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"A Dama do Mafioso "

Capítulo 1: O Encontro no Café e a Sombra da Máfia

O aroma do café recém-passado misturava-se ao burburinho suave de conversas, criando a trilha sonora habitual do 'Amanhecer Dourado'. Para Cristal, aquele era seu refúgio, um lugar onde as sombras do mundo exterior pareciam menos densas. Ela traçava os contornos de um desenho em seu bloco, absorta na melodia calma do jazz que escapava dos alto-falantes, quando a porta abriu-se com um rangido sutil, mas suficiente para silenciar por um instante o ambiente.

Ele entrou. E com ele, uma quietude tensa que pesava no ar, um reconhecimento instintivo de perigo. Brad. Era impossível não notar sua presença: alto, impecavelmente vestido, com um porte que irradiava poder e uma beleza masculina tão impactante quanto perigosa. Seus traços eram esculpidos com uma perfeição quase cruel, e seus cabelos escuros contrastavam com uma pele clara. Mas eram seus olhos – tão escuros quanto a noite mais profunda, mas com uma intensidade que parecia capaz de ver através da alma – que verdadeiramente hipnotizavam e aterrorizavam. Seu olhar varreu o café, não como alguém que procura, mas como quem avalia, quem já conhece cada fraqueza.

Ele era uma figura sombria, um contraste gritante com a luz suave do lugar, e Cristal, que nunca o vira antes, sentiu um arrepio que não tinha nada a ver com o frio. Seus olhos se cruzaram por um milésimo de segundo. Para Brad, foi um vislumbre inesperado de algo que o desarmou – uma pureza destemida em meio à banalidade; para Cristal, um choque elétrico que a fez prender a respiração, uma sensação de ter sido exposta e ao mesmo tempo inexplicavelmente atraída para uma escuridão que ela deveria evitar.

Brad desviou o olhar primeiro, mas a impressão que deixou era indelével. Ele caminhou até o balcão, e seu pedido, simples café preto, foi feito com uma voz que, embora baixa, carregava uma autoridade inegável. Não era um tom arrogante, mas de alguém acostumado a ser obedecido sem questionamentos, de um homem que sabia seu lugar no topo da cadeia alimentar. Enquanto esperava, ele parou em uma posição estratégica, os olhos inquietos voltando-se para a porta de tempos em tempos, a cada novo cliente. Ele estava esperando alguém, e a expectativa em seus ombros era quase tão pesada quanto a aura de perigo que o envolvia.

Foi então que a porta do café se abriu novamente, e o burburinho cedeu lugar a um silêncio ainda mais pesado. Três homens robustos entraram, seus ternos impecáveis e olhares afiados denunciando uma presença que não se encaixava no cenário acolhedor. Eles eram como lobos entrando em um rebanho, e a reverência silenciosa que demonstraram a Brad ao se aproximarem apenas confirmou o status dele. Cristal sentiu o pânico gélido rastejar por sua espinha. Aqueles não eram homens de negócios comuns, não naquele café. Sem levantar suspeitas, ela tentou disfarçar a tremedeira nas mãos, enquanto guardava rapidamente seu bloco de desenho e a caneta. Seu plano era simples: pagar a conta e sair o mais rápido e discretamente possível.

Mas antes que pudesse dar o primeiro passo em direção à saída, uma sombra projetou-se sobre sua mesa. O aroma de café e algo mais, algo perigoso e inebriante, tomou conta de seus sentidos. Era Brad. Seus olhos escuros, antes gélidos, agora tinham uma intensidade perturbadora enquanto ele se inclinava ligeiramente.

"Perdão," a voz dele era um sussurro grave, mas que atravessou o burburinho do café com uma clareza assustadora. "Acho que deixou cair isto." Ele estendeu a mão, e na palma, repousava a caneta que Cristal nem percebera ter escapado de seus dedos trêmulos.

Cristal sentiu o coração acelerar violentamente contra as costelas. Era a caneta que ela havia usado para desenhar, o objeto mais inofensivo em suas mãos minutos antes, agora um elo inusitado com aquele homem perigoso. Sua mente gritava para que ela pegasse o objeto e corresse, mas o olhar escuro de Brad a prendia, uma corrente invisível que a impedia de sequer respirar fundo. Com a mão que ainda não tremia visivelmente, ela pegou a caneta de seus dedos longos e fortes, sentindo a leve fricção de suas peles por um instante. O burburinho do café, que antes parecia um conforto, agora soava distante, um palco para a cena que se desenrolava na mesa dela, sem que ninguém mais percebesse a gravidade do momento.

Ela ergueu o queixo, forçando-se a encontrar os olhos dele, mesmo que seu corpo clamasse para desviar o olhar. A coragem inata, aquela que a tornava Cristal, se impôs sobre o terror. "Obrigada," ela respondeu, a voz mais controlada do que ela esperava, quase desafiadora em sua frieza. Ela apertou a caneta em sua mão, pronta para se levantar e escapar.

Um leve sorriso, quase imperceptível, brincou nos lábios de Brad. Era um sorriso que não alcançava seus olhos, mas que tornava sua beleza ainda mais perigosa. "O desenho... era seu?" ele perguntou, sua voz ainda um sussurro, mas com uma curiosidade genuína que a pegou de surpresa. O tom não era de acusação, mas de uma indagação que prolongava o contato, impossibilitando sua fuga imediata. Os três homens, agora, estavam mais próximos, observando-os com uma curiosidade velada, como se esperassem um sinal de seu chefe.

Cristal demorou um instante, permitindo que o silêncio se estendesse por apenas um segundo a mais do que o confortável, um pequeno ato de resistência. Seus olhos não vacilaram ao encontrar os dele, os escuros olhos de Brad. "Era," ela respondeu, a voz mantendo um tom neutro, quase indiferente, como se o que ela desenhava fosse algo trivial, e não um vislumbre de sua alma. Ela não ofereceu mais detalhes, nem o tipo de sorriso que convida a uma conversa amigável. Apenas a palavra seca, um ponto final que, ela esperava, o faria perder o interesse.

Os lábios de Brad se curvaram um pouco mais, um sinal de divertimento que, para qualquer outro, seria um convite, mas para Cristal era um presságio. "Interessante", ele murmurou, a palavra carregada de um peso que não condizia com sua simplicidade. Ele não parecia disposto a aceitar o "ponto final" dela. Seus olhos varreram o bloco de desenho ainda sobre a mesa, como se tentasse adivinhar o que havia sido criado ali. Os mafiosos atrás dele se agitaram levemente, um deles pigarreando, mas Brad os ignorou, sua atenção totalmente voltada para a mulher à sua frente, que ousava não se curvar.

"Você vem muito aqui?" Brad perguntou, sem rodeios, o tom tornando-se ligeiramente mais baixo, quase como se fosse um segredo compartilhado apenas entre eles. Ele não recuou, nem em um centímetro, mantendo-se inclinado sobre a mesa dela, a proximidade ofegante. Os olhos escuros dele pareciam perfurar qualquer barreira que Cristal tentasse erguer, uma determinação silenciosa que a deixava sem saída. O pigarro do mafioso atrás dele foi mais audível desta vez, um lembrete áspero da realidade que ele habitava, mas Brad parecia completamente alheio à impaciência de seus homens.

Cristal encolheu os ombros, um gesto casual que contrastava com a tensão que a invadia. Ela finalmente se permitiu um contato visual mais prolongado, os olhos fixos nos dele, desafiadores. "Sim, venho", ela respondeu, sua voz soando calma e firme, apesar do tremor interno. Um fio de ousadia percorreu suas veias. "Algum problema?"

A pergunta dela pairou no ar, um desafio que, em qualquer outra circunstância, seria impensável direcionar a um homem como Brad. O sorriso quase imperceptível dele se desfez, substituído por uma contração sutil nos músculos do maxilar. Seus olhos escuros se fixaram nos dela com uma intensidade que gelou Cristal até os ossos, não mais curiosos, mas frios e perigosos. Um dos homens atrás dele deu um passo involuntário à frente, como se fosse intervir, mas Brad apenas ergueu uma mão, um gesto mínimo que o fez parar no lugar. Era um aviso silencioso. A irritação de Brad era uma fera contida, e Cristal sentiu um calafrio, percebendo que talvez tivesse ido longe demais.

O maxilar de Brad se apertou, e a frieza em seus olhos escuros se aprofundou, se tornando uma promessa velada. Ele se endireitou lentamente, desfazendo a proximidade sufocante que a prendia, mas sem nunca desviar o olhar. Seus lábios se moveram, e a voz, antes um sussurro, agora carregava uma nota cortante que apenas Cristal parecia capaz de captar no burburinho do café. "Problema não, Cristal", ele disse, o nome dela em sua boca soando como um aviso e uma posse ao mesmo tempo. "Apenas um lembrete. O acaso... às vezes tem uma memória muito longa."

Ele finalmente se virou, com a mesma graciosidade perigosa com que havia entrado. Seus homens se moveram rapidamente para formar um círculo ao redor dele, quase como uma guarda, e todos saíram do café, seus passos silenciosos mal perturbando o ar que antes parecia vibrar com a presença deles. Cristal ficou ali, congelada, a caneta apertada na mão, o coração batendo descontroladamente. As palavras de Brad ecoavam em sua mente, um presságio, uma teia que, ela temia, já havia começado a se enrolar em torno dela. O acaso tinha uma memória muito longa. E ela sabia que aquele encontro estava longe de ser o fim.

Capítulo 2: A Marca do Acaso e a Sombra da Tragédia

O burburinho do 'Amanhecer Dourado' pareceu retornar de uma vez só, engolfando Cristal em uma onda de sons e cheiros que ela mal registrava. A caneta ainda estava apertada em sua mão, uma prova física de que o encontro com Brad não fora um pesadelo. Os assentos vazios onde os homens haviam estado, a ausência daquela sombra opressora, deveriam trazer alívio, mas em vez disso, deixaram um vazio inquietante, como a marca de um dente afiado.

Cristal sentiu o tremor que havia contido com tanta força começar a se espalhar por seus braços, subindo pela coluna. O pânico, que ela havia domado momentaneamente para enfrentar Brad, agora ameaçava dominá-la. Não era apenas o medo; era a estranha e avassaladora atração que a deixava confusa, uma fenda perigosa em sua lógica. Ela deveria estar aliviada, grata por ele ter ido embora, mas a frase final dele – "O acaso... às vezes tem uma memória muito longa" – soava como uma promessa, ou uma maldição, reverberando em sua mente.

Ela se forçou a respirar fundo, o ar frio em seus pulmões ajudando a clarear um pouco a névoa. Levantou-se da cadeira, sentindo as pernas um pouco fracas, e caminhou em direção ao balcão para pagar sua conta, os olhos percorrendo o ambiente, quase esperando vê-lo novamente. Cada rosto, cada sombra parecia esconder a figura imponente de Brad. A ideia de que ele poderia "lembrar" dela, que seus caminhos pudessem se cruzar novamente, era aterrorizante e, ao mesmo tempo, estranhamente sedutora. O que ele queria? E por que ela sentia aquela corrente elétrica sempre que seus olhares se cruzavam?

Ao sair do café, o sol da tarde, que antes parecia tão acolhedor, agora tingia o céu de Istambul com tons de perigo. As ruas movimentadas, antes um refúgio de normalidade, com o canto dos mercadores e o cheiro de especiarias misturado ao ar, pareciam subitamente cheias de olhos ocultos. Cristal sabia, com uma certeza fria, que sua vida acabara de mudar. O mundo cinzento e seguro que ela conhecia havia sido invadido por uma escuridão atraente, e ela não tinha certeza se conseguiria, ou se queria, se livrar dela.

Os dias que se seguiram foram uma névoa. Cristal tentava retomar sua rotina nas ruas movimentadas de Istambul, mas a imagem dos olhos escuros de Brad e o eco de sua voz a perseguiam. Ela se sentia como uma mariposa atraída por uma chama perigosa. No entanto, o verdadeiro inferno estava prestes a começar, não por causa de Brad diretamente, mas por uma virada cruel do destino que a arrastaria para o coração sombrio de sua família.

A tragédia atingiu como um raio em uma noite chuvosa. Cristal se viu, sem querer, no lugar e na hora errada, testemunha – e logo acusada – de um incidente fatal que despedaçou a estrutura de uma das famílias mais poderosas da máfia de Istambul. A vítima: o irmão mais novo de Brad. Cristal era inocente, uma mera espectadora arrastada para o olho do furacão, mas as evidências circunstanciais, ou talvez a conveniência, a incriminavam.

Em meio ao caos daquela noite, enquanto a notícia da morte de seu irmão ecoava pelos corredores da máfia, a fúria de Brad era um incêndio devastador. Ele não sabia, ainda, que a mulher envolvida era Cristal. Sua mente estava nublada pela dor e pelo desejo ardente de retribuição. "Encontrem a mulher! Quero-a viva, e a quero diante de mim!", sua voz de comando cortou o ar pesado, as palavras carregadas de uma promessa de tormento para quem quer que fosse a responsável. Para Brad, o luto e a raiva se fundiram em um desejo de vingança incontrolável contra a figura que ele ainda não conseguia identificar. Ele faria da vida dela um inferno, não pouparia esforços para que ela pagasse pelo que ele acreditava que ela havia feito. O que ele não sabia, nem podia conceber em sua cegueira por vingança, era que a mesma mulher que ele jurava destruir, um dia, seria aquela por quem seu coração, endurecido pela escuridão, aprenderia a amar.

Cristal, por sua vez, tentava desesperadamente entender o turbilhão em que se encontrava. A polícia já a havia interrogado, e as perguntas, carregadas de insinuações, a deixavam atordoada. Ela havia tentado explicar, jurado sua inocência, mas era como se suas palavras se perdessem no ar. Naquela mesma noite, enquanto tentava se abrigar em um pequeno apartamento alugado no bairro de Sultanahmet, sentindo a cidade histórica se fechar ao seu redor, um som brusco na porta a fez pular. Não eram as autoridades. Eram os homens de Brad. A porta cedeu com um estrondo, e antes que pudesse reagir, mãos fortes a agarraram. Ela tentou lutar, um grito sufocado morrendo em sua garganta, mas era inútil. Em questão de segundos, Cristal foi arrastada para fora, vendada e jogada na parte de trás de um carro escuro. O cheiro de couro e perigo a envolveu. Ela não sabia para onde estava sendo levada, mas a batida violenta de seu coração anunciava que seu destino a levava diretamente para as profundezas do império de Brad.

O carro parou abruptamente, e Cristal foi puxada para fora, a venda ainda apertada sobre os olhos, desorientando-a completamente. O ar era pesado, com um cheiro de charuto e algo metálico, e o som de passos em torno dela era abafado, como se estivesse em um grande espaço. Ela foi empurrada para uma cadeira, e o silêncio que se seguiu era mais opressor do que qualquer ruído. Então, a venda foi bruscamente arrancada. Seus olhos piscaram, tentando se ajustar à penumbra, antes de se fixarem na figura imponente sentada atrás de uma vasta mesa de madeira escura. Brad. O mesmo homem do café, com seus olhos intensos e sua aura de perigo, agora amplificada pela raiva evidente em seu semblante. O local era um escritório luxuoso e sombrio, com estantes repletas de livros e artefatos caros, mas que exalava a frieza de um covil. Brad a observava com uma intensidade predatória, e Cristal sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele ainda não a reconhecia daquela forma, apenas via nela a "mulher" que lhe fora trazida.

"Quem é você?", a voz de Brad trovejou, sem vestígios da curiosidade sutil do café, agora fria e cheia de uma raiva contida que a fez encolher-se. "Diga-me o que fazia na rua naquela noite e qual a sua relação com o que aconteceu ao meu irmão."

Cristal cerrou os lábios. O pânico a sufocava, mas a acusação injusta, a forma como ele a olhava como se ela fosse culpada, reacendeu a chama de sua ousadia. Ela não lhes daria a satisfação. "Eu sou inocente", ela declarou, a voz trêmula, mas firme, como um fio de aço. "Não sei do que está falando, nem quem é seu irmão." Cada palavra era um desafio, um muro que ela erguia entre a verdade e a fúria dele. Brad se inclinou para frente, a paciência se esvaindo de seu rosto. Seus olhos se tornaram fendas escuras, avaliando-a, e o sorriso de escárnio que ele exibiu antes de sua voz cortar o ar era glacial.

"Inocente?", ele sibilou, a palavra carregada de desdém. "Ninguém é inocente neste inferno. E ninguém me esconde a verdade." Ele bateu na mesa, o som ecoando no ambiente. "Vocês, peguem-na. Ela vai falar." Antes que pudesse piscar, dois dos homens que estavam de pé perto da porta a agarraram. Cristal tentou resistir, debatendo-se com toda a força que tinha, mas seus esforços eram inúteis contra a força bruta deles. Seus pulsos foram amarrados com rapidez e eficiência a uma cadeira, e ela foi arrastada para um canto escuro da sala. Lá, a porta de ferro de uma pequena cela, antes imperceptível na parede, rangeu ao se abrir. "Ela vai ficar aí até decidir que a verdade é mais confortável que o silêncio", Brad rosnou, sem desviar o olhar dela. "E acredite, ela vai desejar ter falado quando eu acabar com ela." A porta de ferro se fechou com um baque surdo, jogando Cristal em uma escuridão fria e sem esperança, o som do clique da tranca ecoando em seus ouvidos.

Capítulo 3: O Cativeiro e a Verdade Oculta

A escuridão na cela era absoluta, fria e opressora. Cristal tateou ao redor, seus dedos encontrando paredes ásperas e úmidas, antes de se encolher no canto mais distante da porta de ferro. O baque surdo da tranca ainda ecoava em seus ouvidos, e o cheiro de mofo e desespero parecia impregnar o ar. O medo, antes uma onda distante, agora era um oceano que a engolia. Inocente. Ela era inocente. Mas para Brad, para os homens dele, ela era culpada, a responsável pela tragédia que abalara seu império. A injustiça gelou seus ossos, um novo tipo de raiva misturando-se ao terror.

O tempo perdeu o sentido. Minutos se arrastavam como horas, e cada sombra que se movia em sua mente era a figura imponente de Brad, seus olhos escuros agora cheios de ódio. E foi então, no silêncio sufocante, que a peça se encaixou. Aquele cheiro de charuto, a voz grave, a autoridade inquestionável… era o mesmo homem do café. O homem que a havia olhado com uma curiosidade perturbadora, que havia sussurrado sobre o "acaso ter uma memória muito longa". A ironia era cruel, um nó na garganta. O universo conspirava contra ela, jogando-a nos braços daquele que, em outro contexto, havia despertado nela uma atração tão perigosa. Agora, a atração se misturava ao puro terror. Ele queria vingança, e ela era a vítima perfeita, uma marionete inocente em seu jogo de dor.

Lá fora, Brad andava de um lado para o outro em seu escritório, a raiva fervendo em suas veias. A imagem de seu irmão, tão jovem e cheio de vida, desabando, atormentava-o. E a mulher. A teimosia dela o exasperava. Ela se recusava a falar, a confessar o que quer que soubesse. Ele havia imaginado mil formas de punir o responsável, e agora que tinha um alvo, mesmo que ainda sem nome, não recuaria. "Ela tem que falar", ele rosnou para um de seus homens, cujo rosto refletia um misto de medo e respeito. "Não me importa como. Sem comida, sem água. Deixem-na pensar sobre o valor da verdade. Quando ela estiver desesperada o suficiente, ela vai implorar para confessar." Seus olhos escuros fixaram-se na porta da cela. Ele queria a verdade, não importava o custo. Ele queria a vingança. E a mulher lá dentro pagaria por isso.

Cristal cerrou os lábios. O pânico a sufocava, mas a acusação injusta, a forma como ele a olhava como se ela fosse culpada, reacendeu a chama de sua ousadia. Ela não lhes daria a satisfação. "Eu sou inocente", ela declarou, a voz trêmula, mas firme, como um fio de aço. "Não sei do que está falando, nem quem é seu irmão." Cada palavra era um desafio, um muro que ela erguia entre a verdade e a fúria dele. Brad se inclinou para frente, a paciência se esvaindo de seu rosto. Seus olhos se tornaram fendas escuras, avaliando-a, e o sorriso de escárnio que ele exibiu antes de sua voz cortar o ar era glacial.

"Inocente?", ele sibilou, a palavra carregada de desdém. "Ninguém é inocente neste inferno. E ninguém me esconde a verdade." Ele bateu na mesa, o som ecoando no ambiente. "Vocês, peguem-na. Ela vai falar." Antes que pudesse piscar, dois dos homens que estavam de pé perto da porta a agarraram. Cristal tentou resistir, debatendo-se com toda a força que tinha, mas seus esforços eram inúteis contra a força bruta deles. Seus pulsos foram amarrados com rapidez e eficiência a uma cadeira, e ela foi arrastada para um canto escuro da sala. Lá, a porta de ferro de uma pequena cela, antes imperceptível na parede, rangeu ao se abrir. "Ela vai ficar aí até decidir que a verdade é mais confortável que o silêncio", Brad rosnou, sem desviar o olhar dela. "E acredite, ela vai desejar ter falado quando eu acabar com ela." A porta de ferro se fechou com um baque surdo, jogando Cristal em uma escuridão fria e sem esperança, o som do clique da tranca ecoando em seus ouvidos.

Horas se arrastaram, pesadas e silenciosas. Brad estava absorto em seus próprios demônios, até que um de seus homens mais antigos e leais, Ahmet, bateu à porta do escritório. Ahmet havia sido um dos que estava no café. "Chefe", ele começou, hesitante, a voz baixa. "A mulher... ela não parece ter a frieza de alguém que faria tal coisa. E há algo nela que me lembra... a moça do café. Aquela que o desafiou com o olhar."

A menção do café, da "moça", fez Brad parar abruptamente. Seus músculos tensos relaxaram por um segundo, e então se contraíram em choque. As palavras de Ahmet trouxeram à tona a memória vívida de Cristal, sua ousadia, a pureza que ele notara. O rosto dela, antes apenas um borrão da "acusada", começou a tomar forma em sua mente, sobrepondo-se à imagem da mulher na cela. O ar faltou em seus pulmões. Aquela mulher… era ela? A mesma Cristal que o intrigou era a que ele jurava destruir? Um calafrio, diferente de qualquer raiva que já sentira, percorreu seu corpo. O baque foi avassalador. Não era possível. Era uma ironia cruel do destino. Seus olhos, antes ardentes de vingança cega, agora se misturavam com uma confusão gelada, uma pontada de algo que ele não conseguia identificar. A vingança ainda era o que o movia, mas agora, o alvo tinha um rosto. E esse rosto… era o rosto que havia perturbado seus pensamentos desde o dia no 'Amanhecer Dourado'. As punições, ele percebeu, não seriam as mesmas. O jogo acabara de mudar de uma forma que ele jamais imaginou.

Com a mente em turbilhão, Brad se levantou com um movimento rápido e determinado. Seus passos ecoaram pelo escritório, pesados e furiosos, mas agora carregando uma estranha mistura de raiva e algo mais, algo que ele se recusava a nomear. Ele abriu a porta da cela com um rangido metálico, a luz fraca do corredor invadindo a escuridão e revelando a figura encolhida de Cristal no canto. Seus olhos se cravaram nela, não mais com a cegueira da fúria, mas com uma intensidade que reconhecia cada traço, cada curva do rosto que o havia assombrado. Cristal ergueu o olhar, seus olhos fixos nos dele, uma mistura de medo e desafio. Ela percebeu a mudança no olhar dele, a súbita clareza, e soube que ele a havia reconhecido. Um arrepio correu por sua espinha, mas ela não recuou.

Brad deu um passo à frente, sua voz agora um rosnado baixo, quase um sussurro, mas que carregava um peso que a fez tremer. "Então é você", ele disse, o nome dela não pronunciado, mas implícito em cada sílaba, carregado de uma raiva ainda maior, tingida por uma traição pessoal. "A moça do café. O acaso tem, de fato, uma memória muito longa, não tem, Cristal?" Um sorriso sombrio e cruel, desprovido de qualquer calor, distorceu seus lábios. "Acredite, meu inferno será muito mais... pessoal agora."

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