— Você não está me perguntando. Está me forçando. — Bella disse, a voz embargada, parada no meio da sala como uma estranha na própria casa.
Os olhos fixos nos pais. Mas eles pareciam diferentes agora. Distantes. Desconhecidos.
— É para o seu próprio bem, Bella. — A mãe respondeu com uma calma ensaiada.
— Ravenhall é um colégio de prestígio. Estrutura excelente. E… você precisa de disciplina.
A palavra ficou suspensa no ar como uma ofensa. Bella riu, sem humor. Um riso curto, magoado.
— Disciplina? Sério? Vocês nunca estão aqui. Não sabem o que eu sinto. Não perguntam como foi o meu dia. E agora, de repente, acham que sabem o que é melhor pra mim?
O pai ajeitou os punhos da camisa como quem se livra de um incômodo.
— A decisão já foi tomada. Você embarca amanhã cedo. Está tudo pronto.
Bella não respondeu. Subiu as escadas devagar, sentindo o corpo pesar a cada degrau. Trancou-se no quarto. O céu lá fora estava carregado de nuvens, cinza, abafado, ameaçador.
Pegou o celular e digitou com os dedos trêmulos para as duas pessoas que realmente conheciam quem ela era por dentro:
Lily, sua melhor amiga de infância, e Luke, o amigo que sempre lhe oferecia abrigo com humor e afeto.
Bella: "Me mandaram para um internato. Ravenhall. Amanhã cedo. Sem aviso. Sem volta."
Lily: "VOCÊ TÁ ZOANDO?! Bella, isso é absurdo. Por que estão fazendo isso?"
Luke: "Bella, você é a aluna mais dedicada da escola. Gentil, quieta, brilhante. Isso não faz o menor sentido. Ravenhall? Sério?"
Ela não conseguiu responder. Chamou os dois por videochamada. Quando os rostos apareceram na tela, os olhos deles estavam úmidos. Furiosos. Tristes.
— Eu não sei o que fiz de errado. — Bella disse, com a voz falhando. — Sempre fui tudo o que eles queriam. E mesmo assim…
— Você não fez nada de errado. — murmurou Lily, já chorando. — Você sempre foi incrível. Isso tá errado, errado demais…
— Ravenhall não é só um colégio. — Luke disse com um tom mais baixo. — Já ouvi histórias. Meu primo quase foi pra lá. Gente desaparece. Tem coisas que ninguém fala. Coisas estranhas… Sombras.
— Para… por favor. — Bella sussurrou. O peito apertava. O ar ficava pesado.
Desligou antes que o medo a consumisse inteira. Sentou no chão e deixou que as lágrimas caíssem silenciosas.
Sempre foi a filha modelo. A que não dava trabalho. A que dizia “sim” para tudo. E agora, era como se toda aquela perfeição tivesse sido em vão.
Naquela noite, sonhou com portas pesadas se fechando atrás dela. Com vozes abafadas por paredes frias. Com olhos que a observavam.
[...]
Sempre fui obediente. Correta. Estudava. Trazia medalhas. Ganhava prêmios. Meus boletins eram vitrines do orgulho deles.
Mas, mesmo assim, nunca foi suficiente.
Eles nunca estiveram nos meus aniversários. Não sabiam o nome da minha melhor amiga. Nunca notaram quando chorei atrás da porta do meu quarto.
Eles cuidavam de clientes importantes, casos milionários, processos de celebridades…
Enquanto a filha deles se desintegrava em silêncio.
E agora… estavam me mandando embora.
Para o mesmo colégio onde estudaram. O mesmo caminho, a mesma fórmula.
Como se eu fosse apenas um reflexo pálido de suas ambições.
O despertador soou como um soco.
— Bella, querida. Acorde. Já está na hora. — disse a mãe, abrindo as cortinas com precisão robótica.
A luz invadiu o quarto como uma violência.
Ela apareceu, vestida com um blazer bege e os cabelos presos num coque que parecia esculpido em gelo.
Era bonita. Perfeita. Fria como uma manhã de inverno.
— Levanta. O carro sai em trinta minutos. — disse, com a voz firme de quem gerencia uma empresa, ou um destino.
— Por que Ravenhall? — murmurei. — Por que não perguntaram o que eu queria?
Ela respirou fundo, como se já soubesse o que eu perguntaria. — Porque sabemos o que é melhor pra você, Isabella.
"Isabella".
Sempre assim. Nunca Bella. Nunca minha versão.
Me levantei devagar. Me aproximei da mala pronta no canto. Cada item ali dentro parecia uma decisão alheia. Uma identidade empacotada. Uma despedida sem direito de resposta.
Ravenhall era conhecido por formar os melhores. Mas também por esconder os piores segredos.
Filhos de políticos. Herdeiros de impérios. Jovens treinados para mandar, controlar, dominar.
E agora, eu, a menina das bibliotecas e cadernos organizados, estava sendo jogada nesse mundo de máscaras e silêncio.
— Vista-se. Café na mesa. Quero você pronta em trinta minutos. — repetiu minha mãe antes de sair, sem me olhar de verdade.
Fiquei ali. Sozinha. Como sempre estive.
Olhei pela janela.
O céu estava pesado.
E era isso.
A filha perfeita.
Indo para o lugar perfeito.
Para viver a vida perfeita.
Mas, pela primeira vez…
Eu não queria mais ser perfeita.
E talvez Ravenhall não fosse apenas um internato. Talvez fosse a minha nova prisão.
Ou… o início da minha verdadeira história.
Ou... do meu pior pesadelo.
Internato Ravenhall.
O nome soava imponente. Como uma sentença. E fazia sentido. A construção diante de mim parecia saída de um conto gótico.
Um castelo esculpido em pedra cinzenta, com torres pontiagudas e vitrais coloridos que refletiam luz morta sobre o chão frio.
A escadaria larga levava até uma porta de madeira entalhada com símbolos antigos, brasões, palavras em latim, figuras que pareciam me observar.
Meu pai contornou o carro e abriu a porta para mim com naturalidade, como se me deixasse em mais uma aula de balé.
— Boa sorte, minha filha — disse, ajeitando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Eu e sua mãe te amamos. Estamos fazendo isso por você.
Um beijo seco na bochecha. Um sorriso automático. Como se amor fosse uma obrigação diplomática, entregue entre um voo e outro.
— Tchau — murmurei, quase sem voz.
Ele assentiu, virou-se e entrou no carro.
O som dos pneus se afastando foi tudo o que me restou.
Fiquei sozinha. Só eu, minha mala e o vento cortante que uivava pelo pátio de pedra.
Respirei fundo. Apertei os passos.
Mas antes que meus dedos alcançassem a maçaneta da porta principal, duas garotas surgiram diante de mim, como predadoras protegendo o território.
A loira era impecável: cabelo platinado até a cintura, pele bronzeada, cílios exageradamente longos, uniforme adaptado como se estivesse numa passarela.
A ruiva ao lado trazia os cabelos presos em um rabo de cavalo firme, sardas discretas sob uma base cara e um olhar entediado como quem já sabia que o mundo girava ao seu redor.
— Olha só quem chegou — disse a loira, com um sorrisinho enviesado. — A nova nerdzinha... com esses óculos ridículos.
Ela riu. A ruiva a acompanhou, me olhando de cima a baixo como se eu fosse um inseto curioso.
— Não sabia que Ravenhall aceitava caridade agora. — a ruiva murmurou.
— Nem eu. — retrucou a outra, arqueando uma sobrancelha.
Segurei firme meu livro favorito contra o peito. Minha última âncora com o que me restava de casa.
Não respondi. Já conhecia esse jogo.
Tentei passar por elas. Mas uma delas esbarrou em mim de propósito.
Meus livros voaram, deslizando pelas pedras. Um deles, o mais amado, arranhou a capa.
— Ei! — exclamei, me abaixando para pegá-lo.
— Olha só, ela tem voz — zombou a loira. — Achei que fosse muda.
Antes que eu pudesse responder, uma voz firme e cortante interrompeu o teatro:
— O que estão fazendo aqui? Voltem imediatamente para os dormitórios.
Virei o rosto.
Uma mulher alta, com cabelos presos num coque severo e um terno cinza escuro, descia os degraus como se pisasse em um campo de batalha.
Tinha a postura de um soldado e olhos que atravessavam a alma.
As duas garotas imediatamente endireitaram a postura.
— Desculpe, diretora Helen… estávamos apenas dando boas-vindas à novata — disse a ruiva, com um sorriso falso.
— Depois do almoço. Agora, sumam da minha frente.
As duas lançaram um último olhar venenoso para mim e sumiram.
Eu ainda recolhia os livros quando uma voz mais suave se aproximou:
— Não liga pra elas. Sobrevive-se. Mais ou menos.
Uma garota se abaixou ao meu lado. Tinha cabelos pretos curtos e bagunçados, piercing no nariz e um olhar que misturava curiosidade e sarcasmo.
O uniforme estava desleixado, quase provocativo, gravata frouxa, camisa meio aberta, saia com botão solto.
Autêntica.
Linda.
— Sou a Vickie — disse, me entregando um dos livros.
— Bella — respondi, surpresa por finalmente ver um rosto sem veneno.
Antes que eu dissesse algo mais, a diretora se aproximou.
— E você, Vickie, para o seu quarto. A recepção será depois do almoço.
— Sim, senhora Helen — respondeu ela, revirando os olhos com charme e me piscando antes de sair.
Sozinha de novo. Com os livros nos braços e um peso novo no peito.
Mas, por algum motivo… me senti menos invisível.
— Você deve ser Isabella Moore. — A voz da diretora soou às minhas costas, firme como aço.
Me virei devagar.
— Bem-vinda ao Internato Ravenhall — disse, sem sombra de sorriso. — Venha. Temos fichas a preencher. E regras a memorizar.
Assenti, em silêncio. Algo nela me dizia que falar demais era perigoso.
Seguimos por corredores longos, frios, ecoando nossos passos. Os vitrais projetavam sombras coloridas nas paredes de pedra. O ar cheirava a madeira antiga, mofo discreto e livros muito, muito velhos.
Ao fim do corredor, uma porta de carvalho trazia uma placa dourada entalhada:
“Diretoria – Sra. Helen Carter”
Ela girou a maçaneta com precisão.
— Entre, senhorita Moore.
A sala era austera, cheia de livros grossos, móveis escuros e um relógio antigo que marcava o tempo com tique-taques impiedosos.
Helen sentou-se atrás da escrivaninha com a mesma elegância gélida de antes. Ajustou os óculos com precisão cirúrgica.
— Seu pai lhe explicou que Ravenhall tem regras. Regras rígidas. — começou. — E não toleramos exceções.
Ela listou, uma a uma:
Celulares proibidos fora dos dormitórios.
Relacionamentos íntimos entre alunos: proibidos.
Uso de substâncias ilícitas: expulsão imediata.
Visitas a quartos do sexo oposto: terminantemente proibidas.
— Violação dessas normas resulta em suspensão, punições disciplinares, ou em casos extremos… expulsão. Está claro?
— Sim, senhora — murmurei.
Ela me entregou uma pilha de papéis, o regulamento, meu cronograma, a chave do quarto…
E um papel vermelho com um número em negrito.
Para denúncias. Sigilo garantido.
A sensação era clara.
Era uma escola.
Mas cheirava a prisão.
Era um colégio ou um campo de treinamento militar?
Duas batidas na porta.
— Entre — disse a diretora.
A maçaneta girou. Um garoto entrou. E por um segundo, o tempo congelou.
Alto, de ombros largos, gravata frouxa, camisa meio aberta. Um colar prateado pendia do pescoço.
Olhos verdes, intensos, como uma floresta prestes a engolir tudo.
Cabelos castanho-escuros, bagunçados. Postura relaxada, quase desafiadora.
Nos encaramos por um instante silencioso. Longo demais.
Eu sorri. Pequeno. Involuntário.
— Aiden — disse a diretora. — Leve a senhorita Moore ao quarto. Mostre os corredores. Seja breve.
Ele assentiu, depois olhou para mim.
— Pronta, Bella?
Eu não estava.
Mas algo naquele olhar dizia que, com ele, as regras seriam a menor das minhas preocupações.
Esse colégio é cheio de regras... - murmurei, olhando para os quadros antigos que cobriam as paredes com molduras douradas e nomes de gente morta há séculos.
Aiden soltou uma risada curta, rouca, com um toque de deboche nos lábios.
- Você ainda não viu nada. Bella, né? - Ele me lançou um olhar rápido, inquisidor.
Assenti com um leve movimento de cabeça, quase envergonhada.
Era estranho conversar com um garoto logo no primeiro dia. Mas havia algo nele que desarmava qualquer resistência, o sorriso de canto, o tom casual, os olhos verdes que pareciam estudar não o que eu dizia, mas o que eu escondia.
- Por que Ravenhall? - ele perguntou, com aquela voz baixa que parecia sempre conter algo não dito.
Suspirei.
- Meus pais. Eles decidiram por mim. São advogados, vivem viajando, e... - dei de ombros - acham que aqui é o lugar perfeito para "formar caráter".
- Hm... Que romântico. - Ele respondeu com ironia leve, mas os olhos ficaram mais escuros por um segundo. - Sinto muito. De verdade.
- Normal... - murmurei, tentando parecer indiferente, embora as palavras ainda doessem por dentro.
Ele me encarou com um meio sorriso, como se reconhecesse minha tentativa de esconder o peso.
- Todos aqui têm uma história parecida. Pais ausentes, perfeição imposta. Bem-vinda ao clube dos filhos esquecidos.
- Parece um clube bem lotado - comentei, tentando sorrir.
A escadaria larga nos engoliu enquanto subíamos. O som de nossos passos ecoava pelas pedras como se o prédio inteiro nos ouvisse.
Passamos por portas numeradas com placas douradas, todas iguais e, ainda assim, cada uma parecia esconder um segredo diferente.
- O que a diretora quis dizer com "consequências"? - perguntei, baixinho, como se temesse que a própria parede escutasse.
Aiden riu, mas o som foi mais sombrio do que divertido.
- Ela fala assim para assustar os fracos. Mas... Ravenhall tem um lado que não aparece nos folhetos de matrícula.
- Que tipo de lado?
Ele parou, me encarou por um instante e se inclinou ligeiramente, como se fosse me contar um segredo proibido.
- Lendas. Histórias antigas. Sobre alunos que desapareceram. Professores que perderam a cabeça. Portas que se trancam sozinhas. Sussurros vindos das paredes. Coisas assim.
Arqueei a sobrancelha, desconfiada.
- Você tá me assustando de propósito.
- Tô? - ele sorriu, encantadoramente enigmático. - Talvez.
Parou diante de uma porta e olhou para mim, mais sério agora.
- Tem coisas aqui que ninguém fala em voz alta. Mas todos sentem. A diretora tenta esconder. Os veteranos fingem que é lenda. Mas não é.
Antes que eu dissesse algo, ele se virou, seguindo pelo corredor como se nada tivesse acontecido.
Fiquei ali, sozinha com aquele arrepio na espinha.
Diante de mim, a placa dourada: 207.
Respirei fundo e empurrei a porta.
O quarto era amplo, dividido simetricamente entre duas camas, dois armários e duas escrivaninhas.
Uma janela alta deixava entrar a luz cinzenta da manhã, cortada por cortinas vinho. As paredes de pedra tornavam tudo frio, mas havia algo acolhedor nos pequenos detalhes.
Do lado direito, deitada na cama, Vickie mexia no celular, os fones nos ouvidos e uma expressão entediada.
Ela me notou e tirou os fones com um sorriso travesso.
- Sobreviveu à Helen? Parabéns. Ela é a nossa bruxa particular. A maioria sai de lá tremendo.
Soltei uma risada nervosa, largando a mala ao lado da cama.
- E ainda ganhei um "segredo" de presente de um tal Aiden.
- Ah, o Aiden. - Ela se esticou como um gato preguiçoso. - Você vai ouvir muito esse nome.
Deitei-me ainda com o uniforme. Estava exausta.
Mas mais do que isso: inquieta.
Ravenhall era um labirinto. E eu mal havia entrado.
Vickie me olhou de lado, apoiando o queixo na mão.
- Então... ele te trouxe até aqui, né?
Assenti, fingindo indiferença.
- Ele é um amor. Meio... críptico. Mas tem um bom coração. E um histórico longo de corações partidos. - Ela estreitou os olhos para mim. - E você tem cara de problema novo pra ele.
Senti meu rosto esquentar.
- Não é nada disso.
- Claro que não. - Ela piscou, cúmplice. - Aqui, ninguém diz o que sente. Ninguém revela nada. É tudo... velado. Como se todo mundo escondesse alguma coisa.
Virei o rosto, encarando a folha de horários.
Química - Sala 14 - 9h.
- Ainda bem que hoje não tem aula pra mim. - comentei. - Preciso de tempo pra entender onde fui parar.
- E vai entender. - disse Vickie, sentando-se. - E sabe o que vai ajudar?
- O quê?
- O baile de boas-vindas! - disse com empolgação repentina. - Hoje à noite. É tradição. Vem comigo, vai. Agora que oficialmente somos colegas de quarto... e amigas?
- Baile? - repeti, surpresa.
- Roupas elegantes, garçons tensos, música estranha e muita pose. É divertido... à sua maneira. - Ela riu. - Te apresento a galera. Vai ser bom pra tirar esse olhar de "presa recém-chegada".
Sorri, um pouco mais sincera agora.
Mas algo ainda me cutucava.
A fala de Aiden. As lendas.
- O que ele quis dizer com aquilo? Sobre... as histórias?
O sorriso de Vickie vacilou.
- Ele tava brincando. Meio. Quer dizer... existem boatos.
- Que tipo de boatos?
Ela respirou fundo, deitando-se novamente, agora de olhos fixos no teto.
- Dizem que, décadas atrás, teve um escândalo. Uma aluna e um professor. Um caso secreto. Intenso. Proibido.
- E?
- Foram mortos. Enforcados. Encontraram os corpos numa sala do porão. A escola abafou tudo. Mas a sala? Tá trancada até hoje. Ninguém entra. E dizem... que o sangue ainda tá lá.
Um arrepio subiu pelo meu pescoço.
- Alguns dizem que foi um aluno que matou. Outros acham que foi alguém da diretoria. Mas o culpado nunca foi pego. E tem quem acredite que ele... nunca saiu daqui.
Fiquei em silêncio, ouvindo o tique-taque do relógio do quarto.
De repente, até o ar parecia mais denso.
- Tá com medo, novata? - Vickie perguntou com um sorriso de canto.
- Claro que não. - menti.
Ela riu.
- Melhor assim. Porque o porão... fica exatamente embaixo do nosso bloco.
Engoli em seco.
Era oficial:
Ravenhall não era só um colégio.
Era um jogo perigoso.
E eu acabara de ser jogada dentro dele.
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