O Último Refúgio
Cap:01
O motor do veículo ainda vibrava em marcha lenta, mas ninguém dentro do carro falava. Só o som distante dos grilos e o crepitar do cigarro de Cris quebravam o silêncio denso da madrugada.
Carlos
Isso aqui fede a merda velha, Cris.
Carlos
Floresta, vilarejo sem registro, traficantes que ninguém ousa tocar...sabe o que isso grita?
Lara
"Bem-vindo à DEA SRT"
Lara
Se fosse fácil, não seria a gente aqui.
Cris
A informação bateu três vezes...
Disse Cris enquanto terminava seu cigarro e o apagava com o sapato no chão.
Cris
pequeno vilarejo enfiado no meio da floresta...
Cris
Tráfic@ de armament@ pesado e drog@s sintétic@s.
Disse Cris enquanto abria o porta malas do carro.
Cris
Zero contato com o mundo externo. Nenhuma câmera. Nenhum sobrevivente das últimas tentativas.
Ele puxou o fuzil de dentro do porta malas, travou a coronha no ombro e encarou os dois.
Cris
Hoje a gente fecha esse ponto.
Carlos
E se não tiver ninguém lá dentro?
Carlos
E se for mais uma dessas armadilhas?
Cris
Então a gente reza pra ser só isso...
Cris
Da última vez que disseram que era "só traficantes" a metade da nossa equipe voltou em sacos pretos.
Lara
Vamos nos equipar logo.
Lara
vamos nos dividir, Eu e Carlos entramos pelo oeste e Cris pelo leste, nos encontraremos no centro do vilarejo.
Lara
Alvo principal: capturar os líderes, isolar rotas, coletar provas. Se tiver reação....
Carlos
A gente corta o mal pela raiz.
Cris
Isso aqui não é só mais uma batida, é zona de exclusão.
Cris
vocês sabem o que significa.
Lara ajustou a mira da arma e respondeu sem hesitar
Lara
Significa que, se a gente não voltar... ninguém vem buscar.
O trio se encarou por um breve instante, como se compartilhassem o mesmo pressentimento.
então, sem mais palavras, viraram-se para a mata e sumiram entre as sombras das árvores.
Cap:02
Lara e Carlos começaram a caminhar lado a lado pisando com cuidado sobre as folhas
Carlos
Ei...como tá a Cleu?
Lara manteve os olhos à frente mas o canto da boca curvou um pouco.
Lara
Continua do mesmo jeito
Lara
Semana passada ela sumiu da escola três dias e foi encontrada numa festa clandestina em outro estado.
Carlos
Ela tem 17, né? Juro que se ela fosse minha irmã, eu já tinha fugido de casa.
Lara
A Cleu é um furacão. Saudável, rebelde e com energia de três adolescentes.
Carlos desvia de um galho baixo e continua o mesmo passo.
Carlos
Ela parece com você, sabia?
Lara
Isso era pra ser um elogio?
Carlos
Não. Quer dizer...sim. Quer dizer...vocês tem esse jeito de morder o mundo como se ele tivesse te devendo alguma coisa
Lara
Cala a boca e presta atenção. Tem algo estranho aqui.
Eles pararam. O vento paraceu sumir.
Carlos ergueu a arma, os olhos varrendo os troncos à frente.
Carlos
Porra...cadê o som?
Lara
A mata tá segurando o fôlego...
Lara
E quando isso acontece... é porque alguma coisa vai explodir.
Carlos
Tô começando a odiar essa missão.
Lara
Continue em silêncio, vamos pelo lado esquerdo do córrego. devagar.
Os dois seguiram, mais atentos, mais silenciosos.
Lara levantou o punho fechado parando
Lara se agachou apontando para uma pegada funda na lama.
Lara
Isso não é nosso, nem é recente.
Carlos se abaixou ao lado dela.
Lara
Essas pegadas são estranhas...
Lara
Parece pegadas descalças, uma sobre a outra, como se mais de uma pessoa tivesse passado por aqui.
Carlos
O que aconteceu aqui?
Ela apontou para uma direção do chão.
Lara
Arranhões...no barro. Como se alguém tivesse sido arrastado...ou tivesse se arrastando.
Carlos
Isso não parece coisa de traficantes.
Eles seguiram os rastros com cuidados, sem dizer mais nada
A trilha levava até um ponto onde as árvores abriam um pouco espaço formando um vão natural.
O que viram ali fez Carlos travar o passo
Corpos, em estado diferentes de decomposição, espalhados ao redor de uma fogueira apagada.
Lara
O que aconteceu aqui?
O que realmente gelava o sangue eram os rostos: bocas abertas, olhos esbugalhados e marcas de mordida no pescoço, no ombro, no peito.
Lara
Isso não é normal...isso aqui...isso não é execução
Carlos
Eu vi coisa pesada no México. Na Colômbia. Mas isso aqui....
Carlos
Quem caralho morde alguém até arrancar metade do rosto?
Lara ativou o rádio, mantendo o olhar no corpo mais próximo.
Lara
Eclipse, para Lobo um, responde. Encontramos múltiplos corpos.
Lara
Nenhum sinal de resistência. Incomum. Muito incomum.
Chamou Carlos no rádio elevando um pouco o tom.
Lara desligou o rádio devagar.
Lara
Ele tá fora do alcance ou aconteceu alguma coisa.
Carlos
Ou as duas opções ao mesmo tempo.
Carlos
A gente vai atrás dele?
Lara
Vamos pelo leste. Ele teria ido naquela direção.
Carlos
Tô começando a achar que os traficantes são o menor das ameaças hoje.
Sem responder Lara partiu e Carlos foi logo atrás.
capítulo:03
Cris avançava sozinho, como uma sombra entre as árvores
Cris
Nenhuma sinal humano...
Cris
E que cheiro podre é esse?
Cris
Parece metálico, espesso como carne esquecida ao sol misturada com ferrugem.
Mais a frente pendurado em um galho, balançava um pano rasgado, vermelho escuro, encharcado.
Cris se aproximou devagar e tocou com a ponta do canivete e levou próximo do rosto.
Ele endireitou o corpo imediatamente, foi então que notou algo se arrastando entre os arbustos.
A figura surgiu aos poucos trêmula, andrajosa, os movimentos completo erraticos
Cris mirou com firmeza em direção aquela coisa.
Cris
Mostre as mãos agora!
A criatura não respondeu, apenas continuou andando em sua direção tropeçando como se o próprio corpo fosse um fardo.
O corpo avançou de súbito. Cris apertou o gatilho e atirou
Um tiro certeiro no peito. Nada.
Mais um no ombro e a criatura não parou.
Ele atirou de novo desta vez direto no meio da testa.
A criatura tombou no chão, tremendo por alguns segundos.
Cris
O que aconteceu aqui?
Cris não tem muito tempo pra pensar nisso, ele logo escuta um barulho alto.
Ele segue o barulho até dar onde ele mais queria encontrar
Ele viu o vilarejo. As cercas estavam erguidas às pressas, feitas de tabus irregulares, correntes ferragens improvisadas e placas de aviso em letras vermelhas.
Cris
"PERIGO, ZONA DE CONTENÇÃO, NÃO ENTRE!"
Por trás das barreiras, casas de madeiras precárias estavam amontoadas como corpos em um campo de batalha.
Mas não era isso que chamava atenção, era o som, batidas, várias.
Cris se encostou em uma árvore pegou o rádio preso ao peito.
Cris
Lobo um para eclipse...encontrei o vilarejo. Repito:vilarejo localizado. Zona ativa.
Ele apertou novamente mais forte.
Cris
Lara, Carlos, me escutam?
Ele olhou para trás, o corpo que havia matado se mexia mesmo com o buraco na testa.
Cris
Isso não pode ser humano...
Foi então que o portão do vilarejo rangeu muito devagar. Uma corrente caiu no chão com um som seco a porta se abriu sozinha.
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