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Por Favor, Não Some Chanmin

¹invisível

Os passos de Seungmin ecoavam pelo corredor vazio. Cabeça baixa, livros apertados contra o peito, ele andava rápido, como quem implorava para ser ignorado. Já havia aprendido que olhar nos olhos errados podia render empurrões, apelidos ou até algo pior.
E como sempre, não funcionou.
Kim minwon
Kim minwon
— Olha só quem chegou
Minwon riu, escorada na porta da sala. O mesmo grupo ao redor dela. Os mesmos risos baixos, os mesmos olhares de desprezo.
Kim minwon
Kim minwon
— O menino do sótão resolveu descer hoje?
Seungmin passou reto. Já tinha aprendido a não responder. Isso só prolongava tudo.
???
???
— Fica fugindo feito um rato
Murmurou um dos garotos ao lado dela, empurrando-o de leve
???
???
— Aposto que nem banho ele toma nesse buraco onde vive.
Não doeu tanto quanto poderia. Talvez porque ele já estivesse acostumado.
A aula foi como sempre: ele sentava no fundo, quieto. Os professores fingiam que não viam as marcas roxas nos pulsos, ou o modo como ele mal tocava no lanche. Ninguém perguntava. Ninguém queria saber.
Quando o sinal do fim das aulas tocou, ele foi o primeiro a sair. O vento frio de fim de tarde o acertou assim que passou pelo portão da escola, mas ele não se incomodou. O frio, pelo menos, era sincero.
Chegar em casa não significava alívio. Significava andar em silêncio, torcendo para que Minwon estivesse ocupada demais para implicar. Significava evitar a sala, onde o pai assistia à TV com a madrasta, como se nada estivesse errado. Significava subir a escada rangente até o sótão abafado e trancar a porta com cuidado.
Era ali que ele respirava.
Seu “quarto” era pequeno. Um colchão velho no chão, uma luminária pendurada por fios improvisados, uma estante quebrada com seus poucos livros e objetos pessoais. Nada confortável. Nada bonito. Mas era só dele.
Ele tirou a mochila das costas, sentou-se no colchão e, como num reflexo automático, puxou o celular do bolso. A tela acendeu. Duas mensagens.
Chris 🐨
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
✉️—“Ei, já terminou a escola aí?”
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
✉️—“Tava ouvindo aquela playlist que você me mandou. Sério, você tem um gosto incrível.”
Um sorriso pequeno se formou no canto de sua boca.
Seungmin digitou devagar, os dedos trêmulos não só pelo frio.
Min:
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
✉️—"Sim... Acabei de chegar. A playlist foi feita com carinho, então trate de ouvir até enjoar."
A resposta veio rápida.
Seungmin encarou a tela por longos segundos. Poderia mentir. Era o que fazia sempre. Dizia que estava tudo normal, que os professores estavam pegando no pé, que estava cansado com as provas.
Mas hoje... só queria ser escutado.
Min:
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— "Não muito. Mas estou falando com você agora. E isso já faz o dia parecer melhor."
A tela ficou sem resposta por um tempo. Até que chegou a notificação de chamada de voz.
O coração de Seungmin acelerou. Hesitou. Olhou para o reflexo do espelho quebrado. O olho direito ainda inchado. A marca na mandíbula. Respirou fundo.
Atendeu com a voz baixa
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
📱— Oi...
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
📱— Ei...
A voz de Chan era suave, quente, com aquele sotaque que fazia Seungmin relaxar sem perceber
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
📱— Desculpa ligar do nada. Só... senti que você tava mal.
Ele fechou os olhos por um instante, encostando a cabeça na parede.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
📱— Você sempre sente.
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
📱— Talvez porque eu me preocupe com você, sabe?
A risada do outro soou do outro lado da linha
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
📱— Você é meio difícil de decifrar, mas... eu te conheço.
Seungmin apertou mais o celular contra a orelha, como se quisesse se esconder dentro da voz de Chan.
📱— Só... fica comigo mais um pouco?
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
📱— Sempre.
Continua

²Contagem Regressiva

Christopher Bahng estava deitado na cama, o celular colado ao ouvido e os olhos fixos no teto. A luz do abajur lançava sombras suaves pelo quarto, mas tudo que ele via — ou tentava enxergar — era a voz abafada do garoto do outro lado do mundo.
Seungmin.
A ligação estava silenciosa. Não havia muito sendo dito, mas ele já estava acostumado com isso. Chan aprendera, com o tempo, que o silêncio de Seungmin também dizia muita coisa.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Só... fica comigo mais um pouco?
A voz saiu baixa, quase como um sussurro.
Chan sorriu pequeno, mesmo que seu peito doesse um pouco ao ouvir aquilo.
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Sempre
Respondeu com a maior sinceridade que já carregou na voz.
E era verdade.
Desde o dia em que Seungmin apareceu em sua vida — tímido, sarcástico, um pouco frio, mas absurdamente real —, ele sentia como se algo dentro dele tivesse finalmente encontrado um lugar para descansar. Eles riam, brigavam por besteira, trocavam músicas e textos longos... mas nos últimos meses, havia algo diferente no tom do garoto.
Algo que Chan não conseguia ignorar.
Havia pausas longas demais. Risos forçados. Fugidas repentinas de assunto. E, acima de tudo, a insistência quase desesperada em evitar qualquer vídeo chamada.
Chan não era bobo. Nem cego. Ele via as entrelinhas.
Ele só... não queria forçar. Seungmin sempre foi reservado. E Chan tinha medo de pressionar demais e o perder.
Mas ele não conseguia mais ficar parado. Não depois de tantas vezes em que ouviu a voz trêmula. O silêncio carregado. A respiração pesada.
Então, ele tomou uma decisão. Comprou a passagem. Guardou segredo. E agora, a cada dia, riscava um número no calendário colado na parede.
Sete dias.
Faltavam sete malditos dias para ele poder olhar nos olhos de Seungmin e, enfim, ver o que ele tanto escondia
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Você ainda aí?
Perguntou baixinho, ouvindo o som de respiração do outro lado da linha.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Tô... só cansado. Acho que vou dormir daqui a pouco.
Chan mordeu o lábio inferior, segurando a vontade de perguntar mais. De insistir. Mas se conteve.
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Tudo bem. Só queria ouvir sua voz hoje.
Fez uma pausa curta
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Eu tive um sonho estranho essa noite. Você aparecia nele, acredita?
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Eu?
A voz de Seungmin pareceu menos opaca, curiosa.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— E o que eu fazia?
Chan riu baixinho, virando de lado na cama.
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Você tava na minha cozinha, de moletom, tentando fazer panquecas. Mas... você queimava tudo. E ainda brigava comigo dizendo que a culpa era minha por ficar olhando.
Houve um som abafado do outro lado. Algo parecido com um riso contido.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Parece algo que eu faria
Seungmin murmurou.
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Parece, sim
Chan suspirou
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Mas sabe o que mais tinha nesse sonho?
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— O quê?
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
— Você tava feliz.
Silêncio.
Chan se arrependeu de ter dito. Mas antes que pudesse se desculpar, ouviu a resposta:
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Nos sonhos, a gente pode tudo, né?
Aquela frase ficou ecoando no peito dele mesmo depois que a ligação terminou.
Quando a tela do celular apagou, Chan se sentou na cama, encarando o passaporte sobre a mesa.
Faltavam sete dias. E ele torcia, do fundo do coração, para não estar chegando tarde demais.
Continua

³Silêncio

O despertador do celular tocou, mas Seungmin já estava acordado fazia tempo. A dor nas costelas não o deixara dormir direito. Cada vez que se virava no colchão fino, sentia um incômodo crescente, como se o corpo estivesse pedindo socorro sem palavras.
Lentamente, ele se levantou. O sótão estava gelado, úmido, e o ar parecia pesar sobre os ombros. Vestiu o uniforme com cuidado — qualquer movimento brusco doía —, amarrou os cadarços com esforço e desceu as escadas em silêncio, como quem pisava em campo minado.
Na cozinha, Minwon estava sentada à mesa, rindo com o pai. A madrasta fritava ovos, agindo como se fosse uma mãe amorosa, enquanto todos ignoravam a existência de Seungmin, como sempre.
Ele passou direto para pegar uma maçã. Era tudo que teria até o fim do dia.
Kim minwon
Kim minwon
— Ei
A voz de Minwon cortou o ar como navalha
Kim minwon
Kim minwon
— Aquela blusa que você usou ontem... era minha, né?
Seungmin parou.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Era minha
Respondeu, com um tom baixo, quase calmo. Mas havia uma firmeza que raramente se ouvia dele.
Minwon ergueu uma sobrancelha, surpresa.
O pai olhou para os dois, mas não disse nada. Apenas continuou comendo, como se não fosse da sua conta.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Não tô te devendo nada
Seungmin disse, finalmente encarando a irmã.
Kim Seungmin 🐶
Kim Seungmin 🐶
— Não quero mais que toque nas minhas coisas. Nem no meu quarto. Nem em mim.
Silêncio.
O silêncio mais perigoso.
Minwon se levantou com um sorriso frio no rosto.
Kim minwon
Kim minwon
— Que gracinha... o rato do sótão resolveu latir?
Seungmin não respondeu. Pegou a mochila, virou as costas e saiu.
Mas ele sabia. Sabia que pagaria por isso.
Na escola, o dia passou devagar, como sempre. O professor falava, mas as palavras pareciam em outra língua. Tudo doía — o corpo, a cabeça, o estômago vazio. E ainda assim, o pior estava por vir.
No intervalo, ela veio.
Com o mesmo grupinho. Com a mesma risada.
Kim minwon
Kim minwon
— Vamos resolver aquele seu tom de voz de hoje cedo
Disse Minwon, enquanto o cercavam no fundo do pátio.
Ele tentou escapar. Tentou correr. Mas não foi rápido o suficiente.
Socos. Chutes. Alguém o empurrou contra a parede. Minwon puxou seu cabelo, o jogou no chão. Ele tentou gritar, mas não tinha ar. Tentou reagir, mas o corpo não obedecia. Tudo girava. Tudo queimava.
Quando finalmente o deixaram em paz, ele ficou ali. Encolhido. Tonto. Respirando com dificuldade.
Sentia o sangue escorrendo pelo canto da boca, o gosto metálico na garganta.
Ninguém ajudou.
Ninguém viu.
Ou simplesmente não quiseram ver.
★°★°★°★
Quando chegou em casa, subiu direto para o sótão. Cada degrau parecia uma montanha. Tremeu ao trancar a porta, cambaleando até o colchão. Se deitou devagar, engolindo o choro. A cabeça latejava. Os lábios rachados ardiam. As costelas... pareciam quebradas.
O celular vibrou uma vez.
Chris 🐨:
Cristopher bangh🐺
Cristopher bangh🐺
✉️“Hey, cheguei agora do treino! Como foi seu dia, amor?”
Ele encarou a tela por longos segundos.
Depois virou o celular de cabeça para baixo.
Não respondeu.
Não conseguia
Não queria que Chan ouvisse sua voz rouca, cortada. Não queria que ele notasse o quanto estava ferido. O quanto não conseguia sequer sorrir hoje.
Era melhor assim.
Melhor não mostrar nada.
Melhor sofrer calado, como sempre.
E então, pela primeira vez em meses, Seungmin não respondeu.
E Chan esperou. Esperou. E ficou encarando o “visto às 20:13” sem saber que, do outro lado do mundo, alguém mal conseguia respirar.
Continua

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