O salão da Villa Ferrari estava banhado por luzes douradas e adornado com flores brancas que desciam em cascata dos candelabros. A celebração do casamento de Arthur e Luiggi reunia toda a grandiosidade e tradição da família Ferrari: elegância, afeto e um leve toque de caos. Entre risos, música e sussurros, uma história de infância começaria a ser escrita — uma história feita de inocência, destino e promessas.
Amy usava um vestido cor-de-rosa com uma faixa de cetim na cintura e uma tiara delicada nos cachos dourados. Enquanto os adultos se preparavam para a tradicional hora do buquê, Amy observava a noiva, Isadora, com olhos brilhantes e o coração acelerado. Isadora, ao notar o olhar encantado da menina, se agachou e destacou uma flor do próprio buquê.
— Essa é pra você, Amy — disse a noiva, sorrindo com ternura. — Guarda com carinho. É um pedaço da sorte.
Amy recebeu a flor como se fosse um tesouro, segurando-a com as duas mãos como uma joia rara. Aquela pequena flor era o começo de algo muito maior do que ela poderia imaginar.
Quando a noiva lançou o restante do buquê ao alto, o salão prendeu o fôlego. Mulheres adultas riram, meninas correram, e, para o desespero de James Paradise, a pequena Amy se juntou ao grupo, decidida a pegar o buquê.
Ema, espirituosa e cheia de charme, não perdeu a chance de provocar:
— E você tem noivo, por acaso?
Amy se virou com toda a confiança que seus quatro anos podiam oferecer e declarou:
— Tenho sim! Vou casar com o Lucca.
A gargalhada foi geral. Todos riram, menos James, que fechou a cara imediatamente, cruzando os braços.
Mas Amy seguiu com orgulho. Caminhou até Lucca — um garotinho de cabelos escuros, olhos curiosos e mãos sujas de glacê. Estendeu a flor que tinha recebido e, com o buquê agora nas mãos, completou:
— Esse é nosso. A flor e o buquê. Pra quando a gente casar.
Lucca encarou a flor por um instante e depois sorriu. Sem entender o peso daquilo, mas sentindo que era especial, respondeu:
— Tá bom. Eu vou me casar com você mesmo.
Ali, entre pétalas e bolo, nasceu uma promessa. Uma que, com o tempo, deixaria de ser brincadeira.
Flores que guardam promessas
A partir daquele dia, em cada casamento que acontecia na família, Amy ganhava uma flor do buquê — cuidadosamente escolhida, entregue com carinho, ou às vezes colhida por ela mesma nos jardins da Villa Ferrari. Cada flor era cuidadosamente desidratada e guardada em uma caixa de madeira com tampa de vidro, onde Amy mantinha seu tesouro secreto.
Cada flor representava uma lembrança e uma nova promessa de Lucca, um novo laço invisível entre eles.
— Essa flor é do casamento da tia Helena — ela dizia, mostrando uma pequena rosa branca, com as pétalas ainda levemente perfumadas. — Lucca prometeu que seríamos sempre amigos, não importa o que acontecesse.
Outra vez, recebeu um lírio laranja do casamento do tio Ricardo.
— Promessa de proteger um ao outro, mesmo quando estivermos distantes — Amy anotou no seu caderno secreto, onde fazia desenhos e escrevia frases que ninguém mais podia ler.
Era um ritual sagrado para ela. Cada flor secada, cada pétala preservada era uma cápsula do tempo, uma prova silenciosa de que o amor que sentia não era só uma fantasia de criança.
Lucca ria das suas coleções, mas nunca a desencorajava. Pelo contrário, fazia promessas novas, às vezes só para vê-la sorrir.
— Quando eu crescer, vou me casar com você — repetia ele, segurando as mãos dela com firmeza.
Crescer juntos, mas separados
Amy e Lucca cresceram como irmãos de alma, participando dos mesmos eventos, das mesmas festas, dos almoços intermináveis da família, onde os primos corriam entre as mesas e os adultos trocavam olhares e segredos.
Mas havia um limite que James, pai de Amy, não permitia ultrapassar.
— Nada de namoro antes dos estudos. Amy tem que se encontrar, viver a própria vida — dizia ele com voz firme.
Amy aceitou, mesmo que seu coração protestasse.
Esperou pacientemente enquanto Lucca a via de longe, admirava suas pinturas, seu jeito doce, seu sorriso tímido que escondia uma força imensa.
Quando ela fez 18 anos, James finalmente cedeu.
Lucca, agora com 20, a convidou para um jantar em Roma, no terraço de um restaurante iluminado pelas estrelas e pela lua cheia.
— Quer namorar comigo? — perguntou ele, olhando nos olhos dela.
Ela respondeu com um sorriso cheio de lágrimas e esperança.
Começaram um namoro intenso, de quatro anos, cheio de viagens, juras, e até uma aliança simples que Lucca colocou no dedo dela durante um fim de semana na Toscana.
Mas a vida os testaria.
Dois anos de espera
No último ano, Lucca recebeu a notícia de que havia sido selecionado para um programa internacional de treinamento para herdeiros de grandes empresas. Um ciclo de dois anos que exigiria que ele ficasse longe.
Na despedida, Amy segurou as mãos dele como se não quisesse deixar ir.
— Dois anos passam rápido.
— Eu volto pra você — prometeu Lucca.
No começo, a tecnologia os unia. Mensagens, chamadas, vídeos. Mas a distância, os fusos horários e a rotina exaustiva começaram a pesar.
Amy chorava sozinha, muitas vezes, segurando a caixa de flores ao lado da cama, cada flor um lembrete do que havia prometido, do que ainda queria.
Dois anos se passaram.
Eles nunca terminaram, mas a saudade tinha rachado a intimidade, deixando-os tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
O reencontro
Então, numa manhã de abril, uma mensagem mudou tudo.
> Lucca:
“Estou voltando. Preciso te ver. Hoje, 18h, no jardim da Villa.”
Amy sentiu o coração saltar.
Ela olhou para a caixa de flores, para a flor do primeiro buquê, para as pétalas secas que guardavam uma infância, uma adolescência, uma promessa.
E foi ao encontro de seu destino.
Amy
Lucca
O relógio marcava 17h58 quando Amy passou pelos portões da Villa Ferrari. O sol da tarde dourava a paisagem da Toscana, tingindo os ciprestes e os vinhedos distantes com tons quentes de despedida. Ela caminhava como quem atravessa o tempo. Cada passo ecoava com lembranças: o som da risada de Lucca quando ela caiu na lama aos seis anos, o beijo roubado entre as glicínias aos dezesseis, os sussurros de promessas sob a figueira centenária.
Vestia um vestido leve, azul-claro, como o céu sobre eles naquela tarde. Nas mãos, segurava uma flor seca. A primeira. Aquela que Isadora lhe deu no casamento de Arthur e Luiggi. Seu amuleto. Seu lembrete. Sua esperança.
O jardim da Villa continuava mágico. As glicínias, em plena floração, formavam túneis naturais entre os caminhos de pedra. As rosas misturavam-se ao perfume do capim-limão plantado ao fundo. A brisa trazia o som suave do piano que tocava no salão ao longe. E ali, no centro do jardim, estava ele.
Lucca já a esperava junto às glicínias floridas. Estava com o cabelo um pouco mais comprido, a barba rala, o corpo mais forte. Vestia calça social e camisa branca dobrada até os cotovelos. O mesmo sorriso, porém, era intacto. Era ele. Ainda era ele. O menino das promessas e o homem das realizações.
Amy parou a poucos passos. O coração parecia martelar o peito com uma força quase dolorosa.
— Você voltou — disse, a voz trêmula.
— Eu disse que voltaria. — Ele sorriu, com os olhos marejados. — Achei que você não viria.
— Eu não conseguiria ficar longe. Não de você. Não desse jardim.
Lucca estendeu a mão, e ela a segurou. O toque era o mesmo. Quente, firme, seguro. Por um momento, nada mais existia. Apenas o som do vento entre as folhas e o coração dos dois batendo em sintonia.
— Senti sua falta em cada dia, Amy. Mas precisei ir. Precisava ser digno da promessa que fiz pra você.
Amy apertou mais a mão dele. As lágrimas caíam silenciosas.
— Eu te esperei, Lucca. Mas doeu. Houve dias em que achei que tinha te perdido...
— Nunca. Nem por um segundo.
Ele levou a mão ao bolso e tirou algo pequeno. Era um pedaço de fita azul desbotada.
— Reconhece?
Amy riu entre as lágrimas. Era a fita que ela usava no cabelo no casamento de Helena, anos atrás. Ele havia guardado também.
— Achei que só eu colecionava memórias.
— Algumas memórias me mantiveram vivo.
Amy olhou para o rosto dele e o viu como se o tempo não tivesse passado. Mas o tempo tinha passado. E ali estava a beleza do reencontro: reencontrar não apenas o outro, mas a si mesma. A menina que acreditava nas flores. A adolescente que o beijou sob as estrelas. A mulher que esperou.
— Eu voltei pra cumprir aquela promessa, Amy — disse Lucca. — Mas não quero só casar com você por aquilo que dissemos quando crianças. Quero porque, depois de tudo, ainda é você. Sempre foi você.
Amy não conseguiu responder com palavras. Pulou nos braços dele e o beijou com a alma, com os anos de saudade, com o amor de toda uma vida. Seus lábios se encontraram com intensidade e doçura, como se estivessem retomando uma conversa que nunca terminou. Foi um beijo longo, profundo, cheio de emoção. As mãos dele deslizaram por sua cintura, enquanto ela segurava o rosto dele com carinho. O mundo ao redor desapareceu.
O jardim pareceu suspirar.
Quando se separaram, Amy encostou a testa na dele.
— Então vamos fazer isso direito dessa vez. Sem pressa, sem dúvidas. Mas juntos.
Lucca assentiu.
— Juntos.
— Eu guardei cada flor, Lucca. Cada pétala que você me prometeu... Eu tenho todas. Em uma caixa de madeira com tampa de vidro. Meu cofre de promessas. E eu acreditava que cada flor era uma parte do nosso destino. Acha que é loucura?
— Não. Eu acho que é a coisa mais bonita que alguém já fez por mim.
Lucca então segurou as mãos dela com força e a levou até o centro do jardim, onde havia um banco de pedra sob a figueira antiga.
— Sabe o que eu mais sonhei durante esses dois anos? Com isso. Com a gente aqui. Não importava onde eu estava no mundo. Quando fechava os olhos, eu via esse lugar. E você.
Amy se sentou ao lado dele. A brisa balançava seus cabelos dourados. Ela parecia um quadro vivo.
— Você mudou... — disse ela, tocando o rosto dele com carinho.
— E você está ainda mais linda. Mais mulher. Mais minha.
Eles riram juntos, com uma intimidade que nem o tempo conseguiu apagar.
— Sabe que meu pai ainda vai surtar quando souber que a gente se reencontrou aqui — brincou Amy.
— James nunca gostou muito de mim, né?
— Ele sempre te respeitou. Mas nunca te quis perto demais. — Ela riu. — Agora não importa. Eu cresci. Escolho por mim mesma.
— E você me escolheria de novo?
— Todos os dias.
Lucca se emocionou. Tirou do bolso uma pequena caixinha de veludo azul. Mas não a abriu. Apenas a segurou.
— Não agora. Não hoje. Mas quando chegar o momento certo... isso aqui vai estar pronto.
Amy encostou a cabeça no ombro dele. O céu da Toscana escurecia lentamente, tingindo tudo de rosa, laranja e púrpura.
— Eu quero escrever essa história com você, Lucca. Sem medo. Sem esconder. Com todas as cores.
— Então vem comigo. Vamos voltar a pintar nossa história.
E assim ficaram. Entre silêncios confortáveis, olhares que diziam mais que palavras, e lembranças que agora se tornavam planos.
— Você ainda é meu namorado, certo? — Amy perguntou, com um sorriso travesso.
Lucca se virou para ela, com um brilho nos olhos.
— Sou. E quero continuar sendo. Até ser seu noivo, depois seu marido. E, se me permitir, seu para sempre.
Ela riu, se aproximando mais uma vez, e o beijou de novo, dessa vez com mais calma. O beijo era doce, cúmplice, apaixonado. Um reencontro de almas. Um recomeço.
A promessa de infância, feita entre flores e gargalhadas, agora era um pacto entre dois corações adultos. Um novo começo. E talvez, apenas o primeiro capítulo da vida que sempre foi deles por direito.
O amor, afinal, não esquece o caminho de casa.
Amy retornou para casa com os pés tocando o chão, mas a alma completamente nas nuvens. O reencontro com Lucca no jardim da Villa tinha sido tudo o que ela esperava — e ainda mais. O beijo, o toque, as palavras. Ela sentia como se tivesse voltado a respirar de verdade. A brisa noturna da Toscana a acompanhava enquanto atravessava o portão da casa da família Paradise.
Ao abrir a porta, foi recebida pelo som da televisão baixa na sala. Elisa, sua madrasta — mas sempre mãe de coração — estava sentada com uma taça de vinho tinto nas mãos. Ao lado dela, deitada no tapete com fones de ouvido e rindo de um vídeo no celular, estava Maya, a irmã mais nova de Amy. Aos dezoito anos, Maya era bela, sarcástica e absolutamente descrente do amor romântico que a irmã carregava como chama viva no peito.
— Olha só quem voltou com olhos brilhando e sorriso de princesa da Disney — Maya zombou, tirando um dos fones e levantando uma sobrancelha. — Não me diga que você realmente acreditou que o Lucca ficou dois anos... intacto?
Amy parou no meio da sala, ainda com o sorriso nos lábios, mas agora com o olhar firme.
— Maya, por favor...
— Sério, Amy. Dois anos? Em cinco países diferentes? Herdeiro da Calloni? E você acha que ele ficou rezando o terço, te esperando com castidade?
Amy se aproximou, irritada.
— Nós fizemos uma promessa, Maya. Uma promessa verdadeira. Ele me respeita. Nós dois prometemos que só nos entregaríamos um ao outro depois do casamento. Lucca é um homem de palavra.
— Um homem de palavra? Ele é um homem, ponto. E homem é tudo igual.
Antes que a discussão pudesse escalar, Elisa se levantou, pousando a taça na mesa.
— Maya, basta. Deixe sua irmã em paz. Você deveria estar se concentrando no vestibular ao invés de azedar a felicidade dos outros.
Maya bufou, cruzou os braços e se levantou.
— Claro. Porque o mundo gira em torno do conto de fadas da Amy.
— Maya...
— Boa noite. Vou estudar. Já que ninguém aqui se importa com o meu futuro.
Pisando duro, Maya saiu da sala e subiu as escadas, batendo a porta do quarto logo depois. O silêncio se instalou por alguns segundos, até que Elisa se aproximou de Amy e a abraçou com carinho.
— Ignore a Maya. Ela só está perdida, mas vai encontrar o caminho dela. Eu estou tão feliz por você, minha flor. Lucca sempre foi seu porto. E agora ele está de volta.
Amy sorriu, emocionada, e descansou a cabeça no ombro da mãe.
— Ele me disse que ainda quer cumprir aquela promessa. E eu... eu nunca deixei de acreditar.
O som da porta se abrindo interrompeu a conversa. James entrou na sala com o cenho franzido, o paletó desabotoado e uma pasta de documentos debaixo do braço. Atrás dele, o filho mais velho, Bernardo, com seus vinte e dois anos e o ar sério de quem já carregava o peso da responsabilidade sobre os ombros. Ele estava em preparação para assumir a presidência da Ferrari ao lado do pai e já era o vice-presidente em atuação.
Os olhos de Amy brilharam ainda mais.
— Papai! Bernardo! — correu até os dois, abraçando primeiro o pai e depois o irmão, depositando um beijo carinhoso no rosto de cada um. — Estou tão feliz!
James olhou para ela com desconfiança, enquanto Bernardo a observava com um leve sorriso.
— Já sei. O Lucca voltou — disse James, seco.
— Pois é, papai. E sabe... talvez a gente possa começar a pensar em dar um próximo passo.
James bufou, tirando os óculos e os colocando sobre a mesa.
— Ricardo ainda está preparando ele pra assumir o cargo. Ele vai se tornar o novo Dom. Minha filha, você tem certeza que quer se tornar a dama da máfia? Nós ajudamos quando a LME precisa. Mas isso é diferente. Isso é entrar pra valer.
Amy respirou fundo, levantando o queixo com firmeza.
— Eu vou aonde o Lucca estiver. O amor que temos... é mais forte do que qualquer limite. Eu sei quem ele é. E ele sabe quem eu sou. Confio nele de olhos fechados.
James virou-se para Elisa, quase suplicando.
— Você está ouvindo isso? Vê o que aquele moleque fez? Eu devia ter capado esse menino quando ele ainda era jovem.
Elisa colocou a mão sobre o ombro do marido, tentando conter o riso diante do drama de James.
— Deixa ela, meu amor. Nossa filha tem que ser feliz. Desde criança ela é apaixonada pelo Lucca. É amor mesmo. Puro. Raro.
Bernardo, sempre calado e observador, finalmente se manifestou:
— Se ela confia nele, pai, talvez a gente deva confiar também. O Lucca tem se mostrado digno. Ele foi o único que resistiu às pressões, mesmo viajando. Nunca quis se afastar de Amy. Ao contrário... ele lutou por ela.
James resmungou algo ininteligível e passou a mão no cabelo, andando pela sala.
— Não é uma questão de gostar ou não. É política, é poder, é máfia, é risco. Eu queria outra vida pra ela.
— Mas é a vida que eu escolhi — disse Amy. — Eu não escolhi o poder, pai. Eu escolhi o amor.
O silêncio se instalou novamente. Elisa limpou uma lágrima no canto do olho e se sentou no sofá.
— Querem chá? Vai demorar muito pra essa conversa acabar.
James ergueu uma sobrancelha.
— Quero conhaque.
Amy sorriu, puxando Bernardo para sentar ao seu lado.
— Não se preocupem. Lucca e eu não vamos fazer nada com pressa. Mas o amor que a gente sente... é real. E eu não vou mais fingir que não é.
Bernardo apertou a mão da irmã.
— Estaremos com você. Sempre.
Amy olhou para a flor seca ainda em suas mãos. A primeira promessa. Agora, cercada pela família, sentia que o novo capítulo já havia começado. E não importava o que viesse pela frente — ela enfrentaria tudo. Por amor.
E, talvez em breve, outra flor seria adicionada à sua coleção. Não uma flor seca, mas uma nova. Viva. Com raízes. Com futuro.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!