Os Alfas do Eclipse
Capítulo 1 — A Noite dos Três Sóis
Naquela noite, em Vireon, as estrelas não dançavam — elas se contorciam, como se uma força invisível arrastasse seus destinos pelo firmamento. O vento vinha do sul, mas trazia areia do norte. O ar, pesado como veludo úmido, cheirava a ferro e flores mortas. E os pássaros... haviam desaparecido. Nenhum canto, nenhum bater de asas. Apenas o sussurro das árvores e o som abafado do próprio sangue pulsando nos ouvidos de quem ousasse ouvir.
No topo das Escadarias de Pedra, Kael Vireon estava imóvel diante do altar ancestral do seu clã, esculpido no formato de uma lança cravada no centro de um eclipse. O brasão dos Vireon. Uma arma e uma profecia.
Seu corpo, envolto no manto escuro com detalhes prateados, parecia esculpido em obsidiana viva. As marcas antigas em seus braços brilhavam em prata líquida, pulsações que aumentavam a cada minuto que se passava
Os olhos âmbar dourado estavam fixos no céu, e a mandíbula cerrada denunciava o que ele sentia, mesmo sem compreender: a ordem natural das coisas estava prestes a ruir.
Kael Vireon
— O eclipse... não deveria acontecer agora — murmurou ele, quase para si.
Os monges atrás dele também haviam parado, silenciosos, como se tivessem esquecido o que estavam fazendo. Um deles, um velho caiu de joelhos. Seus lábios tremiam.
monge
— Está... cedo demais.
Kael virou o rosto, seus cabelos longos dançaram com o vento. O velho tremia, olhando o céu.
monge
— Era para ser daqui a cem anos... o alinhamento... os três sóis...
Mas lá estavam eles. As três luas transformadas em sóis prateados. Um fenômeno que sequer os anciãos vivos já haviam testemunhado. E no centro do céu — uma abertura negra, redonda, flamejando em ouro. Um eclipse reverso. Um buraco para outro tempo.
E foi nesse instante que a marca em seu peito queimou.
Kael caiu de joelhos, com a respiração presa. Uma dor seca atravessou sua espinha como uma lâmina. Não era física. Era antiga. Era mágica. Era como se alguém tivesse pronunciado seu nome no plano dos mortos.
....
"Kael Vireon", sussurrou uma voz que não existia.
Ele viu, por um momento, sete figuras em sombras e luz — algumas com asas, outras com chamas, outras com garras ou olhos de serpente. Não reconheceu nenhuma, mas sentiu que fazia parte delas. Seus corações batiam em uníssono. E então, silêncio. Uma escuridão profunda.
Quando voltou a si, Kael estava sozinho. O altar, agora rachado no centro, soltava uma fumaça azulada que se espalhava lentamente pelo chão. Os monges haviam desaparecido. As estrelas, apagadas. E os três sóis... haviam se dissolvido como se nunca tivessem existido.
Mas algo permanecia: a marca em seu peito tinha mudado.
Um novo símbolo havia surgido sob sua pele — uma linha circular com oito pontas ao redor de um eclipse.
Kael Vireon
— Isso não é uma marca — ele sussurrou. — É um selo.
Kael se levantou, seus olhos já não brilhavam em dourado. Brilhavam em vermelho vivo.
Algo havia despertado.
Mas ele ainda não sabia o quê.
E em outros reinos do mundo… o mesmo eclipse foi visto.
Mas cada um o sentiu de forma diferente. Em Lunemaris, as águas pararam de se mover. Em Dathyrion, as chamas apagaram por um minuto. Em Altharan, os corvos ficaram em silêncio. Em Sahar Khepri, as serpentes começaram a cantar.
O eclipse não escolheu um. Escolheu oito.
E o mundo jamais será o mesmo.
mee
oii gntt, primeiro cap aqui, espero que gostem 🫶🏻
Capítulo 2 — O Céu que Não Dorme
Havia paz no alto de Altharan.
Mas era uma paz frágil, feita de silêncio forçado e luz que não aquecia.
Os monges diziam que a cidade pairava entre o plano físico e o plano celestial, suspensa pelas bênçãos dos antigos, acima das nuvens e longe dos pecados do mundo.
Auren Lys nunca acreditou completamente nisso.
Ele caminhava sozinho entre os pilares do templo branco, os pés descalços tocando o mármore gelado enquanto a túnica dourada flutuava com o vento invisível. O céu sobre sua cabeça era límpido — demais. Azul pálido, eterno, cansado. Nenhuma nuvem. Nenhuma ave. Só o sol parado no meio do dia, como se recusasse a seguir adiante.
Seu peito doía de leve, como uma saudade que não tinha dono.
Não havia marca. Não havia sinal.
Mas havia algo… deslocado.
Ele ergueu os olhos.
E viu.
Uma rachadura na luz.
Era pequena. Quase imperceptível. Uma fenda dourada no próprio céu.
Como se a perfeição tivesse começado a quebrar.
Ele não sentiu medo. Mas sentiu… memória.
O mesmo som do sino ancestral tocou em sua mente — o som que nunca mais havia sido ouvido desde o Julgamento de Arhael, séculos atrás.
Auren Lys
— Isso não pode ser real — ele murmurou.
Um dos monges se aproximou em silêncio, ajoelhando-se com reverência. Trazia um objeto coberto por um véu branco. Auren olhou, confuso.
mee
gnt um aviso rápido, a imagem do monge vai ser a mesma do outro.
monge
— Encontramos em uma escavação nas ruínas da Primeira Torre — disse o monge. — Era um relicário selado. Ele se abriu sozinho hoje… ao meio-dia exato.
No centro do relicário, havia uma pedra oval, negra como noite, com um símbolo esculpido em ouro: um eclipse cercado por oito círculos menores.
Aquilo não pertencia a nenhum credo que ele conhecia. Nenhum selo celestial. Nenhuma tradição sagrada.
Mas ainda assim…
Parecia familiar.
Auren tocou a pedra.
No mesmo instante, uma visão o atingiu.
Um céu em chamas. Um templo desmoronando. O som de passos sobre sangue. E cinco figuras em silêncio, olhando para ele.
Ele caiu de joelhos, arfando.
O monge tentou segurá-lo, mas Auren ergueu a mão com firmeza.
Seus olhos brilhavam em prata viva, como se houvesse tocado o plano divino.
Auren Lys
— Não é uma visão comum — disse ele. — É uma convocação.
monge
Auren não respondeu.
Porque, em seu íntimo, ele sabia:
Aquilo não vinha do céu.
Mas também não vinha da terra.
Naquela mesma noite, Auren ficou em silêncio diante do altar do Vórtice Sagrado.
E pela primeira vez em todos os seus anos, a luz da bênção não brilhou sobre ele.
O céu se calou.
E algo dentro dele acordou.
Enquanto isso, em reinos distantes, outros também olhavam o céu, sentindo que algo havia mudado — mas sem saber que estavam todos ligados.
O Eclipse já havia tocado o terceiro escolhido.
Capítulo 3 — O Sopro que Vem das Profundezas
O mar sempre falou com Rhazien Thorne.
Não com palavras. Mas com pulsações, vibrações, sensações que só ele parecia escutar. Desde muito jovem, as águas o reconheciam. E ele as obedecia — não por temor, mas por instinto.
Nas cavernas submersas de Lunemaris, reino oculto sob o oceano, as marés eram antigas demais para qualquer idioma. Corriam entre pilares de sal e pedra encantada, circulando como serpentes líquidas que sussurravam nomes esquecidos. E Rhazien era o único a caminhar entre elas sem ser arrastado.
Seus passos descalços sobre o chão molhado não faziam som.
Seu corpo — marcado por traços de magia azul que cintilavam com a luz das profundezas — era um templo. E seus olhos, de um azul sobrenatural, refletiam os movimentos invisíveis do mundo como espelhos invertidos.
Não por escolha, mas porque ninguém conseguia estar muito tempo perto dele sem sentir que algo maior os observava através da pele de Rhazien.
Naquela noite, ele emergiu do lago sagrado. A água escorria lenta pelo corpo nu, serpenteando por suas tatuagens como se também sentisse algo errado.
Ele se vestiu em silêncio. Tecidos leves, escuros. Braceletes de conchas mortas. Um pingente com uma pedra que nunca resfriava. E seguiu pelas passagens úmidas até o Trono do Abismo — um altar esculpido diretamente no osso de uma criatura marinha que não existia mais.
Ali, ele costumava meditar.
Mas naquela noite, a água não o escutava.
Ela se contorcia, batia nas paredes, girava em redemoinhos. Parecia… confusa. A magia, instável.
Rhazien se ajoelhou, pousando as mãos sobre a superfície líquida. Fechou os olhos e sentiu.
E o que sentiu, não era mar.
Era um vazio muito antigo, vindo de um lugar onde nem a luz nem as marés alcançavam.
Uma pressão invisível, como se algo estivesse se mexendo no fundo do mundo.
Um ponto luminoso piscava sob a água — uma pedra circular com uma rachadura que soltava um brilho dourado fraco. Ele mergulhou para pegá-la.
Assim que tocou, o mundo girou.
Espirais negras no céu.
Cinzas caindo como neve.
Quatro figuras em pé sobre colunas, olhando para ele.
E uma voz sem dono, sem gênero, sussurrando dentro da água:
....
— Você não está sozinho.
Rhazien emergiu num rompante.
Respirou fundo, ofegante. A água ao redor tremia.
O altar, rachado.
A pedra? Sumida.
Mas no reflexo do lago, viu seu próprio peito… marcado por uma linha azulada em forma de eclipse.
Ele passou a mão.
Nada ali.
Mas ele sentia. Dentro da carne. No sangue.
Rhazien Thorne
— Há algo… se movendo — sussurrou, encarando a escuridão além da caverna.
E o mar, que sempre sussurrava, naquele momento ficou mudo.
Três alfas já sentiram. Três reinos já foram tocados.
Mas nenhum deles conhece o outro.
E todos carregam a mesma sensação:
Algo está faltando.
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