o celular com um nó no estômago.
— Eu não fiz nada...
— E é por isso que incomoda. — Clara cruzou os braços. — Você chegou e simplesmente existiu. E isso já foi demais para alguns egos inflados. Principalmente o de Nora Bellamy.
— Ela...
— É alfa. Antiga gerente de projetos antes da fusão. Achava que ia ser promovida quando o antigo CEO saiu. Mas Matteo assumiu tudo sozinho. Ela odeia não ter controle. E odeia ainda mais que você esteja recebendo o olhar que ela quer há anos.
Yago suspirou, massageando as têmporas.
— Incrível como em menos de um dia eu virei o centro de um circo que nem entrei por vontade própria.
— Bem-vindo à Montgomery & Co. — Clara sorriu com ironia. — Aqui, todo mundo usa perfume caro, fala inglês fluente e esconde feromônio por trás de metas.
Na cobertura da empresa, Matteo não estava muito diferente de Yago — perdido em pensamentos.
Ele tentava focar nas planilhas, mas seu corpo reagia como se estivesse em alerta desde a manhã. O cheiro daquele ômega ainda pairava em sua mente, mesmo que Yago tivesse passado o dia evitando-o.
Era como se o ar ganhasse textura quando ele estava por perto. Como se seu corpo soubesse, antes da razão, que aquele ômega era diferente.
E isso o deixava... furioso.
Matteo sempre se orgulhou de ser impenetrável. Nunca havia se envolvido com ninguém da empresa. Mantinha seus casos bem fora das paredes de vidro. Mas agora, com aquele olhar tímido e ousado ao mesmo tempo, aquele cheiro doce e feroz...
Ele estava sendo testado.
E estava perdendo.
No fim do dia, Yago entrou no elevador com passos apressados. Só queria chegar em casa, tomar um banho e esquecer o quanto seu corpo estava quente.
Mas antes que a porta se fechasse, Matteo entrou.
O ar pareceu se comprimir instantaneamente.
Ambos ficaram lado a lado, em silêncio. Matteo não disse nada, mas seus olhos escuros pousaram sobre Yago como se o desnudassem. E mesmo sem tocá-lo, o corpo de Yago reagiu. A pele arrepiou, o cheiro mudou, a nuca latejou.
Matteo inspirou discretamente.
— Você tomou supressor hoje? — perguntou, a voz baixa, rouca.
Yago engoliu em seco.
— Sim... por quê?
— Porque o seu cheiro tá escapando — Matteo disse, virando o rosto devagar. — E tá me deixando louco.
O elevador parou no térreo, mas nenhum dos dois se moveu de imediato.
Yago sentiu o coração acelerar.
— Isso é... inadequado, senhor.
— Eu sei. — Matteo piscou devagar, um meio sorriso nos lábios. — E é por isso que você me intriga.
Ele saiu primeiro, deixando Yago ali, tremendo. Como se um furacão tivesse acabado de passar e ele não soubesse mais onde era o chão.
Na calçada, Clara esperava com dois cafés na mão.
Yago se aproximou devagar, ainda tentando regular a respiração.
— Você tá bem?
— Acho que... comecei a entender por que ninguém sobrevive ao olhar dele por muito tempo.
Clara deu um sorriso leve e ofereceu um café.
— Bem-vindo ao jogo. Só não se esqueça: mesmo quando a atração parece inevitável... quem define até onde vai, é você.
Yago olhou para o prédio alto atrás de si.
E mesmo tentando se convencer de que podia resistir, no fundo, já sabia.
Matteo Montgomery havia o tocado sem nem encostar.
E aquele jogo, perigoso e instintivo, só estava começando.
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