Winter Lights
A Primeira Neve.
A primeira neve havia caído naquela manhã, silenciosa e pura. O céu de inverno tingia a cidade com tons suaves de cinza e azul, e as luzes refletiam sobre o chão branco como se estivessem desenhando outro mundo.
Kaien Yuzuki caminhava sozinho pelas ruas, o brilho gélido de seus olhos escondido sob a franja que caía displicente. As pessoas desviavam o olhar quando ele passava, como se sentissem o peso invisível que ele carregava. Ele já havia se acostumado.
Enquanto caminhava, um som agudo de sinos ecoou ao longe. Kaien parou. Ele sabia o que significava: um "Fragmento de Alma" estava por perto.
Seguindo o som, chegou a um pequeno parque coberto de neve, onde uma garota estava ajoelhada, chorando. Próximo a ela, flutuava um espírito fraco, prestes a desaparecer.
Aika Morihara
— Você... consegue ver ele? — perguntou a garota, surpresa ao perceber que Kaien olhava diretamente para o espírito.
Kaien Yuzuki
— Sim. — Kaien respondeu, com a voz baixa e fria. — Não se aproxime dele.
Kaien Yuzuki
— Porque ele já está se desfazendo. Você só vai se machucar se tentar segurá-lo.
A garota o encarou, determinada.
Aika Morihara
— Eu não me importo em me machucar se puder salvá-lo.
Essas palavras... fizeram algo dentro de Kaien se partir. Ela não sabia, mas tocar o seu coração era como acender uma chama em meio ao gelo — perigoso, fatal.
Kaien Yuzuki
— Quem é você? — ele murmurou, incapaz de desviar o olhar
Aika Morihara
— Meu nome é Aika. — Ela sorriu, mesmo com lágrimas nos olhos. — E você?
Kaien Yuzuki
— Kaien... Yuzuki.
Ela se levantou e estendeu a mão para ele, como se fosse algo natural.
Aika Morihara
— Vamos salvá-lo juntos.
Kaien hesitou. Ninguém nunca havia estendido a mão para ele antes. Ninguém nunca havia ignorado o brilho de seus olhos.
Kaien Yuzuki
— Não pode. — ele disse. — Se você se aproximar de mim, vai acabar se arrependendo.
Aika Morihara
— Eu não acredito em maldições. — Aika respondeu, com um sorriso leve. — E mesmo que exista... você parece precisar de alguém ao seu lado.
A neve continuava a cair, e pela primeira vez, Kaien sentiu que talvez... pudesse permitir que alguém se aproximasse.
Ele aceitou a mão dela.
A maldição começava a se mover, silenciosa, como as luzes frias do inverno.
As Mãos Quebram O Gelo.
A neve continuava a cair com leveza, cobrindo os galhos das árvores e as calçadas da cidade. Os passos de Kaien e Aika ecoavam suavemente enquanto eles caminhavam lado a lado, ainda próximos ao parque onde se encontraram.
Kaien mantinha as mãos nos bolsos, o olhar sempre para frente, como se evitasse a qualquer custo encarar Aika por muito tempo.
Ela, por outro lado, olhava curiosa para ele — aquele garoto de olhos tão brilhantes quanto frios, que parecia carregar um mundo inteiro de solidão sobre os ombros.
Aika Morihara
— Você não vai me perguntar por que eu consigo ver os espíritos? — Aika quebrou o silêncio, sorrindo levemente.
Kaien Yuzuki
— Não preciso. — Kaien respondeu, sem emoção. — Talvez você só seja diferente. Como eu.
Aika Morihara
Ela riu.
— Você fala como se fosse uma coisa ruim ser diferente.
Kaien Yuzuki
É. Normalmente é. — Kaien apertou os passos. — As pessoas não gostam daquilo que não conseguem entender.
Aika o alcançou, determinada.
Aika Morihara
— Eu não me importo em entender tudo. Eu só quero... caminhar ao seu lado. Mesmo que seja por um pouco.
Essas palavras atravessaram Kaien como uma flecha.
Ele sabia que deveria afastá-la. Sabia que era perigoso deixá-la ficar perto. Mas… a voz dela era quente. E aquele calor, há muito tempo, ele havia esquecido como era.
Kaien Yuzuki
— E quanto ao Fragmento de Alma? — Kaien perguntou, desviando o assunto. — O que você queria com ele?
Aika olhou para o céu, pensativa.
Aika Morihara
— Era o espírito do meu gato. Ele desapareceu no inverno passado. Eu senti que ele ainda estava preso aqui, sozinho. Eu só queria dizer adeus.
Kaien ficou em silêncio. Ele já havia visto muitos espíritos se desvanecerem sem conseguir se despedir. Mas nunca havia encontrado alguém tão determinada a não deixar isso acontecer.
Kaien Yuzuki
— Eu posso te ajudar a encontrá-lo. — ele disse, para a própria surpresa. — Mas só dessa vez.
Aika Morihara
Aika sorriu, os olhos brilhando.
— E se eu quiser te ver de novo depois disso?
Kaien Yuzuki
Kaien hesitou. O vento frio soprou, bagunçando os cabelos de ambos.
— É melhor que você não queira.
Aika Morihara
— Então é isso que você acha? — Aika parou e ficou na frente dele. — Que pode decidir quem pode ou não se aproximar de você?
Ela se aproximou ainda mais, os olhos azuis claros encarando os dele sem medo, mesmo quando os olhos de Kaien começaram a brilhar em vermelho intenso.
Aika Morihara
— Seus olhos são lindos. — Aika sussurrou.
Kaien Yuzuki
— Eles são uma maldição.
Aika Morihara
— Talvez alguém só precise te mostrar que podem ser uma bênção.
Kaien Yuzuki
Kaien desviou o olhar, sentindo-se pela primeira vez exposto, vulnerável.
— Você é estranha.
Aika Morihara
— E você é teimoso. — Aika riu suavemente, e recomeçou a andar, puxando-o levemente pela manga do casaco. — Vamos, Kaien. Você prometeu me ajudar.
Sem saber o porquê, ele a seguiu.
Talvez porque, no fundo, queria que ela continuasse a puxá-lo. Talvez… ele não quisesse mais caminhar sozinho.
O som de sinos soou novamente, ecoando entre os flocos de neve.
E assim, sem perceber, Kaien começava a ceder.
A maldição, silenciosa, apenas os observava, aguardando o momento certo para despertar.
Fragmentos e Sombras.
Aika caminhava animada ao lado de Kaien, enquanto o céu começava a escurecer, tingido por tons suaves de roxo e azul. A cidade parecia mais silenciosa à noite, como se estivesse ouvindo a conversa dos dois.
Aika Morihara
— Então, como encontramos um Fragmento de Alma? — Aika perguntou, os olhos brilhando com curiosidade. — Eles simplesmente aparecem?
Kaien Yuzuki
— Eles surgem em lugares onde emoções ficaram presas. — Kaien respondeu com a voz calma. — Tristeza, arrependimento, saudade... Os espíritos se ligam a isso.
Aika Morihara
— Como cicatrizes invisíveis, né? — Aika sorriu, ajeitando seu cachecol vermelho. — Deve ser por isso que tantos deles aparecem no inverno. É uma estação cheia de despedidas.
Kaien olhou para ela de relance, surpreso com a sensibilidade de Aika. Mesmo sem conhecer o mundo espiritual, ela parecia compreendê-lo melhor do que qualquer um.
Kaien Yuzuki
— Você aprende rápido.
Aika Morihara
— É que eu gosto de entender o que é importante para as pessoas. — Aika respondeu, com sinceridade. — E acho que, para você, isso é importante.
Por um instante, Kaien sentiu que o frio não o envolvia tanto quanto antes.
Os dois chegaram a um pequeno templo abandonado na periferia da cidade. Era um lugar antigo, onde o som dos sinos ecoava mais forte.
Kaien Yuzuki
— Ele está aqui. — Kaien disse, sentindo a presença do espírito.
No centro do templo, um pequeno Fragmento de Alma em forma de um gato prateado flutuava, os olhos fechados como se estivesse dormindo. Mas havia algo errado.
Ao redor do espírito, uma névoa escura começava a se formar.
Kaien estreitou os olhos. Ele reconhecia aquele tipo de presença.
Alguém... ou alguma coisa... estava tentando devorar o Fragmento.
De repente, passos lentos ecoaram atrás deles.
Hoshirou Kazuha
— Você está ficando descuidado, Kaien Yuzuki.
Eles se viraram e viram um jovem alto, de cabelos escuros, vestindo um casaco elegante. Seus olhos eram purpuros como os de um abismo, e um sorriso frio desenhava-se em seu rosto.
Kaien Yuzuki
— Hoshirou... — Kaien murmurou, seu tom endurecendo.
Hoshirou Kazuha
— Quanto tempo, meu velho amigo. — Hoshirou inclinou a cabeça com falsa gentileza. — Parece que você quebrou sua regrinha de não se aproximar das pessoas.
O olhar de Hoshirou pousou em Aika, avaliando-a como se fosse um objeto curioso.
Hoshirou Kazuha
— Que interessante... Você a deixou chegar tão perto, mesmo sabendo que pode destruí-la.
Kaien Yuzuki
— Fique longe dela. — Kaien disse, com firmeza.
Hoshirou Kazuha
— Você sabe como funciona, Kaien. — Hoshirou sorriu, cruel. — Espíritos frágeis são como velas... e eu adoro apagar velas.
A névoa ao redor do espírito do gato começou a se agitar violentamente. Hoshirou estava tentando corrompê-lo.
Aika Morihara
— Por que você está fazendo isso? — Aika gritou. — Esse espírito não te fez nada!
Hoshirou Kazuha
— Porque é fácil. Porque é divertido. — Hoshirou respondeu, indiferente. — E porque eu gosto de ver o quanto você luta contra o inevitável, Kaien.
Kaien avançou rapidamente, seus olhos brilhando em azul intenso. Um feixe de luz espiritual se formou ao redor de sua mão, pronto para proteger o Fragmento.
Hoshirou Kazuha
— Você vai me enfrentar por ela? — Hoshirou provocou, abrindo os braços como se oferecesse o próprio corpo como alvo.
Kaien Yuzuki
— Eu não estou lutando por ela. — Kaien respondeu, com a voz baixa e firme. — Eu estou lutando com ela.
Nesse momento, Aika correu para o lado de Kaien, seu olhar decidido.
Aika Morihara
— Eu também vou proteger ele.
Kaien ficou momentaneamente sem reação. Aquela era a primeira vez que alguém dizia isso para ele.
A primeira vez que alguém escolhia ficar.
Hoshirou Kazuha
— Você é tão tola. — Hoshirou suspirou, entediado. — Mas vamos ver até onde essa coragem vai durar.
Com um movimento, Hoshirou invocou uma sombra disforme, que avançou sobre eles como uma tempestade.
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