A casa noturna de Joe pulsa com a música alta e as luzes estroboscópicas. A multidão dança e conversa animadamente. Joe está em um canto mais reservado, observando seu domínio, talvez finalizando um telefonema de negócios com um tom autoritário, mesmo que sua voz esteja baixa para não se destacar demais no barulho. Anastacia está explorando o local pela primeira vez, um misto de curiosidade e talvez um leve desconforto por estar em um ambiente tão diferente do seu habitual.
Ação: Joe, absorto em sua conversa (e no controle remoto que exerce sobre seu império), vira-se abruptamente para dispensar a ligação e esbarra em Anastacia, que passava por ali, talvez um pouco perdida na multidão. O impacto faz com que ela se desequilibre levemente.
Anastacia: (Soltando um "ai" de surpresa e, talvez, um pouco de irritação, enquanto tenta recuperar o equilíbrio) Ei! Olhe por onde anda!
Ela levanta o olhar para o homem que a atingiu, pronta para disparar uma reprimenda mais completa. Joe, por sua vez, ergue os olhos de seu celular, e seus olhares se cruzam. Há um instante de silêncio para os dois, onde o tempo parece desacelerar apesar do caos ao redor. A música continua pulsando, mas a bolha de ar entre eles congela o som.
Os olhos de Joe, antes focados nos negócios, fixam-se nela com uma intensidade que a faz esquecer a raiva inicial. Há uma mistura de surpresa e um brilho que Anastacia não consegue decifrar. O rosto dele, com traços fortes e uma aura de perigo, se destaca na penumbra.
Joe não se desculpa de imediato. Ele apenas a observa, avaliando-a com um olhar que parece ver através dela, para além da superfície. Sua postura é de quem está acostumado a ter o controle, e a colisão, para ele, é uma anomalia inesperada.
Anastacia, por sua vez, sente um arrepio percorrer sua espinha. Não é um arrepio de medo, mas de uma eletricidade estranha. Aquele homem irradiava poder e uma escuridão atraente. Seus trajes elegantes, mesmo na boate, e a maneira como ele a olhava, sem piscar, sugeriam que ele não era um homem comum da multidão.
O que acontece a seguir, ela pensa, será tudo, menos comum. O esbarrão, longe de ser um acidente banal, parecia o ponto de ignição para algo muito maior.
Anastacia, uma jovem de espírito indomável e sarcasmo afiado, viu sua vida virar de cabeça para baixo ao ser sequestrada por Joe, um chefe da máfia impiedoso e controlador. Seu cativeiro, uma luxuosa mansão, se tornou o palco de uma guerra psicológica e de poder. Joe buscou subjugá-la após um tapa que marcou a tensão entre eles. Anastacia, percebendo a futilidade de um confronto físico imediato, recuou, mas não por submissão. Ela fingiu estar invulnerável, usando o tempo para observar Joe, analisar seu comportamento e bolar uma estratégia de fuga. Joe, no entanto, não era facilmente enganado. Sua inteligência e experiência no submundo o fizeram perceber a farsa de Anastacia. Ele decidiu jogar o jogo dela, observando-a e esperando o momento certo para contra-atacar.
A música pulsava como um coração furioso na boate de Joe, uma batida eletrônica que, por um instante, pareceu sincronizar-se com os batimentos acelerados de Anastacia. O esbarrão, inesperado e brusco, a pegou de surpresa, fazendo-a cambalear um passo para trás, mas não foi o impacto físico que a desequilibrou. Foi o olhar dele. Profundo, sem piscar, ele a estudava como se ela fosse um enigma recém-descoberto, e a intensidade daquela análise desarmou-a de uma forma que poucas coisas haviam conseguido. O burburinho ensurdecedor da multidão, que antes era uma parede sonora impenetrável, começou a se fazer ouvir novamente, mas de uma forma distorcida, quase irreal, como se o mundo ao redor tivesse sido momentaneamente silenciado para aquele encontro.
A irritação, misturada a uma estranha e inegável atração, subiu à cabeça de Anastacia. Ele permanecia ali, imponente, sem se mover um centímetro, sem dizer uma palavra, apenas a devorava com aqueles olhos escuros e penetrantes. O desafio era óbvio. "Você não vai se desculpar?", ela disparou, a voz, mesmo um pouco mais alta do que o habitual para cortar o ruído ambiente, carregada de um sarcasmo cortante. Sua postura, apesar do pequeno abalo inicial, era firme, os ombros levemente erguidos em um desafio silencioso, os lábios apertados em uma linha fina de desaprovação.
Um sorriso sutil e quase imperceptível surgiu nos lábios de Joe, uma curva mínima que mal alterava a seriedade de seu rosto, e que definitivamente não alcançava seus olhos. Havia um quê de divertimento frio ali, talvez até uma pontada de admiração pela audácia dela. "Depende", ele respondeu, a voz grave e calma, um contraste inusitado com a cacofonia frenética ao redor. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como um predador avaliando sua presa. "Você parecia estar no meu caminho." A frase não era uma desculpa, era uma declaração velada de posse, uma insinuação arrogante de que o mundo girava em torno dele, e Anastacia acabara de se chocar com sua órbita. O perigo era palpável, um sabor metálico na boca dela, tão real quanto o cheiro de suor e álcool misturado ao perfume doce da boate.
Enquanto ele falava, seus olhos varreram o rosto dela com uma lentidão calculada, demorando-se em seus lábios cheios, em seus olhos, que brilhavam com uma mistura complexa de fúria e algo mais – algo que ele não conseguia identificar de imediato, mas que o intrigava profundamente. Ele estendeu a mão lentamente, um gesto que parecia ter todo o tempo do mundo, e entre seus dedos longos e fortes, surgiu um cartão de visitas preto, tão minimalista e elegante quanto sua própria presença. Sem logotipo, sem título, apenas o nome "Joe" gravado em relevo prateado, com um número de telefone logo abaixo. "Gosto da sua... ousadia", ele acrescentou, a ironia sutil em sua voz, mais um desafio do que um elogio. "Não é sempre que alguém tem a coragem de me questionar."
A mão de Anastacia tremeu levemente ao pegar o cartão, a textura fria e rígida do papel contrastando de forma estranha com o calor que irradiava da palma dele, um calor que parecia persistir. Ela sentiu uma estranha eletricidade percorrer seu braço, um formigamento que não era desagradável, mas alarmante, como um aviso. A música parecia aumentar de volume, engolindo-os em seu ritmo frenético e quase sufocante, e a multidão ao redor se tornou uma força quase física, empurrando-os, tentando separá-los, mas a conexão entre eles, ainda que tênue, parecia resistir. Joe finalmente soltou a mão dela, mas o contato, breve que fora, deixou uma marca persistente, uma sensação de que ele havia deixado parte de si nela, ou levado parte dela consigo. Era como se um laço invisível tivesse sido forjado.
Ele recuou um passo, um movimento tão suave que a distância entre eles pareceu dilatar-se subitamente. Seus olhos, no entanto, permaneceram fixos nos dela, aquele sorriso de quem acabara de descobrir um tesouro escondido ainda presente. Ele não a tirava da mira, mesmo quando seu corpo começou a se mesclar com as sombras, movendo-se com uma agilidade silenciosa que parecia irreal para um ambiente tão lotado. A multidão, antes um emaranhado de corpos suados e risos, parecia conspirar para obscurecer sua figura, engolindo-o lentamente de volta para as sombras de onde viera. Anastacia piscou uma, duas, três vezes, sua mente lutando para processar a rapidez do desaparecimento. E quando abriu os olhos novamente, ele já não estava ali. Aquele homem havia se dissolvido no caos da noite, como uma miragem, deixando para trás apenas a reverberação de sua presença e a estranha, quase sedutora, promessa de um reencontro.
Um arrepio frio, mas não de medo puro, percorreu a espinha de Anastacia. Era uma mistura complexa de apreensão, excitação e uma curiosidade perigosa que a assustava e a atraía ao mesmo tempo. Quem era ele, afinal? Um empresário poderoso com gostos questionáveis? Um predador que acabara de encontrar sua próxima caça? E, mais inquietante, como ele sabia seu nome, se é que sabia? Sua mente fervilhava com perguntas, mas a escuridão e o barulho ensurdecedor da boate não ofereciam respostas. Aquele esbarrão, que em qualquer outra circunstância seria um incidente trivial e esquecido em questão de minutos, havia se transformado em um prelúdio sinistro, um presságio de algo muito maior. Ela sentiu que havia sido marcada, não por uma ferida física, mas por uma conexão invisível, um fio tênue e inexplicável que a ligava àquele homem enigmático e perigoso. Era como se a noite tivesse costurado seus destinos.
A festa, antes vibrante, convidativa e cheia de promessas de diversão, agora parecia ter perdido sua cor e seu encanto. Os risos e a música soavam distantes, abafados pela reverberação daquele encontro. O ar dentro do clube parecia mais denso, opressor, quase sufocante. Anastacia sentiu uma necessidade urgente de ar, de clareza, de um espaço para respirar e tentar processar o que acabara de acontecer, longe dos olhos curiosos e do barulho excessivo. Ela abriu caminho pela multidão, seus passos mais apressados do que antes, quase uma fuga desesperada, a necessidade de escapar daquele ambiente abertamente sufocante crescendo a cada segundo. O toque acidental dele, mesmo que breve, ainda ardia em sua pele, uma brasa sob a superfície.
Ao sair para a rua, o ar frio da noite a atingiu como um choque revigorante, um alívio bem-vindo que, no entanto, não conseguiu dissipar a sombra que Joe havia lançado sobre sua noite. Ela se apoiou contra a parede de um prédio próximo, respirando fundo, o peito subindo e descendo rapidamente, tentando acalmar o coração que ainda martelava contra as costelas. A luz fraca dos postes de rua revelava o cartão em sua mão, suas letras prateadas brilhando palidamente, quase zombeteiramente. Ela sabia, com uma certeza inquietante que a gelou até os ossos, que a penumbra daquele encontro era apenas o começo de algo muito maior e inadiável. E a assertividade que ela havia exibido, sua arma habitual contra o mundo e as adversidades, talvez não fosse suficiente para protegê-la do destino implacável que parecia se desenhar bem à sua frente. O nome "Joe" no cartão parecia sussurrar uma promessa inevitável, um convite para o abismo.
O ar frio da madrugada de Istambul chicoteava o rosto de Anastacia, trazendo consigo o cheiro úmido do asfalto após uma garoa recente, mas o verdadeiro gelo que sentia era interno, um arrepio que não vinha da temperatura, mas da incerteza que a consumia. O cartão preto, com o nome "Joe" gravado em prata discreta, queimava em sua palma como um braseiro. Não era um calor reconfortante, mas uma brasa ardente de incerteza e presságio, uma promessa silenciosa de algo perigoso e irreversível. A balada, que poucos minutos antes parecia um convite efervescente à diversão e ao esquecimento, agora ecoava em sua mente como uma câmara de tortura sonora, amplificando o turbilhão de pensamentos e a cacofonia de suas próprias dúvidas. Quem era aquele homem, afinal? E, mais perturbador, por que ela não conseguia, de forma alguma, tirá-lo da cabeça?
Sua assertividade habitual, aquela armadura de sarcasmo afiado e inteligência rápida que ela tão bem manejava, parecia ter encontrado uma barreira intransponível na figura de Joe. Ele não se intimidou. Pelo contrário, sua reação foi de um interesse quase calculista, como se a resistência dela fosse um tempero a mais, um desafio bem-vindo para uma mente que ansiava por ser entretida. "Gosto da sua ousadia", a frase dele reverberava em sua memória, a voz rouca e sedosa como a mais perigosa das melodias, e a eletricidade daquele breve contato com sua mão ainda persistia. Um calafrio, paradoxalmente excitante, percorreu sua espinha. Era uma sensação que ela raramente experimentava: a de estar diante de algo completamente desconhecido e, ao mesmo tempo, irresistivelmente atraente, como um abismo que prometia segredos profundos.
Anastacia dobrou a esquina, a intenção consciente de ir direto para casa, de mergulhar sob os cobertores e esquecer o incidente, de varrer a imagem dele de sua mente. Mas seus pés pareciam ter vida própria, arrastando-a para longe da boate, sim, mas não para o esquecimento. Seus pensamentos eram um emaranhado de contradições, uma batalha campal entre a razão e a emoção. Joe era perigoso, isso era inegável, uma verdade que gritava em seu instinto mais primitivo. A aura de poder sombrio que o envolvia era quase tangível, uma promessa silenciosa de problemas, de complicações que ela nunca buscou. Seus olhos, que pareciam ter visto a alma dela em um único piscar, continham uma profundidade que Anastacia não conseguia decifrar, mas que a prendiam, a chamavam, como um canto de sereia. Ela se pegou, compulsivamente, analisando cada detalhe do encontro: o toque breve em sua mão que deixou uma marca fantasma, a forma como ele se dissolveu na multidão como um espectro, a confiança quase arrogante com que ele a abordou, como se ela fosse um objeto a ser examinado. Era como se ele tivesse se materializado do próprio ar, e evaporado da mesma forma, deixando apenas uma pergunta gritante em seu rastro: por quê?
Ela parou abruptamente em frente a uma vitrine iluminada de uma loja de roupas que já estava fechada, mas seus olhos não viam os manequins inanimados e as peças de seda e linho. Viam, em seu lugar, os olhos intensos de Joe, refletidos no vidro escuro. Ela sabia, com uma clareza dolorosa, que deveria jogar o cartão fora, esmagá-lo em sua mão e jogá-lo em uma lixeira qualquer, esquecer o homem e a estranha conexão que ele havia plantado em sua mente. Era a atitude racional, a atitude que sua mente lógica e prática ditava com veemência. No entanto, sua mão se recusava a soltar o pequeno pedaço de papel. Pelo contrário, ela o apertava com força, os cantos quase perfurando sua pele. A fascinação, como uma névoa densa e pegajosa, começava a envolver seus sentidos, turvando seu julgamento, sussurrando promessas perigosas. Era uma tentação diferente de tudo que ela já havia experimentado, uma curiosidade mórbida que a puxava para um abismo que, instintivamente, ela sabia ser sem retorno, um poço de escuridão que parecia irresistível.
"O que diabos está acontecendo comigo?", ela murmurou para o reflexo trêmulo na vitrine, sua voz quase inaudível, um sussurro assustado na vastidão da noite. Ela nunca havia sido tão facilmente perturbada por um encontro casual. Homens haviam se aproximado dela antes, é claro, mas nenhum com aquela intensidade predatória, com aquele ar de quem detinha todos os segredos do universo e não tinha pressa em revelá-los. A presença de Joe havia deixado uma marca, uma cicatriz invisível e profunda em sua percepção da realidade, um rasgo na cortina de sua zona de conforto. Ele havia rompido a bolha de controle que ela, com tanto esforço, mantinha sobre sua própria vida.
A imagem daquele sorriso enigmático, que nunca chegava aos olhos, voltou a assombrá-la, flutuando em sua visão como um fantasma. Não era um sorriso de felicidade, nem de carinho, muito menos de inocência, mas de um conhecimento profundo, quase predatório. Ele a via de uma forma que ninguém mais havia visto, não apenas a superfície de sua beleza ou inteligência, mas algo mais, algo bruto e verdadeiro que ela escondia. E essa percepção, embora assustadora em sua nudez, era também estranhamente viciante, uma droga que prometia revelações. Era como se ele tivesse olhado para dentro dela e reconhecido algo selvagem, algo indomável, algo que ela guardava a sete chaves de todos, inclusive de si mesma.
Um táxi amarelo passou ruidosamente, as luzes brilhando no asfalto molhado e refletindo o nome "Istambul" na lateral. Anastacia ergueu a mão automaticamente, um gesto quase inconsciente de desespero por sair dali. Precisava sair daquele ambiente urbano que parecia impregnado da presença dele, daquele ar pesado que se recusava a se dissipar. Mas mesmo dentro do táxi, enquanto as luzes da cidade passavam rapidamente pela janela, formando borrões coloridos, a figura de Joe persistia em sua mente, tão vívida quanto se ele estivesse sentado ao seu lado. Ela olhou para o cartão em sua mão novamente, as letras prateadas brilhando palidamente sob a luz da cabine. Era um convite para o desconhecido, um portal para um mundo que ela sabia ser perigoso, um submundo que ela deveria evitar a todo custo. No entanto, agora, por alguma razão inexplicável, a atraía com uma força gravitacional esmagadora.
Ela mordeu o lábio inferior, o gosto ferroso do sangue misturado ao sabor persistente do álcool em sua boca, uma ironia para a sobriedade que sua mente exigia. Deveria ligar para aquele número? A ideia era absurda, beirava a loucura. Seu bom senso gritava para ela se afastar. Mas e se não ligasse? E se perdesse a chance de desvendar aquele mistério que a consumia, que a roía por dentro como um parasita? A adrenalina do encontro ainda corria em suas veias, uma corrente quente e perigosa, e a promessa de perigo que Joe representava era, para uma parte dela, um chamado irresistível, um canto de sereia para o qual ela se sentia arrastada. A fascinação era perigosa, sim, mas também era inebriante, um veneno doce. Ela se pegou imaginando, com uma clareza perturbadora, o que aconteceria se ela cedesse àquele impulso, se desse o próximo passo. Uma guerra interna se formava em sua alma, a razão contra a curiosidade insaciável, o instinto de autopreservação contra a atração fatal pelo abismo. E, pela primeira vez em muito tempo, Anastacia não tinha certeza de qual lado venceria. A noite em Istambul parecia estar prestes a mudar seu destino para sempre.
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