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Entre Lobos: A Maldição dos Trigêmeos

capítulo 1

Entre Lobos: A Maldição dos Trigêmeos

Capítulo 1 — O Chamado das Alcateias

Leo

O silêncio da floresta parecia mais denso naquela noite, como se a própria natureza esperasse algo que eu ainda não podia compreender. Meus olhos azuis varriam a escuridão entre as árvores, tentando capturar até o menor movimento, qualquer sinal que pudesse trazer a resposta que procuro havia anos.

De pé, com quase dois metros de altura, sentia o peso do tempo sobre meus ombros. Três décadas de vida, e ainda não conhecera minha companheira. A maldição que carregávamos — ou talvez a bênção — era que nossos laços não surgiam como os dos outros lobos. Era comum, diziam, que aos dezessete anos, na primeira transformação, a fera dentro deles se revelasse junto com o cheiro único da alma gêmea. Mas para nós, nada.

Hoje, meus irmãos Tony e Victor estavam tão inquietos quanto eu. Crescemos ouvindo histórias, sentindo a urgência da alcateia, a pressão da matilha. Mas o destino parecia guardar nosso segredo para si mesmo.

Nosso plano era simples, mas carregava a esperança de quebrar o ciclo. Visitaremos cada uma das alcateias distantes, retomando o contato com irmãos e irmãs de sangue, e quem sabe, encontrar o sinal que nos faltava. Eu sentia no peito um nó apertado, uma mistura de ansiedade e esperança que pulsava a cada passo.

Tony

Meu irmão mais velho sempre foi o mais calmo, mas naquela noite, ao seu lado, eu sentia a mesma ansiedade reverberar em meu corpo. A cada respiração, sentia o cheiro úmido da floresta misturado a algo que eu já conhecia, mas ainda não havia capturado completamente.

"Será que ainda não é a nossa vez?", perguntei em voz baixa, para que só eles ouvissem. Não esperava resposta, porque sabia que Leo também estava consumido pelas dúvidas.

Nossos anos sem companheiras eram um mistério que carregávamos com um peso que poucos conseguiam entender. A alcateia era mais do que sangue e força — era destino, união e proteção. E eu ansiava por sentir aquele reconhecimento, aquela ligação que poderia finalmente me mostrar quem eu sou de verdade.

A primeira parada nos trouxe memórias e rostos conhecidos, mas nenhum cheiro que acendesse a faísca dentro de mim. Porém, isso não me impedia de continuar.

Victor

Eu, o mais jovem dos trigêmeos, sentia a inquietação como se fosse uma fera dentro do meu próprio peito. Crescer lado a lado com Leo e Tony nos ensinou que a paciência era uma virtude, mas a espera também era uma tortura silenciosa.

Cada alcateia que visitávamos revelava histórias, risos e histórias de companheiros encontrados e laços formados. Mas nada para nós. Nada que pudesse nos mostrar a face da nossa alma gêmea.

Ainda assim, havia algo diferente naquela última alcateia que visitamos naquela noite. Algo no ar. Um cheiro doce e ao mesmo tempo selvagem que fazia meu coração acelerar. Leo farejou primeiro, a testa franzida tentando decifrar o mistério que pairava na atmosfera.

Quando percebemos que não estávamos sozinhos ali, que um terceiro cheiro entrelaçava nossos sentidos, uma surpresa silenciosa nos envolveu. Não era possível, ou melhor, não deveria ser — dividir a mesma companheira? Mas o aroma era claro, inconfundível.

Leo

Caminhamos juntos até a clareira onde ela estava. Bella.

A ruiva de cabelos longos que parecia tão parte da floresta quanto nós mesmos. Seu cheiro envolvia nossos sentidos, e algo em mim se aqueceu, uma chama que há muito tempo eu não sentia. E o mais estranho era que não era só meu.

Seus olhos eram de um verde cristalinos que cintilava com a luz da lua. E ao nos ver, ela estremeceu. Como se o mesmo calor que queimava em nós estivesse agora começando a despertar nela também.

Ela nos olhou um por um. Primeiro Leo. Depois Tony. Por fim, os olhos dela encontraram os meus.

E ali, por um segundo, senti que minha besta interior ganhava forma. Que rugia dentro de mim, exigindo que eu fosse até ela. Que a tocasse. Que a marcasse.

Mas ela desviou o olhar, confusa, assustada.

Correu.

Leo

— Espera! — gritei, instintivamente, avançando um passo.

Mas ela já havia desaparecido por entre as árvores. Rápida, ágil, como um lobo em forma humana.

— Ela sentiu — disse Tony, ofegante. — Ela sentiu o elo.

— Sim — Victor respondeu. — Mas não entendeu. Está assustada. Assim como nós.

O silêncio caiu entre nós novamente, só que dessa vez, era outro tipo de silêncio. Um que vibrava com significado, com propósito.

Eu fechei os olhos por um instante e deixei que o cheiro dela me envolvesse novamente. Ainda estava no ar, leve, doce, provocante.

— Precisamos encontrá-la — falei. — E precisamos entender o que isso significa. Três companheiros para uma única fêmea? Isso nunca aconteceu.

— Ou nunca foi contado — murmurou Tony.

Victor assentiu. — Talvez sejamos mais do que simples lobos, irmãos. Talvez sejamos... o prenúncio de algo maior.

Tony

Descemos a colina em silêncio, guiados pelo cheiro dela. A alcateia mais distante, onde ela vivia, se estendia em território antigo, quase esquecido pelos outros clãs. Um lugar onde a lua parecia mais próxima da terra, onde as lendas ainda respiravam nos ventos.

A presença dela despertava não só desejo, mas algo mais primitivo.

Ela era o nosso destino. Disso não havia mais dúvidas.

Mas o que fazer agora?

Ela fugiu.

Ela sentiu.

E ela temia.

O elo havia sido apenas o começo.

capitulo 2

Capítulo 2 — A Marca no Sangue

Narrado por Bella

A floresta nunca pareceu tão viva. Tão inquieta. Tão... perigosa.

Meus pés cortavam o mato baixo em velocidade, mas minha mente permanecia presa no que acabara de acontecer. No instante em que virei e vi aqueles três homens, meu corpo congelou — e então queimou por dentro. Era como se uma corrente elétrica tivesse atravessado minha espinha, despertando cada centímetro da minha pele.

Eu os vi.

E mais do que isso, eu os senti.

Três presenças poderosas. Fortes. Imponentes. E, de alguma forma, familiares.

Meu lobo interior — aquela parte de mim que mantive sob controle por tanto tempo — rugiu. Não gritou. Rugiu.

Como se dissesse: É agora. São eles.

Mas como isso era possível?

Acompanhei tantos ritos de passagem. Tantas histórias de companheiros que se reconheceram ao primeiro olhar. Sempre foi um companheiro para uma loba. Um cheiro. Uma ligação. Um elo. Um destino.

Então por que meu corpo reagiu à presença dos três?

Eu não conhecia seus nomes. Mas cada um deles se enraizou dentro de mim como se sempre estivessem ali. O loiro de olhos intensos, com a barba levemente mais cheia — seus olhos pareciam ler minha alma. O outro, de expressão mais selvagem, como uma fera à beira de perder o controle. E o terceiro, mais sereno, mas com uma aura que fazia o ar ao redor dele vibrar. Todos altos, fortes, belos demais para serem reais.

Meu coração ainda batia descompassado quando cruzei os limites do território da minha alcateia.

A Vila do Luar. Isolada. Tradicional. Desconfiada de forasteiros.

Assim que passei pela trilha principal, vi a anciã da guarda, Mãe Lira, sentada sob o grande carvalho da entrada. Seus olhos antigos se estreitaram ao me ver — como se já soubesse o que havia acontecido.

— Você os viu, não viu? — ela perguntou com a voz rouca.

Eu parei. Engoli em seco.

— Eu... vi três lobos. Mas não eram daqui. Não do nosso clã. Eles...

— Eles são os filhos da tempestade. Os trigêmeos amaldiçoados.

Meu estômago revirou.

— Isso é só uma lenda, Mãe Lira. Uma história contada para assustar as fêmeas jovens.

Ela se levantou devagar. Mesmo com a idade avançada, sua presença ainda era forte. Colocou a mão enrugada sobre meu ombro.

— Nem todas as lendas são mentiras, criança. Alguns destinos são antigos demais para serem evitados. Você carrega a marca. Eu sabia que esse dia chegaria.

Minhas mãos voaram até minha orelha. Atrás dela, a marca de nascença em forma de lua dentro do sol sempre me causou estranheza. Eu a escondia com o cabelo. Desde pequena. E agora ela voltava como uma resposta cruel.

— Não é possível... — sussurrei.

— Os três irmãos são de linhagem pura. Um é o Alfa dominante. O outro é o Guardião. E o terceiro... é o Supremo. Eles nasceram para dividir o mesmo coração. E você nasceu para ser o centro dele.

Minhas pernas fraquejaram.

Como alguém conseguiria lidar com um só companheiro, quanto mais três? Com instintos possessivos, ciúmes violentos, desejos intensos? Já vi lobos enlouquecerem por ciúmes de suas companheiras. E agora... eu teria que suportar o elo com três deles?

Ou pior: eles me escolheram.

Mais tarde, no meu quarto, me sentei diante do espelho e tirei o cabelo de trás da orelha. A marca brilhava sob a luz da vela. Meus dedos tremiam.

Eles viriam.

Eu sabia.

O elo havia sido formado.

E isso… isso era só o começo.

capitulo 3

Entre Lobos: A Maldição dos Trigêmeos

Capítulo 3 — A Primeira Conexão

Narrado alternadamente por Leo, Tony e Victor

Leo

Os portões da Vila do Luar surgiram diante de nós como um desafio ancestral. Velhos muros de pedra cobertos por musgo e símbolos rúnicos marcavam os limites daquele território esquecido. A última vez que estive aqui, ainda éramos jovens demais para entender a força das tradições que essa alcateia cultivava.

Mas agora… o cheiro dela estava por toda parte. Denso. Quente. Provocante.

— Estão sentindo? — murmurei, mesmo sabendo que Tony e Victor já estavam tensos, farejando o ar como predadores em estado de alerta.

A vila parecia ter parado no tempo. Pequenas casas de pedra com telhados de madeira e chaminés fumegando no fim da tarde. Lobos em forma humana nos observavam pelas janelas, desconfiados. Mulheres com mantos escuros pararam de conversar para nos encarar. Era como se soubessem.

Nós não éramos bem-vindos.

E, ao mesmo tempo, éramos aguardados.

Victor rosnou baixo, um som quase imperceptível, mas carregado de irritação.

— Estão nos julgando sem nem saber o porquê viemos.

Tony deu um meio sorriso sarcástico.

— Eles sabem. O cheiro dela ainda está em nós. E o nosso nela. Foi forte demais para passar despercebido.

Eu mantive os olhos à frente, buscando uma figura específica: Bella.

Precisava vê-la de novo. Precisava sentir seu olhar, ouvir sua voz, tocar sua pele. O lobo dentro de mim estava inquieto desde o momento em que ela fugiu. Como se a rejeição dela tivesse deixado marcas em mim que eu não sabia que podiam doer tanto.

Tony

O conselho da vila nos recebeu com formalidade forçada. Quatro homens, todos com mantos longos, liderados por um lobo grisalho de expressão severa.

— Leo. Tony. Victor. Os trigêmeos da Alcatéia do Norte — disse ele, com voz firme. — A lenda se arrasta há três séculos, e agora vocês aparecem no território mais antigo, farejando nossa fêmea marcada?

Victor cruzou os braços, impaciente.

— Não viemos para caçar. Viemos porque fomos chamados. O elo se formou.

— Três companheiros para uma só loba? — outro ancião cuspiu no chão. — Isso é blasfêmia.

Leo deu um passo à frente, a presença dele tão forte que fez os velhos silenciarem.

— Blasfêmia é ignorar o chamado da lua. Bella nos sentiu. E nós a sentimos. Não estamos aqui para pedir permissão. Estamos aqui porque o destino assim quis.

Houve um momento de silêncio. Pesado. Tenso.

E então, ela apareceu.

Victor

Eu ouvi seu coração antes de vê-la.

Ele batia rápido. Descompassado. Mas forte.

Quando ela entrou na sala do conselho, o tempo parou.

Usava uma roupa simples: calça escura colada nas curvas e uma blusa de tecido fino que deixava à mostra parte do ombro. Os cabelos estavam soltos, mas presos de um lado com uma presilha de prata. E os olhos... estavam ardendo com confusão e algo mais profundo: medo.

— Bella — sussurrei, sem me conter.

Ela parou diante de nós, e pela primeira vez, olhou diretamente nos olhos dos três.

— Vocês... são reais.

A voz dela era suave, mas carregava uma força que me pegou de surpresa. Seu cheiro nos envolveu de novo, como se o elo estivesse se renovando com sua presença.

Leo caminhou até ela, devagar, como um predador se aproximando de algo sagrado. Estendeu a mão, mas não a tocou.

— Você nos sentiu. Nós sentimos você.

— Isso não faz sentido — ela sussurrou, olhando de um para outro. — Um só companheiro. Sempre foi assim. Como pode...

Tony interrompeu.

— Você tem a marca, não tem? Atrás da orelha?

Bella hesitou. Depois assentiu, devagar.

— É a marca da Lua e do Sol entrelaçados — disse. — Dizem que quem a carrega está destinada à ruína… ou à transformação da matilha.

Victor deu um passo adiante. Meu peito doía com a intensidade daquele momento. Eu queria tocá-la, mas me controlei.

— Talvez você seja o equilíbrio, Bella. E nós, as partes que precisam ser domadas por você.

Ela nos encarou, e por um instante, achei que fosse fugir de novo.

Mas não. Ela permaneceu.

E então, o elo… se intensificou.

Leo

Foi como um raio silencioso. Uma vibração na alma.

Senti meu lobo se erguer dentro de mim, rosnando com desejo e reverência. Meus olhos brilharam com o dourado da transformação parcial, e vi nos olhos de meus irmãos o mesmo reflexo.

Bella estremeceu.

E ao invés de fugir, respirou fundo e sussurrou:

— Eu senti vocês desde que pisei nessa terra. Antes mesmo de saber seus nomes. Meus sonhos... estavam cheios de sombras. Agora eu sei que eram vocês.

Tony se aproximou, a voz mais baixa, carregada de emoção.

— Vamos devagar, Bella. Mas não negue o que somos.

Victor chegou mais perto, sem tocar, apenas cercando-a com sua presença.

— Seu corpo nos chamou. Sua alma já nos reconhece.

E então, num gesto instintivo, ela estendeu a mão e tocou o peito de Leo.

O elo brilhou como fogo invisível entre todos nós.

O conselho observava em silêncio. Não havia mais o que negar.

Tony

A marca dela brilhou sob a luz da lua que atravessava a janela.

O símbolo que todos temiam, agora era a prova viva de que ela não era apenas a companheira.

Ela era nossa companheira.

Um para o coração.

Um para a alma.

Um para o corpo.

Victor, Leo e eu… fomos escolhidos.

E Bella, mesmo confusa, mesmo assustada, começava a aceitar.

A tensão no ar prometia tempestades.

Mas o que começava ali era mais forte do que regras, lendas ou medo.

Era destino.

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