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Spices.

Pimenta dedo de moça em redução de limão e mel.

🍽️ Episódio 1: Pimenta Dedo-de-Moça em Redução de Mel e Limão

("Arde na língua. E no resto também.")

Maria chegou atrasada.

A porta de aço da cozinha bateu quando ela entrou — cabelo preso às pressas, bochechas coradas pelo frio lá fora e lábios tão vermelhos que pareciam cometer um crime contra o dress code só por existir.

Gabriel Monteiro a olhou como se ela fosse uma erva daninha num jardim meticulosamente podado.

— Entrevista para auxiliar de cozinha, não desfile de batons — ele disse, sem levantar a voz, mas com a acidez de um limão cru.

Maria sorriu.

— Desculpe o atraso, chef. Eu vim direto do metrô. O batom… veio comigo.

Alguns dos candidatos riram discretamente. Outros olharam para o chão. Gabriel continuou a encará-la, como se pudesse arrancar camadas dela com os olhos — mas o que ele queria mesmo era lamber esse batom e ver se tinha gosto de framboesa ou de pecado.

Com um suspiro, ele declarou:

— Façam um prato livre. Trinta minutos. Impressão é tudo.

Maria pegou sua sacola amarrotada e tirou três ingredientes:

pimenta dedo-de-moça, mel de abelha brava e limões pequenos, quase doces.

Ele passou por trás dela e perguntou, seco:

— É uma cozinha, não uma feira exótica.

— Eu sou de Porto Rico, chef. A gente começa pelo fogo — respondeu ela, cortando as pimentas com uma delicadeza quase sensual, como se estivesse acariciando um segredo.

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✨ A Receita Improvisada de Maria:

Frango salteado com redução de mel, limão e dedo-de-moça, servido com arroz de coco e hortelã fresca.

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Durante o preparo, Gabriel tentava focar nos outros pratos, mas o som da faca dela picando a pimenta era… quase ritmado. O cheiro invadia o ambiente — doce, cítrico, perigoso.

Quando ela serviu, o prato parecia simples. Mas a primeira garfada deixou a língua em brasa e o corpo… em alerta. A doçura do mel era traiçoeira. O limão provocava salivação. E a pimenta?

A pimenta era o batom em forma de sabor.

Ele tossiu.

Ela sorriu, empurrando o prato para mais perto dele.

— Tá muito forte pra você, chef?

Ele se inclinou, desafiador:

— Isso não me impressiona.

Ela respondeu baixo, perto demais:

— Não fiz pra impressionar. Fiz pra marcar.

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E marcou.

Porque naquela noite, ao limpar a bancada, Gabriel ainda sentia o gosto ardido na boca.

Mas o que queimava de verdade era a imagem dela, com o batom borrado e o olhar cheio de promessas que ele fingia não ter entendido.

O Gosto Dela

Gabriel passou os olhos pelo prato como quem avalia um campo de batalha.

Frango salteado, redução caramelizada escorrendo, um arroz de coco cremoso ao lado, pontuado com hortelã. Simples. Quase… atrevido.

Ele se virou para Maria, que aguardava de braços cruzados, o queixo erguido, a boca pintada com um vermelho que parecia combinar perfeitamente com as pimentas finamente cortadas no molho.

— Isso aqui é um prato, não um manifesto, candidata. — disse ele, pegando o garfo.

Ela apenas sorriu.

— Então prove. E leia o que quiser entre as linhas.

A primeira garfada foi um golpe direto na língua.

Doce. Fresco. Ardente.

Gabriel segurou o prato com mais força do que precisava. O calor veio de dentro — não do frango, mas da reação que o prato provocava. Cada camada chegava como uma frase dita no escuro: mel provocante, limão ousado, e depois… o soco gentil da pimenta dedo-de-moça.

Ele mastigou devagar, sentindo a garganta esquentar, os poros abrirem. Seu maxilar trincou.

Mas não era por desconforto. Era por orgulho ferido.

Ela tinha vencido.

— Sabe o que é isso? — disse ele, pousando o garfo.

— Gosto bom? — provocou Maria.

— Exibicionismo. — ele respondeu.

— E ainda assim, você lambeu o prato com os olhos — rebateu ela, afiada como sua faca.

Um silêncio se instalou, cheio de algo que nenhum dos dois ainda queria nomear.

Os outros candidatos estavam ali. Luan observava tudo, quieto, segurando o garfo no ar como se tivesse esquecido o que ia provar.

Mas ali, naquela bancada, só existiam os dois:

O chef que não aceitava ser desafiado.

E a cozinheira que não aceitava ser ignorada.

Ele se inclinou devagar, olhos nos dela.

— Esse prato não te garante o emprego.

Ela ergueu a sobrancelha.

— Mas garante que você não vai esquecer meu nome.

Gabriel saiu, tenso, passos firmes.

Maria pegou o prato vazio, lambeu um pouco do molho do dedo e murmurou, só pra si:

— Aposto que vai sonhar comigo.

Creme Brûlée com flor de sal.

🍽️ – O Silêncio de Luan

Luan cortava chalotas com a precisão de quem já não precisa pensar no movimento — mas, naquele momento, pensar era impossível. Seus olhos voltavam, sempre, para a candidata que chegara atrasada, com um batom vermelho que parecia não pedir desculpas por existir.

Maria.

Ela cortava pimenta dedo-de-moça como quem escrevia poesia com faca.

E ela sorria… para o chef.

Para o Gabriel.

Luan conhecia aquele olhar no chefe. Ele já o tinha visto de todas as formas: impaciente, controlador, obcecado pela simetria perfeita. Mas não aquele olhar. Aquele olhar era lento. Quente. Quase perigoso.

E Maria devolvia o olhar como se soubesse o que fazia.

Luan franziu o cenho.

Não era ciúmes — ele não sabia o que era ainda. Mas sentiu algo que escorreu pelas costelas feito molho quente. Uma inquietação. Um susto interno.

O aroma do prato dela tomou conta do ambiente.

Mel, limão, arroz de coco... e pimenta.

Era doce, ácido e provocante. Era ela, em forma de prato.

E o Gabriel… comeu. Mastigou devagar, como se estivesse perdendo uma guerra que se recusava a admitir.

Maria falava com ele como se fosse igual.

Como se não visse a muralha que Gabriel era para todos os outros.

Como se quisesse incendiar a cozinha inteira, só pra ver o que ele faria.

E Luan não sabia por quê, mas isso o mexia também.

Quando ela lambeu o dedo no final, o som do gesto foi tão sutil… e tão indecente… que ele perdeu o ritmo da própria respiração. Uma colher caiu da mão dele e quicou no chão de inox com um tin irritante.

— Droga — sussurrou.

Gabriel saía da bancada, tenso, calado.

Maria recolheu o prato, cheia de si. E Luan olhou para ela como quem olha um problema que ainda vai tirar o sono.

Ele não sabia se queria devora-la… ou provar o que ela cozinhava.

E esse era o começo do seu problema.

Creme Brûlée com Flor de Sal

("Dura por fora, cremosa por dentro. Igual ao Chef.")

A Cozinha Vazia, o Silêncio Tenso… e a Vingança Doce

Após a entrevista, todos os candidatos foram dispensados. Todos… menos Maria.

Gabriel tirou o avental devagar, dobrou com precisão cirúrgica e jogou sobre a bancada.

— Você fez um prato excelente — disse, seco.

— Obrigada, chef — respondeu ela, com um sorriso que dizia eu sei.

— Mas você me provocou na minha cozinha.

— E funcionou.

Ele trincou a mandíbula. O olhar de Gabriel não era de desejo.

Era de guerra.

De alguém que quer recuperar o controle de um jogo que não deveria ter começado.

Ele apontou para a pilha de panelas e formas.

— Limpe tudo. Sozinha.

— Castigo? — Maria arqueou a sobrancelha.

— Considere um teste de resistência.

Ela pegou a esponja, ergueu o queixo.

— A que temperatura começa a tortura, chef?

Ele não respondeu. Apenas saiu, os passos ecoando no corredor de azulejos.

Mas ela sabia.

Ele voltaria.

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⏳ Uma hora depois...

A cozinha estava em silêncio. Os vidros embaçados. O chão brilhando.

Maria terminava de limpar uma travessa quando ouviu os passos novamente.

Não apressados. Não barulhentos.

Controlados.

Gabriel entrou com as mangas da camisa arregaçadas e uma tigela na mão.

— Já que ainda está aqui, vai me ajudar a preparar um novo doce para o menu de amanhã.

— A punição agora virou parceria? — ela provocou.

Ele se aproximou, colocando os ingredientes sobre a bancada de mármore fria:

Gemas de ovo. Açúcar. Creme de leite. Baunilha em fava. E um pequeno pote de flor de sal.

— Creme Brûlée — disse ele.

— Bonitinho por fora. Fogo por dentro — murmurou ela.

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🔥 O Preparo (e a tensão)

Enquanto Maria mexia o creme com uma colher de pau, Gabriel se colocou atrás dela. Perto. Muito perto.

— Mexa mais devagar. Está quebrando a textura.

— Estou seguindo meu instinto — disse ela, sem parar.

Ele se inclinou, o rosto tão perto que ela podia sentir o calor da respiração.

— Seus instintos… são um problema.

— Ou uma vantagem que você não consegue controlar, chef.

Silêncio.

Ele pegou a colher da mão dela devagar. Os dedos tocaram os dela.

Longamente.

Desnecessariamente.

Maria não recuou.

— Vai provar?

Gabriel mergulhou o dedo no creme morno e levou à boca.

Fechou os olhos por um segundo.

Depois pegou uma pitada de flor de sal, jogou sobre a superfície e passou o maçarico. A casquinha se formou, dourada, crocante, perfeita.

Ele quebrou a superfície com a colher.

O estalo preencheu o ambiente.

Ele olhou pra ela.

— Quer provar?

Ela lambeu a colher devagar.

Delicado por fora. Vulcânico por dentro.

Maria olhou para o chef, agora parado, indeciso, desejando — mas orgulhoso demais para admitir.

— Isso é uma armadilha? — perguntou ela, rindo baixinho.

— Isso é uma cozinha — ele respondeu.

— E eu sou a sobremesa?

— Você é… perigosa.

Ela se aproximou, tão perto que o calor entre eles superava o do maçarico.

— E você ainda vai me pedir em porção dupla.

Ele segurou o pulso dela. Não com força. Com firmeza.

O toque dizia: eu posso quebrar a casca.

Ela só sorriu.

Risoto de limão siciliano e manjericão.

 

🍋 Episódio 3: Risoto de Limão Siciliano e Manjericão

("Fresco. Cortante. E com um toque de ciúme…")

 O Turno Noturno

Na cozinha silenciosa do restaurante, as luzes estavam baixas, e só duas panelas borbulhavam no fundo. Maria, de avental amarrado na cintura e uma presilha improvisada segurando os cabelos, balançava os quadris ao som de uma playlist instrumental de jazz — que ela mesma colocara.

— Você sempre cozinha ouvindo música? — Luan perguntou, cortando o manjericão em tiras finíssimas, com um carinho quase reverente.

— Música, aromas, risadas. Tudo tempera melhor a vida — respondeu Maria, provando o caldo com o dedo e oferecendo a ele.

— Quer experimentar?

Luan hesitou — mas provou.

E corou.

— Você cozinha como se estivesse contando um segredo.

Maria riu.

— E você fala como se tivesse medo de contar os seus.

Ele desviou o olhar. Pegou um limão siciliano e começou a raspar a casca com o zester.

— Esse risoto é delicado. Precisa de acidez, mas não pode agredir.

— Como um elogio sincero? — ela provocou, chegando mais perto da panela.

— Como… você — Luan disse, baixo demais. Mas Maria ouviu.

Por um instante, o silêncio foi outro. Quente, denso. Os dois riram, tímidos, mas não se afastaram.

— Eu gosto de cozinhar com você, Luan.

— Eu gosto… de te ver cozinhar — ele disse, antes que pudesse se censurar.

Foi nesse momento que a porta da cozinha rangeu.

Gabriel entrou.

De camisa preta, mangas dobradas, expressão indecifrável.

O cheiro cítrico do risoto ainda no ar.

O riso abafado.

A intimidade no gesto de Maria provando o arroz e oferecendo a colher para Luan.

Gabriel não disse nada.

Só se aproximou da bancada e observou.

— Isso está no cardápio? — perguntou, sem olhar pra ninguém.

— Não. Foi só… treino — disse Luan, a voz um pouco menor do que o normal.

Gabriel provou o risoto com a ponta da colher.

Engoliu. Olhou para Maria.

— Muito limão. E manjericão demais.

— Ou paladar exigente demais — retrucou ela, sem abaixar a cabeça.

Ele a encarou por um segundo longo. Um silêncio entre insulto e desejo.

— Você não está autorizada a usar ingredientes fora da lista da casa.

— Nem depois do expediente?

— Especialmente depois do expediente — ele respondeu. Mas sua voz não era firme. Era… ferida.

Luan percebeu.

Maria também.

E então ela sorriu.

— Entendido, Chef.

Gabriel virou as costas. Antes de sair, disse, sem olhar:

— Volte segunda. Às seis.

E sem o perfume.

Porta. Silêncio.

Luan respirou fundo.

— Ele vai te devorar.

Maria ergueu o garfo e assoprou o risoto.

— Só se eu deixar.

Segundo prato.

Casa de Gabriel na mesma noite.

(Título: "Caldo de Ossos e Silêncios")

O apartamento de Gabriel era sóbrio, limpo e frio. Tudo no lugar. Nenhum quadro pessoal. Apenas utensílios profissionais na cozinha e livros de receitas empilhados em ordem por cor.

Ele se jogou na cama sem tirar a camisa, os olhos fixos no teto escuro. O ar-condicionado fazia um ruído constante, mas não abafava o som dos pensamentos.

Maria.

Rindo com o Luan.

O jeito que ela assoprou o risoto.

A colher tocando a boca dele.

O perfume cítrico no ar.

O riso abafado. A intimidade.

Ele apertou os olhos, virou de lado. Depois pro outro.

Puxou o travesseiro. Jogou.

O lençol estava quente demais.

Levantou.

Foi direto pro chuveiro. A água gelada caiu como agulhas nas costas.

Fechou os olhos.

A imagem dela não saía.

Maria. De avental. Descalça. Dando ordens sem perceber.

Tocando o arroz como se fosse pele.

O sorriso. Os olhos brilhando.

A colher oferecida. A boca do Luan.

Não. Não.

Gabriel encostou as mãos na parede fria do box. O corpo reagia antes da mente.

Ele se tocou,ele gozou .

Mas não adiantou.

Quando terminou, o vazio era maior que antes.

O desejo não cessava. O gosto dela já estava nele.

Saiu, secou-se rápido, vestiu a camiseta cinza mais velha do armário.

Na cozinha, acendeu a luz baixa.

Começou a preparar um caldo.

O ritual que sempre funcionava.

Cebola. Cenoura. Salsão. Ossos brancos e pesados.

O cheiro da base.

Mas hoje, o aroma não acalmava.

Era como se tudo cheirasse a ela.

📱Telefone tocando.

Gabriel secou a mão no pano e atendeu com a voz ainda rouca:

— Sim.

— Gabriel, é o Sr. Varella. Preciso que o jantar de amanhã à noite esteja impecável. O investidor não gosta de pompas. Nem surpresas.

Jantar leve, sofisticado, em três etapas. Entrada, prato principal, sobremesa. Coisa simples. Elegante. E... pessoal.

— Pessoal? — repetiu ele, já desconfiado.

— Só você e um assistente. O investidor quer avaliar o "ambiente íntimo de uma equipe enxuta". E vai acontecer na cobertura dele. Vista para a cidade. Luxo discreto. Seja pontual.

Click.

Gabriel ficou parado, com a mão ainda no pano.

Dois pratos borbulhavam no fogão: o caldo e os pensamentos dele.

Só um assistente.

Só um.

O olhar de Maria cruzando o dele voltou com força.

O jeito que ela respondeu:

— Entendido, Chef.

Ele olhou para o caldo no fogo.

Mexeu devagar.

E sorriu. De lado. Sombrio.

— Segunda vai chegar mais cedo.

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