O portão da escola se abria alto e lento, revelando os corredores já familiares da U.A. para alguns. Para outros, como Midoriya Izuku, era o começo de uma nova fase — e talvez o reencontro que ele nem sabia que precisava.
A mudança da Coreia para o Japão tinha sido repentina, e apesar de saber japonês fluentemente, o sotaque coreano escorregava por entre as palavras como um lembrete suave de onde ele vinha. A mãe dele, Inko, decidira voltar para perto da família depois do divórcio. A cidade escolhida? Musutafu. E por um acaso do universo — ou não tão acaso assim — o bairro de Bakugou Katsuki.
Izuku sabia o nome. Conhecia o dono da voz grave que falava com ele toda noite por chamada de vídeo.
Eles webnamoravam. Há quase um ano.
Nunca se viram pessoalmente. Nunca se tocaram. Mas sabiam tudo um do outro — até os horários de sono, o cheiro preferido de shampoo, e os apelidos bobos que trocavam escondidos.
“Kacchan…” Izuku sussurrou o apelido com carinho enquanto entrava pelo portão. Nem sabia se ele estaria ali.
Mas ele estava.
Bakugou Katsuki já estava sentado na sua carteira, mochila pendurada de qualquer jeito e o rosto meio emburrado de sono. As férias tinham terminado — e o humor também. Seus olhos se abriram mais quando o diretor entrou na sala, com um aluno novo do lado.
— Alunos — disse o diretor — Esse é Midoriya Izuku. Se mudou recentemente da Coreia e vai estudar com vocês a partir de hoje.
Izuku fez uma reverência educada. O uniforme da U.A. caía bem no corpo fino e delicado, e o cheiro dele, mesmo controlado por supressores, ainda tinha uma doçura natural. Sinal claro de um ômega.
— Pode se apresentar — incentivou o professor Aizawa, deitado no saco de dormir no canto da sala como se fosse um tapete velho.
— E-Eu sou Midoriya Izuku, tenho dezesseis anos… Gosto de história e… ah, ainda tô me acostumando com o japonês de novo, então se eu errar, me desculpa… — ele sorriu, e algumas garotas já começaram a cochichar.
— Ele tem sotaque! Que fofo!
— Parece um idol, né?
— Será que é ômega?
Bakugou sentiu a nuca arrepiar.
Ele conhecia aquela voz. Conhecia cada trejeito. A cada segundo, mais certeza.
Era ele.
— Vai se sentar onde? — perguntou Kaminari, curioso.
O professor pegou a folha da divisão de mesas. — Ah, sim. Este ano, como nova organização, vocês vão dividir as carteiras em duplas. Midoriya Izuku ficará com…
— Bakugou Katsuki.
O silêncio foi absoluto. Bakugou travou a mandíbula.
"Isso é pegadinha, né?!" pensou ele, olhando pro céu invisível com raiva.
Izuku, por sua vez, ficou parado no mesmo lugar por alguns segundos. Os olhos verdes arregalados. E então… ele sorriu.
Um sorriso pequeno, mas cheio de significados.
Ele caminhou devagar até a mesa. Katsuki ainda o encarava como se o tempo tivesse congelado.
— Oi, Kacchan.
A palavra caiu como uma pedra na água — fazendo ondas em todas as direções dentro do peito de Bakugou.
— Izuku…? — ele respondeu baixo, os olhos arregalados como se estivesse vendo um fantasma.
— Em carne e osso. — Izuku piscou, voltando para o coreano rapidinho, só entre eles.
Katsuki engoliu em seco.
As mãos começaram a suar. O cheiro de alfa lúpus se intensificou no ar, mesmo com o colar de controle preso ao pescoço. E o mais perigoso: o cheiro de Izuku também começou a vazar, ainda que levemente — era como um doce amadeirado, aconchegante, quase feromônio puro.
Aizawa levantou um olho só. — Supressores, agora, os dois.
Eles obedeceram.
No intervalo, Izuku puxou Katsuki pra um canto da escada. Estavam praticamente sozinhos. A escola ainda estava digerindo a bomba que era "Midoriya Izuku na mesma mesa que Bakugou". Alguns diziam que eles já brigaram na primeira troca de palavras. Mal sabiam…
— Por que você nunca me disse que era daqui?! — Katsuki gritou em voz baixa, o coração batendo forte.
— Você também não me contou, Kacchan! Eu não sabia que era a sua cidade! Achei que era coincidência!
Katsuki coçou o cabelo. — Isso é coisa do destino, porra… só pode.
— Ou da minha omma, que me mudou pra cá do nada…
— Espera… sua mãe tá aqui?!
— Uhum. Quer conhecer?
— Nem fodendo. Se a Mitsuki souber que eu tô namorando um ômega, vai surtar.
— Você tá dizendo isso como se ela fosse calma normalmente. — Izuku riu.
— É. Verdade.
No fim do dia, Bakugou acompanhou Izuku até o portão. Não andavam juntos na frente dos outros, mas os olhares diziam tudo.
Antes de ir, Izuku segurou o braço de Katsuki com carinho. Os olhos se encontraram.
— Você parece mais bonito de perto, Kacchan…
Katsuki bufou, vermelho.
— Cala a boca, coelho. Vai logo, antes que eu te morda aqui mesmo.
Izuku corou até as orelhas. — …Você ainda tem essa mania de ameaçar morder?
— Eu sou alfa lúpus, caralho. O que você esperava?
— Que você me mordesse de verdade.
Silêncio.
Bakugou travou.
Izuku sorriu e virou as costas, andando até o portão, deixando o alfa com o coração pulando como louco no peito.
🌙✨ Cena pós-capítulo: Família Bakugou (porque sim)
Mitsuki: — P*RRA, KATSUKI! QUEM ERA AQUELE ÔMEGA TE OLHANDO COM OLHO DE GATO NO PORTÃO?!
Katsuki: — Ninguém, VELHA, ME DEIXA EM PAZ!
Masaru (calmo, tomando chá): — Você tá mais cheiroso hoje, filho. Tá no cio?
Katsuki: — PAI!!
(Vou mandar 2 capítulos por dia por enquanto, tchau amores)
[HORARIOS DE LANÇAMENTO: TODO DIA AS 18:30 ATE AS 18:34!!]
A noite em Musutafu estava calma. O ar morno do fim de primavera se espalhava pelas ruas e invadia os quartos mal ventilados da cidade. No bairro onde morava Bakugou Katsuki, no entanto, calma era uma palavra rara.
Na casa de número 31 da rua lateral, ele estava deitado de barriga pra cima, com a camiseta arregaçada até o peito e os cabelos espetados apontando para todos os lados, como se tivesse brigado com um tufão. Mas não era bem isso.
Era só que ele tinha acabado de sair do banho, e o pensamento estava longe. Mais especificamente, estava no garoto coreano de olhos grandes que tinha chamado ele de "bonito" hoje cedo.
"Que merda…", pensou ele, virando o rosto no travesseiro com um grunhido. O celular vibrou. Ele nem pensou — atendeu antes mesmo da segunda vibração.
— …Oi. — a voz saiu rouca, baixa.
— Kacchan…?
O som veio doce, com o leve sotaque que fazia o coração de Bakugou se contorcer de nervoso e tesão ao mesmo tempo. Era Izuku.
— É. Eu mesmo. — Ele se ajeitou, ligando o modo "calmo" que só usava com ele. — Tá ligando por quê? Não que eu me importe…
— Só queria falar com você… — a voz do outro saiu baixa. — Queria ouvir sua voz.
Katsuki respirou fundo, tentando não sorrir — e falhou miseravelmente.
— Aish… Você me liga com essa voz, coelho… Tá tentando me matar, é?
Do outro lado da linha, Izuku riu baixinho.
— Mas sério, — continuou ele, agora mais animado — o que aconteceu na sua casa hoje? Quando eu tava saindo do portão da escola, ouvi um grito. Era sua mãe, né?
Katsuki bufou, rolando os olhos como se Izuku pudesse ver.
— Velha do caralho… — ele murmurou, se sentando. — Quando ela grita assim é porque achou alguma coisa suspeita.
— Tipo o quê?
— Tipo meu perfume mudado. Ou quando eu chego em casa sorrindo.
— Você chegou sorrindo?! — Izuku quase gritou do outro lado. — Sério?!
— Eu nem percebi, tá?! — Katsuki passou a mão no rosto. — Ela já me olhou de cima a baixo e soltou aquele “Pirralho, você tá com cheiro de cio alheio?!” na minha cara. Juro que o Masaru até derrubou o chá.
Izuku se encolheu de tanto rir. A imagem da Mitsuki gritando enquanto o pai tomava chá calmamente era quase um teatro cômico.
— E o que você respondeu?
— Que ela tava delirando. Mas ela ficou rondando o andar inteiro igual uma leoa. Começou a farejar minha mochila!
— Kacchan! — Izuku tentava conter a risada, mas estava vermelho até a orelha do outro lado da ligação. — E você não falou nada sobre mim, né?
— Claro que não, porra! Você acha que eu sou burro?! — ele abaixou a voz. — Ainda mais agora… A gente tá perto. Qualquer deslize e ela vai colar na sua perna pra investigar.
Izuku se deitou de lado na cama, o celular encostado na bochecha. — Eu queria que ela soubesse… um dia.
Katsuki ficou em silêncio por um momento. A respiração dele ficou um pouco mais lenta.
— …Eu também.
Silêncio confortável.
— Você tava lindo hoje. — Izuku murmurou de repente, baixinho, como se tivesse vergonha de dizer.
— …Hã?
— Você. Na sala. Com aquele uniforme meio amassado, o cabelo molhado de suor… lindo.
Katsuki sentiu a temperatura do corpo subir.
— Ah, não começa com isso agora, porra…
— Mas é verdade. E você também tava com cheiro bom. Mesmo com o supressor.
— É. E você tava perigoso. — Katsuki fechou os olhos. — Se não fosse na escola, eu tinha te arrastado pra trás da quadra.
— Kacchan! — Izuku ficou todo envergonhado. — Você não pode falar isso agora! Eu vou sonhar com isso!
— E daí? Sonha mesmo. — A risada de Katsuki veio baixa e rouca. — Eu vou sonhar também. Com você de novo. E dessa vez…
BAM!
Um estrondo interrompeu a ligação. Ou melhor — o som de uma porta sendo aberta com brutalidade.
— PIRRALHO!! COM QUEM VOCÊ TÁ FALANDO ÀS DEZ E MEIA DA NOITE?!
Katsuki jogou o celular longe, caindo da cama no processo.
— VELHAAAA!! TÁ MALUCA?! BATE NA PORTA, PORRA!!
— EU BATI! BATI COM O PÉ NA SUA CARA SE EU PUDESSE! TÁ FALANDO COM QUEM, PIRRALHO?
— NINGUÉM! É UM TRABALHO DE ESCOLA! UM ÔMEGA LÁ FALANDO DE HISTÓRIA, SÓ!
— UM ÔMEGA, É? TÁ NO CIO, É? QUER QUE EU TRAGA UM BALDE DE ÁGUA FRIA?
— MÃE!!!
— AFFFF. Eu era uma deusa na juventude, e agora criei um adolescente tarado. Obrigada, universo.
Mitsuki bateu a porta com tanta força que o Masaru, lá da sala, apenas comentou:
— Foi o travesseiro dela ou a porta dessa vez?
Katsuki respirava com dificuldade. Corado, nervoso, e com o orgulho ferido.
O celular ainda estava conectado. Ele o pegou de volta com a mão trêmula.
— …Você ouviu, né?
Do outro lado, Izuku estava desabando de rir.
— KACCHAN, EU NÃO AGUENTO ESSA MULHER!! — ele mal conseguia respirar. — "EU ERA UMA DEUSA NA JUVENTUDE" FOI O MELHOR!!
— Eu vou me mudar. Amanhã.
— Fica aí! Eu quero mais dessas histórias!
— Sádico.
— Te amo, Kacchan.
Silêncio. A respiração de Bakugou parou por um segundo.
Depois, ele respondeu baixo, quase como um segredo:
— …Também te amo, coelho.
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🌟 Cena bônus: Mitsuki na sala com Masaru
— Ele tava rindo no quarto, Masaru. Ele só ri assim por dois motivos: ou o Kaminari tá mandando meme idiota… ou ele tá apaixonado.
— Você era igual. Quando me conheceu, ria até do café.
— Sim, mas eu não gemia no telefone aos doze anos, Masaru.
— Você tinha treze.
— Cale a boca.
O segundo dia de aula parecia normal.
Parecia.
Izuku sentou ao lado de Katsuki como se já fosse rotina. Como se aquele lugar fosse seu desde o início — como se seu destino sempre tivesse sido aquele: dividir a carteira com o garoto que chamava de Kacchan há quase um ano por mensagem. A sala ainda falava sobre ele, claro. Mas hoje, Izuku não estava nervoso.
Ele estava inquieto.
Porque quando os olhos dele encontravam os de Bakugou, havia um fogo silencioso, uma promessa não dita. A lembrança da noite passada ainda queimava. Não apenas as palavras, mas o "também te amo" que Izuku ouviu antes de dormir, com o rosto enterrado no travesseiro e o coração batendo tão forte que parecia que ia pular do peito.
E agora… estavam ali. No mesmo espaço. No mesmo ar.
E Katsuki não parava de olhar para a boca dele.
Durante a aula de matemática, Izuku passou um bilhete:
> "Atrás da quadra. No intervalo."
Bakugou só olhou de canto, ergueu a sobrancelha e cravou um "Hn." com um meio sorriso.
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Quando o sinal do intervalo bateu, Izuku saiu primeiro. Passou pelos corredores com passos calmos, contornou o prédio e parou atrás da quadra, onde o sol batia com sombra suficiente para esconder dois adolescentes que definitivamente não estavam interessados em esportes naquele momento.
Katsuki chegou dois minutos depois, as mãos nos bolsos e o olhar queimando como sempre.
— Que foi? Vai me dar um poema agora? — ele provocou.
— Não. — Izuku mordeu o lábio, encarando-o. — Vou te beijar.
Silêncio.
O mundo ficou suspenso por um segundo.
E então Katsuki deu dois passos, segurou Izuku pela gola do uniforme e puxou-o pra perto.
— Tá esperando o quê? — rosnou baixo.
Izuku não respondeu com palavras. Só fechou os olhos, subiu nas pontas dos pés e colou seus lábios nos de Katsuki.
O beijo foi quente, urgente e desajeitado no começo. Mas logo, como se fossem feitos pra isso, os dois se alinharam — lábios encaixando, respirações misturadas, o gosto um do outro gravado como pecado novo.
A mão de Katsuki foi pra nuca de Izuku, puxando-o com mais firmeza, como se não quisesse que aquele momento acabasse nunca. Já Izuku agarrava a camisa de Katsuki, tremendo de leve, mas entregue.
— Haa… Kacchan… — ele murmurou entre beijos.
— Cala a boca e continua — sussurrou Katsuki contra sua boca.
Foi aí que a porta do depósito da quadra bateu.
Passos pesados.
— KATSUUUUKIIII!!
Os dois congelaram.
— Você tá escondido de novo, porra? O Aizawa pediu pra você ajudar a carregar os livros de química!! — a voz era inconfundível.
Kirishima Eijirou.
— Merda… — sibilou Bakugou, separando o rosto do Izuku mas mantendo o corpo colado.
Kirishima deu a volta no prédio, reclamando. Ele virou a esquina e—
— AAAAAAAAAAAH.
O som que saiu dele foi um meio grito, meio gargalhada de choque.
— MEU DEUS DO CÉU, BAKUGOU, VOCÊ TÁ SE PEGANDO COM UM ÔMEGA?! — ele levou as mãos à cabeça. — ESPERA… Esse garoto… é o novato?
Bakugou passou a mão no rosto com raiva, bufando.
— Kirishima… Cala a boca.
Mas era tarde demais.
Kirishima estava em modo análise.
— Ele é… ele é branquinho, né?! — os olhos dele estavam arregalados. — Tipo, pele de porcelana mesmo! Aquela brancura que nem o sol consegue queimar! E olha isso — quatro sardinhas em cada bochecha!!
— Kirishima… — Katsuki começou a ranger os dentes.
— E OS OLHOS!! Verde esmeralda puro, parece até desenho. Cabelo verde, bagunçado… EBA, ELE É BAIXINHO! Quanto você tem? 1,66?
— S-sim… — Izuku respondeu, engolindo em seco, corado até as orelhas.
— ISSO!! EU SABIA!! E o sotaque?? FOFO PRA CARAMBA! EU SABIA QUE TINHA ALGO ERRADO QUANDO O BAKUGOU CHEGOU FELIZ ONTEM!
Bakugou deu um passo à frente.
— Kirishima. Última chance de calar a porra da boca antes que eu te enfie de volta na parede da quadra.
Kirishima ergue as mãos, rindo.
— Tá bom, tá bom! Só tô dizendo que, mano… parabéns. Esse novato é um achado. Literalmente. Parece até que saiu de um drama coreano.
— Ele saiu. — Katsuki respondeu seco. — Ele veio da Coreia.
— CARALHO! ENTÃO EU TÔ CERTO!
— TU VAI MORRER, PORRA.
— Calma! Eu juro que não conto pra ninguém! Mas posso fazer uma última pergunta?
— Não.
— Vocês já tão marcados? — Kirishima olhou pros pescoços.
— KIRISHIMAAAAAAAA!!
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🐺🐰 Cena extra: No grupo de mensagens da turma
🧡 Kirishima: gente… vcs já viram os olhos do novato de perto?
💙 Kaminari: não, pq?
🧡 Kirishima: parece um cristal coreano. Um anjo.
❤️ Ashido: Kiri, vc tá apaixonado?
🧡 Kirishima: não. Só que… mano… ele e o Bakugou? UM BEIJO ATRÁS DA QUADRA. EU VI.
💥 Bakugou:
SE EU DESCOBRIR QUE TU FALOU ALGO… EU TE MATO.
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