O ônibus de viagem estaciona no terminal. A porta se abre devagar. Helena desce com a mochila nas costas e os olhos atentos. Ricardo já a viu, mas ela ainda está procurando por ele. Quando finalmente o encontra, sorri largo.
Helena: Ricardo!
Ela corre até ele, sem pensar duas vezes. Ele abre os braços, firme, e os dois se abraçam forte, como se o tempo não tivesse passado.
Ricardo: Minha irmãzinha…
Helena: Tava com saudade, viu?
Ricardo: Também estava com saudade de você. Cinco meses sem nos vermos.
Ele pega a mochila dela.
Ricardo: Bora? A Vanessa tá esperando a gente em casa.
Helena: Vamos, irmão.
Eles foram até o carro ainda colados um no outro.
Durante o caminho, Helena encosta a cabeça no vidro do carro. Olha as ruas movimentadas da cidade grande. O trânsito, os prédios, a correria… tudo diferente da vida que ela deixou pra trás no campo.
Foi criada no interior, numa fazenda afastada. Não conheceu os pais biológicos. Foi deixada nos braços de uma viúva que já tinha um filho pequeno — Ricardo. Cresceu como irmã dele e o ama como se fosse seu irmão de sangue. Cresceu com o que tinha. Nunca reclamou. Mas agora, sem a mãe adoentada para cuidar, está decidida a iniciar uma nova vida, assim como Ricardo decidiu 10 anos atrás.
O carro estaciona. Um prédio simples, mas bem cuidado. Ricardo pega a mochila de Helena e abre o portão. Eles sobem de escada e Ricardo bate na porta do apartamento.
Helena: Não tem as chaves da sua própria casa?
Ricardo: Eu sempre esqueço.
Helena riu.
A porta abre. Era Vanessa. Helena é recebida com um sorriso caloroso.
Vanessa: Até que enfim a gente se conheceu!
Vanessa a abraça de leve, com respeito e simpatia.
Vanessa: Sinto muito pela sua mãe. Queria ter ido ao enterro, mas tava de plantão no hospital…
Helena: Imagino. Tá tudo bem. Obrigada, de verdade. É um prazer te conhecer, Vanessa!
Vanessa: Preparei um quarto pra você. É simples, mas aconchegante. Espero que goste.
Helena: Obrigada, de verdade.
Ricardo entra logo atrás com a mochila nas mãos.
Ricardo: Vou deixar vocês duas conversarem. Preciso descansar… mais tarde volto para a mansão.
Helena: Ainda trabalha pro tal milionário?
Ricardo: Ethan Leblanc em pessoa. O mesmo de sempre.
Ele sorri de canto, como quem já viu muita coisa naquela casa.
Ricardo: Mas… amanhã a gente conversa melhor. Dorme um pouco, Heleninha. A cidade suga a gente sem nem pedir licença.
Vanessa: Antes ela vai comer alguma coisa.
Helena: Bom descanso, irmão.
Ricardo: E você, boa sorte com a faladeira da minha mulher.
Vanessa revira os olhos de graça e Helena ri.
Ricardo caminha até o quarto e Helena olha para Vanessa.
Helena: Vanessa, eu poderia tomar um banho antes?
Vanessa: Claro, cunhada! Vou te apresentar seu quarto, vem.
Elas seguem para o quarto. Tudo arrumado com cuidado. Colcha limpa, uma pequena mesinha, um vaso de planta na janela.
Helena: Obrigada por esse cuidado todo, eu prometo que não vou atrapalhar vocês por muito tempo.
Vanessa: Não é incômodo algum, essa casa também é sua, Helena. Eu tô muito feliz por finalmente te conhecer e ter com quem conversar. Me sinto tão só.
Helena: Obrigada por me receber tão bem… Mas por aqui você não tem amigas?
Vanessa: As mulheres do prédio são todas mais velhas, e lá no trabalho eu tenho algumas colegas sim, mas não somos tão próximas.
Helena: Entendo. De qualquer forma, espero que possamos nos tornar boas amigas. O meu irmão me falou muito bem de você e estou vendo que ele não mentiu.
Vanessa sorri.
Vanessa: Ele também não mentiu sobre você. Agora deixa eu ir preparando a mesa, toma seu banho, tô te esperando.
Helena: Espera eu sair do banho, te ajudo com isso.
Vanessa: De forma alguma, quando sair já estará tudo pronto.
Vanessa saiu do quarto.
Helena senta na cama e respira fundo.
Ela não sabia o que a esperava ali. Só sabia que precisava ficar. E recomeçar.
Helena: Que loucura eu fiz da minha vida? Espero encontrar um emprego o quanto antes, não posso ficar aqui sem colaborar com nada… Mas, pensando bem, naquele lugar não dava mais pra viver.
Ela levanta e segue para o banheiro.
Horas depois, no fim da noite, Ricardo acorda.
Troca de roupa, se arruma com pressa e, já pronto, encontra Helena e Vanessa conversando sentadas no sofá.
Ricardo: Eita! Já estão de fofoca?
As duas se levantam, rindo.
Vanessa: Já vai? Bom trabalho, amor.
Ele beija ela.
Helena: Se cuida irmão.
Ele se despede delas, dá um selinho na boca da esposa e um abraço na irmã.
Ricardo: Boa noite.
Ricardo vai embora. Helena respira fundo e senta novamente ao lado da cunhada.
Helena: Amanhã mesmo vou sair pra procurar emprego. Preciso começar em algo logo.
Vanessa: Calma, menina! Você mal chegou. Aqui com a gente você tá segura. Não precisa correr tanto.
Helena: Você é muito compreensiva e meu irmão obviamente não me deixaria na mão, mas eu não posso ficar aqui a vida toda…
Vanessa: Helena, o que você fazia lá no interior?
Helena: Trabalhava na casa grande com a minha mãe… Passava, limpava, cozinhava.
Vanessa: Quando sua mãe faleceu eles te deixaram desempregada? Me desculpe a intromissão, mas…
Helena: Não, imagina… A verdade é que eu estava me sentindo muito só lá.
Vanessa: Entendo, queria ficar mais próxima do seu irmão também, não é? É muito bom ter alguém que se possa confiar por perto.
Helena: O trabalho na fazenda também era muito pesado… Eu não sou preguiçosa, mas aqui eu acredito que posso encontrar algo melhor.
Vanessa: Pensa em fazer alguma faculdade?
Helena: Quem sabe um dia eu consiga fazer medicina veterinária.
Vanessa: Pois eu profetizo que você vai conseguir.
Helena sorri.
Já na mansão, Ricardo estaciona e percebe uma movimentação diferente.
Dentro da casa, Ethan discutia com o filho.
Nathan: Eu tô cansado disso, pai! Você quer controlar até com quem me relaciono!
Ethan: Então vai embora! Mas não volta mais pra esta casa se não for pra me respeitar! Começa a trabalhar e se vira Nathan, se vira!
Nathan: Pode deixar. Quem sabe assim eu esqueço de uma vez que sou seu filho!
Nathan sai com a mochila nas costas. Ethan observa com os olhos estreitos e fecha a porta com força.
Logo depois, abre novamente.
Ethan: Ricardo! No escritório. Agora.
Ricardo se apressa, postura firme, e entra na casa. Caminha atrás de Ethan até o escritório. O patrão larga o paletó sobre uma poltrona e caminha de um lado para o outro, ainda inquieto.
Ethan: Prepare o carro. Não vou dormir aqui hoje.
Ricardo: Sim, senhor.
Ricardo já ia se retirando quando Ethan fala novamente, dessa vez com o tom mais controlado:
Ethan: Ah… chame a Camila. A empregada saiu de licença para ter o bebê. Preciso que ela organize uma seleção pra contratar uma substituta temporária.
Ricardo hesita um instante.
Ricardo: Senhor… se me permite, eu tenho uma sugestão.
Ethan: Fale.
Ricardo: Minha irmã chegou hoje à cidade. Está procurando emprego. É discreta, responsável, sabe lidar com casa e gente. Acho que valeria a pena considerá-la.
Ethan cruza os braços, encara Ricardo com frieza.
Ethan: Aqui não se contrata por laços familiares, Ricardo. Se ela quiser tentar, que venha como qualquer outra candidata. E que Camila faça o filtro, como sempre.
Ricardo: Entendido, senhor. Agradeço por ouvir.
Ethan se aproxima da estante e pega uma garrafa de uísque. Serve-se com mãos firmes, mas o olhar denuncia a tensão.
Ethan: Ricardo, você tem filhos?
Ricardo: A gravidez da minha esposa não foi pra frente, senhor.
Ethan: Verdade. Você já havia me dito.
Ricardo: Mas já estamos tentando novamente. Tanto eu quanto ela queremos.
Ethan ergue as sobrancelhas e assente enquanto vira seu uísque.
Ethan: Boa sorte.
Ele ri, ironicamente, e vira a bebida de uma vez.
Ethan: Está dispensado.
Ricardo: Vou preparar o carro e chamar a dona Camila.
Ricardo sai do escritório e quando entra na cozinha se surpreende ao ver Nathan cabisbaixo, sentado à mesa com Camila.
Ricardo: Nathan? Você voltou?
Camila: Fui buscar esse menino puxando pela orelha! Ele tava feito alma penada andando pela rua.
Ricardo: A senhora não tem jeito…
Ricardo se aproxima, põe a mão no ombro de Nathan.
Ricardo: Fica calmo, rapaz. As coisas com seu pai vão se acertar.
Nathan: Eu não quero acertar nada com ele. Já entendi que ele nunca vai me aceitar como eu sou. Não dá pra conviver com uma pessoa que quer controlar até com que mulher eu vou me casar. Quando eu sair de vez dessa casa, nunca mais volto.
Ricardo: Tinha que ter mulher no meio.
Camila riu da fala de Ricardo, mas logo ficou séria.
Camila: Você não vai pra lugar nenhum. Vai continuar aqui, quieto, até a poeira baixar. Seu pai vive trancado no escritório ou no quarto. É só não cruzar com ele pelos corredores.
Ricardo dá risada.
Ricardo: É verdade… ele passa o dia na empresa, almoça no quarto, vive enfurnado. Nunca usou nem a piscina.
Nathan: Tá, mas só até eu conseguir um trabalho.
Ricardo: O senhor Ethan tava chamando a senhora. Parece que quer passar umas orientações.
Camila: Acho que já sei do que se trata.
Nathan: Não diz pra ele que estou aqui, por favor.
Camila: Toma esse chá, menino. Fica calmo, não vou dizer nada.
Camila sai da cozinha. Nathan toma o chá e Ricardo volta ao trabalho.
Camila entra com semblante firme no escritório.
Ethan: O que eu te fiz agora?
Camila: Não gostei da forma como falou com seu filho.
Ethan: E pra que eu te pago?
Ela respira fundo.
Camila: Pra trabalhar, sim. Mas eu te conheço desde rapazinho. E sempre que achar necessário me meter na sua vida ou dar um conselho, eu vou fazer isso.
Ethan engole a seco.
Ethan: Senta.
Ela senta.
Camila: Me chamou para perguntar sobre o processo seletivo?
Ethan: Sim, precisamos de alguém imediatamente.
Camila: Amanhã mesmo já teremos uma faxineira substituta.
Ethan: Ricardo comentou que a irmã dele, que veio do interior, tá precisando de trabalho. Mas você sabe que eu não gosto que meus funcionários tenham parentes trabalhando juntos. Mesmo que ela venha, descarte. Não a contrate.
Camila: E se ela for a melhor entre as candidatas?
Ethan: Não interessa. Não quero que você a contrate.
Camila: Então por que deixou que ele pensasse que ela poderia vir? Vai fazer a moça perder tempo?
Ethan: Ricardo é um bom funcionário. Não quis deixá-lo mal… mas pensei melhor. Não quero a irmã dele trabalhando aqui.
Camila: Só isso?
Ethan: Só.
Camila: Pois amanhã mesmo teremos a nova funcionária.
Ela sai e fecha a porta.
Camila: Hora mais veja… até parece que, se ela for competente, eu não vou dar oportunidade.
Ela fala baixinho para si.
Após deixar Ethan fora como de costume nos fins de semana, Ricardo retorna à mansão. Camila o chama discretamente.
Camila: Ricardo!
Ricardo: Dona Camila, a senhora precisa de algo?
Camila: Só queria te avisar… Amanhã bem cedo preciso que sua irmã esteja aqui. Vou entrevistá-la para a vaga de faxineira. Se for competente, será a substituta da Luiza.
Ricardo: Então o senhor Ethan falou com a senhora?
Camila: Falou, sim. Disse que era pra eu dar prioridade à sua irmã — desde que ela realmente saiba trabalhar.
Ricardo abre um sorriso enorme, emocionado.
Ricardo: Muito obrigado, Dona Camila! A senhora não vai se arrepender. Minha irmã sabe fazer de tudo, desde nova. Na roça, já ajudava nossa mãe com tudo, elas trabalhavam juntas na casa grande.
Camila: Ótimo. Então veremos.
Ricardo a abraça, animado. Ela ri.
Ela entra na mansão e Ricardo corre para ligar para a irmã.
📲Ricardo: Heleninha! Tenho uma ótima notícia pra você, acho que consegui um emprego temporário para você aqui na mansão! A Dona Camila vai te entrevistar amanhã cedo. E ó… já adianto, o senhor Ethan pediu pra te dar prioridade.
📲Helena: Ai, meu Deus! Obrigada, irmão! Eu nem consigo acreditar.
📲Ricardo: Pois pode acreditar!
📲Helena: Vou dar o meu melhor!
📲Ricardo: Claro que vai, você trabalha muito bem e com certeza será até contratada futuramente.
Eles se despedem e Helena corre para contar a Vanessa, que já esperava ansiosa.
Vanessa: E aí? Que que foi?
Helena: Tenho uma entrevista na mansão que o Ricardo trabalha! Amanhã cedo!
Vanessa: Uau! Isso merece um chocolate quente! Viu que não precisava se preocupar?
As duas se abraçam, empolgadas. Era o primeiro passo para o novo começo de Helena.
...Helena e Ethan…...
...Vanessa e Ricardo…...
...Camila e Nathan…...
💖 Bem-vindos a mais uma história!
Se você gostou do capítulo, não esqueça de deixar sua curtida, seu comentário e, se puder, aquele presentinho pra autora! Isso é muito importante pro engajamento da história e me motiva a continuar escrevendo com todo carinho.
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Vanessa: Tá tudo certinho aí, Helena? Já separou os documentos?
Helena ajeita a alça da bolsa no ombro, nervosa, mas animada.
Helena: Tá sim… Ai, Vanessa, eu tô com um frio na barriga… Será que vou dar conta?
Vanessa sorri, se aproxima e segura as mãos da cunhada.
Vanessa: Se tem uma coisa que eu sei, é que você é danada! Sabe fazer de tudo. Vai lá, dá o seu melhor e mostra quem é que manda!
Helena sorri, emocionada com o apoio.
Helena: Obrigada por tudo, de verdade.
Vanessa: Agora vamos descer! Vou chamar um táxi pra você.
As duas saem do apartamento. Do lado de fora, Vanessa entrega o papel com o endereço para o taxista.
Vanessa: É a casa do senhor Ethan Leblanc. Uma mansão na zona nobre. Pode deixar ela bem na porta, por favor.
O táxi parte. Helena observa a cidade grande pela janela, pensando na vida que deixou pra trás e na nova chance que pode estar à sua frente.
Minutos depois, o carro para diante de uma enorme mansão de portões cumpridos e detalhes dourados. Helena arregala os olhos.
Helena: Moço… É essa mesmo?
Taxista: Segundo o endereço, é sim, moça. Mansão dos Leblanc. Boa sorte pra você.
Helena: Obrigada…
Ela desce do carro com passos lentos e fica parada na calçada, encantada.
Helena: Parece até um castelo…
De repente, o portão se abre e Ricardo aparece do outro lado.
Ricardo: Helena!
Helena sorri aliviada e corre até ele. Os dois se abraçam com carinho.
Helena: Eu nem acreditei que fosse aqui…
Ricardo: Pois é, minha irmã. Mas pode acreditar, é aqui mesmo. Agora vamos, Dona Camila tá te esperando.
Ricardo conduz a irmã até a porta da cozinha. Lá dentro, Camila conversava com uma funcionária, mas logo se vira ao vê-los.
Ricardo: Dona Camila, essa é minha irmã, Helena.
Camila: Ah, então essa é a famosa Helena! Seja muito bem-vinda, minha querida.
Helena: Obrigada, senhora. É um prazer conhecê-la.
Camila: Que nada de senhora, menina! Pode me chamar de Camila só. Vamos entrar, vamos conversar com calma.
O celular de Ricardo toca. Ele atende, já sério.
📲Ricardo: Sim, senhor… Claro, já estou a caminho.
Ele desliga e se vira para as duas.
Ricardo: Preciso buscar o patrão. Dona Camila, cuide bem da minha irmã, hein?
Camila: Pode deixar! Ela tá em boas mãos. Vai tranquilo.
Ricardo: Helena, assim que eu voltar, a gente vai embora junto, tá?
Helena: Tá bom. Vai com Deus, irmão.
Ricardo sai às pressas. Helena e Camila sentam-se à mesa da cozinha, onde a entrevista começa em tom descontraído.
Camila: E então, Helena… Trabalhou com o quê lá no interior?
Helena: Eu fazia de tudo um pouco. Limpava casa, lavava roupa, ajudava a cuidar de criança… Trabalhava com minha mãe, desde cedo.
Camila: Gosto de gente que bota a mão na massa. E você tem uma carinha de danada, vai se sair bem.
As duas riem. A conversa flui leve, com momentos engraçados sobre as peripécias de Helena na roça. Até que, de repente, a porta da cozinha se escancara.
Nathan entra apressado, com o pequeno Pingo nos braços. Ele está pálido, desesperado.
Nathan: Camila! O Pingo… ele tá estranho! Ele tava bem, e agora tá assim, ó… tossindo, sem latir, com a carinha caída!
Camila se aproxima preocupada.
Camila: Deixa eu ver, meu Deus…
Helena já está de pé, observando de longe. Quando vê o estado do cachorro, se aproxima com firmeza.
Helena: Me dá licença?
Nathan, assustado, olha pra moça que ele nunca viu na vida.
Nathan: Quem é você?
Helena: Só confia. Ele tá engasgado.
Ela pega o Pingo com delicadeza, mas rapidez. Coloca o cãozinho em posição e começa a aplicar uma manobra de desengasgo canino. Nathan observa, sem reação.
Pingo tosse, se debate, até que cospe um pequeno pedaço de brinquedo. O alívio invade o ambiente.
Nathan: Meu Deus… Ele…
Camila: Graças a Deus…
Pingo, agora bem, começa a lamber a mão de Helena.
Helena: Pronto, lindinho… Já passou.
Nathan continua olhando fixamente para Helena, sem saber o que dizer.
Nathan: Você salvou ele… Eu… Obrigado. De verdade.
Camila: Menina, eu quase tive um troço. Você tem experiência com animais?
Helena: Eu ajudava a cuidar dos cachorros da fazenda, dos cavalos, os porcos…
Nathan e Camila se olham.
Um funcionário bate na porta da cozinha.
Luiz: Dona Camila, a entrega chegou. Estão pedindo sua assinatura.
Camila: Ai, claro. Me dá licença, Helena.
Camila sai, ainda colocando a mão no peito, abalada. Nathan permanece na cozinha, observando a moça que acaba de salvar seu cachorro.
Nathan: Helena, né?
Ela olha pra ele enquanto ainda passa a mão com delicadeza no cachorro, que agora se aconchega em seu colo.
Helena: Sim, me chamo Helena. E você?
Nathan: Nathan… Eu sou o dono desse pestinha aí.
Ele força um sorriso, mas o alívio em seus olhos é visível.
Nathan: Obrigado de verdade, Helena. Você salvou ele… Eu tava desesperado.
Helena: Não foi nada. Só fiz o que achei certo. Mas… não querendo te preocupar, é importante que você leve ele ao veterinário. Só por precaução. Vai que ele engoliu mais alguma coisa ou arranhou alguma parte interna.
Nathan observa o cachorrinho, que já abana o rabo animado, e assente.
Nathan: É… faz sentido. Mas ele parece bem, né?
Helena: Parece sim. Tá espertinho. Mas melhor garantir.
Nathan: Você tem razão… Obrigado, de novo.
Ele cruza os braços e a observa em silêncio por alguns segundos. Helena, sem perceber o olhar dele, continua acariciando Pingo com ternura.
Nathan: Você trabalha aqui?
Helena: Ainda não. Tô aqui pra uma entrevista. Vim do interior… Meu irmão é o Ricardo.
Nathan: Ricardo? O motorista?
Helena: Esse mesmo.
Nathan: Então você é irmã do Ricardo… Interessante.
Ele sorri de lado, ainda intrigado com a presença dela.
Nathan: Ele nunca falou que tinha uma irmã tão… habilidosa.
Helena sorri com simplicidade.
Helena: Então quer dizer que ele fala pouco de mim?
Nathan: Talvez eu que converse pouco com ele mesmo, longe de mim criar conflitos entre irmãos.
Eles riem.
Camila retorna à cozinha, com uma pasta de documentos na mão.
Camila: Pronto! A encomenda foi entregue e assinada. E como está o nosso peludo?
Nathan: Pronto para nos dar outro susto, graças à Helena aqui.
Camila: Você já ganhou meu respeito, minha filha. Vamos continuar a nossa conversa? Você já mostrou muito mais que competência.
Helena sorri, lisonjeada.
Nathan: Eu vou levar o Pingo ao veterinário agora. Até mais Helena, amanhã quero te ver aqui.
Camila: Vai tranquilo, se depender de mim ela já está contratada.
Nathan sai pela porta lateral com Pingo no colo, mas ainda lança um último olhar de gratidão para Helena antes de sumir pelos corredores.
Camila: Agora sim, vamos continuar a entrevista. Mas, olha… depois do que você fez, se depender de mim, o uniforme já pode ser seu.
Helena ri, um pouco envergonhada, mas grata.
Helena: Vamos ver o que falta… Pode perguntar o que quiser, Dona Camila.
Camila: Vamos ver se além de coragem e coração, você também tem capricho no serviço.
As duas seguem conversando na cozinha, até que Camila convida Helena para conhecer a casa.
Camila: Vamos fazer o seguinte, Helena. Já que estamos com tempo, vou te mostrar a casa. Você precisa conhecer o ambiente onde vai trabalhar, né?
Helena: Ah, claro! Vou adorar!
As duas saem da cozinha e começam o pequeno tour. Helena observa tudo com os olhos brilhando. Cada cômodo da mansão parece ter saído de uma revista de decoração. Elas passam pelo salão principal, sala de jantar, biblioteca, e então sobem a escada imponente até o segundo andar.
Camila: Vamos fazer o seguinte, Helena. Já que estamos com tempo, vou te mostrar a casa. Você precisa conhecer o ambiente onde vai trabalhar, né?
Helena: Ah, claro! Vou adorar!
...Pingo e Helena…...
As duas saem da cozinha e começam o pequeno tour. Helena observa tudo com os olhos brilhando. Cada cômodo da mansão parece ter saído de uma revista de decoração. Elas passam pelo salão principal, sala de jantar, biblioteca, e então sobem a escada imponente até o segundo andar.
Camila: Aqui em cima ficam os quartos. Esse é o da Luiza, a faxineira que você vai substituir. E ali é o meu, aquele outro é o do senhor Nathan e também temos os das vistas…
Helena: Tudo tão bonito, parece até cenário de filme.
Camila sorri, orgulhosa.
Camila: Agora, esse último aqui… é o quarto principal.
Ela empurra a porta devagar.
Camila: Do senhor Ethan.
A porta se abre e revela um ambiente bem diferente do restante da casa. O quarto é grande, mas com tons escuros. Cortinas pesadas bloqueiam parte da luz. Os móveis são escuros, impecavelmente arrumados, mas frios. Um cheiro leve de madeira e perfume amadeirado paira no ar.
Helena entra com cuidado, olhando ao redor, impressionada.
Helena: Nossa… É tão diferente do resto da casa.
Camila: O patrão não gosta de muita luz. Nem de bagunça. E menos ainda de visitas no quarto dele.
Antes que pudesse terminar, uma voz ecoa do jardim:
Zé: Dona Camila! Ô dona Camila! A piscina tá vazando de novo, minha santa! Tá tudo alagado aqui!
Camila: Por Deus… Não me dão dois minutos de sossego nessa casa!
Ela se vira para Helena, ajeitando os cabelos com pressa.
Camila: Me perdoa, minha filha, mas preciso ver isso. Fica à vontade aqui. Só dá uma olhadinha, não mexe em nada, tá bom? Já volto.
Helena: Pode deixar…
Camila sai correndo, deixando Helena sozinha no quarto.
Helena caminha devagar pelo espaço, observando cada detalhe. É como se aquele ambiente carregasse uma energia pesada, diferente. Ela tenta encontrar o interruptor da luz, que parece escondido. Estica o braço, tateando a parede.
Assim que encontra e acende a luz, sente uma mão pousar em seu ombro.
Vira-se de súbito, soltando um grito:
Helena: Ai, meu Deus!
Ela se depara com um homem alto, vestido com elegância, de olhar firme e penetrante. Os cabelos ainda úmidos do banho rápido que tomara ao chegar, a expressão severa. Ele exala autoridade.
Ethan: Quem é você? E quem pensa que é pra estar mexendo nas minhas coisas?
Helena congela. Os olhos arregalados, o peito subindo e descendo rápido com a respiração descompassada. Assustada… e hipnotizada.
Helena: Eu… eu… não tava mexendo em nada, senhor… Eu só… só tava olhando. Camila me trouxe… Ela foi chamada na piscina…
Ethan a observa, estreitando os olhos, como se a estudasse por inteiro.
Helena: Eu sou a irmã do Ricardo. Vim pra entrevista da vaga de faxineira. Só isso… não quis faltar com respeito, me desculpa…
Ethan: E acha que isso justifica estar no meu quarto, sozinha?
Ela ergue o rosto de novo, com os olhos firmes agora.
Helena: Eu só obedeci à dona Camila. Mas se o senhor se sentiu invadido, me desculpe. Ela autorizou que eu aguardasse aqui.
Ethan permanece em silêncio por alguns segundos. Seu olhar se fixa nela de forma intensa. A tensão paira no ar. Até que ele recua um passo.
Ele se vira, caminha até a cômoda e pega o celular, como se encerrasse o assunto. Helena respira fundo e se apressa em sair, sentindo o coração disparado.
Mas enquanto fecha a porta, ainda sente o peso do olhar dele em suas costas.
Helena mal consegue respirar direito ao sair do quarto. Ainda tenta entender o que acabou de acontecer. Ao dar os primeiros passos para o corredor, dá de cara com Camila, que vinha subindo as escadas apressada, vinda da área da piscina.
Camila: Ah não… Não acredito. O senhor Ethan te pegou aí dentro, não foi?
Pergunta ao ver o rosto de Helena.
Helena balança a cabeça levemente, os olhos arregalados e a pele pálida. Estava tremendo.
Camila: Ai, meu Deus do céu… Fica calma, Helena. Me espera ali no hall, tá bom? Não sai daí. Eu vou resolver isso agora.
Sem esperar resposta, Camila entra no quarto de Ethan e deixa a porta entreaberta. Helena permanece parada no corredor, com o coração disparado e os olhos fixos na entrada. Sem querer — ou talvez querendo —, acaba ouvindo a discussão lá dentro.
Helena permaneceu parada diante da porta entreaberta. A voz grave de Ethan se sobressaía no quarto.
Ethan: Eu já falei, Camila, você sabe que não gosto que entrem no meu quarto. Ainda mais uma desconhecida que nem foi contratada ainda!
Camila: Ethan, por favor. Eu precisei sair por causa da piscina, pedi que ela aguardasse aqui. Ela não tocou em nada.
Ethan: Mesmo assim, Camila. Já não tinha deixado claro que não queria a irmã do Ricardo como faxineira?
Camila: Eu sei. Mas foi a única que apareceu pra entrevista, e são só três meses. Além disso, ela salvou o cachorro do Nathan, tive que dar uma chance a moça.
Ethan: O quê? Eu não tô nem aí pra aquela bola de pelo. Faça o favor de dispensar ela.
Helena, do lado de fora, engoliu seco. Não sentia raiva. Só uma pontada discreta no peito. Nada além de uma decepção simples, abafada. Sabia que não era nada pessoal. Mas ainda assim… doía um pouco.
Sem fazer barulho, desceu a escada devagar. Saiu pela porta principal que já estava aberta, atravessando o jardim em silêncio. Ao longe, avistou Ricardo ao lado do carro, terminando de guardar algo no porta-malas. Ele virou e, ao ver a irmã, abriu um sorriso automático — que logo se desfez ao perceber o olhar dela.
Ricardo: Heleninha? Tá tudo bem?
Helena forçou um sorriso discreto, tentando parecer despreocupada.
Helena: Tá sim, maninho. Mas… acho que essa vaga não é pra mim, não.
Ricardo franziu a testa, se aproximando.
Ricardo: Como assim? Por que você tá dizendo isso?
Helena: Não é nada. É só que… a casa é muito grande, tem muita coisa.
Ricardo: Mas tem muitos funcionários também. Você só cuidaria de uma parte. Seria tranquilo, só tirar poeira, manter as coisas no lugar. Ninguém vai te sobrecarregar.
Helena: Vamos embora, Ricardo?
Antes que ele pudesse insistir, a voz de Camila ecoou da porta principal.
Camila: Ricardo! Helena!
Helena parou, mas não se virou. Ricardo segurou o braço dela com delicadeza, encorajando.
Ricardo: Vamos ouvir, vai.
Eles voltaram alguns passos até a entrada da mansão, onde Camila os aguardava, visivelmente constrangida.
Camila: Helena, me desculpa mesmo pelo ocorrido, tá?
Ricardo olhou para a irmã, confuso.
Ricardo: O que aconteceu, afinal?
Helena: Nada demais… Eu só entrei num lugar onde não devia. Foi erro meu.
Camila balançou a cabeça.
Camila: Na verdade, a culpa foi minha. Pedi pra Helena esperar no quarto do senhor Ethan enquanto eu resolvia um problema, não achei que vocês já tivessem voltado. Foi uma decisão errada. Ele não gostou, mas a culpa é toda minha. Mesmo assim, Helena, se puder, quero você aqui amanhã.
Helena hesitou, com os olhos baixos.
Helena: É melhor não… Eu escutei quando ele disse que ficou muito incomodado de me ver no quarto dele.
Ricardo: Então você não quer mais o emprego? Ele foi grosso com você?
Helena: Não… Ele não fez nada demais. Só não me senti bem aqui. Prefiro não continuar.
Ricardo suspirou, mas respeitou.
Ricardo: Tá certo, então. Dona Camila, não se preocupe. Agradeço de coração por ter dado essa chance à minha irmã. Mas… vamos embora. Amanhã a gente se vê, dona Camila.
Camila abriu a boca para dizer algo, mas os dois já estavam de costas. Ela ficou parada na porta, observando enquanto os irmãos atravessavam o jardim juntos, em silêncio.
💖💖💖💖
Se você gostou do capítulo, não esqueça de deixar sua curtida, seu comentário e, se puder, aquele presentinho pra autora!
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