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O Internato Las Cumbres

01

O céu da Inglaterra estava nublado — como sempre. A névoa densa cobria a estrada sinuosa que levava até o alto da colina onde se erguia o Internato Las Cumbres. Antigo, feito de pedra escura, com torres góticas e vitrais quebrados, o prédio parecia mais um castelo amaldiçoado do que uma instituição de ensino. Mas era exatamente esse o lugar que Lua Nightsshade teria que chamar de casa pelos próximos meses.

Lua era uma visão incomum: cabelos negros como tinta, sardas espalhadas sobre a pele pálida como porcelana e olhos vermelhos que pareciam arder sempre que alguém ousava encará-la por mais de dois segundos. Era uma vampira — mas não dessas que brilham ao sol ou se apaixonam facilmente. Sarcástica, apática e entediada com o mundo, Lua já havia sido expulsa de três internatos por “comportamento inapropriado e desrespeito a figuras de autoridade”. E francamente? Ela não se importava.

Ao descer do carro preto que a deixou no portão enferrujado, Lua olhou para a fachada imponente e suspirou.

— “Pelo menos não parece entediante”, murmurou com um meio sorriso.

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O reitor do internato, Sr. Crowley, um homem alto, magro, de rosto pálido e expressão rígida, esperava por ela no saguão principal. Seus olhos negros tinham um brilho estranho — como se soubessem mais do que deveriam.

— Senhorita Nightsshade. Esperamos que sua estadia aqui seja... definitiva. — Sua voz era como vento cortante.

— Definitiva é uma palavra forte. Mas vamos ver no que dá, docinho. — Lua respondeu, mordendo um chiclete que ninguém viu de onde saiu.

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No dormitório feminino da Ala Leste, Lua foi apresentada às suas colegas:

Raven Blackwood, uma bruxa telepata de temperamento explosivo e unhas sempre pintadas de preto.

Cleo Astor, uma metamorfa arrogante e mimada, acostumada a ser o centro das atenções.

Eliza Moon, uma médium tímida que preferia conversar com os mortos do que com os vivos.

O choque de personalidades era imediato.

— “Ótimo, uma vampira rebelde no nosso dormitório. Porque minha vida já não é suficientemente infernal”, resmungou Cleo, revirando os olhos.

— “Olha, gatinha, eu também não tô pulando de alegria. Mas, se precisar de sangue ou drama, eu sou boa nos dois”, rebateu Lua, jogando a mala na cama.

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No refeitório, os garotos também observavam a recém-chegada com atenção.

Dante Hawthorne, um lobisomem sedutor e desleixado, dono de um sorriso sacana.

Noah Virell, um elemental de água discreto, mas muito mais observador do que aparentava.

Ezra Sinclair, um híbrido com poderes psíquicos e um passado que ninguém ousava mencionar.

— “Essa garota tem cheiro de problema”, murmurou Dante para Noah, enquanto observavam Lua encarar seu prato vazio com desprezo.

— “Ou talvez ela seja exatamente o tipo de problema que esse lugar precisa...”, respondeu Noah, enigmático.

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Naquela noite, Lua recebeu uma visita inesperada.

Enquanto arrumava seus livros no armário, um bilhete escorregou por debaixo da porta.

> “Nem tudo é o que parece neste internato.

Evite os corredores do subterrâneo depois da meia-noite.

Confie apenas em quem sangraria por você.”

Ela leu o bilhete e sorriu, como se aquilo fosse o primeiro sinal de vida interessante desde que fora expulsa da última escola.

— “Então é verdade... Esse lugar é mesmo peculiar”, sussurrou para si mesma.

O som de passos ecoando pelo corredor fez com que ela escondesse o bilhete rapidamente.

— “Vamos ver do que esse castelo é feito.”

Lua Nightsshade não fazia ideia, mas estava prestes a mergulhar em um jogo de alianças perigosas, segredos sombrios e um sistema secreto que controlava o internato por baixo dos panos. E, talvez, encontrasse algo que nunca buscou de verdade: um lugar onde pertencer — mesmo que isso significasse arriscar tudo.

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02

Na manhã seguinte à chegada de Lua, o internato já parecia ter mudado. Havia mais olhares no corredor, mais cochichos abafados. E o que era para ser só mais um dia nublado no castelo sombrio virou uma sucessão de acontecimentos estranhos.

Logo na primeira aula de Controle de Habilidades Paranormais, Raven teve um colapso mental depois de tocar sem querer em uma relíquia antiga trazida pelo professor. Sangrou pelos olhos e caiu desmaiada, murmurando um nome com a voz entrecortada:

— Valen... tine...

Lua a segurou antes que caísse no chão de pedra.

— “Quem é Valentine?”, perguntou ela, franzindo o cenho.

O professor — um ancião meio troll, meio humano chamado Sr. Hemlock — se calou por alguns segundos, desviando o olhar.

— “Aula encerrada por hoje. Leve-a à enfermaria, Nightsshade.”

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Mais tarde, Lua ouviu boatos nos corredores.

— “Ela viu o rosto dele de novo.”

— “Dizem que ele voltou...”

— “Mas isso é impossível, o Conselho o baniu.”

Curiosa e sem paciência para rodeios, Lua puxou Eliza Moon para o lado em um dos corredores.

— “Quem é Valentine?”

Eliza hesitou, mas os olhos dela diziam que estava morrendo de vontade de contar.

— “Valentine Corven. Vampiro antigo. Um dos primeiros alunos de Las Cumbres. Cruel, instável... perigoso. Já matou três estudantes. Foi expulso mais de uma vez, mas sempre arruma um jeito de voltar. E boatos dizem que ele voltou... de novo.”

Lua sorriu, instintivamente interessada.

— “Parece divertido.”

— “Não é um tipo de diversão saudável, Lua. Ele é obcecado por sangue e caos. E por garotas com olhos vermelhos...”

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Naquela noite, o castelo parecia mais silencioso do que o normal. Lua recebeu outro bilhete, dessa vez colado na porta de seu armário:

> “O Clube das Sombras se reúne à meia-noite no antigo teatro.

Entrada apenas para os fortes.

E os verdadeiramente perdidos.”

Lua apareceu no teatro sem hesitar.

Era um salão antigo, escondido sob os escombros de uma ala abandonada, com velas negras flutuando no ar e runas desenhadas nas paredes. Cerca de doze alunos estavam reunidos, todos com olhares cortantes e posturas calculadas. Um deles se destacava imediatamente.

Alto, pele pálida como gelo, cabelo escuro caindo nos olhos, sorriso insolente e uma presença que fazia até as paredes parecerem se retrair. Ele a olhou como se já soubesse quem ela era.

— “Você é a nova Nightsshade, não é? Bonito nome para uma vampira rebelde.”

— “E você deve ser Valentine... bonito nome para um assassino repetente.”

O silêncio foi denso por um segundo — até que ele sorriu, como se estivesse encantado com o desafio.

— “Finalmente alguém com sangue nos olhos.”

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O Clube das Sombras era uma sociedade secreta que testava os limites das habilidades dos alunos. Lá, apostas perigosas eram feitas: duelos psíquicos, transformações proibidas, leitura de mentes sem permissão, controle de espíritos, invocações noturnas.

E Valentine era o líder. O rei do submundo de Las Cumbres.

Naquela noite, Lua foi desafiada. Raven — que se recuperava do colapso — tentou alertá-la antes da reunião.

— “Ele vai tentar te quebrar. Como quebrou os outros. Você não tem ideia do que ele pode fazer.”

— “Deixa ele tentar. Só espero que o brinquedo não quebre antes de eu me divertir.”

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O desafio foi simples: enfrentar Noah em um duelo de habilidades na arena de espelhos — uma sala encantada onde tudo que você sente se multiplica.

Lua foi brilhante. Seu controle mental, aliado à manipulação do medo, encurralou Noah em segundos. Mas quando venceu, percebeu algo estranho. Valentine a observava com um brilho... doentio nos olhos.

— “Você me lembra alguém”, disse ele. “A primeira garota que eu matei nesse internato também era arrogante. Mas você... você é deliciosa de um jeito novo.”

Lua não piscou. Apenas se aproximou, encarando-o de frente.

— “Tenta alguma coisa, e eu te arranco os caninos.”

Valentine riu, e por um segundo, havia algo mais sombrio do que ameaça em seus olhos. Havia... desejo. Obsessão. E talvez, uma dor enterrada há muito tempo.

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Na manhã seguinte, o corpo de um aluno foi encontrado no jardim interno. Os olhos arrancados, a pele marcada com símbolos antigos.

O internato entrou em alerta. O reitor convocou todos para a capela, mas como sempre, não falou a verdade. Apenas reforçou que o castelo era perigoso à noite.

Lua, porém, já sabia.

Valentine estava de volta. E ele estava brincando.

Mas o que ninguém esperava... é que ela também estava disposta a jogar.

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03

O luto no internato era silencioso. As paredes do castelo absorviam o choro, os gritos e as perguntas não respondidas como um poço sem fundo.

O corpo do aluno encontrado no jardim interno foi enterrado sem cerimônia. Ninguém ousava dizer o nome dele em voz alta, como se isso pudesse atrair o mesmo destino. Os alunos sabiam a verdade, mesmo que o reitor insistisse em mentiras polidas.

Mas Lua... Lua não sentia medo.

Ela sentia raiva.

E curiosidade.

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Na biblioteca proibida — uma ala trancada atrás de feitiços antigos e portas encantadas — Lua encontrou o que precisava. Um encantamento de abertura sussurrado por Eliza a levou até os arquivos enterrados.

"Arquivo 013 - Valentine Corven."

A ficha amarelada contava pouco no início. Data de admissão: 1896. Data de expulsão: 1902. Retorno: 1904. Expulsão: 1905. Retorno: 1923. Expulsão. Retorno. Expulsão. E assim por diante, até a ficha perder a razão.

Mas o mais importante estava escondido em anotações à mão:

> “Paciente apresenta descontrole emocional severo. Diagnóstico inicial: transtorno de vínculo e personalidade. Apresenta fortes traços de psicose romântica. Obcecado por um padrão específico de alunas: vampiras de sangue puro com traços físicos similares.”

Lua fechou a ficha. Sardas. Olhos vermelhos. Frieza. Sarcasmo.

Ela não era a primeira.

Mas pretendia ser a última.

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Na noite seguinte, o Clube das Sombras se reunia de novo. Os olhos estavam voltados para Lua. Ela havia vencido um duelo, enfrentado Valentine e ainda assim permanecia intacta. O que, para alguns, era intimidador. Para outros, irritante.

E para Valentine... era excitante.

Ela entrou no salão e o encontrou no centro, como sempre. Sentado numa espécie de trono improvisado feito de cadeiras viradas e ferro retorcido, com um cálice de sangue entre os dedos. Os olhos dele pousaram nela como garras afiadas.

— “Estava te esperando”, disse com um sorriso lânguido.

— “Infelizmente, eu vim.”

Valentine se levantou devagar. Havia algo animalesco em seus movimentos, como se o controle fosse uma performance cuidadosamente ensaiada.

— “Você sabe por que gosto de você, Lua?”

Ela cruzou os braços.

— “Porque eu ainda não te cortei ao meio?”

— “Porque você não tem medo de mim. Nem de você mesma.”

Ele se aproximou e colocou a mão no rosto dela. Lua não se mexeu, mas os olhos vermelhos queimavam com desafio.

— “Você não vai quebrar. Mas vai me deixar tentar, não vai?”

Lua o afastou com um empurrão seco.

— “Você é só um erro antigo que se recusa a morrer. E eu sou a consequência de tudo que você não consegue controlar.”

Os membros do clube ficaram em silêncio. Foi a primeira vez que alguém o desafiou abertamente. E ele... riu.

Mas por trás do riso, havia uma fissura. Uma fragilidade escondida.

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Mais tarde naquela noite, Raven encontrou Lua no jardim interno.

— “Você está louca, sabia?”

— “Sempre fui. Só agora vocês estão percebendo.”

Raven se sentou ao lado dela, o capuz cobrindo parte do rosto.

— “Valentine se apega. Quando se apega... ele mata. É a forma dele de manter o que ama perto. Pra sempre.”

— “Então ele vai ter que me amar viva. Ou me enterrar com os dentes arrancados.”

Raven riu, mesmo sem querer. Era estranho rir ali, onde sangue havia sido derramado. Mas Lua era assim: um terremoto que trazia ruína e respiro ao mesmo tempo.

— “Precisamos fazer algo”, disse Raven. “Você, eu, Eliza... até Cleo. Ele está fora de controle. E o reitor não vai agir. Talvez ele nem possa.”

Lua concordou com um aceno.

— “O Clube das Sombras é uma piada. Uma desculpa pra ele manipular os outros. Mas se a gente virar o jogo...”

— “Você quer tomar o controle do clube?”, Raven perguntou, chocada.

— “Quero. E vou.”

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Na manhã seguinte, Cleo Astor a confrontou no corredor.

— “Ouvi dizer que você quer brincar de líder agora. Não sei se é ousadia ou burrice.”

— “Depende. Você prefere ser uma seguidora doentia de um vampiro obcecado ou ajudar a derrubá-lo?”

Cleo arqueou uma sobrancelha, surpresa com a proposta. E, pela primeira vez, pareceu verdadeiramente interessada em Lua.

— “Você é mais do que aparenta, Nightsshade. Isso é... intrigante.”

— “E você tem mais medo do que deixa transparecer. Isso é... previsível.”

Cleo sorriu de lado. Era o começo de uma aliança incômoda.

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Naquela noite, quatro garotas — Lua, Raven, Cleo e Eliza — se reuniram nas catacumbas da ala abandonada. A entrada do antigo Santuário das Bruxas, fechado por séculos.

Lá dentro, sob velas roxas e espelhos manchados de sangue antigo, elas firmaram um pacto.

Uma nova aliança. Uma nova liderança. Um novo clube.

A Noite Ascendente.

— “Ou a gente toma Las Cumbres das sombras. Ou seremos devoradas por elas”, disse Lua, cortando o dedo e deixando o sangue pingar na pedra do altar.

Uma a uma, as outras fizeram o mesmo.

E em algum lugar nas torres do castelo, Valentine estremeceu.

Ele podia não saber ainda...

Mas havia começado a perder o controle.

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