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Redenção em Nome do Amor

O compromisso

( Esse seria Arroba)

O céu alaranjado de Doha anunciava o fim de mais um dia, enquanto o som do motor do carro de luxo cortava as ruas da cidade com velocidade e arrogância, Aroob al-Hassan sabia exatamente o que queria e o que não queria e parar por ninguém estava no topo desta última lista.

Filho de um magnata do petróleo e herdeiro de uma das maiores construtoras do Oriente Médio, Aroob era um engenheiro reconhecido internacionalmente, um jovem, bonito e com um olhar que intimidava até os mais experientes negociadores, aos 31 anos era temido por seus concorrentes e idolatrado por seus funcionários. Mas sua fama não vinha apenas do seu currículo ou de sua inteligência, Aroob era arrogante, controlador e impaciente características que sua noiva, a prestigiada advogada Iman Khaled, aceitava com um sorriso ensaiado.

Iman era tão ambiciosa quanto bonita,formada nas melhores universidades da Europa, era conhecida por sua habilidade em destruir seus oponentes no tribunal, os dois formavam um casal perfeito aos olhos da sociedade, exceto, é claro, para os pais de Aroob.

Aroob: Ainda insistem nessa fantasia de casamento arranjado? 

Ele murmurou, passando os dedos pelos cabelos enquanto entrava no elevador de sua empresa.

Karim: Eles têm as razões deles e você sabe, Aroob, que esse compromisso não foi apagado com o tempo.

Disse Karim, seu primo e sócio, sempre mais diplomático.

Aroob: A garota deve ser uma camponesa ingênua, que mal sabe usar um telefone e quer que eu desfaça meu noivado com a mulher mais poderosa que já conheci por causa de uma promessa de infância?

Karim riu.

Karim: Você deveria conhecê-la antes de julgá-la, afinal, ela não é só uma promessa é dona da maior rede de comidas congeladas saudáveis do país, aos 28 anos.

Aroob ergueu uma sobrancelha, levemente surpreso, mas disfarçou.

Aroob: Então é uma cozinheira com uma empresa.

Do outro lado da cidade, em uma mansão decorada com simplicidade e muito bom gosto, Noor finalizava uma ligação com a diretoria de sua empresa,seus olhos castanho-escuros tinham a doçura de quem sempre preferiu a bondade ao confronto, seus longos cabelos pretos estavam cuidadosamente cobertos por seu hijab de linho claro, Noor era o exemplo perfeito de alguém que equilibrou fé, inteligência e poder com humildade.

Laylan: Você vai acabar esquecendo da palestra de amanhã se continuar dizendo “só mais cinco minutos”, Noor. 

Provocou Layan, sua melhor amiga e assessora, entrando no escritório com seu caderno de anotações na mão.

Noor: Eu só queria finalizar o planejamento da nova linha de pratos, mas estou ouvindo.

Respondeu Noor, sorrindo com paciência.

Laylan: Você sempre ouve, mas depois se perde nos sabores e esquece do mundo… Sobre o compromisso que seus tios falaram o que acha? 

Noor: Ainda acho que meus tios estão se iludindo com essa história,o mundo mudou ,casamentos arranjados não são mais regra.

Laylan: Mas esse é diferente, Noor, não foi um acordo qualquer, foi uma promessa entre os seus pais e os pais dele e  eu duvido que a família al-Hassan vá simplesmente ignorar isso agora.

Noor suspirou o nome Aroob al-Hassan era conhecido por todos , pois era rico, poderoso e egocêntrico e exatamente o oposto do que ela esperava de um marido. Ela não sonhava com contos de fadas, mas também não queria dividir sua vida com alguém que enxergasse as pessoas como negócios.

Noor: E se ele for frio, arrogante e... pior ainda... desrespeitoso?

Laylan: Aí você me liga e eu bato nele com a minha bolsa,que, por sinal, está sempre cheia o suficiente pra causar uma concussão.

A primeira reunião entre Noor e Aroob estava marcada para acontecer no centro cultural da cidade, onde Noor seria palestrante em um evento sobre alimentação saudável nas escolas públicas,o convite partiu da própria família al-Hassan, como um “acaso planejado”.

Quando Aroob chegou, de terno escuro impecável e óculos de sol, já estava entediado, não era o tipo de ambiente que o encantava, preferia canteiros de obras e reuniões de investimentos,até que a viu, Noor estava no palco, falando com serenidade e segurança, enquanto encantava uma plateia de empresários e professores. Seu hijab claro contrastava com o brilho suave de seu sorriso, ela falava com propriedade, mas sem arrogância,sua doçura não a enfraquecia, pelo contrário era impossível não notá-la.

Aroob: Então essa é a garota?

Aroob murmurou, surpreso com a própria reação.

Karim sorriu ao lado dele.

Karim: E ainda acha que ela é apenas uma cozinheira?

Após o evento, houve uma breve recepção, Noor foi apresentada formalmente a Aroob por um dos organizadores.

Organizador: Senhorita Noor, este é Aroob al-Hassan, engenheiro e fundador da Al-Hassan Engineering Group. Aroob, essa é Noor Malik.

Ela juntou as mãos com educação, pois pela sua fé não tocava em homens nem para comprimentar e Aroob ficou tentando manter a expressão neutra, mas Noor sentiu o peso do julgamento nos olhos dele e também algo diferente. Curiosidade?

Nooh: Não esperava te ver por aqui.

Ela disse, quebrando o gelo.

Aroob: E eu não esperava que alguém como você comandasse uma empresa tão grande.

 Respondeu, não exatamente como um elogio.

Layan tossiu discretamente ao lado.

Laylan: Ele quis dizer que está impressionado e que vai parar de agir como um príncipe arrogante a qualquer momento.

Disse ela, encarando Aroob.

Ele a olhou com um misto de surpresa e diversão, finalmente alguém que não o bajulava.

Karim: Eu gosto dela.

Karim comentou, apontando para Layan. 

Karim: Ela pode colocar você no seu lugar.

Noor: Ela tenta todo dia.

Noor respondeu, sorrindo com carinho.

Apesar do início estranho, o encontro deixou ambos intrigados, Noor não esperava encontrar um homem tão intenso, mesmo que difícil de lidar, Aroob, por sua vez, se viu interessado em uma mulher pela primeira vez além da aparência ou do status.

Mais tarde naquela noite, em sua mansão, Aroob discutia com os pais.

Sra Ambar: Você conheceu Noor e então? 

Perguntou sua mãe, com esperança.

Aroob: Ela é diferente, inteligente,confiante. Mas...

Sra Ambar: Mas?

Aroob: Ela me faz perder o controle e eu odeio perder o controle.

Amirah: Talvez isso seja exatamente o que você precisa.

Disse a irmã dele, Amirah, entrando na sala com seu estilo leve e descontraído.

Aroob: Não me diga que você também é a favor desse casamento.

Amirah: Totalmente,você e Iman são um desastre esperando para acontecer, Noor é como luz... e você anda precisando disso.

Aroob suspirou.

Aroob: E Iman?

Amirah: Ela vai entender,ou processar você.

Disse Amirah, rindo.

Noor voltou para casa com o coração inquieto, não conseguia tirar Aroob da cabeça,havia algo nele além da arrogância uma dor oculta, talvez,um homem que construiu muralhas tão altas que nem ele sabia como derrubá-las.

Laylan: Você está pensativa.

Layan comentou, entrando com uma bandeja de chá.

Noor: Ele é... complicado.

Laylan: Mas interessante?

Noor: Não sei ainda,só sei que minha vida era mais simples antes.

Layan sorriu com cumplicidade.

Laylan: Talentos como o seu são feitos para mais do que receitas e planilhas,talvez seja hora de aprender a lidar com outros tipos de ingredientes... como o orgulho, a paciência e... o amor.

O primeiro encontro

Os dias que se seguiram à palestra foram intensos para Noor, ela se recusava a permitir que um encontro com um homem , mesmo que fosse Aroob al-Hassan interferisse em sua rotina, não que ele não tivesse deixado uma má impressão, mas havia algo naquele olhar seguro e na forma com que ele falava, como se estivesse sempre no controle, que a deixava em alerta, porém esse mesmo traço era o que mais a afastava.

( essa seria Noor)

Noor: Esquece, Layan, ele não é alguém com quem eu me veja construindo uma vida.

Disse Noor, dias depois, enquanto revisava relatórios de desempenho da nova filial em Istambul.

Laylan: Por que não? Ele é bonito, inteligente, tem influência… e você mexeu com ele, acredite, eu percebi.

Insistiu a amiga, sentada com um café nas mãos e expressão marota.

Noor: É arrogante, impulsivo e pelo que sei  comprometido com outra mulher, não é o tipo de homem que eu quero pra mim, por mais que tenha sido uma promessa feita pelos meus pais.

Layan suspirou, observando a amiga tão firme em suas convicções.

Laylan: Às vezes, Noor, promessas antigas carregam mais sabedoria do que imaginamos, mas tudo bem… vou respeitar seu tempo.

Noor assentiu, preferia se esconder atrás de metas e planilhas do que pensar em algo tão confuso quanto um casamento com alguém como Aroob. Voltou-se para sua agenda apertada: reuniões com nutricionistas, contratos com supermercados internacionais, duas viagens a caminho e mais três palestras agendadas em escolas públicas.

Enquanto isso, no edifício moderno da Al-Hassan Engineering Group, Aroob parecia ainda mais focado no trabalho, se antes já era obcecado por resultados, agora mergulhava com mais força nos projetos da empresa,  Karim, seu primo, notou a mudança.

Karim: Desde que conheceu Noor, está mais... elétrico.

Comentou casualmente, lançando um olhar curioso.

Aroob: Não tem nada a ver com ela a propósito, minha visão de esposa continua a mesma: uma mulher como a Iman, forte, direta, capaz de lidar com meu ritmo e estilo de vida.

Disse, sem desviar os olhos do projeto na tela.

Karim: Noor também é forte, apenas tem uma força diferente, mais suave, mas igualmente poderosa.

Aroob o ignorou, por mais que admitisse internamente que havia algo em Noor que o desconcertava , aquela serenidade, aquele sorriso que não precisava de esforço , ele não se permitia imaginar uma vida com alguém tão... diferente do que sempre achou que queria e além disso, havia Iman.

Iman, com sua carreira consolidada, prestígio e presença marcante,mesmo que seu relacionamento fosse mais uma aliança do que paixão, ele achava que isso bastava, casamento era sobre estabilidade, conveniência e imagem, não sobre sentimentos. Certo?

Tudo parecia sob controle… até o inesperado acontecer.

Na tarde de uma quinta-feira abafada, Aroob foi chamado com urgência à casa dos pais, ao chegar, encontrou a irmã Amirah de olhos inchados, e o pai, sério como nunca estivera antes.

Aroob: O que houve? 

Perguntou, já sentindo o estômago revirar.

A mãe dele estava sentada no sofá, os ombros frágeis sob o xale branco,sorriu ao vê-lo, mas seu olhar estava mais cansado, como se carregasse um peso imenso.

Aroob: Mãe? 

Aroob se ajoelhou à sua frente.

Ela tocou seu rosto com delicadeza.

Sra Ambar: É câncer, meu filho,nos rins, já comecei o tratamento, mas os médicos disseram que será um processo difícil.

O mundo de Aroob girou.

Por mais que fosse forte, orgulhoso e racional, sua mãe era seu ponto fraco,a mulher que o ensinou a andar, a controlar sua impulsividade, que o abraçava mesmo quando ele não merecia.

Aroob: Nós vamos buscar os melhores especialistas,vamos resolver isso.

Garantiu, com a voz embargada.

Ela sorriu.

Sra Ambar: Eu sei e por isso preciso te pedir uma coisa.

Aroob franziu o cenho.

Aroob: O que quiser.

Ela segurou sua mão com firmeza surpreendente.

Sra Ambar: Prometa-me que, se eu me recuperar, você vai honrar o compromisso que fiz com os pais de Noor,quero ver você casado com ela. Ela é a única mulher que eu confio para estar ao seu lado… e para te mudar.

Aroob congelou.

Aroob: Mãe… não. Isso é chantagem emocional, eu já sou noivo, eu…

Sra Ambar: Você prometeu que faria qualquer coisa, então me prometa isso, não como um favor,como um presente…Minha cura por sua obediência.

Ele fechou os olhos, lutando contra as palavras, sua mente gritou “não”, mas sua alma, quebrada, sussurrou “sim”.

Aroob: Se você se recuperar... eu me casarei com Noor.

Disse enfim, sentindo o coração pesar como nunca antes.

Noor recebeu a notícia pela tia, a ligação veio enquanto ela estava prestes a embarcar para Dubai.

Sra Sarah: A mãe  de Aroob está doente, câncer nos rins e ela fez um pedido… para que o casamento seja realizado assim que possível, caso melhore.

Noor sentiu o peito apertar, o tempo congelou por um segundo.

Noor: E o que Aroob disse?

Sra Sarah: Ele aceitou,está cumprindo com a  promessa,como os pais dele fizeram conosco.

Ela se sentou lentamente, sem conseguir falar, por um instante, sentiu esperança,depois, veio o medo.

Noor: Não quero ser uma caridade emocional, nem uma imposição , se ele está fazendo isso por pena ou por obrigação, não me serve.

Sra Sarah: Não é por pena, minha querida é por amor à mãe e  talvez... um caminho que Deus traçou de formas que a gente ainda não entende.

Noor: Mesmo assim, eu não vou aceitar sem pensar,se ele quer seguir com isso, que venha falar comigo como homem, que mostre que entende o que isso significa.

Enquanto Noor mergulhava novamente no trabalho, Aroob se via em um impasse silencioso, Iman ainda estava viajando, em uma conferência jurídica na Suíça,sem desconfiar de nada e ele? Ele estava à beira de uma decisão que mudaria tudo.

Karim: Vai mesmo terminar com Iman por causa de uma promessa? 

Perguntou Karim, numa tarde silenciosa no escritório.

Aroob: Não é só uma promessa é minha mãe e algo nela me faz acreditar que Noor... é mais do que eu queria admitir.

Karim: Então talvez seja hora de descobrir.

Dois dias depois, Noor recebeu uma notificação de sua agenda, era Layan, claro.

Laylan: Aroob marcou uma reunião com você,aqui hoje em uma hora.

Noor: Como assim? Ele quer tratar isso como um contrato?

Laylan: Eu só cumpro ordens, mas tenho um hijab de linho grosso, se quiser esconder os sentimentos.

Noor: Engraçadinha.

Aroob chegou pontual, como sempre, vestia um terno mais simples do que o habitual, e trazia nos olhos um cansaço diferente, quando Noor entrou na sala de reuniões, havia silêncio,os dois se olharam por longos segundos.

Aroob: Obrigada por me receber.

Noor: Não gosto de jogos, senhor al-Hassan, nem de obrigações mascaradas de destino.

Ele se aproximou, sem invadir seu espaço.

Aroob: Também não gosto de jogos, Noor e não sei se isso é certo ou não,mas minha mãe está lutando e pediu uma única coisa que eu cumprisse a promessa que eles fizeram com os seus pais e eu disse que sim.

Noor: E isso é tudo? Está aqui só por isso?

Aroob a olhou nos olhos.

Aroob: Estou aqui porque, porque não vejo necessidade dessa promessa se cumprir…então você pode falar com minha mãe que está disposta a desfazer o compromisso.

Ela desviou o olhar por um segundo. Aquilo a deixou completamente sem reação.

Noor: Eu? Porque?

Aroob: Porque sou noivo.

Noor: E sua noiva?

Aroob: Ainda não sabe,mas vai saber e vai me odiar, mas não posso ignorar minha mãe e nem mágoa lá nesse estado que está.

Noor fechou os olhos, respirando fundo.

Noor: Você não pode magoar sua mãe e nem ser odiado pela sua noiva, mas eu posso ser mal vista pela sua mãe? Quero deixar algo claro, eu não sou mulher de meias decisões  e se você assumiu esse compromisso diante da sua mãe então assim vai ser.

Aroob não disse nada apenas a olhou com ódio e desprezo.

E assim, dois mundos que andavam em direções opostas começaram, silenciosamente, a caminhar lado a lado.

Não é isso que quero.

Os dias seguintes à conversa entre Noor e Aroob passaram como um vendaval, enquanto os compromissos profissionais exigiam dela foco total, seu coração oscilava entre a serenidade da fé e o tumulto de uma promessa que parecia cada vez mais próxima de se tornar realidade.

Já Aroob sentia o chão sob seus pés começar a tremer.

Sua mãe, contra todas as probabilidades médicas, estava respondendo incrivelmente bem ao tratamento, os médicos diziam que o tumor havia começado a regredir e, embora o caminho ainda fosse longo, a esperança havia reacendido em todos da família.

Sra Ambar: É um milagre, filho.

Disse sua mãe, em uma manhã ensolarada, enquanto tomava chá de hortelã no jardim. 

Sra Ambar: Deus ouviu nossas preces.

Aroob assentiu, mas o alívio que esperava sentir não veio, no lugar, sentia-se... pressionado.

Se antes pensava que teria tempo, agora tudo parecia acelerar e com isso, um sentimento incômodo se instalava: medo. Medo de não estar pronto, medo de fazer Noor sofrer,medo de perder Iman.

Iman, sua advogada brilhante, ainda estava na Europa. Mandava mensagens, fotos, vídeos, sempre linda, sempre segura, sempre cheia de planos e  ele... não sabia como contar, pior: não sabia se queria contar.

Mesmo com seus defeitos, Iman fazia Aroob sentir-se invencível, era como ter uma parceira de guerra, alguém que não exigia romantismo ou explicações,uma aliança poderosa,uma paixão tempestuosa.

“Não preciso perder Iman só porque vou me casar com Noor”,💭 Pensou, numa tarde enquanto dirigia por Dubai. “Posso manter as duas coisas, casamento de fachada com Noor, e meu relacionamento real com Iman, ela entenderia, no final, todos saem ganhando.”💭

Ele só não sabia que a vida nunca aceita esse tipo de barganha sem cobrar seu preço.

Enquanto isso, Noor se entregava com ainda mais intensidade ao trabalho,não por fuga, mas por propósito ,era assim que ela lidava com as incertezas da vida: construindo.

Laylan: Você vai continuar fingindo que não vai casar?

Provocou Layan, enquanto passava os dedos por uma pilha de convites de uma nova parceria internacional.

Noor: Eu não estou fingindo, eu apenas... não estou pensando nisso agora.

Laylan: Noor... sua sogra está se recuperando rápido, vai chegar uma hora em que ela vai querer falar do casamento e não vai ser um jantar simples com os tios,vai ser um evento de sete dias, como manda a tradição,você está preparada pra isso?

Noor: Não estou nem preparada pra chamá-lo de “meu noivo”, quanto mais pensar numa semana de celebrações...

Antes que Layan respondesse, o celular de Noor vibrou,era um número conhecido: a casa da família Al-Hassan.

Ela atendeu, a voz doce da futura sogra ecoando do outro lado.

Sra Ambar: Noor, querida, eu gostaria muito que você viesse aqui hoje,preciso conversar com você,pessoalmente.

A forma como ela pediu não deixava espaço para recusa, Noor desligou e respirou fundo.

Noor: É hoje que começa a contagem regressiva?

Laylan: Que Allah te proteja.

Disse Layan com um riso nervoso. 

Laylan: E se ela te mostrar o vestido de noiva da família... corre.

Noor chegou à casa dos Al-Hassan no fim da tarde, a mansão era ainda mais imponente do que ela se lembrava quando criança,as colunas de mármore branco refletiam a luz suave do entardecer, e as fontes no jardim cantavam uma melodia relaxante, mesmo assim, seu coração batia rápido.

Foi recebida com sorrisos calorosos pela  sra Ambar e por Amirah, a irmã mais nova, que praticamente a arrastou para dentro.

Amirah: Noor! Você está ainda mais linda do que da última vez! 

Disse Amirah, entusiasmada. 

Amirah: Mamãe fala de você o tempo todo,já começou a escrever seu nome como “Noor al-Hassan”! — brincou, piscando.

Noor sorriu sem graça, mantendo a postura calma.

Noor: Que bom que a senhora está bem.

Sra Ambar: Estou melhorando, querida e sua presença ajuda mais do que qualquer tratamento.

Foram até a sala principal, onde chá, tâmaras e doces esperavam sobre uma mesa ornamentada.

Sra Ambar: Noor, sei que tem sido paciente e compreensiva e agradeço por isso, mas agora que me sinto mais forte, gostaria de começar os preparativos do casamento, quero que seja como manda a tradição, sete dias de festa, alegria, oração, dança e bênçãos.

Noor segurou a xícara de chá com mais força, aquilo era real demais, rápido demais.

Noor: Senhora Al-Hassan...Eu acredito que a senhora ainda precisa de tempo para se recuperar completamente,não quero que se preocupe com isso agora,só quero que fique bem.

A mulher sorriu com os olhos marejados.

Sra Ambar: Você tem um coração de ouro, Noor,mas eu preciso disso,preciso ver esse casamento acontecer, é como se minha cura dependesse de vê-los juntos.

Noor abaixou o olhar, desconcertada, sabia que não havia maldade ali, apenas o desejo de uma mãe.

Amirah: Eu prometo que tudo será lindo… Eu vou cuidar de cada detalhe,você só precisa aparecer linda no primeiro dia! Já até falei com a Laylan e com seus tios,quero que tudo seja perfeito, e vou mandar fotos das decorações, dos convites, dos vestidos...

Noor: Amirah... 

Noor tentou dizer algo, mas foi interrompida por mais empolgação.

Amirah: Você vai ter três vestidos, cada um para um dia específico,um será bordado à mão em Istambul! E os outros dois feitos por um costureiro de Beirute e  já separei as músicas tradicionais... ah! E o perfume do seu buquê vai ser personalizado!

Noor riu, sem saber se chorava ou agradecia,apenas assentiu, com um sorriso sem graça.

Noor: Obrigada, Amirah, é muita gentileza sua.

Amirah: Nada disso é gentileza! É amor de cunhada!

Ela respondeu, rindo.

A sogra observava em silêncio, satisfeita, como se aquele momento fosse um presente divino, Noor apenas respirava fundo, tentando manter a calma,internamente, tudo ainda parecia muito confuso.

Ela queria ser grata,queria estar pronta,mas havia algo no fundo de seu coração que sussurrava: “Falta algo, ou alguém.”

Do outro lado da cidade, Aroob encarava o próprio reflexo no espelho de seu escritório,sentia-se dividido,sua mãe estava feliz. Noor era... encantadora, respeitável, a mulher que todos desejavam como nora,mas ela não era Iman e ele ainda não tinha coragem de contar nada.

A mão tremia levemente enquanto segurava o celular,já havia começado a escrever a mensagem para Iman dezenas de vezes, todas apagadas, como contar à mulher por quem era apaixonado que havia prometido se casar com outra? Que manteria o relacionamento com ela escondido, como se fosse uma segunda opção?

Ele sabia que Iman não era do tipo que aceitava ser plano B e  isso o apavorava mais do que qualquer casamento arranjado.

“Vou esperar mais um pouco,contar depois da cerimônia, quando tudo estiver... mais estável”💭

Só que o coração dele já sabia: nada seria estável a partir dali.

Naquela noite, Noor voltou para casa com um misto de emoções, Layan estava esperando com pizza e filmes antigos para aliviar o peso da realidade.

Laylan: Então? Mostraram seu quarto de lua de mel? 

Brincou, ao ver o olhar perdido da amiga.

Noor: Não... mas quase, a mãe dele está decidida e a Amirah quer fazer tudo sozinha, já falou com você?

Laylan: Já. Ela me mandou uma lista de flores, cardápio, tipo de véu e até o cronograma das danças,essa menina é um furacão!

Noor: E eu me sinto como se estivesse dentro dele.

Layan sentou ao lado dela e segurou sua mão.

Laylan: Você não está sozinha, e ... se esse casamento vai mesmo acontecer, que seja do seu jeito,com sua dignidade e sua fé.

Noor assentiu,seu coração ainda estava confuso, mas sua fé continuava firme, sabia que, se entregasse tudo nas mãos de Deus, encontraria o caminho certo, mesmo que fosse um caminho cheio de espinhos.

E, do outro lado da cidade, Aroob fechava os olhos, tentando ignorar a culpa crescente por aquilo que ainda não havia contado… mas que cedo ou tarde, viria à tona.

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