O universo respirava em silêncio quando o primeiro cristal foi gerado no coração de Zyron. Os antigos contavam que cada cristal não era apenas um mineral, mas um fragmento da Consciência Estelar que mantinha o equilíbrio entre os mundos. E quando os cristais começaram a desaparecer, as estrelas deixaram de cantar.
Zyron era mais do que um planeta, era uma entidade viva. Seus rios cantavam com a voz dos antigos, suas montanhas guardavam os ecos das primeiras guerras e seus ceús pulsavam com o ritmo do destino. Foi neste lugar, entre constelações e tronos ancestrais, que nasceu Volkar, o primogênito do Supremo Volkor. Nascido da linhagem sagrada dos filhos de Índia Pasha, Volkar trazia em seu DNA a herança dos dois mundos: a força da metamorfose e o dom da empatia espiritual.
Com apenas onze luas, ele já derrotava guerreiros adultos em treinamentos sagrados. Aos dezoito, liderava as primeiras missões interplanetárias. Seu corpo era forjado como armadura viva, seus cabelos prateados ondulavam como fios de luz estelar, e seus olhos dourados eram capazes de enxergar através da alma. Mas o que fazia dele um verdadeiro herdeiro não era sua força, e sim a dor silenciosa que carregava: o vazio que nenhum trono, nenhuma vitória e nenhum poder conseguia preencher.
Desde os tempos mais antigos, havia uma profecia murmurada pelas guardiãs de cristais. Dizia-se que um dos filhos de Zyron encontraria sua alma gêmea na Terra, uma mulher mestiça, nascida entre os mundos, marcada pelo símbolo da constelação perdida. Ela traria o elo de volta e restauraria o canto das estrelas. E Volkar sabia, com a precisão de quem sente e não apenas crê, que essa mulher era dele.
Não porque ele a escolheu, mas porque ela o completava. E esse chamado o consumia mais a cada ciclo.
Quando o Conselho Real detectou uma anomalia energética no hemisfério sul da Terra, foi Volkar quem se voluntariou para liderar a expedição. Ele não sabia exatamente o que buscava, mas sentia que o tempo se estreitava e que cada batida de seu coração ecoava na direção dela. Deixou os irmãos encarregados dos Setores de Proteção e embarcou na nave Nostarah, atravessando os portais com uma única missão: encontrar o elo perdido.
Enquanto isso, na Terra, Maya sentia as mudanças mesmo sem compreendê-las. Os animais da floresta se aproximavam dela como se a reconhecessem. O vento sussurrava palavras em línguas que ela jamais aprendera. Seus sonhos se tornavam visões. E em todos eles, um homem de cabelos prateados estendia a mão para ela através da escuridão.
Na noite em que as estrelas pareceram brilhar com mais fúria, a vida de ambos mudou para sempre. E o universo prendeu a respiração.
O silêncio dentro da nave não era ausência de som, era a reverência da matéria diante do inevitável. Volkar se mantinha em pé na câmara de meditação, envolto pela luminescência azulada do núcleo de comando. Os sensores cósmicos alinhavam a trajetória sobre o planeta Terra, mas era sua alma que navegava em outra direção. A direção de Maya.
Na parede diante dele, o mapa estelar pulsava com vida própria. Linhas energéticas traçavam constelações milenares, memórias de guerras, alianças e separações que marcaram as eras. E bem ali, no centro, como se fosse o coração de todo o sistema Zyroniano, vibrava o símbolo ancestral da união sagrada: dois círculos entrelaçados por um traço vertical — o símbolo das almas ligadas pelo destino.
A imagem de Maya surgia ali, translúcida, imperfeita, como uma miragem construída pelas recordações herdadas. Volkar não sabia o som da voz dela, mas sonhava com seu timbre desde antes de nascer. Não conhecia seu toque, mas sentia sua ausência como quem sente falta de um órgão vital. Ela era a metade perdida que tornaria seu poder completo, sua força definitiva, sua linhagem perpétua.
— Maya… — ele sussurrou para o vazio. — Que a sua alma escute o chamado do cosmos.
A nave aproximava-se dos limites superiores da atmosfera terrestre. Os campos de distorção gravitacional começaram a se estabilizar, e a superfície do planeta surgia com nitidez. Verde, azul, branco. Um planeta jovem, caótico e belo. Um planeta onde o amor era escolha, mas o instinto era negado.
Volkar se conectou ao Oráculo Estelar da nave. Era um cristal negro em forma de espiral, que respondia apenas à linhagem real. Com a palma sobre ele, as informações fluíram como se um rio de sabedoria tivesse sido destrancado.
Nome: Planeta Terra
Localização: Braço de Órion, Sistema Solar
População predominante: espécie humanoide, estágio evolutivo instável
Composição racial híbrida: possível descendente da linhagem Zyroniana identificado
Cristal Azul detectado em região tribal do hemisfério sul
Potencial compatível com a Frequência de União 9.9 — único registro entre 4.318 planetas escaneados
Volkar estreitou os olhos dourados. A confirmação estava ali. A ressonância entre sua energia e a presença feminina registrada no planeta era inquestionável. Não apenas era ela. Era agora.
— Prepare a descida em modo camuflado — ordenou ao núcleo de comando. — Estabelecer campo de invisibilidade. Desceremos entre as montanhas.
A nave respondeu com um leve tremor. Em silêncio absoluto, o cruzador de reconhecimento VZ-9 entrou na atmosfera terrestre como uma estrela cadente sem luz. Seu destino: a floresta sagrada dos metamorfos, onde os humanos jamais se atreveriam a pisar. Onde Maya havia nascido, filha de duas raças e aceita por nenhuma.
Enquanto isso, na aldeia, Maya sonhava.
Ela estava deitada sobre peles macias de tamanduá-mouro, oferecidas pela anciã da tribo como proteção contra os espíritos da noite. Seus cabelos castanho-claros espalhavam-se em ondas sobre o travesseiro rústico de algodão selvagem. As mãos repousavam sobre o ventre como se guardassem um segredo. E o coração batia em um compasso diferente — um ritmo que não pertencia ao mundo em que vivia.
No sonho, ela corria entre estrelas.
Estrelas que sussurrava seu nome como se o vento tivesse boca.
Estrelas que a chamavam para casa.
— Maya… Maya… Maya…
Ela não sabia de onde vinha aquele chamado, mas também não desejava escapar dele. Pela primeira vez, não tinha medo. Apenas saudade.
Despertou com um sobressalto.
O céu lá fora, antes nublado, estava cortado por um rastro prateado. Um risco de luz que dançava sobre o horizonte como se abrisse um portal entre mundos.
A jovem levantou-se e saiu da oca, ainda descalça, ainda atordoada. O coração pulsava em um ritmo que não compreendia, como se algo dentro dela tivesse despertado.
A aldeia estava silenciosa. O vento balançava suavemente os sinos de conchas pendurados no arco da entrada. O ar estava mais denso. Mais carregado. Mais... vivo.
E então ela viu.
Sobre as montanhas, onde a névoa costumava dançar sozinha ao amanhecer, uma silhueta se projetava. Não era um animal. Não era humano. Era outra coisa.
E naquele instante, sem saber o porquê, Maya sentiu que aquilo era para ela. Não uma ameaça. Um chamado.
— Ele está vindo — murmurou a xamã, surgindo ao seu lado como uma sombra.
— Quem? — Maya perguntou, sem tirar os olhos do céu.
— Aquele que carrega o teu nome no sangue dele.
Maya olhou para a velha curandeira como se esperasse ouvir que era só mais uma metáfora. Mas não era.
— Não tema — a xamã disse. — Você é filha de dois mundos. E há muito tempo alguém jurou que voltaria para lhe buscar.
CONTINUA...
💫 Nota da Autora – Um Chamado Além da Imaginação 💫
Querido(a) leitor(a),
Antes de seguir por entre estrelas, portais e destinos cruzados, peço a sua atenção por um instante para compartilhar algo do meu coração.
Este romance, A Companheira de Volkar – Guerreiros de Zyron, é uma obra de ficção científica, criada não apenas com a força da imaginação, mas também com o toque sutil da intuição e da espiritualidade que me acompanham desde que me entendo como autora.
Sou espírita kardecista, e como tal, trago comigo valores que vão além do entretenimento. Eu não escrevo erotismo gratuito, nem histórias ocas — escrevo vidas que me chegam em forma de inspiração. Muitas vezes, são imagens, sensações e enredos que brotam em mim como se eu tivesse visitado outros mundos, realidades paralelas e dimensões que ainda não conhecemos.
E talvez eu tenha mesmo.
Não sigo fórmulas prontas. Não busco agradar a algoritmos, modismos ou expectativas de mercado. Escrevo o que meu coração vibra e o que meus mentores espirituais me intuem a transmitir.
Algumas pessoas podem não compreender. E tudo bem. Nem todos estão prontos para aceitar que existe algo além da Terra.
Mas se você está aqui, lendo essas palavras, talvez sua alma já tenha despertado para algo maior.
Esta história é para quem acredita que o amor transcende galáxias.
Para quem sente que não pertence totalmente a este mundo.
Para quem olha para o céu e sabe que há mais — muito mais — esperando por nós.
Se você se identifica com isso, seja muito bem-vindo(a) à minha jornada.
Se desejar comentar, sugerir personagens, dividir suas ideias, sentimentos ou até se conectar com outros leitores e leitoras que vibram na mesma frequência, eu criei um grupo com muito carinho chamado “A PRIDE”. Ele está disponível no aplicativo de leitura da plataforma, e você será muito bem-vindo(a) para fazer parte.
Agradeço profundamente a cada leitura, curtida, comentário e compartilhamento.
Tudo o que escrevo é com amor, propósito e fé.
Se você quiser continuar comigo...
Aperte o cinto.
Vamos explorar juntos o que há além da imaginação.
Com luz,
Tônia Fernandes
Autora e sonhadora interestelar 🌌✨
– O Elo que Desperta
A nave emitia um leve zumbido contínuo, como se respirasse. Maya permanecia sentada sobre uma plataforma suspensa, os olhos atentos ao guerreiro de cabelos prateados que, de pé à sua frente, parecia mais uma estátua entalhada pelos deuses do universo. Seu porte, a postura firme, a calma nos gestos — tudo nele parecia exato, eterno.
— Maya — disse Volkar, sua voz grave preenchendo o espaço. — Antes de irmos à sua aldeia, preciso solicitar algo a você. Um protocolo de segurança e comunicação.
Ela ergueu o queixo, desconfiada.
— Que tipo de protocolo?
Ele ergueu um pequeno dispositivo, semelhante a um cristal facetado.
— É um chip de conexão neural. Um implante minúsculo, inserido atrás da orelha. Ele permitirá que compreenda todas as línguas faladas em Zyron e em outras galáxias sob nossa aliança. E permitirá que eu me comunique com você, mesmo à distância.
Maya hesitou por um momento. Mas algo em seu instinto — talvez herdado de sangue — não sentiu medo. Sentiu... reconhecimento.
— Vai doer?
— Apenas uma leve picada. Prometo ser gentil.
Ela suspirou e assentiu.
Volkar se aproximou com cautela, a mão envolta em um brilho azulado. Encostou suavemente o cristal em sua pele, atrás da orelha, e Maya sentiu um leve calor. O dispositivo se dissolveu na pele como uma brisa.
Em questão de segundos, ela ouviu a mesma voz dele, agora ecoando dentro de sua mente com absoluta clareza.
“Agora podemos falar sem barreiras.”
Maya arregalou os olhos.
— Nossa...
Ele sorriu.
— Vamos?
Ela se levantou, ainda deslumbrada com o que acabara de acontecer, e caminhou até a saída da nave. A estrutura metálica se abriu em silêncio, revelando o céu do início da manhã tingido de lilás e dourado. Ao fundo, as montanhas abraçavam o vale onde ficava a aldeia de sua infância.
Desceram juntos, seguidos por dois guerreiros zirornianos em trajes de camuflagem. A floresta úmida os envolveu com sua brisa fresca, o som dos pássaros e o aroma do solo sagrado. Maya sentiu o coração acelerar. A aldeia estava logo à frente.
Quando os primeiros guardiões da entrada os avistaram, suas lanças se ergueram num movimento de alerta. Mas Maya levantou o braço.
— Sou eu! Maya! Estou de volta!
O chefe dos guardiões reconheceu-a de imediato, e abaixou a arma com respeito.
— A filha de Aylla retornou... Mas quem são eles?
— Eles vieram em paz. Eu os trago.
Foram guiados até o centro da aldeia, onde a xamã já os esperava com olhos semicerrados e as mãos pousadas sobre um cajado de madeira negra enfeitado com penas e símbolos antigos. Ao lado dela, estava Aylla — a mãe de Maya — que ao ver Volkar, empalideceu.
Aylla deu um passo à frente, encarando-o com os olhos marejados.
— Você... Você é da mesma raça do pai da minha filha.
Volkar se manteve ereto, mas um leve tremor percorreu seu maxilar.
— Como sabe disso?
Aylla tocou o próprio peito, emocionada.
— Porque há vinte e três anos, um guerreiro como você caiu aqui. Ferido. Cuidamos dele. Eu o amei. Mas ele não pôde ficar. E eu não pude ir com ele. A semente ficou... — Seus olhos se voltaram para Maya. — A nossa filha.
Maya sentiu as pernas falharem, e a xamã apoiou sua mão em seu ombro com suavidade.
— A profecia sempre disse que o sangue das estrelas retornaria. E voltou. — A velha olhou para Volkar com reverência. — Você veio buscar os cristais, não foi?
Volkar confirmou com um movimento da cabeça.
— Nossos sistemas foram danificados ao entrar na atmosfera terrestre. Precisamos da zironita para restaurar as barreiras energéticas e prosseguir nossa missão. Sem ela, nosso povo corre risco.
A xamã se voltou para Maya.
— Leve-o às cavernas dos cristais. A permissão está concedida. O tempo deles é escasso, e o nosso também.
O líder da aldeia, pai de Maya, se aproximou. Um homem alto, de traços fortes, com tatuagens xamânicas no rosto e um colar de dentes de jaguar no pescoço.
— E se perguntam por que não nos assustamos — disse ele, olhando para os três guerreiros — é porque, como disse a mãe de Maya, um de vocês já esteve aqui antes. E nós não esquecemos. Somos frutos dos antigos. Vocês não estão chegando... estão retornando.
Volkar então se ajoelhou, o punho fechado contra o peito, em um gesto de reverência.
— Honro vossa linhagem e vossa sabedoria. Prometo que nenhum mal será trazido por nós.
Aylla, com os olhos ainda marejados, tocou o ombro dele.
— Cuide dela.
Ele olhou para Maya e disse:
— Com a minha vida.
O Chamado do Cristal
– Entre a Terra e as Estrelas
O sol nascia por entre as copas altas da floresta, tingindo de âmbar as folhas orvalhadas. Maya e Volkar deixaram a aldeia sob as bênçãos da xamã, do avô e dos guardiões do portal. Ela caminhava descalça, os pés leves sobre o solo úmido, enquanto ele a acompanhava com passos precisos, o olhar atento ao redor.
Subitamente, Volkar parou.
Maya se virou, e antes que pudesse perguntar algo, viu a pele dourada dele se transformar, pouco a pouco. O traje branco e reluzente desapareceu como névoa, dando lugar a roupas de fibras naturais, semelhantes às dos guerreiros da tribo. Sua pele parecia mais terrosa, seus cabelos estavam amarrados em tranças finas, e tatuagens tribais surgiram temporariamente nos ombros largos.
— Como você... — Maya arregalou os olhos. — Como conseguiu isso?
Ele sorriu, satisfeito com o espanto dela.
— Nosso traje tem capacidade de camuflagem bio adaptativa. É uma tecnologia ancestral de Zyron. Quando me concentro, ele interpreta a cultura visual do ambiente e adapta minha aparência para causar menos impacto.
Ela piscou.
— E isso é mesmo você?
— Ainda sou eu — ele respondeu, a voz carregada de serenidade. — Mas agora pareço um dos seus.
— Eu posso ter um desse?
Ele olhou para ela por um segundo a mais do que o necessário. O olhar dele via nela mais do que curiosidade; via encanto.
— Acredito que sim.
Caminharam mais alguns metros em silêncio, até que ele notou que os pés dela estavam cobertos de terra e folhas.
— Não dói andar descalça? As pedras... os galhos...
Ela riu, com doçura.
— Não. Eu preciso disso.
— Como assim?
Ela parou e se virou para ele, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— A Mãe Terra me recarrega. Você não sente energia quando pisa no seu planeta?
Ele assentiu.
— Sinto. Mas nunca pensei nisso como algo vital.
— É vital pra mim. Meu sangue é híbrido, Volkar. Eu sou metade humana, metade zirorniana. E mais do que isso Eu sou metamorfo.
Ele franziu a testa.
— Você quer dizer que... vocês mudam?
— Sim. — Ela fechou os olhos, respirou fundo e, em segundos, o corpo dela começou a se transformar.
Volkar recuou um passo, não por medo, mas por reverência.
Onde antes estava uma mulher de olhos de mel, agora surgia um lobo magnífico, de pelagem dourada, com olhos brilhantes e postura altiva. A criatura se moveu com elegância ao redor dele, farejando o ar, sentindo o cheiro das árvores, da vida e dele.
Volkar ajoelhou-se lentamente e estendeu a mão.
O lobo rosnou de leve, como se provocasse, depois se aproximou e tocou o focinho na palma dele.
— Você é incrível.
A loba então recuou, e em segundos, a transformação reversa aconteceu. Maya estava novamente diante dele, os cabelos ainda ondulando com a energia da mutação, a respiração ritmada.
— Sempre que posso, ando descalça — disse, sorrindo — para manter a harmonia com a Mãe Terra. É como me manter ancorada, centrada. E ajuda a manter o controle sobre a minha transformação.
Volkar ficou em silêncio por alguns segundos, como se memorizasse cada palavra, cada detalhe.
— Você não é apenas híbrida, Maya. É rara.
Ela desviou os olhos, corando.
— Meu povo nunca entendeu essa parte de mim. Achavam estranho. Muitos têm medo daquilo que não compreendem.
— Em Zyron — disse ele, retomando a caminhada ao lado dela — os raros são honrados. Aqueles que trazem algo novo são considerados essenciais para a evolução. E você... você é muito mais do que imagina.
Maya não respondeu. Apenas caminhou, absorvendo as palavras dele como quem absorve o calor do sol depois de um longo inverno.
Eles atravessaram um riacho estreito, contornaram uma encosta coberta por musgos e, finalmente, chegaram diante de uma fenda rochosa entre duas montanhas. O som de cristais vibrando era quase imperceptível, mas para Maya, era como o chamado de um coração antigo.
Ela estendeu a mão e tocou a pedra da entrada. Um brilho suave percorreu a rocha, como se reconhecesse seu toque.
Volkar observava, fascinado.
— As cavernas nos reconheceram — disse Maya, em voz baixa.
— Isso é possível? — ele perguntou.
— Para os de sangue antigo, sim. Os cristais respondem ao que está dentro de nós. Emoção, intenção, ancestralidade.
Ela olhou para ele.
— Está pronto?
— Desde antes de nascer.
E então, juntos, adentraram o santuário oculto que guardava não apenas cristais, mas segredos enterrados pelas eras — e talvez, o verdadeiro propósito das suas existências.
– Entre a Terra e as Estrelas
O sol nascia por entre as copas altas da floresta, tingindo de âmbar as folhas orvalhadas. Maya e Volkar deixaram a aldeia sob as bênçãos da xamã, do avô e dos guardiões do portal. Ela caminhava descalça, os pés leves sobre o solo úmido, enquanto ele a acompanhava com passos precisos, o olhar atento ao redor.
Subitamente, Volkar parou.
Maya se virou, e antes que pudesse perguntar algo, viu a pele dourada dele se transformar, pouco a pouco. O traje branco e reluzente desapareceu como névoa, dando lugar a roupas de fibras naturais, semelhantes às dos guerreiros da tribo. Sua pele parecia mais terrosa, seus cabelos estavam amarrados em tranças finas, e tatuagens tribais surgiram temporariamente nos ombros largos.
— Como você... — Maya arregalou os olhos. — Como conseguiu isso?
Ele sorriu, satisfeito com o espanto dela.
— Nosso traje tem capacidade de camuflagem bioadaptativa. É uma tecnologia ancestral de Zyron. Quando me concentro, ele interpreta a cultura visual do ambiente e adapta minha aparência para causar menos impacto.
Ela piscou.
— E isso é mesmo você?
— Ainda sou eu — ele respondeu, a voz carregada de serenidade. — Mas agora pareço um dos seus.
— Eu posso ter um desse?
Ele olhou para ela por um segundo a mais do que o necessário. O olhar dele via nela mais do que curiosidade; via encanto.
— Acredito que sim.
Caminharam mais alguns metros em silêncio, até que ele notou que os pés dela estavam cobertos de terra e folhas.
— Não dói andar descalça? As pedras... os galhos...
Ela riu, com doçura.
— Não. Eu preciso disso.
— Como assim?
Ela parou e se virou para ele, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— A Mãe Terra me recarrega. Você não sente energia quando pisa no seu planeta?
Ele assentiu.
— Sinto. Mas nunca pensei nisso como algo... vital.
— É vital pra mim. Meu sangue é híbrido, Volkar. Eu sou metade humana, metade zirorniana. E mais do que isso... Eu sou metamorfa.
Ele franziu a testa.
— Você quer dizer que... vocês mudam?
— Sim. — Ela fechou os olhos, respirou fundo e, em segundos, o corpo dela começou a se transformar.
Volkar recuou um passo, não por medo, mas por reverência.
Onde antes estava uma mulher de olhos de mel, agora surgia um lobo magnífico, de pelagem dourada, com olhos brilhantes e postura altiva. A criatura se moveu com elegância ao redor dele, farejando o ar, sentindo o cheiro das árvores, da vida e dele.
Volkar ajoelhou-se lentamente e estendeu a mão.
O lobo rosnou de leve, como se provocasse, depois se aproximou e tocou o focinho na palma dele.
— Você é... incrível.
A loba então recuou, e em segundos, a transformação reversa aconteceu. Maya estava novamente diante dele, os cabelos ainda ondulando com a energia da mutação, a respiração ritmada.
— Sempre que posso, ando descalça — disse, sorrindo — para manter a harmonia com a Mãe Terra. É como me manter ancorada, centrada. E ajuda a manter o controle sobre a minha transformação.
Volkar ficou em silêncio por alguns segundos, como se memorizasse cada palavra, cada detalhe.
— Você não é apenas híbrida, Maya. É rara.
Ela desviou os olhos, corando.
— Meu povo nunca entendeu essa parte de mim. Achavam estranho. Muitos têm medo daquilo que não compreendem.
— Em Zyron — disse ele, retomando a caminhada ao lado dela — os raros são honrados. Aqueles que trazem algo novo são considerados essenciais para a evolução. E você... você é muito mais do que imagina.
Maya não respondeu. Apenas caminhou, absorvendo as palavras dele como quem absorve o calor do sol depois de um longo inverno.
Eles atravessaram um riacho estreito, contornaram uma encosta coberta por musgos e, finalmente, chegaram diante de uma fenda rochosa entre duas montanhas. O som de cristais vibrando era quase imperceptível, mas para Maya, era como o chamado de um coração antigo.
Ela estendeu a mão e tocou a pedra da entrada. Um brilho suave percorreu a rocha, como se reconhecesse seu toque.
Volkar observava, fascinado.
— As cavernas nos reconheceram — disse Maya, em voz baixa.
— Isso é possível? — ele perguntou.
— Para os de sangue antigo, sim. Os cristais respondem ao que está dentro de nós. Emoção, intenção, ancestralidade.
Ela olhou para ele.
— Está pronto?
— Desde antes de nascer.
E então, juntos, adentraram o santuário oculto que guardava não apenas cristais, mas segredos enterrados pelas eras — e talvez, o verdadeiro propósito de suas existências.
O Guardião da Luz
A entrada da caverna se erguia adiante como um portal esculpido pelas eras. A vegetação densa escondia parcialmente o local sagrado, mas Maya sabia exatamente onde pisar, onde tocar. O som leve da vibração cristalina já ecoava dentro de seu peito.
Volkar, ainda camuflado como um guerreiro da aldeia, desacelerou os passos. Ergueu uma das mãos, em sinal de alerta.
— Pare. — Sua voz veio firme, baixa. Os olhos dourados estreitaram. — Há presença de homens armados. Três... exatamente na entrada da caverna.
Maya franziu a testa, surpresa.
— O quê? — sussurrou, então olhou para frente. Com atenção, viu os vultos. — Invasores. De novo...
A revolta fez seu corpo tremer.
— Esses saqueadores aparecem de tempos em tempos. Sabem do valor dos cristais. Mas eles não compreendem. Estão destruindo algo sagrado. Quero saber onde está o guardião da caverna...
Volkar ativou uma sequência rápida em um dispositivo minúsculo preso ao pulso.
Dois pontos de luz piscaram ao redor deles. Os dois guerreiros zironianos, que haviam permanecido em modo de camuflagem total, surgiram como sombras reveladas à luz.
Ele apontou com o queixo.
— Flanqueiem. Mas sem ferir. Quero vivos.
Em um movimento sincronizado, os guerreiros se moveram para as laterais da trilha, suas armaduras adaptativas os tornando quase invisíveis ao olho humano novamente. Volkar ergueu o braço direito. Um campo translúcido se materializou ao redor dele e de Maya — um escudo de energia, pulsante, quase imperceptível.
Ao se aproximar da entrada, os três homens armados notaram movimento e ergueram as armas.
Dispararam.
As balas ricochetearam contra o escudo com estalos metálicos e luzes azuladas. Maya recuou instintivamente, mas Volkar manteve-se firme.
— Agora — ele murmurou em sua língua natal.
Um som agudo cortou o ar.
Uma rede luminosa foi lançada de cima, envolvendo os três invasores. A malha energética os paralisou imediatamente, imobilizando membros e armas. Eles caíram ao chão com gritos abafados de susto e raiva.
— Renda-se ao que não compreende — disse Volkar, com frieza.
Os guerreiros surgiram, recolhendo os prisioneiros.
— Entrem invisíveis. Há mais — ordenou.
Maya, embora abalada, manteve a compostura. Tocou a pedra da entrada com a palma da mão. A vibração acolhedora permitiu que eles passassem.
No interior da caverna, a cena era um ultraje.
Cinco homens com ferramentas rudimentares e caixas metálicas arrancavam cristais das paredes com brutalidade. O som dos estilhaços ferindo a rocha parecia um lamento antigo.
Maya levou as mãos à boca.
— Eles estão destruindo...
Volkar deu um passo à frente. Ainda camuflado, se aproximou de um deles.
— Parem. Agora.
Os homens se viraram. Um deles riu, debochado.
— Um índio? Sai do caminho, velho. Isso aqui é propriedade internacional.
— Vocês estão saqueando o que não entendem. Estão acordando forças que não podem conter.
Outro ergueu a arma.
— Último aviso, velhote. Sai fora.
Volkar apertou o punho.
— Que seja assim.
Os dois guerreiros se tornaram visíveis ao seu lado, armaduras reluzentes, olhos prateados cintilando no escuro.
— Merda... o que é isso?! — gritou um dos homens.
Antes que pudessem reagir, foram atingidos por ondas de choque leves, paralisantes. Caíram um a um, como peças de dominó.
Volkar ativou o teletransportador portátil.
— Conduzam os oito prisioneiros à aldeia. Digam ao chefe que serão interrogados e julgados conforme os protocolos da Confederação.
Os guerreiros assentiram e, com gestos rápidos, os corpos foram envolvidos por campos gravitacionais e desapareceram em feixes de luz azul.
Volkar então se abaixou diante de uma das caixas.
Pegou um dos cristais arrancados à força. Estava trincado. Cinzento. Sem vida.
— Está morto — ele murmurou.
— Eles roubaram a energia dele — disse Maya, com dor na voz. — Os cristais só têm poder se forem dados pela Terra. Eles não podem ser arrancados... são presentes, não produtos.
Ela se abaixou e retirou um cristal pequeno do chão, quase escondido sob uma raiz fina.
— Este foi deixado. A Terra permitiu. Tome.
Volkar recebeu o objeto com reverência. Assim que tocou o cristal doado, uma onda de calor percorreu seu corpo. Luz dourada escapou por entre seus dedos. A energia pulsava, viva.
Ele arfou.
— Este... está cheio de força vital. Como o núcleo de uma estrela.
Maya assentiu.
— Agora você entende. Não se conquista a força do universo com violência. É preciso merecimento.
Volkar olhou para ela, profundamente tocado.
— Você tem razão. Se eles tivessem atirado... mesmo com nossas armas... nada teria sido suficiente para restaurar o que foi perdido.
Ela tocou no ombro dele, com ternura.
— Mas ainda há tempo. Os cristais vivos ainda estão aqui. Eles nos conhecem.
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