Arco 1: A MODELO E OS 6 PEDREIROS

Vanessa acordou antes do despertador Nokia 5200 tocar com o toque polifônico de “Bad Romance”. Espreguiçou-se na cama de solteira, respirou fundo e olhou para o teto do pequeno apartamento alugado no centro de Florianópolis. Era seu primeiro dia na faculdade de Educação Física, e apesar do medo, sentia-se viva. “Força, Garota Travessa… hoje começa tudo”, sussurrou para si mesma, sentindo um frio na barriga. Levantou-se, amarrou os cabelos loiros em um rabo de cavalo alto e foi até o banheiro. Passou delineador preto retrátil da Avon, tendência absoluta em 2010, reforçou o rímel, passou gloss de morango Avon Color Trend e sorriu. “Tô gata.”

Na cozinha minúscula, pegou uma barrinha Nesfit de morango e bebeu água direto do filtro de barro. Vestiu o top rosa neon, a legging preta de cós baixo e calçou seu Mizuno branco com azul royal.

No pulso, usava o relógio Champion rosa com pulseira trocável. Colocou fones de ouvido simples, conectou ao MP3 azul metálico e saiu. No corredor silencioso do prédio, ouviu apenas seus passos e o som abafado da TV de um vizinho. Ao chegar à rua, respirou fundo, sentindo o vento frio bater em seu rosto. Caminhou até a academia Wave, passando em frente a uma Lan House, onde adolescentes jogavam Ragnarök e usavam MSN Messenger.

Ao entrar na academia, foi recebida por Seu Carlos

o segurança alto de boné azul marinho. “Bom dia, Vanessa. Sempre cedinho, hein?”, disse ele, folheando o fichário de matrícula. “Bom dia, Seu Carlos. Cedo e linda, né?”, respondeu, piscando antes de subir as escadas de ferro. No segundo andar, sentiu o cheiro de suor, álcool e café preto vindo da recepção. As paredes tinham faixas neon e cartazes de jump e spinning, febre da época. Quando entrou na sala de musculação, ouviu a voz alta de Kiko.

“Olha quem chegou! A Miss Bumbum de Floripa está entre nós!”, gritou ele, correndo na esteira com seu MP4 verde neon no braço. Vanessa riu. “Cala a boca, Kiko! Quer me matar de vergonha logo cedo?”, disse, batendo de leve em seu braço. “Só digo verdades, mon amour. E aí, pronta pra faculdade hoje?”, perguntou ele. “Prontíssima. Quero me formar, abrir meu estúdio e fazer meu nome no Baratinhas.”

Enquanto fazia agachamento livre, olhava seu reflexo no espelho antigo emoldurado com fitas fluorescentes. Kiko sorriu. “Você vai longe, amiga. Nasceu pra brilhar.” Ela sorriu, limpando o suor da testa. “Ai, Kiko, para. Mas tomara que sim.” Depois do treino, Vanessa foi ao vestiário, tomou banho rápido, passou hidratante Natura Erva Doce, secou o cabelo com o Taiff antigo do salão, prendeu em coque simples e vestiu jeans skinny clara, camiseta baby look branca e sapatilha rosa Moleca. Pegou sua bolsa Arezzo e saiu.

No caminho até a faculdade, mandou SMS para Fabiana: “Amiga, to indo p facul. Depois te conto td. Bj.” Guardou o celular e ouviu Fresno no MP3. Chegou, sentou-se no fundo. A professora chamou: “Vanessa?” e ela respondeu: “Presente.” O celular vibrou. Era uma mensagem: “Oi, Vanessa. Aqui é a Gabi, produtora do Baratinhas. Queremos marcar outro ensaio essa semana.” O coração dela disparou. Kiko, duas fileiras à frente, virou e piscou. Ele já sabia. Vanessa olhou o céu azul pela janela e pensou: “Esse é só o primeiro passo… eu ainda vou conquistar o mundo.”

Vanessa saiu da aula sentindo o calor do asfalto subir pelas pernas. Florianópolis fervia naquela manhã de fevereiro de 2010. Guardou o caderno na mochila Adidas e mandou SMS para Fabiana: “Amiga, recebi convite p novo ensaio Baratinhas! To tremendo! Dps te ligo.” Guardou o Nokia 5200 no bolso e respirou fundo. A vida parecia grande demais para ela naquele momento. Andou até o portão, onde Kiko a esperava, encostado na grade com óculos aviador espelhado e camiseta preta justa. “Demorou, hein, madame Baratinhas?”, brincou, balançando a perna. Vanessa riu. “Nem acredito que me chamaram de novo… será que tô pronta pra isso?”, disse, insegura. Kiko a abraçou de lado. “Amor, você nasceu pronta. Bora almoçar que cê precisa de energia pra arrasar nesse ensaio.”

Foram até o restaurante por quilo preferido deles. Vanessa pegou peito de frango grelhado, arroz integral, feijão preto e salada. Kiko encheu o prato de strogonoff com batata palha e Coca-Cola normal. Sentaram-se perto da janela. Vanessa observava a rua, carros passando, motos, mulheres de salto alto e homens de camisa social azul clara, moda da época. “Um dia vou ter meu carro, minha academia na praia e minha marca de roupa…”, disse, quase em oração. Kiko sorriu. “E eu vou estar lá contigo, cuidando do figurino das modelos.” Vanessa riu e sentiu o peito aquecer. Sonhar ao lado de Kiko era mais leve.

Após o almoço, voltou para casa. Entrou no quarto pequeno, ligou o ventilador Mondial que fazia barulho estranho, conectou o modem 3G laranja da Vivo e esperou. Internet conectada. Abriu o Orkut, postou nova foto no álbum “Look Academia – Hoje” com legenda: “Quem acorda cedo, conquista cedo. #GarotaTravessa.” Em minutos, dezenas de scraps apareceram elogiando seu corpo e coragem. Entre eles, um recado de Débora: “Linda! Te espero na Wave amanhã pra conversar sobre oportunidades maiores ;)”

Vanessa sentiu um arrepio. Quem era Débora? Preferiu ignorar por hora. Levantou-se, foi ao espelho de corpo inteiro encostado na parede e praticou poses. Jogou o quadril para o lado, arqueou as costas e fez carão. “Confiança vende. Sensualidade sem vulgaridade, carisma com provocação”, repetia, lembrando o que Gabi disse no primeiro ensaio. Seu coração batia rápido só de imaginar o próximo.

À noite, jantou arroz integral, atum e tomate, tomou banho longo com sabonete Natura Erva Doce, passou óleo corporal Ekos e deitou cedo. Olhou o teto do quarto iluminado apenas pelo poste da rua e pegou o Nokia. Ligou para Fabiana. “Amiga, tô com medo… e se der errado?”, confessou. Fabiana suspirou. “Se der errado, a gente chora, come brigadeiro e tenta de novo. Mas se der certo… ah, Vanessa, o mundo vai conhecer a Garota Travessa que eu conheço.” Vanessa sorriu emocionada. “Obrigada por sempre acreditar em mim.” Desligou e abraçou o travesseiro. Fechou os olhos sentindo o coração acelerar. Naquele momento, tinha certeza: nada seria igual depois daquele segundo ensaio no Baratinhas. Era o primeiro passo de muitos outros que viriam. E o mundo ainda ouviria seu nome.

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Legenda: Florianópolis, fevereiro de 2010. Tarde quente, 32°C, céu azul sem nuvens.

Vanessa acordou antes do despertador, coração acelerado. Era o dia do segundo ensaio para o Baratinhas. Levantou rápido, amarrou os cabelos em um coque alto e foi até o banheiro. Passou o delineador preto, aplicou rímel extra volume e um gloss transparente que deixava os lábios volumosos. Vestiu top branco, shorts jeans curtos e chinelos Havaianas rosa. Pegou a mochila preta Adidas com biquínis, toalha e garrafinha de água. Saiu de casa sentindo o vento quente bater no rosto.

No ponto de ônibus, abriu o Nokia 5200 e leu a mensagem de Gabi: “Vanessa, encontro às 9h na praia Brava. Equipe completa hoje. Te espero.” Guardou o celular com as mãos suando. Respirou fundo quando o ônibus amarelo parou. Entrou, sentou no fundo e olhou pela janela, observando a cidade acordando, pessoas indo trabalhar, crianças com mochilas de rodinha indo para a escola. Sentia-se diferente, como se estivesse entrando em um novo mundo.

Chegou na praia e viu Gabi, uma mulher alta de cabelos pretos lisos, óculos de sol grandes e vestido floral, conversando com dois fotógrafos e um assistente que segurava refletores.

“Bom dia, Vanessa. Preparada pra arrasar hoje?”, disse Gabi com sorriso firme. “Bom dia, Gabi. Tô nervosa, mas animada.” Gabi tocou levemente no ombro dela. “Confiança, garota. Confiança vende.”

Vanessa foi até um quiosque e trocou de roupa, vestindo o biquíni rosa neon de lacinho, o mesmo do primeiro ensaio. Saiu com passos firmes na areia fofa e quente, sentindo os olhos de algumas pessoas a seguirem. “Posso usar o óleo?”, perguntou ao maquiador que finalizava o retoque em seu colo. “Claro, vai dar brilho lindo nas fotos.” Ele passou o óleo iluminador Natura Ekos na pele bronzeada, enquanto ela fechava os olhos, concentrada.

Legenda: Em 2010, biquínis de lacinho neon eram moda absoluta nos ensaios fotográficos sensuais.

O fotógrafo posicionou a câmera profissional Canon e disse: “Vanessa, de frente pro mar, mão no quadril, sorriso de leve.” Ela obedeceu, sentindo o coração disparar. O som do clique da câmera parecia ecoar em seu peito. “Agora vira de costas, olha pra mim por cima do ombro.” Vanessa respirou fundo, virou devagar e lançou um olhar sedutor. Gabi sorria satisfeita. “Isso, garota. Esse olhar vende capa.”

Foram duas horas de fotos, poses agachadas, sentada na areia, em pé com o mar batendo nos pés. Ao final, Vanessa estava suada, cansada e feliz. Gabi entregou uma garrafa de água gelada. “Parabéns. Vou enviar as fotos pra aprovação do site amanhã. Se escolherem como capa, você ganha cachê dobrado.” Vanessa arregalou os olhos. “Sério? Ai meu Deus, obrigada!” Gabi riu. “Descansa hoje. Amanhã te ligo.”

No ônibus de volta, Vanessa encostou a testa na janela e observou o mar sumindo aos poucos. Pegou o Nokia e mandou SMS para Kiko: “Amigo, foi perfeito! Me sinto viva.” Guardou o celular e sorriu. Sentia o corpo dolorido, mas o coração cheio de sonhos. Ao chegar em casa, tomou banho demorado, passou hidratante Natura Erva Doce e deitou. Fechou os olhos pensando no futuro. “Esse é só o começo… ainda vou ser capa do Brasil inteiro.”