Capítulo 1: O Retorno
O salto ecoava no mármore frio como um lembrete de quem ela havia se tornado.
leticia ajustou o blazer preto rente ao corpo, respirou fundo e entrou no prédio da Mancini Corporation com a mesma elegância que um general pisa no campo de batalha. Quatro anos haviam se passado desde que jurou nunca mais voltar. Mas o destino, esse filho da P¥£€₩ sarcástico, adora brincar com promessas.
No topo do arranha-céu de vidro, Leon Mancini a esperava.
A última vez que o viu, ele vestia raiva nos olhos e um terno italiano manchado de culpa. Agora, segundo a convocação enviada por sua assistente pessoal, ele era CEO da empresa mais poderosa da América do Sul — e queria ela de volta.
Não como mulher.
Como diretora de estratégias internacionais.
— leticia ? — a recepcionista se levantou nervosa. — O Sr. Mancini pediu que subisse diretamente. Cobertura. Último andar.
O elevador pareceu um confessionário. Cada andar que subia, leticia sentia mais o peso do passado. O cheiro de ambição ainda estava no ar — ela conhecia bem. Era o mesmo perfume que Leon usava misturado com café amargo e noites perigosas.
Quando as portas se abriram, ele estava lá.
De costas para ela. Terno preto. Copo de uísque na mão. E a cidade inteira rendida aos pés dele.
— Você veio — disse, sem se virar. A voz grave ainda arranhava a alma dela como antes.
— Você mandou um avião buscar. Achei que recusá-lo seria... mal-educado.
Ele se virou devagar. Os mesmos olhos cinzentos, duros como aço. Mas por um instante — só um instante —, Leticia viu algo mais.
Fome.
Desejo.
Arrependimento?
— Preciso de você, leticia . Só você pode salvar o império que ajudei a destruir.
Ela sorriu com a boca, mas não com o coração.
— E quanto vai me custar, Leon?
— Tudo. Inclusive a parte de você que ainda me odeia.
Ela caminhou lentamente até a mesa de vidro. Cada passo calculado. Cada movimento uma provocação silenciosa.
— Então é isso? — ela disse, pousando a bolsa com elegância. — Você destrói tudo, desaparece... e quando o império começa a desmoronar, lembra que eu existo?
Leon se aproximou. Devagar. O gelo tilintando no copo denunciava a mão que agora tremia levemente — não de medo. De controle. De contenção.
— Você acha mesmo que passei esses anos esquecendo você?
Ela desviou o olhar, mas ele avançou um passo.
Estava a poucos centímetros agora. O cheiro dele — madeira, especiarias e perigo — invadia o ar como uma lembrança indesejada.
— Eu fui embora por sua causa, Leon. — A voz dela vacilou por um instante. — Porque se eu tivesse ficado, teria me destruído... ou matado você.
Ele não riu. Não sorriu. Apenas encarou.
— E eu ainda escolheria morrer por você.
Silêncio.
O tipo de silêncio que grita. Que aperta o peito e faz tudo ao redor desaparecer.
leticia virou-se, tentando recobrar a frieza. Ele percebeu. E usou isso como uma lâmina.
— A sede está à beira da falência — disse ele, voltando à mesa. — Preciso de alguém que conheça meus erros. Que saiba como corrigi-los antes que os conselheiros me devorem vivo.
— E por que eu, Leon?
Ele se serviu de mais uísque e a olhou por cima do copo.
— Porque você é a única que pode dizer “não” pra mim... e mesmo assim eu obedeço.
Ela sentiu o chão faltar por um segundo. Mas não demonstrou.
— Condições? — ela perguntou.
— Total liberdade de ação. Escritório ao lado do meu. Apartamento no 78º andar... e uma única regra.
— Qual?
Leon se aproximou mais uma vez. Os olhos fixos nos dela.
— Nada de misturar negócios com o que ainda existe entre nós.
leticia sorriu.
— Isso nunca funcionou da primeira vez. Por que daria certo agora?
Ele deu um passo atrás. Estava jogando limpo — ou fingindo que sim.
— Porque agora, leticia ...
...o pecado tem um preço. E estamos os dois dispostos a pagá-lo.
Ela estendeu a mão.
— Um mês. Depois disso, decido se fico... ou se sumo da sua vida de vez.
Leon apertou a mão dela, firme. Quente. Longo demais para ser só profissional.
— Bem-vinda de volta ao inferno.
Ela piscou devagar.
— Inferno sempre foi meu lar.
leticia deixou a mão dele escapar devagar, como se aquilo tivesse mais significado do que admitiria. E tinha. O toque dele ainda queimava a palma como se fosse uma cicatriz aberta. Mas ela não iria desmoronar. Não mais.
— Quero tudo por escrito — disse. — E quero acesso aos arquivos internos da fusão com o grupo veneziano. Foi ali que tudo começou a ruir, certo?
Leon assentiu, sério.
— Já mandei para o seu e-mail. Você tem o código do servidor pessoal. Mas leticia ...
Ela já estava de costas, andando em direção à porta envidraçada que dava para a varanda. O pôr do sol refletia no prédio de frente. Um laranja sombrio, como se o céu também estivesse em chamas.
— O que foi agora? — ela perguntou, sem se virar.
— Tem uma cláusula no contrato que você não vai encontrar no papel.
— Qual?
— Se você me deixar cair... eu levo você comigo.
Ela riu. Um riso seco, curto, com gosto de passado.
— Você já me levou uma vez, Leon. Mas eu aprendi a voar depois da queda.
A porta da varanda se abriu com um sopro de vento quente.
leticia saiu, deixando para trás o silêncio dele.
O silêncio de quem perdeu, mas ainda não desistiu da guerra.
Do alto do 79º andar, a cidade parecia menor.
Mas o jogo acabara de começar. E desta vez, ela estava do lado das peças...
não do tabuleiro.
De volta ao escritório, Leon observava a silhueta dela contra o vidro. O vento bagunçava os cabelos negros, e a luz do entardecer pintava sua pele como se a própria noite quisesse tocá-la.
leticia era diferente. Mais fria. Mais letal.
Ele havia criado um monstro — e agora precisava dela para salvá-lo.
Quando ela voltou para dentro, os olhos dela cruzaram os dele por um breve segundo.
Intensos. Impossíveis de decifrar.
— Tem mais uma coisa — disse ela, parando à porta.
— O quê? — ele perguntou, erguendo as sobrancelhas.
— Não tente me manipular como antes, Leon.
— Eu nunca...
— Você sempre tentou. Mas agora, eu conheço as regras desse jogo.
E desta vez... eu vim para vencer.
Ela saiu, batendo os saltos no chão de mármore com precisão. O som ecoou como um aviso.
Leon pegou o celular. Discou rápido. Alguém atendeu do outro lado.
— Ela aceitou — disse ele, olhando para a porta que se fechava.
— Tem certeza que é uma boa ideia trazê-la de volta? — perguntou a voz, tensa.
— Eu não tinha escolha — respondeu. — Ou ela me ajuda... ou termina o que começou há quatro anos.
Silêncio.
Então, antes de desligar, ele disse em voz baixa:
— Se ela descobrir a verdade... não vai perdoar ninguém.
E desligou.
Lá fora, leticia esperava o elevador.
Na bolsa, o contrato. No coração, cicatrizes.
E nos olhos... sede de justiça.
Ou vingança.
Ela olhou para o próprio reflexo no espelho do elevador e sussurrou:
— Que comecem os jogos......
O apartamento no 78º andar era um palácio moderno suspenso no céu.
Minimalista, silencioso, impecável. Janelas do chão ao teto deixavam a noite entrar, junto com o som distante da cidade que nunca dormia.
leticia jogou os saltos no canto, abriu o laptop e digitou o código de acesso que Leon havia enviado. A tela se iluminou com dezenas de pastas. Cada uma delas nomeada com datas, nomes de empresas... e cicatrizes que ela reconhecia muito bem.
Grupo Veneziano. Blackhawk Holdings. Operação ST-02.
O passado todo ali, organizado por quem jurava que não tinha mais nada a esconder.
Ela clicou.
O sistema pediu autenticação dupla.
Digitou. Validou. Entrou.
Mas antes que pudesse abrir o primeiro arquivo, o celular vibrou.
Número desconhecido.
Ela atendeu sem pensar.
— Alô?
Silêncio. Depois, uma voz distorcida, baixa:
— Cuidado com o que você procura, leticia . Às vezes, a verdade é mais suja que o pecado.
— Quem é? — ela perguntou, já em pé, alerta.
— Quem sobrou depois que você foi embora.
E a ligação caiu.
leticia encarou o celular como se ele pudesse responder.
O coração acelerou. A mente girava. Aquilo não era coincidência.
Alguém sabia.
Alguém estava esperando por ela.
Talvez nunca tivesse parado de esperar.
Minutos depois, ainda de robe, ela foi até a varanda. A brisa era quente, mas sua pele arrepiava como se nevasse por dentro.
No prédio ao lado, o andar de Leon estava iluminado.
E lá estava ele.
De pé na varanda. Camisa branca aberta no peito, copo de uísque na mão.
O olhar direto nela.
Como se a espreitasse. Como se soubesse que ela já estava envolvida demais para fugir.
Ela não desviou.
Ao contrário, ergueu lentamente o copo de vinho em saudação silenciosa.
Ele respondeu com um leve movimento do queixo.
Jogo aceito.
Mas os dois sabiam:
Naquela partida, não haveria empate.
Só um sobreviveria ao pecado.
leticia voltou para dentro do apartamento como quem retorna de um campo minado. Cada passo, cada escolha dali em diante, poderia explodir nas mãos dela. Mas se tinha algo que aprendeu com Leon... é que o medo nunca protege ninguém.
Sentou-se novamente diante do laptop.
Digitou a senha.
Entrou na pasta marcada como "Confidencial – ST-02".
Uma lista de documentos apareceu:
Transações não registradas.
E-mails apagados.
Relatórios com números manipulados.
Um nome repetido várias vezes: Armand Del Ríos.
Ela se lembrava dele. O homem por trás da fachada respeitável do grupo veneziano. Amigo íntimo de Leon... e o primeiro a desaparecer quando a fusão desabou.
— Desgraçado — sussurrou. — Você mentiu pra mim, Leon. Todos vocês mentiram.
E então, algo ainda mais estranho apareceu.
Um arquivo com o nome: “Acordo leticia.
O sangue gelou.
Clicou.
Bloqueado.
Protegido por uma senha pessoal.
Ela fechou o laptop, ofegante.
O que Leon teria arquivado com o nome dela? E por que precisava de uma senha separada?
Um alerta soou no interfone.
Ela caminhou até a tela — o segurança do prédio.
— Sr lt. Rodrigues, há uma entrega para a senhora. Sem remetente.
— Pode subir — respondeu, desconfiada.
Minutos depois, a campainha tocou.
Na porta, uma caixa preta envolta em fita vermelha.
Elegante. Intimidadora.
Ela abriu com cuidado.
Dentro, um bilhete manuscrito com caligrafia firme e conhecida:
"Para lembrar que o tempo não apaga tudo.
P.S.: Ainda guardo a primeira vez em que você disse ‘não’ pra mim.
— L."
Debaixo do bilhete, uma peça de lingerie preta.
Delicada. Caríssima. Exatamente igual à que ela usava na última noite que passaram juntos. A noite que terminou com ela indo embora no meio da madrugada, de coração quebrado e alma em pedaços.
Ela engoliu seco.
Não sabia se era uma provocação… ou um pedido de desculpa escondido em seda.
Jogou a peça em cima da cama e voltou à varanda.
Agora, o andar de Leon estava escuro.
Mas ela sabia: ele ainda a observava.
No fundo, sempre observou.
E ela também nunca deixou de olhar de volta.
A lingerie ainda estava em cima da cama quando o interfone tocou novamente.
Ela atendeu com um nó no estômago.
— O Sr. Mancini está no térreo. Disse que não vai subir… mas pediu para avisá-la que está te esperando no bar do hotel, caso deseje conversar.
leticia ficou em silêncio.
Era típico dele. Nunca implorava. Apenas… esperava. Como se soubesse que ela iria.
Meia hora depois, ela desceu do elevador vestida como um segredo:
vestido preto justo, batom vinho escuro, olhar calculado.
Cada detalhe meticulosamente desenhado para não parecer que se importava — mesmo quando tudo nela queimava.
O bar estava quase vazio. Sofisticado, discreto, envolto em sombras douradas e sussurros de veludo.
Leon estava sentado no canto mais reservado.
Camisa preta, mangas dobradas, colarinho aberto.
A aparência de quem controlava o mundo… e sabia disso.
Ele se levantou quando a viu.
— Pensei que não viesse — disse.
— Eu também pensei — ela respondeu, sentando-se de frente para ele. — Mas... estou curiosa.
— Sobre?
— Sobre o que, exatamente, você acha que está fazendo.
Ele sorriu. Mas era um sorriso que escondia navalhas.
— Te provocando. Funcionou?
Ela se inclinou sobre a mesa.
O perfume dela chegou até ele como um ataque sutil, impossível de evitar.
— Você me enviou algo do nosso passado.
Sabe o que eu queria te mandar de volta?
— Surpreenda-me.
Ela olhou nos olhos dele.
— A sensação de ter sido usada. E descartada. Porque é disso que eu lembro quando vejo você.
Ele não respondeu de imediato.
Bebeu um gole. Depois, disse baixo:
— Eu nunca te descartei, leticia Você fugiu antes que eu conseguisse consertar as merdas que fiz.
— Merda é pouco, Leon.
— Eu sei. Por isso estou aqui. Não pra limpar o passado…
Mas pra te dar o presente que você merece. E talvez... o poder que sempre teve medo de aceitar.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Poder?
— Sim. A chance de destruir tudo. Ou salvar. E dessa vez... a escolha é sua.
Os olhos dele estavam diferentes agora. Não havia sarcasmo. Só um convite silencioso. Um campo minado... onde ela sabia que, se desse um passo errado, cairia de novo.
Mas talvez...
Talvez ela quisesse cair.
Quando ela se levantou, ele também se levantou.
— Está tarde — disse ela.
— A noite está só começando.
Ela sorriu, virando-se para ir embora.
Mas antes de sair, virou o rosto levemente e disse:
— Da próxima vez, escolha melhor a lingerie. A que você mandou… já não combina mais com a mulher que eu me tornei.
E então ela se foi, deixando um rastro de perfume, arrogância…
e algo que ele não admitiria nem para si mesmo: saudade.
Às três da manhã, leticia ainda estava acordada.
O apartamento estava escuro, exceto pela luz azulada do notebook iluminando seu rosto. O arquivo “Acordo leticia ” continuava bloqueado. Aquilo incomodava mais do que ela admitia. Por que seu nome estava vinculado a algo tão secreto? E por que Leon nunca mencionou isso?
Tentou mais três combinações de senha. Nenhuma funcionou.
Mas ao tentar a quarta, digitou instintivamente algo que veio da memória.
Uma palavra.
A palavra que ele sussurrava sempre que ela ia embora.
“Fica.”
A tela piscou.
Acesso concedido.
O sangue dela gelou.
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O arquivo abriu.
Dentro, um único documento.
Contrato datado de quatro anos atrás, assinado pelo próprio Leon Mancini.
Tinha uma cláusula especial, escondida no meio de páginas jurídicas:
> “Em caso de afastamento voluntário da Sra. leticia Rodrigues, toda decisão estratégica tomada a partir da data de sua renúncia deverá ser arquivada e supervisionada. Caso retorne, o poder de veto e comando sobre qualquer negociação internacional será automaticamente restituído a ela.”
Ela sentiu um nó na garganta.
Leon havia criado aquilo antes dela ir embora.
Antes da última noite.
Antes da queda.
Era como se ele soubesse que ela voltaria.
Ou como se tivesse torcido para isso o tempo todo.
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De repente, o silêncio do quarto foi rompido por algo mais barulhento que o ar:
memórias.
leticia fechou os olhos.
E ali, na solidão da madrugada, lembrou-se daquela noite.
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Flashback – Quatro anos atrás
— Fica — ele disse, encostado na parede do quarto, apenas com a calça social desabotoada.
Os olhos dele estavam embriagados de tudo que ela era.
— Amanhã eu viajo, Leon. Assinei o contrato. Preciso ir.
— Aquele contrato te afasta de mim, não te aproxima de nada.
— Ele me dá o que você nunca deu. Liberdade.
— E eu te dei tudo, Leticia
— Você me deu controle. Me deu paixão. Me deu medo. Eu queria amor.
Ele se aproximou, encostando a testa na dela.
A respiração quente. O corpo tenso.
— Eu não sabia como amar você. Mas juro… eu tentei.
Ela passou a mão no rosto dele, devagar.
— Eu não queria que você tentasse, Leon.
Queria que soubesse.
Ela saiu naquela noite.
Sem dizer adeus.
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Fim do flashback
Leticia voltou ao presente com os olhos marejados, mas o rosto firme.
Levantou-se. Foi até o espelho.
O reflexo mostrava a mulher que ele não conseguiu segurar.
E a mulher que agora…
estava de volta.
Pegou o celular.
Digitou uma única mensagem:
“A gente precisa conversar. Sem mentiras.”
A resposta veio segundos depois.
“Cobertura. Agora.”
Ela respirou fundo.
Vestiu o casaco.
Dessa vez, não era ele que a chamava.
Era ela que escolhia voltar.
Confronto na cobertura
O elevador subia devagar demais.
Leticia apertava levemente a lateral do casaco, sentindo o próprio pulso acelerar. Mas não era medo. Era raiva contida. Desejo mal curado. E uma necessidade feroz de ter respostas.
As portas se abriram com um sussurro metálico.
A cobertura de Leon era escura, silenciosa. Apenas algumas luzes quentes acesas — estrategicamente posicionadas para projetar sombras e esconder intenções.
Ele estava de pé, na varanda, como sempre.
De costas.
Esperando.
— Eu vi o contrato — ela disse, direto. — A cláusula. O meu nome enterrado naquela papelada.
Leon não se virou.
— Esperava que encontrasse. Um dia.
— Por que fez aquilo?
— Porque você sempre foi mais que uma funcionária.
Mais que uma amante.
Mais do que eu merecia.
Ela entrou, parando perto da porta da varanda.
— Não banque o arrependido agora, Leon. Você me destruiu. Você me fez fugir.
Ele se virou devagar, os olhos cansados, mas intensos.
— Eu fiz o que achei certo... pra proteger você.
— Mentira — ela cuspiu a palavra. — Você fez pra proteger seu império. Seu nome. Seu ego.
Leon se aproximou dois passos.
Ela não recuou.
— Você acha que foi fácil ver você ir embora? — ele disse baixo. — Cada dia depois da sua partida foi um campo minado dentro de mim.
Ela riu. Um riso seco, ferido.
— E ainda assim você seguiu. Ficou milionário. Comprou prédios. Mulheres.
— Nenhuma ficou.
— Nenhuma era eu.
Silêncio.
Ele estava perto agora.
Tão perto que ela podia sentir o calor da pele dele, mesmo sem tocar.
— Leticia ... — ele sussurrou.
— Não — ela cortou. — Não me chame assim como se eu ainda fosse aquela garota.
— Você ainda é. Só mais forte. Mais afiada.
Ela ergueu o queixo.
— Não vim aqui pra ouvir elogios. Vim pra te avisar: se eu descobrir que o colapso da fusão teve o seu dedo... eu vou destruir tudo. E não vai ser com amor.
— E se não teve?
— Então talvez, só talvez, você ainda tenha uma chance de não morrer sozinho.
Leon sorriu, mas era um sorriso triste.
— O problema é que eu já morri... no dia em que vi você partir com aquela mala e aquele olhar de adeus nos olhos.
Ela vacilou por um segundo.
E foi tudo que ele precisou para encostar os dedos no rosto dela, com a mesma delicadeza de quem toca um fantasma.
— Se me deixar... vou deixar você ir de novo. Mas se ficar...
Ela segurou o pulso dele no ar.
— Eu não vim pra ficar, Leon.
Vim pra vencer.
E soltou.
Ele ficou ali, parado. Sem se defender. Sem resistir.
E enquanto ela ia embora, mais uma vez...
O som dos saltos dela parecia assinar a sentença de um homem que, mesmo sendo rei, nunca aprendeu a segurar uma rainha.
---
leticia apertou o botão do elevador com firmeza.
A porta metálica brilhava como um espelho frio, refletindo o rosto dela.
Forte. Impecável. Mas por dentro? Uma tempestade.
O coração batia rápido demais.
Ela respirou fundo. Ia embora. Ia deixá-lo no passado.
Era isso que havia prometido a si mesma.
Mas antes que o elevador chegasse, a porta da cobertura se abriu com força atrás dela.
— Leticia!
A voz dele.
Ela fechou os olhos.
Contou até três.
Virou devagar.
Leon estava parado ali, sem armadura. Sem máscara.
E com algo no olhar que ela não sabia mais como interpretar.
— Você me odeia — ele disse. — Mas eu prefiro isso do que a sua indiferença.
Ela cruzou os braços, tentando proteger o que restava.
— Não me siga.
— Eu te segui por quatro anos dentro da minha cabeça. Cada decisão, cada mulher, cada porra de reunião de conselho... eu olhava pro lado e imaginava o que você faria. Eu ainda escuto sua voz quando vou assinar um contrato.
— Então escuta agora: esquece.
Ele se aproximou. Lento. Como se se aproximasse de uma fera — ou de uma mulher que já soube amar, mas aprendeu a morder.
— Eu errei com você, leticia . E se tiver que passar o resto da vida provando isso, eu passo.
Ela mordeu o lábio. Mas não de desejo. De raiva.
De dor.
De tudo que ele significava.
— Você não precisa provar nada — ela respondeu. — Só não fique no meu caminho.
Leon respirou fundo.
— E se meu caminho ainda for o mesmo que o seu?
Ela o encarou. Por um instante, o mundo parou.
O elevador chegou. As portas se abriram.
Ela deu dois passos pra dentro.
Antes de entrar por completo, olhou por cima do ombro.
— Então é melhor torcer pra eu não tropeçar de novo.
Porque se eu cair, Leon... dessa vez, levo você comigo.
As portas se fecharam.
E Leon ficou ali, sozinho.
Com o gosto amargo do que perdeu…
E a certeza de que o jogo não tinha acabado.
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