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A Versão Feminina da História

Assinando um contrato suspeito.

No ensolarado pátio da Escola Secundária de Shibuya, em Tóquio, a tensão era palpável. Um círculo de estudantes curiosos e amedrontados cercava dois garotos. De um lado, encolhido no chão de concreto, estava um aluno franzino de óculos grossos, o rosto já marcado por um filete de sangue escorrendo do canto da boca. Do outro, imponente e com um sorriso cruel estampado no rosto, estava Yuri Takashi.

Yuri, com seus cabelos negros cortados rentes nas laterais e uma jaqueta escura com o kanji do "Dragão Vermelho" bordado nas costas, emanava uma aura de violência que intimidava a todos. Ele era o líder incontestável da gangue Red Dragon, e sua reputação de brutalidade o precedia por todos os corredores da escola.

"E então, verme?" zombou Yuri, a voz carregada de escárnio enquanto chutava de leve a perna do garoto caído. "Já aprendeu a lição sobre mexer com quem não deve?"

O garoto tentou encolher-se ainda mais, balbuciando um pedido de desculpas que se perdeu no ar. A plateia observava em silêncio, ninguém ousando intervir. Era sabido que desafiar Yuri significava atrair para si a ira de toda a gangue.

Yuri ergueu o punho cerrado, pronto para desferir o golpe final. A luz do sol refletia em seus nós dos dedos, prenunciando a dor que estava por vir. O garoto nerd fechou os olhos com força, esperando o impacto.

No entanto, o golpe nunca chegou.

Uma súbita onda de tontura varreu Yuri. Sua visão começou a embaçar, as vozes ao redor se tornando um murmúrio distante. Ele cambaleou, levando a mão à têmpora, uma expressão de confusão e crescente mal-estar substituindo o sorriso sádico.

Seus joelhos cederam, e o temido líder da Red Dragon desabou no chão, inconsciente, para o espanto silencioso de todos os presentes. O garoto nerd, ainda no chão, abriu os olhos hesitante, confuso com a reviravolta inesperada. A cena, que momentos antes era de pura intimidação, agora era de perplexidade e um prenúncio sombrio do que estava por vir na vida de Yuri Takashi.

O Hospital Universitário de Shibuya era um mar de tons pálidos e sussurros ansiosos. Yashiro e Keiko Takashi aguardavam em uma sala fria e impessoal, agarrados às mãos como se tentassem compartilhar a angústia que os consumia. As horas desde o desmaio repentino de Yuri no pátio da escola haviam se estendido como uma eternidade, cada minuto carregado de um peso insuportável.

Finalmente, a porta se abriu e um médico de semblante cansado, com olheiras profundas sob os olhos, adentrou a sala. Ele segurava uma prancheta com um olhar que não prometia boas notícias.

"Senhor e Senhora Takashi?" Sua voz era suave, quase hesitante.

Yashiro, um homem corpulento geralmente cheio de vigor, levantou-se com dificuldade, o rosto marcado por uma palidez preocupante. Keiko, sempre a rocha da família, tinha os olhos marejados e apertava a mão do marido com força.

O médico pigarreou, ajustando os óculos. "Os exames de Yuri... revelaram algo sério. Encontramos um tumor em seu cérebro."

O silêncio na sala tornou-se denso, quase palpável. Keiko soltou um pequeno soluço, levando a mão à boca. Yashiro cambaleou ligeiramente, como se tivesse levado um soco no estômago.

O médico prosseguiu, a voz agora mais grave. "Infelizmente, parece ser um tumor de crescimento rápido e já está em um estágio avançado. A causa do desmaio repentino foi um pequeno derrame, uma consequência direta da pressão exercida pelo tumor."

Ele fez uma pausa, observando a devastação estampada nos rostos dos pais. "Sinto muito em dizer isso, mas... o prognóstico não é bom. Dada a agressividade do câncer e o estágio em que foi descoberto, o tempo de vida estimado para Yuri é... limitado."

As palavras pairaram no ar, carregadas de um peso irreversível. O mundo de Yashiro e Keiko desabou naquele instante. O filho, o valentão, o líder da gangue, estava à beira da morte. A ficha médica em suas mãos parecia um decreto implacável, selando o destino de seu único filho. No meio do choque e da dor lancinante, um desespero frio começou a tomar conta deles, aterrorizante e avassalador. A ideia de perder Yuri era insuportável, e naquele momento sombrio, a semente de uma decisão desesperada começou a germinar em seus corações. Eles fariam qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa, para salvar a vida do filho.

O corredor do hospital parecia alongar-se infinitamente, iluminado por luzes fluorescentes frias que apenas intensificavam a sensação de vazio e ansiedade. Yashiro caminhava de um lado para o outro, as passadas pesadas ecoando no chão de linóleo, enquanto Keiko permanecia sentada em um banco desconfortável, o rosto pálido e os olhos fixos em um ponto distante. O silêncio entre eles era carregado de um medo que palavras não conseguiam expressar.

De repente, uma figura surgiu de uma das alas laterais, como se materializada do nada. Era um homem de aparência peculiar: alto e magro, com um sobretudo escuro que parecia grande demais para ele, e um rosto anguloso marcado por olheiras profundas. Seus olhos eram estranhamente brilhantes e fixos, e havia um leve sorriso enigmático curvando seus lábios finos.

Ele parou em frente aos pais de Yuri, o sorriso se alargando ligeiramente. "Senhor e Senhora Takashi, imagino que estejam passando por um momento... difícil." Sua voz era baixa e aveludada, com um leve sotaque estrangeiro que eles não conseguiam identificar.

Yashiro parou de andar, franzindo a testa desconfiado. "Quem é você? Como sabe nossos nomes?"

"Meu nome não importa agora", respondeu o homem, ignorando a pergunta. "O que importa é que eu tenho uma solução para o problema de seu filho."

Keiko se levantou bruscamente, os olhos arregalados com uma ponta de esperança. "Você... você pode curar Yuri?"

O homem assentiu lentamente. "Digamos que eu represente uma clínica... não convencional. Estamos desenvolvendo uma nova droga, ainda em fase experimental, mas com resultados... promissores, mesmo em casos considerados terminais como o de seu filho."

Yashiro estreitou os olhos, a desconfiança ainda presente. "Droga experimental? Que tipo de efeitos colaterais ela pode ter?"

O homem suspirou levemente, como se a pergunta fosse uma formalidade tediosa. "Ah, sim, os efeitos colaterais. Como é experimental, devemos ser transparentes. Há uma probabilidade, embora mínima, de efeitos colaterais. Eles podem variar desde algo... insignificante, até algo mais... significativo. Não podemos prever com exatidão." Ele fez uma pausa dramática. "No entanto, devo enfatizar que a probabilidade de sucesso, de cura completa de Yuri, é de praticamente cem por cento."

Ele alcançou um envelope interno do sobretudo e retirou um documento dobrado. "Este é um termo de consentimento. Ele detalha a natureza experimental do tratamento e os possíveis riscos. Se desejarem prosseguir, precisarei da assinatura de ambos."

Yashiro pegou o documento com a mão trêmula, mas mal olhou para o conteúdo. O desespero de perder o filho toldava qualquer raciocínio lógico. Keiko olhava para o homem com uma intensidade quase selvagem.

"Onde assinamos?" perguntou Yashiro, a voz rouca pela emoção.

O homem sorriu, satisfeito. "Aqui." Ele apontou para as linhas designadas no final do documento.

Sem trocar uma palavra, com as mãos ainda tremendo, Yashiro e Keiko assinaram o termo. A esperança desesperada de salvar o filho superava qualquer medo dos desconhecidos "efeitos colaterais". Naquele corredor frio e impessoal, selavam um pacto incerto, sem imaginar as consequências extraordinárias que sua decisão traria.

A surpresa indesejada.

A luz pálida do hospital filtrava-se pelas persianas, pintando o quarto com um tom monótono. Yuri Takashi abriu os olhos lentamente, a cabeça latejando com uma dor surda e uma sensação de fraqueza que o envolvia como um manto pesado. O teto branco e as paredes claras eram estranhamente familiares, mas ao mesmo tempo, algo parecia... diferente.

Ele tentou se mover, mas seus membros pareciam pesados, como se estivessem cheios de areia. Um leve zumbido preenchia seus ouvidos, e por um momento, ele simplesmente ficou ali, desnorteado, tentando processar onde estava e o que havia acontecido. Estava sozinho no quarto, e o silêncio era quase opressor.

Um desconforto sutil começou a se manifestar em seu peito, uma sensação de peso e sensibilidade que ele não reconhecia. Intrigado, Yuri levou uma das mãos ao peito, apalpando sem querer. Seus dedos encontraram uma maciez inesperada, uma protuberância que definitivamente não deveria estar ali.

Seus olhos se arregalaram. Ele apalpou novamente, com mais força, sentindo a curva e o volume que se formavam sob a fina camisola hospitalar. Não era um músculo, nem inchaço. Eram seios.

Um arrepio gelado percorreu sua espinha. A respiração de Yuri ficou ofegante, acelerada, enquanto um medo primordial começava a se instalar em seu estômago. Ele se sentou abruptamente na cama, o coração batendo descontroladamente contra as costelas. O que era aquilo? Uma alucinação? Um efeito da medicação?

Com as mãos trêmulas, ele puxou a camisola para baixo, revelando a pele pálida e... a curva inegável de dois seios em seu peito. O choque foi avassalador. Não podia ser. Era um erro, uma piada cruel.

Em um acesso de desespero crescente, Yuri jogou as pernas para fora da cama, sentindo um peso e uma estranheza entre elas. Aquele era o seu corpo, mas não era. A sua intimidade masculina, que ele conhecia tão bem, que era parte intrínseca de sua identidade, havia desaparecido. No lugar, havia uma sensação diferente, uma ausência e uma presença que o aterrorizavam.

Um grito sufocado escapou de sua garganta. Yuri se encolheu na cama, as mãos cobrindo o rosto, as lágrimas brotando incontrolavelmente. O pânico o dominou completamente, um terror visceral que o fez tremer da cabeça aos pés. Ele não era mais Yuri Takashi, o valentão, o líder da Red Dragon. Ele era... ela. E o mundo, como ele o conhecia, acabara de desmoronar.

O grito agudo de Yuri ecoou pelo corredor silencioso, atravessando as portas fechadas. Dentro do quarto, a enfermeira Ayumi, que passava por ali, parou abruptamente, o coração disparado. Aquela não era a voz do jovem paciente que ela havia deixado dormindo.

Sem hesitar, Ayumi abriu a porta e entrou no quarto. A cena que encontrou a fez congelar. No lugar do jovem musculoso e intimidante que ela conhecia como Yuri Takashi, havia uma figura encolhida na cama, os joelhos apertados contra o peito, o rosto escondido pelas mãos, e o corpo... o corpo era inegavelmente feminino. Uma linda e aparentemente frágil garota, com a pele pálida e os cabelos negros espalhados pelo travesseiro, tremia incontrolavelmente.

"Yuri-kun...?" Ayumi murmurou, a voz embargada pelo choque. Ela se aproximou hesitante, mas ao ver o estado de pânico absoluto da paciente, sua mente de enfermeira assumiu o controle.

Rapidamente, ela estendeu a mão e apertou o botão vermelho de emergência na parede. Um bipe alto e insistente rompeu o silêncio do quarto, chamando um médico.

Minutos depois, a porta se abriu novamente e o Dr. Tanaka, um médico experiente e geralmente inabalável, entrou apressado, o rosto franzido em preocupação.

"O que houve, enfermeira Ayumi? O alarme..." Ele parou abruptamente, seus olhos fixando-se na cama. Sua expressão de preocupação deu lugar a um choque atônito, quase descrença. Seus olhos percorreram a figura encolhida, desde os cabelos negros até a forma delicada sob a camisola.

"Doutor... eu... eu não sei o que aconteceu", Ayumi balbuciou, ainda em estado de choque. "Ele... ele era um garoto, e agora... agora é uma garota!"

Dr. Tanaka aproximou-se da cama, o rosto uma máscara de confusão e perplexidade. Ele tocou o ombro de Yuri, que se encolheu ainda mais, soluçando. O médico fez um rápido exame visual, e um suspiro pesado escapou de seus lábios.

"Isso... isso não é possível", ele murmurou, mais para si mesmo do que para Ayumi.

A enfermeira, ainda chocada, perguntou em voz baixa: "O que foi isso, Doutor? É algum tipo de... de reação?"

Dr. Tanaka recuou um passo, passando a mão pelo cabelo grisalho. Ele olhou para Ayumi, os olhos cheios de uma preocupação sombria.

"A droga experimental", ele sussurrou, quase inaudível. "Aquela que os pais assinaram o termo. Aquela farmacêutica... eles disseram que era ultra secreta, que não podiam dar muitos detalhes, mas que havia uma probabilidade de efeitos colaterais 'significativos'."

Ele gesticulou vagamente para a figura tremendo na cama. "Aparentemente, isso... isso é o que eles consideram 'significativo'." O médico balançou a cabeça, a voz carregada de um misto de espanto e frustração. "Eles não explicaram nada além disso. Disseram apenas que era uma cura garantida, mas com consequências imprevisíveis. Nunca imaginei que seria algo assim."

O quarto foi preenchido por um silêncio pesado, quebrado apenas pelos soluços abafados de Yuri. A realidade da situação, bizarra e aterrorizante, pairava no ar. A cura havia vindo, mas a um preço que ninguém poderia ter previsto.

O chamado urgente do hospital trouxe Yashiro e Keiko de volta à realidade, mas nada os preparou para o que viria. Eles correram pelos corredores, a ansiedade misturada a uma ponta de esperança, até a porta do quarto de Yuri. Ao entrarem, o choque foi imediato e brutal.

Na cama, onde esperavam encontrar seu filho, o forte e problemático Yuri, estava uma figura esguia e delicada, com os cabelos negros espalhados pelo travesseiro, o rosto pálido e os olhos vermelhos de tanto chorar. A camisola hospitalar caía suavemente sobre as formas femininas que agora ele possuía.

Keiko soltou um grito abafado, as mãos cobrindo a boca. Seus joelhos cederam, e ela desabou no chão, as lágrimas jorrando incontrolavelmente. "Meu filho... meu Deus, meu filho! O que fizeram com você, Yuri?" Seu choro era um lamento dilacerante que encheu o quarto.

Yashiro, por outro lado, reagiu com uma fúria descrente. Seus olhos, antes cheios de preocupação, agora ardiam com uma raiva cega. Ele avançou sobre o Dr. Tanaka, que estava ao lado da cama, e o agarrou pelo jaleco branco, a voz rouca de desespero e indignação.

"Onde está meu filho?! Onde está Yuri?!" ele bradou, sacudindo o médico. "Eu quero meu filho de volta! O que é isso? Que tipo de brincadeira doentia é essa? Cadê meu campeão, doutor?!"

Dr. Tanaka tentou se desvencilhar, o rosto contorcido em uma mistura de constrangimento e impotência. "Senhor Takashi, por favor, acalme-se! É Yuri! Ele... ele está aqui."

"Não! Esse não é meu filho! Meu filho é um garoto, um homem! Isso... isso não é Yuri!" Yashiro gritava, apontando para a figura encolhida na cama, a voz embargada pela dor e pela negação.

Yuri, que até então estava imerso em seu próprio pânico, observava a cena com uma tristeza profunda que o atingiu em cheio. As palavras de seu pai, a negação de sua identidade, perfuraram seu coração já fragilizado. Além do choque avassalador de sua própria transformação, agora ele estava lidando com a crua e dolorosa realidade da possível rejeição de seus pais. Aquele olhar de horror e descrença no rosto de Yashiro, o desespero inconsolável de Keiko, tudo se somava ao seu próprio tormento. O mundo havia virado de cabeça para baixo, e ele se sentia mais sozinho do que nunca em seu novo e estranho corpo.

Em busca de respostas.

O Dr. Tanaka tentou argumentar, explicar os termos do contrato que Yashiro e Keiko haviam assinado às pressas, mas suas palavras se perdiam no turbilhão de emoções. Yashiro, com o rosto vermelho de raiva e descrença, finalmente soltou o médico, mas sua voz ainda era um trovão contido.

"Eu não me importo com contrato nenhum! Vocês transformaram meu filho em... em outra pessoa! Devolvam meu Yuri! O que é essa clínica? Onde fica? Eu vou processar cada um de vocês!"

Keiko, no chão, começou a soluçar ainda mais forte, um lamento que cortava o ar. "Meu filho... minha vida... Yuri, por que, meu amor? Por que eles fizeram isso com você?"

Yuri, encolhida na cama, sentia cada palavra como uma facada. O "Yuri" que seus pais queriam de volta não existia mais. A raiva do pai, a dor da mãe, tudo se misturava ao seu próprio terror e confusão. Ela era um estranho em seu próprio corpo, e agora, parecia que era uma estranha para sua própria família.

O Dr. Tanaka, vendo que a conversa não levaria a lugar nenhum naquele momento de crise, decidiu recuar, prometendo providenciar os detalhes da clínica para onde Yuri seria transferida, conforme o "tratamento" exigia. Ele saiu do quarto, deixando a família em seu tormento particular.

Os dias que se seguiram foram um borrão de desespero e incompreensão. Yashiro, consumido pela fúria, dedicou-se a investigar a misteriosa clínica e os "cientistas" que, segundo ele, haviam mutilado seu filho. Ele fez ligações incessantes, vasculhou a internet, encontrou-se com advogados, mas todas as pistas pareciam levar a becos sem saída ou a informações vagas e contraditórias. A empresa farmacêutica parecia fantasma, ou tão bem escondida que era impossível rastreá-la.

Enquanto isso, Keiko oscilava entre a negação e uma tristeza profunda. Ela trazia as refeições de Yuri para o quarto, mas mal conseguia olhar para a filha, evitando o contato visual. Quando falava, era com uma voz trêmula, chamando-a de "meu amor" ou "filho", mas nunca pelo seu nome, Yuri, em sua nova identidade. A cada vez que Yuri tentava articular o que sentia, a dor e a frustração da mãe apenas aumentavam, resultando em mais choro e silêncio.

Para Yuri, cada momento era uma tortura. As roupas, os espelhos, até mesmo sua própria voz – tudo era estranho, alienígena. Ela tentava entender quem era agora. A figura imponente e temida de Yuri Takashi, o líder do Red Dragon, parecia uma memória distante, quase de outra vida. Quem era essa garota frágil e assustada que o espelho refletia?

Uma parte dela, a antiga Yuri, ainda sentia a fúria e a resistência. Ela se recusava a aceitar aquilo. Tentava, inutilmente, forçar seu corpo a voltar ao que era, batendo contra o que via no reflexo, como se pudesse quebrar a ilusão. Mas a cada tentativa frustrada, a dura realidade se impunha, e a sensação de impotência se aprofundava.

A velha gangue, o Red Dragon, estava em polvorosa. Notícias do "desaparecimento" de seu líder se espalharam, misturadas a boatos estranhos sobre seu desmaio e hospitalização. Sem Yuri, a hierarquia da gangue começou a balançar, e velhos rivais aproveitaram a oportunidade para tentar dominar o território. A ausência de Yuri não era apenas uma lacuna familiar, mas um vácuo de poder no submundo adolescente de Shibuya.

Em meio a esse caos, uma verdade fria começou a se instalar em Yuri: a cura, que deveria ser uma bênção, havia se tornado uma maldição. Ela estava viva, sim, mas em um corpo que não reconhecia, em uma família que não a aceitava, e em um mundo que não fazia mais sentido. A luta contra o tumor havia terminado, mas uma nova e muito mais complexa batalha acabara de começar: a batalha por sua própria identidade e por um lugar em um mundo que a havia virado de cabeça para baixo.

A fúria de Yashiro, alimentada pela inação e pelo desespero, atingiu um ponto de ebulição. A impossibilidade de rastrear a clínica e a sensação de que seu filho havia sido roubado o impeliram a uma medida drástica. Apesar dos apelos chorosos de Keiko, que temia a exposição e o julgamento público que recairiam sobre Yuri, Yashiro estava determinado a encontrar respostas, custe o que custasse.

Ele procurou os grandes veículos de imprensa. No início, houve ceticismo, mas a história de um adolescente desaparecido do hospital após um tratamento "experimental" e a angústia palpável de um pai desesperado logo capturaram a atenção. Em poucos dias, o caso Yuri Takashi explodiu na mídia japonesa. Reportagens investigativas pipocavam nos telejornais, artigos de jornal detalhavam a busca frenética de Yashiro, e a imagem antes temida de Yuri, agora sobreposta pela figura de uma garota frágil, estampava capas de revistas.

Yashiro apareceu em programas de entrevistas, seu rosto cansado, mas seus olhos queimando com uma determinação implacável. Ele implorava por informações, descrevendo o homem misterioso do sobretudo escuro e o dilema que o levou a assinar aquele termo de consentimento. Sua voz embargada pela emoção ressoava em milhões de lares, mobilizando a opinião pública em busca de justiça para seu filho.

No entanto, a cada dia que passava, a esperança de Yashiro se chocava contra um muro intransponível. Apesar de toda a comoção, de todos os holofotes, a clínica parecia não existir. As autoridades investigaram, mas não encontraram registros, licenças ou sequer um endereço físico para a tal farmacêutica. Era como se o homem misterioso e a droga experimental tivessem surgido do nada e, após a transformação de Yuri, tivessem simplesmente evaporado. Teorias da conspiração começaram a surgir: uma experiência clandestina do governo, uma organização secreta, ou até mesmo um golpe elaboradamente cruel.

Para Yuri, confinada em casa enquanto a imagem do seu "antigo eu" e a sua nova realidade eram dissecadas publicamente, a exposição era uma faca de dois gumes. Por um lado, sentia-se invadida, exposta, observando sua tragédia pessoal virar um espetáculo. Por outro, havia uma estranha sensação de alívio por não ser a única a carregar aquele peso. Mas o fato de que nem mesmo a mídia, com todo o seu poder de alcance, conseguia desvendar o mistério, apenas aprofundava a sensação de que estava presa em uma armadilha sem saída. A cada nova reportagem que não trazia respostas, a verdade inegável se impunha: a vida de Yuri Takashi, o líder da Red Dragon, havia chegado ao fim de uma forma irreversível. E agora, ela teria que aprender a viver com as consequências.

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